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domingo, 5 de janeiro de 2025

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajuda. Muitos deles, durante a permanência na comunidade terapêutica, cumprem o programa sem dificuldades, mas, assim que deixam a instituição não conseguem manter-se sóbrios. Isso nos faz pensar sobre o que pode ser feito para a manutenção da sobriedade ao longo do tempo.

Longe de querer apresentar uma receita pronta para um problema de alta complexidade, mas deixo algumas dicas para refletirmos e que podem ajudar na prevenção às recaídas:

1 - Compreenda que a internação em clinicas ou acolhimento em comunidades terapêuticas é apenas uma parte do processo de recuperação. A dependência química não tem cura e é necessário continuar o tratamento fora das instituições;

2 - Após o período de internação é fundamental aderir a grupos de auto e mútua ajuda, como o grupo de Sobriedade do Programa Amor-Exigente, os Alcoólicos Anônimos, os Narcóticos Anônimos, a Pastoral da Sobriedade etc.

3 - Fortaleça a espiritualidade, consciente de que para enfrentar tamanho desafio é necessário contar com a força que vem do alto. Seja um membro ativo na religião a qual se identifica.

4 - Modifique o estilo de vida. Aqueles que desejam deixar as drogas, mas não estão dispostos a modificar o jeito de viver dificilmente irão o êxito. Isso inclui evitar pessoas, lugares e hábitos que tenham alguma relação com o uso de substâncias;

5 - Retome os rumos da própria vida, volte a estudar, a trabalhar, a se responsabilizar pelos atos, a conduzir os rumos da sua nova história;

6 - Descubra outros prazeres que sejam saudáveis, ocupe ao máximo o tempo, evitando a ociosidade. Pratique um esporte, faça um curso, aprenda outra língua, descubra o prazer da leitura, faça uma dança etc.;

7 - Compreenda que além da dependência química existem outras comorbidades que também precisam ser tratadas e que, inclusive, pode ter contribuído para o desenvolvimento da doença - transtornos mentais, como depressão, ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia etc. Não despreze a ajuda profissional, seja particular ou através dos Caps-ad, ou Saúde Mental;

8 - Trabalhe a sobriedade comportamental e não apenas a abstinência, corrigindo continuamente os defeitos de caráter, visando ser a cada dia uma pessoa melhor para si mesmo, melhor para sua família e para a comunidade em que vive;

9 - E esta dica é para os familiares: compreendam que todos fazem parte do processo de recuperação e a família também precisa se tratar, cuidar da co-dependência e adquirir habilidades para lidar com um problema de alta complexidade, sem perder o equilíbrio e o controle emocional. Participem do Programa Amor-Exigente;

10 - Entenda que estamos diante de uma doença multifacetada, de alta complexidade e não existem soluções simples para problemas complexos. Quanto maior a determinação, quanto maiores os recursos buscados para lidar com o desafio, maiores as chances de sucesso. Vamos à luta, descobrir o quanto é valioso viver em sobriedade. 


Celso Garrefa

Pedagogo Social

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

"VOCÊ JÁ FOI USUÁRIO DE DROGAS?"


"Você já foi usuário de drogas?" Esta é uma pergunta que costumo receber quando falo com dependentes químicos na ativa ou mesmo em recuperação. Não, eu não passei pela experiência de uso e, portanto, não consigo me colocar no lugar de quem o fez, não consigo saber exatamente como é a experiência de quem desenvolveu a dependência. 

Mas, seja trabalhando profissionalmente ou de forma voluntária com dependentes do álcool ou outras drogas há quase 30 anos, sinto-me na condição de realizar trocas importantes com este público. Necessariamente, não vejo porque ter vivenciado a mesma condição para interagir. Exemplo disso são os médicos obstetras que realizam excelentes trabalhos no cuidado da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, sem nunca ter gerado um filho.

Percebo que, por vezes, alguns dependentes químicos utilizam esse discurso como uma justificativa: "Vocês não entendem o que é passar por isso, só quem vive isso sabe como é difícil". Não tenho dúvidas do quão dificultoso é retomar a sobriedade. Isso exige uma determinação absurda do dependente visando a sua transformação de vida, mas deixo uma pergunta no ar: E o que você está fazendo e o quanto tem se empenhado na busca da sobriedade?

