sábado, 12 de julho de 2025

QUEM ESTÁ NO COMANDO DO MEU "EU"

O sétimo princípio básico do Programa Amor-Exigente cita que "tomar atitude precipita uma crise". Mas, crises incomodam, causam desconforto e insegurança, e muitos de nós não queremos abandonar nossa zona de acomodação.

No entanto, existem momentos na vida em que nos deparamos com grandes desafios, que nos colocam diante de uma enorme crise e para enfrentá-la não existe outro caminho que não seja por meio da ação, da atitude.

E isso nos coloca diante de um dilema: se já estamos vivenciando uma grande crise, por que tomar atitudes para provocar novas crises? 

Acontece que as crises que vivenciamos muitas vezes foram provocadas pelos comportamentos do outro e, portanto, ele a administra de acordo com os seus interesses, enquanto nós arcamos com as consequências. Uma criança provoca uma crise de birra para desestabilizar os pais e eles cederem, atendendo o desejo dela; um jovem dependente químico ameaça abandonar a família, se ela dificultar seu acesso às drogas, para convencê-la  a bancar seu vício etc.

A partir do momento em que começamos a agir, a tomar atitudes em relação aos comportamentos alheios, que desaprovamos, quem vão precisar se ajustar às nossas ações são eles. 

Devemos, ainda, compreender que tomadas de atitudes são ações concretas, que possuem um objetivo a ser alcançado. Devem ser ações que se sustentam, que temos condições de mantê-las com firmeza, caso contrário, caímos nas ameaças vazias e perdemos o crédito.

Enquanto nos sujeitamos aos comportamentos inadequados do outro, sofremos as consequências das crises por ele estabelecida, mas quando nós tomamos atitudes, quem vai precisar se ajustar às nossas mudanças é ele. Tomar uma atitude significa, portanto, retirar o comando da nossa vida das mãos de outra pessoa e trazê-la para o nosso domínio, esse é o segredo da mudança positiva que tanto desejamos. 



Celso Garrefa

Autor dos livros: "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "Primeiro dia da minha nova vida". 




 





quarta-feira, 9 de julho de 2025

GRATIDÃO, GRATIDÃO, GRATIDÃO

Ultrapassamos a marca de meio milhão de visualizações em nosso blog. Um número para comemorar e agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para ele chegar até aqui, seja através de comentários, interações, ou divulgações nos seus grupos e contatos. 

Um dia, algumas linhas escritas, um blog simples, e eu começava a transformar em textos minhas vivências, minhas experiências e meus conhecimentos do Programa Amor-Exigente. 

Sempre evitei criar polémicas, e tudo o que transmito, através dos textos, é com muito cuidado e respeito, com o objetivo de levar um mínimo de conhecimento e de conforto para as famílias que tanto sofrem com o problema da dependência do álcool e outras drogas e despertar nelas a importância de buscar ajuda, com a certeza de que é possível vencer esse flagelo.

Não tinha a dimensão do quanto isso se expenderia, do tanto de retorno que recebo de pessoas através de mensagens de gratidão, de agradecimento, de reconhecimento. 

O que começou pequeno, hoje ultrapassou a marca de meio milhão de visualizações no blog, mais de 230 textos publicado, cinco anos de matéria para o encarte da revistAE, artigos em diversos sites, jornais e revistas, palestras em inúmeras cidades e dois livros lançados: "ASSERTIVIDADE, UM JEITO INTELIGENTE DE EDUCAR" e "O PRIMEIRO DIA DA MINHA VIDA VIDA" 

Só posso terminar esse texto com três palavras: GRATIDÃO, GRATIDÃO, GRATIDÃO. Contem sempre comigo.

Celso Garrefa

sexta-feira, 27 de junho de 2025

SERÁ QUE O MEU FILHO ESTÁ USANDO DROGAS? COMO SABER?

Não é nada fá
cil perceber quando  um filho começa a faser uso de drogas. Em média, a família só consegue identificar os primeiros sinais de uso após um a três anos do início, ou seja, quando a pessoa já está perdendo o controle sobre a substância de consumo.

Além disso, quando a família começa a desconfiar, até como um mecanismo de defesa, em um processo inconsciente, ela atravessa a fase da negação. O primeiro caminho é aceitar o óbvio, mesmo que isso cause decepções e desconfortos. Até que negamos o problema, nada fazemos para tentar corrigi-lo.

A percepção do uso depende muito da pessoa e do tipo de substância que ela está consumindo. Segue abaixo alguns indícios de que algo possa estar acontecendo e que servem de alerta para os pais:

1 – Mudança repentina de humor e comportamento;

2 – Mudança no quadro de amizades (distanciamento dos considerados “bons amigos”, para aproximar de um grupo de amigos suspeitos;

3 – Dificuldade para dormir (noite toda acordado), quando dorme atravessa longo período no sono;

4 – Gastos elevados de dinheiro, sem que não se identifiquem onde foi gasto;

5 – Endividamento;

6 – Pedido de dinheiro em sequência e com insistência (no mesmo dia, pedi dinheiro duas, três, quatro vezes);

7 – Em estágio avançado, desaparecimento de pertences da casa (podem estar sendo trocados por substâncias);

8 – Irritabilidade, ansiedade;

9 – Mudança de humor, em curto espaço de tempo, exemplo: está irritado, inquieto, incomodado, sai para a rua e retorna pouco depois com comportamento totalmente diferente, quieto, tranquilo, calmo ou vice-versa.

