sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ESPOSA DE DEPENDENTE QUÍMICO


Quando começamos os trabalhos do Programa Amor-Exigente em nossa cidade, há mais de vinte anos, a grande procura pelo grupo era de pais e mães de dependentes químicos em busca de ajuda. Atualmente, essa busca se diversificou e atendemos também um número significativo de esposas ou companheiras dos adictos.

Muitas destas mulheres se uniram ao parceiro, mesmo sabendo do envolvimento dele com o uso ou abuso de substâncias entorpecentes, mas há também um grande número delas que só descobriram após a união e existe uma parcela de mulheres que só se deram conta do problema depois de um período mais prolongado de convivência, geralmente entre um a três anos após a união.


Em se tratando da recuperação do dependente não costuma haver meio termo, ou seja, elas podem ajudá-los de forma extraordinária ou podem favorecer o agravamento da dependência do parceiro. O que fará a diferença é a busca de orientação e apoio para lidar com o desafio.

Sem orientação, muitas delas desenvolvem a codependência e assim, além de sofrerem todas as consequências negativas advindas da convivência com um adicto, podem contribuir, de forma inconsciente e involuntária para o agravamento do problema. Ameaças vazias, brigas frequentes, agressões verbais ou mesmo físicas, acusações sem limites ou a ausência de um posicionamento claro e firme em relação à dependência do parceiro são atitudes que em nada contribuem para um verdadeiro apoio à recuperação do adicto.
Outro equívoco destas mulheres é a perda da identidade de esposa para adotarem o papel de mãe do parceiro. Esposa é esposa e deve agir como sua esposa, trocando as broncas pela adoção do diálogo claro, corajoso e sincero. Em geral, os dependentes químicos possuem grande dificuldade de amadurecimento. Não são adeptos a assumir responsabilidades e encontram bastantes dificuldades para se tornarem adultos de fato. Normalmente eles buscam na esposa o mesmo trato que recebia da mãe. É preciso que eles percebam as diferenças.

Desculpem-me as mães, mas em geral, as esposas costumam exercer um poder maior que elas sobre o dependente e se souberem fazer uso deste poder, podem contribuir muito para a recuperação do marido. Para tanto, em primeiro lugar, elas precisam buscar o equilíbrio, mesmo diante do caos. Devem adotar uma postura firme, não permitindo ser desrespeitada e muitos menos aceitar quaisquer tipos de violência, tomando atitudes caso ocorra. Também é importante que se relacionem como pessoas casadas. Não funciona casar-se e desejar a continuidade da vida de solteiro. Também é importante direcionar responsabilidades para o dependente, exigindo dele a participação nos pagamentos das contas da casa, o envolvimento na educação dos filhos, etc.

Finalmente, estas esposas não devem de forma ingênua acreditar que amá-los basta e será suficiente para recuperá-los. É preciso mais. É preciso atitude e ação. É importante frequentar um grupo de apoio e orientação. É preciso amor-exigente, e mais importante: é preciso amor próprio para não perder a dignidade.  “Eu amo você, mas não aceito as coisas que você faz de errado”.

Texto de Celso Garrefa 
 Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...