Se por um lado não conseguimos compreender na íntegra como é passar pelo problema, por não tê-lo vivenciado, por outro, os dependentes químicos também não têm noção do que é para seus familiares conviver com uma pessoa dependente. Podem até fazer uma ideia do quanto sofrem, mas não conseguem dimensionar o tamanho do sofrimento por eles vivenciado.

Por tudo isso, não dá para ficarmos buscando justificativas. Precisamos uns dos outros, podemos aprender, crescer e evoluir com as trocas de experiências. Podemos aprender muito com as vivências de quem enfrentou o problema, e aqueles que estão lutando para construir sua sobriedade também podem aprender, crescer e evoluir trocando experiências com pessoas, mesmo que estas nunca fizeram uso de droga alguma. 


Celso Garrefa
Pedagogo Social





terça-feira, 9 de julho de 2024

TOMADA DE ATITUDE: SEM AÇÃO NÃO EXISTE SOLUÇÃO

A dependência do álcool ou de outras drogas é um problema crescente, que tem afetado muitas famílias. Diante do desafio, muitas delas percebem a necessidade de fazer alguma coisa, tomar alguma atitude, visando a correção da situação incômoda e indesejada.

A primeiro atitude dos familiares é tentar convencer o dependente a mudar de vida, utilizando a tática do convencimento com palavras e conselhos, no entanto, estamos diante de um problema complexo, multifatorial e de difícil solução. Não é nada fácil convencer o dependente a mudar de vida apenas com palavras, se este não está disposto a nos ouvir e quem mais precisa de conselhos são aqueles que menos desejam recebê-los.

A busca da solução para o problema vai além das palavras. Exige ação, atitude. Enquanto apenas falamos a outra parte ouve, ou finge ouvir e nada acontece; quando tomamos algumas atitudes ela precisa se ajustar às nossas mudanças. 

Em primeiro lugar precisamos acabar com as ameaças vazias, que em nada colabora para a solução do problema. Cada ameaça não executada aumenta o descrédito em nossos posicionamentos. Quantas vezes ameaçamos não dar mais dinheiro, e basta uma insistência e cedemos, quantas vezes ameaçamos abandonar tudo e nada fazemos?

O primeiro passo é recuperar o crédito perdido. Podemos começar com atitudes simples, que estejam ao nosso alcance, e que temos condições de mantê-las. Eles devem perceber que a partir de agora aquilo que eu falo, eu faço. Na medida em que vamos recuperando o crédito, na medida em que eles começam a perceber que não estamos mais dispostos a recuar, podemos avançar e ousar nas atitudes tomadas. Mas é de extrema importância estabelecer apenas aquilo que estou disposto a manter. 

Não precisamos pensar em uma atitudes que por si só irá solucionar o problema, mas em um conjunto de ações e perseverar. Se nos sentirmos cansados, podemos até parar, por um instante, para descansar, mas nunca para desistir. O importante é agir, pois, sem ação não existe solução. 


Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP


sábado, 16 de dezembro de 2023

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM, O CORAÇÃO NÃO SENTE

É comum os pais de dependentes químicos demorarem a aceitar que estão diante de um grande desafio, mesmo quando seus filhos já apresentam indícios claros do uso. O que os olhos não veem, o coração não sente, mas se recusam a enxergar, como podem corrigir?

Essa negação do problema acontece de forma inconsciente e possui o objetivo de protegê-los de uma realidade dolorosa, na qual eles não desejam e não sabem como lidar. Mas não tem jeito, abandonar a negação é necessário e urgente.

Esse não é um momento fácil, tendo em vista que a aceitação dos fatos aos quais recusam enxergar causa sofrimentos profundos e angustiantes. Para os pais, reconhecer o problema é como receber um choque paralisante, como se nada mais na vida fizesse sentido.

Encarar as verdades, que de maneira inconscientes relutavam para aceitar, é como viver um luto, mas não tem jeito, a família precisa o mais breve possível despertar do transe provocado pela aceitação da realidade e começar a se mover.

Para tanto, precisam abandonar a ideia de que sozinhos iram solucionar um problema de alta complexidade e buscar ajuda, não apenas para o filho, mas também para toda a família, que adoece tanto quanto ou até mais que o próprio dependente.