10 – Mudanças físicas: olhos vermelhos, irritados, fungação de nariz (parece que está sempre com gripe), dilatação da pupila, falta de apetite (no caso da cocaína), muito apetite (no caso da maconha), descuido da aparência, relaxo com a higiene pessoal;

11 – Distanciamento familiar;

12 – Evita conversa, evita olho no olho, cabeça baixa e qualquer tentativa de diálogo é recebida com incômodo e irritabilidade;

13 – Muito tempo ausente de casa, até mesmo em dias do meio da semana, inclusive atravessando a noite e retornando tarde no outro dia, com desculpas de que estava em churrasco ou festas com amigos,

14 – Fala em desacordo com sua normalidade (rápido demais ou devagar demais);

15 – Perda de dias de trabalho, sem motivos aparentes;

16 – Mentiras frequentes, chantagens, manipulações;

17 – Não despreze o consumo abusivo do álcool, ele também é droga e assim deve ser encarado, sem minimização, sem glamorização;

18 – Não ignore o alerta de outras pessoas, se estão abordando sobre o problema é porque algo está acontecendo e o objetivo é tentar ajudar, pois o quanto antes a família tomar conhecimento do problema, mais rápido ela pode começar a agir;

19 – Não perca tempo em perguntar para ele se está fazendo uso, ele vai negar, inclusive jurando que não faz.

Obs.: O fato de eles enquadrarem em um ou outro fator descrito acima não significa que estão fazendo uso das drogas, no entanto, quanto mais itens se enquadram maiores são as probabilidades de que algo está acontecendo e isso exige atenção e urgência.

Havendo qualquer indício de uso, ou suspeita, não fique sozinho, procure o Programa Amor-Exigente em sua cidade ou o mais próximo.

Celso Garrefa


sexta-feira, 2 de maio de 2025

LIBERTE-SE DA CULPA QUE TE PRENDE AO PASSADO

"Culpas, desculpas e culpados são pesos desnecessários que travam os passos, correm os laços e dificultam o caminhar"

Toda vez que nos vemos diante de um grande problema costumamos olhar para trás, tentando identificar em nós as suas causas. Essa busca dos porquês, em doses homeopáticas, pode ser útil para identificarmos suas raízes e corrigir os rumos daquilo que precisa ser melhorado, mas, em doses elevadas e cobrança desmedida sobre nós mesmos pode resultar num forte sentimento de culpa, e consequentemente, causando-nos sofrimentos internos e intensos.

As causas de um problema, geralmente, não estão associadas apenas a um fator, mas a um conjunto de circunstâncias que atuam na vida de uma pessoa; no entanto, costumamos ignorar essa realidade, assumimos para nós a culpa pelo contratempo e menosprezamos todo o resto.

Afetados pelo sentimento de culpa nos autocondenamos e, consequentemente, paralisamos qualquer tentativa de ação, isso porque esse sentimento está relacionado ao passado e não há como modificarmos o que passou. 

Para seguirmos em frente, vamos precisar nos libertar do peso causado pelo sentimento de culpa, soltar as correntes que nos prendem ao passado e assumir responsabilidades no presente, como citado pela frase, de autor desconhecido: "Culpas, desculpas e culpados são pesos desnecessários que travam os passos, corroem os laços e dificultam o caminhar. Portanto, assuma as responsabilidades que lhe cabe, repare o que for possível e avance, sem olhar para traz". 

Celso Garrefa

Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "Primeiro dia da minha nova vida"




quinta-feira, 17 de abril de 2025

CONSTRUINDO UMA AUTORIDADE SÓLIDA

(Imagem gerada por IA)
O exercício da autoridade é necessário e legítimo e sua ausência é desastrosa na educação dos filhos, no entanto, a conquista da autoridade não é algo que recebemos pronto, mas uma construção que exige atitudes e comportamentos adequados. 

O primeiro equívoco é tentar conquistá-la através de comportamentos hostis, grotescos ou violentos, ou através de gritos histéricos e atitudes agressivas. Não construímos uma autoridade sólida através da violência, e sim através de comportamentos equilibrados, de posicionamentos claros e firmes, onde o sim possui valor de sim, no entanto, quando o não é a resposta necessária, ele precisa prevalecer.

Posicionamentos frágeis e atitudes que não se sustentam, além de minar qualquer possibilidade de sucesso na construção de uma autoridade sólida, ainda nos tornam presas fáceis para filhos manipuladores, que são experts na arte de insistir, de incomodar, de manipular, até conquistarem aquilo que desejam.

O relacionamento do casal exerce um papel determinante no fortalecimento ou na fragilização da autoridade. Falar a mesma língua, em relação à educação dos filhos, é um fator positivo nessa construção, mas quando um vive desautorizando o outro, desconstruindo um combinado, são fatores negativos que enfraquecem essa conquista.

Por fim, não dá para falar em autoridade sem abordar um fator essencial para essa construção, que é o poder do exemplo. Sem sermos exemplos acabamos adotando atitudes nada funcionais: ou nos tornamos autoritários - faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço - ou nos tornamos permissivos e fechamos os olhos para os comportamentos que desaprovamos. E relembrando, mais uma vez, um dos lemas do Programa Amor-Exigente: Eu amo você, mas não aceito aquilo que você faz de errado.

Celso Garrefa

Pedagogo Social

Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "O primeiro dia da minha nova vida"

 





terça-feira, 8 de abril de 2025

QUAL É O SEU PAPEL?


Percebemos, nos dias atuais, uma confusão em relação aos papéis que cada um ocupa no contexto familiar. Pais deixando de exercer seu papel, para se tornarem apenas amiguinhos dos filhos, outras vezes tratando filhos adultos como se esses fossem crianças incapazes. Esposas assumindo o papel de mães do companheiro, avós anulando o papel dos pais e assumindo para si a responsabilidade pelos netos, pais transferindo suas responsabilidades para professores etc. 

Sem uma clareza nos papéis que cada um desempenha no ambiente familiar, a casa pode se tornar disfuncional. Não se constrói um ambiente familiar adequado e equilibrado, se deixarmos de assumir ou reassumir as nossas funções de acordo com a posição hierárquica que ocupamos.

Além das diferenças nos papéis que pais e filhos ocupam no contexto familiar, também devemos considerar outras diferenças, como, por exemplo, o fato de que cada um deles viverem momentos diferentes. Os pais, hoje adultos, já foram adolescentes, enquanto muitos filhos ainda não amadureceram e essa diferença pode gerar conflitos geracionais.

É necessário buscarmos o equilíbrio nessa relação, compreendendo as mudanças de mundo. Dialogar com a atual geração, da mesma forma com que lidávamos no passado, significa não respeitar as mudanças ocorridas ao longo do tempo, tornando nossa missão menos eficiente. 

Os filhos da atual geração exigem novas formas de abordagens. Isso não significa igualar os papéis. Os pais continuam sendo pais e os filhos continuam sendo filhos; isso não muda e precisa ser preservado. Se o autoritarismo do passado não se encaixa na educação moderna, a autoridade dos pais é legítima, é necessária e deve ser exercida com firmeza, de forma responsável, consciente e coerente. 

Se deixarmos de exercer uma função que nos é de direito, abrimos espaço para outros assumirem. Agindo assim, perdemos o controle da nossa vida e passamos a viver sob os domínios dos outros, inclusive por quem ainda não está preparado para isso ou por quem não gostaríamos que estivesse no comando.


Celso Garrefa 

Pedagogo Social

Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "O primeiro dia da minha nova vida"


sexta-feira, 28 de março de 2025

A CONFIANÇA PERDIDA E O PAPEL AMASSADO

Dois fatores são essenciais para resgatar uma confiança depois de perdida: o tempo e a constância. Comportamentos equilibrados e coerentes, somados ao compromisso de assumirmos aquilo que prometemos, fazem com que a confiança se solidifique, no entanto, quando repetidamente pisamos na bola, as relações se abalam e o descrédito se instala.

A desconfiança não é escolha, mas um sentimento que possui raízes profundas e dolorosas. Não escolhemos perder a confiança em alguém, assim como, não escolhemos voltar a confiar. 

Não se reconstrói uma confiança com a mesma velocidade com que a perdemos. É preciso de tempo e não é pouco, e ainda assim, alguns resquícios permanecem. É como pegarmos uma folha de papel nova, amassá-la e novamente tentar trazê-la ao estado inicial. Ela volta a ficar inteira, mas as marcas permanecem.

No resgate de uma confiança não há espaço para o imediatismo. É preciso dar tempo ao tempo, assumir, de fato, a correção dos problemas que causaram o descrédito, modificando atitudes e comportamentos, contudo, somente o tempo não é suficiente para consertar o estrago, é preciso constância nas mudanças comportamentais. Não adianta ficar semanas, meses, ou mesmo anos sem repetir o problema e novamente "pisar na bola". Muitos de nós somos especialistas em começar, prometer, mas sem constância não atingimos objetivo algum. 

O pedido de perdão é o primeiro passo nesse processo, mas o perdão só faz sentido se nos comprometermos a não repetir as mesmas falhas que culminaram na perda da confiança. Sem isso, o pedido de perdão não passa de mais uma enganação, mais uma manipulação.

A decisão de mudar, o compromisso com a mudança e a constância são os fatores que ao longo do tempo permitem que a confiança vagarosamente se reestabeleça. A retomada da confiança perdida não possui data de validade, é para a vida toda. 

Celso Garrefa
Pedagogo Social
Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "Primeiro dia da minha nova vida"







sexta-feira, 21 de março de 2025

VOCÊ PRECISA CONFIAR EM MIM

Um dos desafios das pessoas em processo de recuperação da dependência do álcool ou de outras drogas é lidar com a falta de confiança da família. Eles queixam que, apesar dos seus esforços, a desconfiança ainda prevalece com muita força. Por outro lado, os familiares relatam que desejam intensamente confiar, mas não conseguem fazê-lo. Como lidar com isso?