Precisam abandonar o sentimento de culpa, parar de justificar os fatos e enxergá-los na medida certa, sem minimizá-los, nem os maximizar. Tratar da codependência e trabalhar o desligamento emocional, ou seja, ampliar os seus recursos para preservar uma mente sã e equilibrada, independente dos comportamentos insanos do outro.

Encarar a realidade dos fatos é sem dúvidas o primeiro passo para a busca da solução do problema. Isso é desafiador, mas a família não precisa enfrentar isso sozinha. Podem contar sempre com a ajuda dos grupos de apoio do Programa Amor-Exigente para enxergar, com clareza, que um desafio nunca chega sem estar carregado de oportunidades.



Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP

sábado, 22 de julho de 2023

FALAR OU CALAR?

Tarde da noite, os pais angustiados esperam pelo filho que está na rua. Eles sabem que o jovem tem feito uso abusivo do álcool e está dependente de outros drogas. Enquanto não chega, eles vão se preparando para uma conversa: de hoje não passa, hoje ele vai ter que nos ouvir, do jeito que está não dá mais.

Já na madrugada, o filho chega cambaleante. – Filho, precisamos conversar. O jovem, não demonstrando qualquer interesse na fala do pai, reage de forma grotesca: - De novo esse papo, não estou a fim de conversa, não. Entra no quarto bate a porta e deixa os pais no vácuo.

É inegável que os pais devem e precisam falar com os filhos sobre o abuso do álcool ou consumo de outras drogas, porém, é preciso que isso aconteça de forma adequada e em uma melhor hora.

Quando um filho chega sob efeito de substâncias entorpecentes, qualquer tentativa de diálogo não produz efeito algum. Nesse momento, aquilo que é transmitido entra por um ouvido e sai pelo outro, ou ele pode se tornar agressivo e a tentativa de diálogo terminar em confronto.

Mas é importante não deixar cair no esquecimento. É comum no dia seguinte, quando o filho recuperou do porre da noitada, os pais se calarem, com receio de tocar no assunto e ele sair para rua novamente. Como uma forma de se protegerem dos sofrimentos resultantes da convivência com um dependente, os pais se iludem: quem sabe dessa vez ele para, e adotam o silêncio.

Não dá para calar diante do problema, mas também não precisamos exagerar com sermões e broncas intermináveis. É preciso ser breve e passar o recado, transmitindo nosso posicionamento contrário ao uso, de forma clara e firme, colocando-nos a disposição para ajudá-lo a sair do enrosco em que se meteu, porém, descartando qualquer tipo de ajuda que apenas favoreça a continuidade do problema e facilite o seu uso.

É preciso coragem para toca no assunto e jamais nos calar diante de um problema, pois, como diz um dito popular, quem cala, consente.



Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP

domingo, 30 de abril de 2023

DEPENDÊNCIA QUÍMICA, É POSSÍVEL VENCÊ-LA

Muitos dependentes do álcool ou de outras drogas, após anos de problemas, perdas e sofrimentos, decidem abandonar o vício, porém, percebemos que são poucos que conseguem sucesso nesta batalha. A grande maioria para por dias ou semanas, mas não sustenta a sobriedade. Mesmo aqueles que internam em comunidades ou clínicas por meses, ao retornarem para o convívio em sociedade, parte deles sofrem as recaídas e voltam ao consumo da substância. 

Sabemos que não existe cura para a dependência, porém, é plenamente possível controlar a doença e para tanto é preciso contar com um conjunto de fatores capazes de sustentar uma vida sem drogas. Para obter o máximo de recursos necessários para a recuperação e manutenção da sobriedade são necessárias duas atitudes conjuntas: contar com uma rede de apoio e fazer a sua parte no processo de recuperação.

Quanto maior a rede de apoio, maiores as possibilidades de recuperação. Comunidades terapêuticas, clínicas, Caps-ad, grupos de apoio, o fortalecimento da espiritualidade, o apoio seletivo da família, etc., são recursos disponíveis que podem ser buscados. Contudo, nenhuma ajuda, nenhum serviço, nada será capaz de produzir resultados positivos se o dependente não está disposto a fazer o movimento que somente ele pode fazer na construção da sobriedade. 