Não precisamos de muita coisa para perdermos a confiança em alguém, mas recuperá-la é um desafio que exige muito esforço e mesmo assim, precisa de tempo, que não costuma ser pouco. Enquanto a pessoa estava no uso, os familiares conviveram com tantas mentiras e promessas não cumpridas, que cansaram de palavras. Conversas não convencem mais. A recuperação da confiança é um desafio a longo prazo, que precisa ser conquistada e não cobrada, e isso só é possível através de novas e permanentes atitudes e comportamentos.

A pessoa em recuperação ajuda muito quando, num exercício de humildade, posiciona os familiares em relação ao que pretende fazer, onde deseja ir, a que horas pretende voltar e consequentemente, cumpre rigorosamente com aquilo que foi combinado. Essas atitudes encurtam o processo de retomada da confiança.

Em relação à família, sabemos que não é fácil recuperar a confiança perdida depois de anos de problemas e recuperá-la dependerá muito das atitudes apresentadas pelo outro, contudo, devem adotar algumas posturas para lidar com isso.

Manter a atenção é necessário, mas não é produtivo fazer uma marcação cerrada, com cobranças exageradas, lembrando-o a todo instante sobre seu passado ou vasculhando os seus pertences. Também devem evitar falar com a pessoa como se ela fosse fazer uso, todas as vezes que sai de casa ou recebê-la como se ela tivesse feito uso no momento em que retornam. 

A pessoa em recuperação deve aceitar a ideia de que a desconfiança está enraizada na família e lidar com isso com naturalidade, sem utilizar desse fato para chutar o balde e colocar tudo a perder. O resgate da confiança perdida é um processo a ser construído ao longo do tempo. Se a perda da confiança é processo veloz como um guepardo, sua recuperação é lenta como uma tartaruga. É preciso muita paciência.

CELSO GARREFA
Pedagogo Social
Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente
de educar" e "O primeiro dia da minha nova vida"

sábado, 15 de março de 2025

CONFIANÇA PERDIDA, DIFÍCIL RESGATE

Quem convive com um dependente do álcool ou de outras drogas conhece muito bem algumas características marcantes presentes nessas pessoas, como a mentira, a chantagem, a manipulação e as promessas não cumpridas. Nunca estão onde dizem estar, raramente cumprem com os horários combinados, dizem que vão se cuidar, porém retornam para casa sobre efeito de álcool ou outras drogas. Prometem que vão melhorar, mas não mostram mudança alguma, com isso, a confiança é perdida, cedendo espaço para as desconfianças.

Como a dependência é um processo longo, uma doença progressiva, a desconfiança cresce, cresce e cresce. Quanto maior o tempo de envolvimento com as drogas, mais enraíza nos familiares o sentimento de desconfiança, descrença e desesperança.

Chega um momento em que o dependente decide abandonar as drogas. Para isso alguns buscam grupos de auto e mútua ajuda, outros fazem tratamento em clínicas ou comunidades terapeutas. A família, por sua vez, participa de reuniões do programa Amor-Exigente. Durante esse processo, a desconfiança continua: será que vai dar certo; como vai ser o seu retorno; e se ele voltar a fazer uso; e se sofrer uma recaída. Esses questionamentos perturbam e incomodam os familiares, afinal foram tantas as promessas não cumpridas que as desconfianças ainda prevalecem com muita força.

Espera-se que ao final de uma internação, o dependente viva um novo momento, busque a sua sobriedade, construa uma nova vida. Nessa fase eles buscam resgatar a confiança perdida, contudo precisam aprender a conviver com ela, pois esse sentimento está fortemente enraizado na família. Por mais que os familiares desejam confiar, isso não é tarefa tão simples assim. 

Não resolve cobrar confiança. Sua retomada é um processo muito lento que não se recupera com palavras ou promessas, mas através de atitudes e comportamentos adequados e equilibrados. Se precisamos de pouca coisa para perder a confiança, vamos precisar de muita para recuperá-la. 

PS: Próximo texto vamos apresentar algumas dicas para lidar com a confiança perdida.


Celso Garrefa
Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "O primeiro dia da minha nova vida".






terça-feira, 4 de março de 2025

LIMITES NÃO SÃO FREIOS

Problemas complexos e de difíceis soluções costumam minar nossas energias, atingir nossos limites e, como consequência experimentamos, por vezes, a sensação de haver tentado de tudo, e não enxergamos uma saída.

É verdade que os nossos recursos são limitados, mas não devemos fazer disso uma barreira paralisante, que nos mantém estagnados, presos ao problema e incapazes de enfrentar o desafio, pelo contrário, significa que precisamos buscar meios de ampliar nossas potencialidades. 

O primeiro passo é resguardar os recursos já existentes, preservando nossas estruturas. Não resolve abandonar emprego porque estamos com um problema familiar, ou deixar de dormir à noite enquanto o filho não chega, ou ainda deixar de nos alimentar porque temos uma dívida etc. 

Essas são atitudes disfuncionais que minam nossos recursos materiais, físicos e emocionais e, quanto mais desrespeitamos esses limites, mais adoecemos, mais nos fragilizamos e, consequentemente, diminuímos nossas forças para lidarmos de forma assertiva com o problema.

Mais do que preservar os recursos já existentes, precisamos ampliá-los e para isso, é fundamental  buscarmos ajuda, orientação e apoio. Cada um de nós possui conhecimentos e experiências que são de extrema importância para a solução do desafio, no entanto, essas vivências são limitadas, mas não precisamos nos limitar a nós mesmos. 

Varias cabeças pensando juntas funcionam melhor que uma sozinha. Quando adotamos a coragem de buscar ajuda ampliamos de forma substancial os recursos necessários para enfrentarmos um grande desafio e passamos a enxergar novas possibilidades que até então não havíamos percebido. Em grupo ampliamos nossos recursos e assim deixamos de enxergar limites como freios para encará-los como alavancas. 


Celso Garrefa

Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "Primeiro dia da minha nova vida"





sábado, 22 de fevereiro de 2025

MAIS "GENTE", MENOS "COISA"

Parece-nos que o ser humano está perdendo sua humanidade. As relações entre as pessoas estão cada vez mais frias, ausentes de sensibilidade e pouco empáticas e isso nos deixa um questionamento: será que estamos perdendo nossa essência humana e nos tornando mais "coisa" e menos "gente"?

As evoluções tecnológicas fizeram com que os seres humanos se distanciassem e com isso, estamos vivendo cada vez mais as relações virtuais e menos as presencias. A frieza das redes sociais, de certa forma, fez com que muitos de nós esquecêssemos que somos seres humanos. Nas redes, desejamos mostrar o sucesso, as conquistas e escondemos nossos desafios e dificuldades. Ignoramos que somos gente e que o outro também o é. 

Quantas vezes nos deparamos com postagens nas redes sociais e, mesmo sem conhecer a fonte e a veracidade, friamente, compartilhamos ou fazemos comentários inapropriados e esquecemos que existe uma vida humana do outro lado da tela, uma pessoa que possui sentimentos e sofre as consequências de um ataque desnecessário e gratuito?

Mesmo diante de toda a tecnologia que nos cerca, ainda continuamos a ser gente e como gente possuímos sentimentos que precisamos proteger, com posicionamentos firmes, não permitindo ser invadidos, explorados, manipulados, massacrados, inclusive dentro da nossa própria casa. Todo grande abuso começa com pequenos ataques, que se ignorados ganham em intensidade ao longo do tempo.

O primeiro passo é aceitarmos o óbvio, somos gente, e reconhecendo isso, não aceitar e não permitir sermos tratados como qualquer coisa, como algo sem valor, que não merece respeito e assim, que possamos ser cada vez mais "gente" e menos "coisa".



Celso Garrefa

Pedagogo Social

Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "O Primeiro dia da minha nova vida"

sábado, 15 de fevereiro de 2025

AMOR-EXIGENTE, UM PROGRAMA QUE SALVA VIDAS

Um questionamento que nos chega com frequência é o porquê os pais devem participar de reuniões de grupo, sendo que é o filho quem está fazendo uso de drogas. Acontece que a dependência química não atinge apenas a pessoa que faz uso de substâncias entorpecentes, mas também afeta todos aqueles que convivem com ele.

É comum os familiares chegarem aos grupos mais adoecidos que o próprio dependente. Chegam com o relato de que desejam intensamente ajudá-lo, mas, afetados pela codependência, carregam uma mistura de sentimentos e um sofrimento profundo.

Sentimentos como culpa, medo, tristeza, desespero, entre outros, os fazem paralisar. A vontade de ajudar é imensa, mas estão tão fragilizados que não sabem como agir, por onde começar.

Sem uma base orientadora e sem conhecimento da problemática que envolve a dependência, as tentativas de ajuda, além de não solucionar o problema, podem agravar ainda mais a situação. Cego guiando cego corre-se o risco dos dois caírem no buraco.

Nos grupos de apoio a família começa a despertar do impacto paralisante provocado pela descoberta do problema e a se libertar de sentimentos negativos que travam suas ações. São nos grupos de apoio que as famílias se fortalecem e quando fortes, deixam de ser alvo de fácil manipulação. Aprendem a lidar com um problema de alta complexidade de forma assertiva e orientada.

Enfim, a família deve participar de um grupo de apoio porque, mesmo não fazendo uso de drogas, adoece tanto quanto o dependente e quando enfrentam os desafios juntos, estatisticamente, as possibilidades de sucesso do tratamento aumentam de forma extraordinária, portanto, venham se capacitar com o Amor-Exigente, um programa que salva vidas.


Celso Garrefa

Pedagogo Social

Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "O primeiro dia da minha nova vida"

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

PARENTALIDADE DISTRAÍDA

 

- "Saia um pouco deste celular, menino!", costumamos nos queixas com os filhos. Mas, olhando para nós mesmos, será que também não estamos gastando tempo excessivo com nossos aparelhos celulares? Muitos pais atualmente estão presentes fisicamente, mas ocupados demais com seus dispositivos eletrônicos. A isso chamamos parentalidade distraída.

Os vínculos afetivos são um dos principais fatores de prevenção e proteção na educação dos filhos e não se constroem vínculos com distanciamento, seja ele físico ou mesmo aquele em que os pais estão presentes fisicamente, porém absorvidos pelas telas não enxergam as pessoas que convivem no mesmo espaço.  Falta diálogo, falta atenção, falta comunicação, falta demonstração de afeto. 

Pais ocupamos excessivamente com suas redes sociais não encontram tempo para exercer o seu principal papel em relação aos filhos, que é prepará-los para o mundo em que vivem. Na ausência de uma referência familiar que norteiem sua vida eles buscam fora do núcleo parental as suas referências, que nem sempre são as mais adequadas.

Grandes desvios comportamentais não acontecem da noite para o dia. É um processo que se instala ao longo do tempo e precisamos de muita atenção para identificar e corrigir os pequenos  deslizes, caso contrário, as consequências poderão ser desastrosas, no entanto, só vamos perceber tais mudanças se não estivermos tão distraídos com as telas.

Outro problema do uso excessivo das redes são as comunicações interrompidas, conversas cortados pelos sons das mensagens dos celulares, como se aquilo que nos chega seja mais importante que o nosso diálogo. 

Precisamos tirar um pouco nossos filhos das telas e o primeiro passo começa por nós, fazendo uso equilibrado e consciente dessas tecnologias, caso contrário, são eles que poderão nos cobrar: - Pai, sai um pouco desse celular e me enxerga!



Celso Garrefa é pedagogo social, autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "Primeiro dia da minha nova vida".







domingo, 26 de janeiro de 2025

TEM LINGUIÇA COMENDO CACHORRO

Se apresentarmos uma linguiça para um cachorro, certamente ele a comerá. Essa é a logica, tendo em vista que o cão tem fome e precisa saciá-la. Na nossa vida não é muito diferente, mas como seres pensantes, diferente do animal, somos nós que definimos os objetivos pelos quais estamos dispostos a lutar e quais os caminhos a serem adotados visando sua concretização. 

Em uma visão ampla, se pensarmos institucionalmente, cada empresa, cada setor, cada organização também costuma definir seus objetivos, estampando-os em local visível, estabelecendo sua missão, sua visão e seu valor, para que todos tenham conhecimento e sejam membros cooperadores nessa empreitada.

Essas ferramentas ajudam a construir uma base sólida para o sucesso da organização, e havendo clareza nessas definições busca-se pessoas as mais qualificadas possíveis para tornar tudo isso uma realidade. 

Porém, entretanto, todavia, e por incrível que pareça, existem organizações, cujos envolvidos, por motivos incertos, duvidosos, por desconhecimento das funções daquele seguimento ou mesmo para atender a interesses escusos trabalham na contramão daquilo que se espera daquele setor.

E isto posto, quanto pior, melhor. E para dar "certo" é preciso utilizar de quem entra no jogo. Nesses casos, não se busca pelo melhor, pela capacidade, pelo conhecimento, mas por quem está disposto a rasgar a cartilha. 

Infelizmente, essa prática não é tão rara assim, e temos assistido essa realidade a nossa volta, no dia a dia, principalmente no meio político. Isso significa caminhar na contramão do esperado, sem medir as consequências e sem se importar com aqueles que serão prejudicados. É a velha inversão de papeis para agradar uma parcela privilegiada em detrimento dos reais interessados. É a linguiça comendo o cachorro e isso não é nada bom. 


Celso Garrefa

Pedagogo social

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

TEORIAS NÃO SUBSTITUEM ABRAÇOS

A grande maioria das pessoas que procura por um grupo do programa Amor-Exigente chega adoecida, trazendo na bagagem sofrimentos profundos em razão do desafio enfrentado. Muitos já experimentaram a força cruel do preconceito e foram vítimas de críticas, de julgamentos e de condenações, e o que podemos oferecer, em primeiro lugar, ao acolhê-las na reunião é o respeito.

Respeito em relação à sua história de vida, respeito à sua fragilidade, respeito ao seu momento, ao seu tempo, respeito a sua realidade, respeito às suas individualidades como pessoa humana. Trabalhar o respeito exige cuidado.

Cuidado com receitas simplistas para problemas complexos, cuidado para não comparar quem está chegando agora com o nosso momento atual, cuidado com cobranças excessivas, que estão aquém das capacidades alheias, cuidado para não bombardear com teorias quem, inicialmente, só precisa de um abraço.

Um dos comportamentos essenciais para trabalharmos o respeito chama-se empatia. Reconhecer que um dia também chegamos precisando de colo, de abraço. É fundamental que quem nos procura perceba que o grupo somos nós, de forma igualitária, sem diferenciação de qualquer natureza e que se sinta respeitado em sua integralidade. Empatia não significa apresentar uma receita pronta, como se fôssemos os donos da verdade, sabedor da solução, mas assumir o compromisso de caminhar juntos, estar do lado, fazer-se presente. Isso é o que cativa.



Celso Garrefa

Pedagogo Social 


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

"VOCÊ NÃO É TODO MUNDO

A atual estruturação da sociedade nos impõe padrões comportamentais que muitas vezes copiamos sem refletir, como por exemplo, consumir determinada marca para parecer modernos, usar aquela grife porque está na moda, beber aquele produto para nos sentir inseridos em um grupo, adotar certos comportamentos porque atualmente todos agem assim.

Somos diariamente pressionados a nos enquadrar em padrões pré-estabelecidos por essa sociedade marcadamente excludente, consumista e permissiva, que valoriza mais o ter que o ser, mais as coisas que as pessoas e que não possui nenhum pudor em descartar aqueles que não se encaixam em suas regras. Além disso, a explosão tecnológica dos últimos anos trouxe os chamados influenciadores digitais.

No entanto, aquilo que nos tornamos não é resultado dessas influências, mas sim das nossas próprias escolhas. Possuímos o livre-arbítrio para decidir, escolher e nos posicionar. Personalidade não é seguir e copiar cegamente o que os outros nos impõem, mas traçar o nosso caminho a partir de nós mesmos e de acordo com nossas crenças pessoais.

Como dizia minha mãe, quando eu era pequeno – você não é todo mundo. Diante destes valores superficiais precisamos nos posicionar e assim podemos viver o nosso eu, focados em nossos objetivos, balizados por valores éticos, morais e espirituais e não apenas viver em função dos outros, visando agradar a massa.

Celso Garrefa


 

domingo, 5 de janeiro de 2025

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajuda. Muitos deles, durante a permanência na comunidade terapêutica, cumprem o programa sem dificuldades, mas, assim que deixam a instituição não conseguem manter-se sóbrios. Isso nos faz pensar sobre o que pode ser feito para a manutenção da sobriedade ao longo do tempo.

Longe de querer apresentar uma receita pronta para um problema de alta complexidade, mas deixo algumas dicas para refletirmos e que podem ajudar na prevenção às recaídas:

1 - Compreenda que a internação em clinicas ou acolhimento em comunidades terapêuticas é apenas uma parte do processo de recuperação. A dependência química não tem cura e é necessário continuar o tratamento fora das instituições;

2 - Após o período de internação é fundamental aderir a grupos de auto e mútua ajuda, como o grupo de Sobriedade do Programa Amor-Exigente, os Alcoólicos Anônimos, os Narcóticos Anônimos, a Pastoral da Sobriedade etc.

3 - Fortaleça a espiritualidade, consciente de que para enfrentar tamanho desafio é necessário contar com a força que vem do alto. Seja um membro ativo na religião a qual se identifica.

4 - Modifique o estilo de vida. Aqueles que desejam deixar as drogas, mas não estão dispostos a modificar o jeito de viver dificilmente irão o êxito. Isso inclui evitar pessoas, lugares e hábitos que tenham alguma relação com o uso de substâncias;

5 - Retome os rumos da própria vida, volte a estudar, a trabalhar, a se responsabilizar pelos atos, a conduzir os rumos da sua nova história;

6 - Descubra outros prazeres que sejam saudáveis, ocupe ao máximo o tempo, evitando a ociosidade. Pratique um esporte, faça um curso, aprenda outra língua, descubra o prazer da leitura, faça uma dança etc.;

7 - Compreenda que além da dependência química existem outras comorbidades que também precisam ser tratadas e que, inclusive, pode ter contribuído para o desenvolvimento da doença - transtornos mentais, como depressão, ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia etc. Não despreze a ajuda profissional, seja particular ou através dos Caps-ad, ou Saúde Mental;

8 - Trabalhe a sobriedade comportamental e não apenas a abstinência, corrigindo continuamente os defeitos de caráter, visando ser a cada dia uma pessoa melhor para si mesmo, melhor para sua família e para a comunidade em que vive;

9 - E esta dica é para os familiares: compreendam que todos fazem parte do processo de recuperação e a família também precisa se tratar, cuidar da co-dependência e adquirir habilidades para lidar com um problema de alta complexidade, sem perder o equilíbrio e o controle emocional. Participem do Programa Amor-Exigente;

10 - Entenda que estamos diante de uma doença multifacetada, de alta complexidade e não existem soluções simples para problemas complexos. Quanto maior a determinação, quanto maiores os recursos buscados para lidar com o desafio, maiores as chances de sucesso. Vamos à luta, descobrir o quanto é valioso viver em sobriedade. 


Celso Garrefa

Pedagogo Social

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

"VOCÊ JÁ FOI USUÁRIO DE DROGAS?"


"Você já foi usuário de drogas?" Esta é uma pergunta que costumo receber quando falo com dependentes químicos na ativa ou mesmo em recuperação. Não, eu não passei pela experiência de uso e, portanto, não consigo me colocar no lugar de quem o fez, não consigo saber exatamente como é a experiência de quem desenvolveu a dependência. 

Mas, seja trabalhando profissionalmente ou de forma voluntária com dependentes do álcool ou outras drogas há quase 30 anos, sinto-me na condição de realizar trocas importantes com este público. Necessariamente, não vejo porque ter vivenciado a mesma condição para interagir. Exemplo disso são os médicos obstetras que realizam excelentes trabalhos no cuidado da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, sem nunca ter gerado um filho.

Percebo que, por vezes, alguns dependentes químicos utilizam esse discurso como uma justificativa: "Vocês não entendem o que é passar por isso, só quem vive isso sabe como é difícil". Não tenho dúvidas do quão dificultoso é retomar a sobriedade. Isso exige uma determinação absurda do dependente visando a sua transformação de vida, mas deixo uma pergunta no ar: E o que você está fazendo e o quanto tem se empenhado na busca da sobriedade?

Se por um lado não conseguimos compreender na íntegra como é passar pelo problema, por não tê-lo vivenciado, por outro, os dependentes químicos também não têm noção do que é para seus familiares conviver com uma pessoa dependente. Podem até fazer uma ideia do quanto sofrem, mas não conseguem dimensionar o tamanho do sofrimento por eles vivenciado.

Por tudo isso, não dá para ficarmos buscando justificativas. Precisamos uns dos outros, podemos aprender, crescer e evoluir com as trocas de experiências. Podemos aprender muito com as vivências de quem enfrentou o problema, e aqueles que estão lutando para construir sua sobriedade também podem aprender, crescer e evoluir trocando experiências com pessoas, mesmo que estas nunca fizeram uso de droga alguma. 


Celso Garrefa
Pedagogo Social





sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O VALOR DA BANANA

Uma banana presa à parede por uma fita adesiva foi arrematada, como obra de arte, em um leilão, por R$ 35,8 milhões e o fato foi comentado e discutido em vários canais de comunicação, fazendo-nos refletir sobre o valor da banana. 

Evidente que valor é diferente de preço. Se pensarmos em preço, é possível comprar uma dúzia delas por alguns reais, mas o valor de um produto ou serviço vai muito além do seu preço e inclui a percepção que a pessoa faz em relação ao mesmo produto ou serviço.

O episódio da banana me vez refletir sobre o seu valor. Tenho repetido em minhas palestras, que na nossa casa acontece um fato interessante: a última banana da fruteira nós jogamos fora. Essa banana dispensada evidentemente não custa milhões de reais, mas para nós o seu valor vai muito além dos poucos reais por ela pago.

Um dos principais valores a ser construído e preservado nas relações familiares são os fortes vínculos afetivos entre os seus membros, e onde existe vínculo, existe respeito, existe interesse e preocupação de uns com os outros. Vínculos afetivos são, portanto, uma via de mão dupla, ou seja, dar e receber na mesma proporção.

Sem o fortalecimento dos vínculos, a relação entre os membros da família é de frieza. Cada um vive a seu modo, no seu egoísmo, sem se preocupar com o bem estar do outro, ou os esforços partem de apenas um dos lados, que está sempre cedendo, permitindo inadequações, diminuindo o seu valor, enquanto o outro não demonstra qualquer empatia ou compaixão. 

Talvez, a essa altura, você esteja se perguntando sobre aquela última banana da fruteira, que jogamos fora e isso acontece exatamente devido aos vínculos afetivos construídos na nossa relação familiar. É comum na nossa casa, quando apenas resta uma banana na fruteira, nenhum de nós comê-la pensando no outro. Por fim, a banana acaba amolecendo e dispensada. 

Acho isso fantástico, pois me transmite a certeza de que na nossa casa existe uma relação de empatia, de cuidado, de preocupação com o outro, onde o bem estar de cada um é uma responsabilidade de todos. Finalizo este texto desejando intensamente que na sua casa, a última banana da fruteira também seja jogada fora.


Celso Garrefa
Pedagogo Social





sábado, 30 de novembro de 2024

NÃO FEZ MAIS DO QUE SUA OBRIGAÇÃO


Certa vez no meu trabalho, ao responder o que havia feito em relação a uma situação, recebi um comentário em tão de afronta: não fez mais do que sua obrigação. E de fato era sim a minha obrigação, era meu dever trabalhar para sanar o problema, mas, seja em meu trabalho, seja nos grupos aos quais pertenço, seja no dia a dia, não me contento em apenas fazer pela obrigação, mas sim, procuro entregar o meu melhor, ou seja, fazer além da obrigação, do dever. 

Fazer apenas pela obrigação significa contentar-se com o mínimo, significa tornar as tarefas árduas, os dias arrastados, transformando nossos deveres em um peso na nossa vida. Significa fazer por fazer, e assim, não exploramos nossas competências e não aproveitamos as oportunidades que a vida oferece.

Também devemos refletir sobre quais são as obrigações nossas do dia a dia. Quais são produzidas pelos outros, ou impostas pela sociedade? Destas, quais são aquelas que de fato precisamos nos responsabilizar e entregar o nosso melhor e quais são impostas por pessoas folgadas e manipuladoras e que não devemos abraçar. 

É fundamental compreendermos que existem responsabilidades que não são nossas e portanto, não devemos assumi-las, conscientes de que todas as vezes que assumimos uma obrigação que ao outro pertence, retiramos dele a oportunidade de se responsabilizar pelos seus atos. 

Existem, ainda, as obrigações que criamos para nós mesmos e essas são as melhores. São as nossas metas, nossos objetivos e as motivações que nos levam a cumpri-las com foco e determinação. Quem não estabelece seus objetivos vive em função dos objetivos dos outros e entregar o nosso melhor não é obrigação, é competência.  



Celso Garrefa
Pedagogo Social 














QUEM ESTÁ NO COMANDO DO MEU "EU"

O sétimo princípio básico do Programa Amor-Exigente cita que "tomar atitude precipita uma crise". Mas, crises incomodam, causam de...