Não é possível ajudar quem não deseja ser ajudado ou quem espera que os outros resolvam o seu problema, sem que nada precisem fazer. Recuperação é um processo a ser construído, que exige perseverança e muita determinação. 

Por fim, precisam também compreender que a recuperação é construída por etapas, em uma busca contínua e permanente. Mesmo quando se sentem bem e sem fazer uso, precisam continuar seu tratamento. O auge da recuperação é atingido quando desenvolvem a interdependência, ou seja, receber apoio ao mesmo tempo em que oferece apoio para quem precisa. 

Celso Garrefa
Assoc. AE de Sertãozinho SP

domingo, 12 de março de 2023

"PAI, FAZ MAIS UM PIX PRA MIM"

O Pix, um modo de transferências e pagamentos instantâneos, é mais um recurso tecnológico que chegou para facilitar a nossa vida, porém, para muitos familiares isso está se tornando um tormento. Muitos filhos estão achando que seus pais são bancos e a qualquer hora...


Obs.: Em razão de regras contratuais, este texto não está mais disponível neste blog, podendo ser lido na íntegra no livro "ASSERTIVIDADE, UM JEITO INTELIGENTE DE EDUCAR", de Celso Garrefa.


                                                               Grato pela compreensão.  





segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

"A" DE ABELHA, "E" DE ELEFANTE, "Z" DE ZABUMBA

Recentemente fomos convidados a apresentar o Amor-Exigente para um grupo de pessoas interessadas em implantar o programa em uma cidade vizinha, cuja identidade prefiro preservar. No dia e horário combinados deslocamos até o local e fomos muito bem recebidos por uma equipe de pessoas dispostas e interessadas.

Era uma escola dos anos iniciais e reservaram uma sala de aula para a apresentação. As cadeiras estavam enfileiradas em frente a um quadro negro, onde se via, logo acima, um varal feito com barbante, com muito capricho, onde penduraram as letras do alfabeto acompanhadas de figuras para ajudar as crianças a memorizarem cada letrinha.

Até aí, tudo muito bem, mas o que chamou a nossa atenção foi a figura escolhida para representar a letra “K: uma lata de cerveja cuja marca inicia com “K”.

O varal me fez relembrar da minha escola na infância, da primeira professora, dos colegas de classe, e da cartilha “Caminho Suave”.  Ainda preservo na memória cada figura correspondente a cada letra do alfabeto, desde o “A” de abelha, o “E” de elefante, até o “Z” da zabumba.

A cena vista hoje retrata o quanto vivemos em uma sociedade em que o álcool é culturalmente aceito e glamourizado. As empresas investem alto em campanhas publicitárias, ligando a marca ao prazer, ao sucesso, à alegria e o primeiro contato da criança com a substância costuma acontecer dentro de casa, com anuência dos pais.

Ignora-se que o álcool também é droga, mesmo que lícita para maiores, de alto poder destrutivo para aqueles que se tornam dependentes dele, e não são poucos. Segundo estimativas, uma parcela superior a 10% da população possui problemas relacionados a esse produto.

Infelizmente, a conscientização dos riscos que o consumo do álcool representa é quase nulo. Se é desesperador ver pais mergulharem a chupeta do bebê no copo de cerveja, não menos desesperador é ver uma escola utilizar a imagem de uma substância alcoólica na alfabetização de crianças.

Não consegui sair do local, sem alertar sobre a cena. Trocar a imagem é urgente, mas não basta: precisamos mudar mentalidades. Consciência começa com “C”, mas bem que poderia começar com “K”, assim poderíamos trocar a figura da cerveja por “Konsciência”.


Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP

sábado, 12 de novembro de 2022

DISCIPLINA: PONTE PARA A SOBRIEDADE

A dependência do álcool ou de outras drogas é um problema complexo que atinge um número elevado de pessoas, causando inúmeras consequências negativas, afetando não só o usuário, como também seus familiares. Muitos deles chegam a manifestar o desejo de superar o problema, porém, a maioria espera por uma solução pronta, uma resposta imediata, sem esforços e com isso não alcançam a recuperação.
É plenamente possível superar o problema, mas, é preciso muita perseverança e disciplina, características que não costumam fazer parte da rotina de um dependente, entretanto, são especialistas em arranjar desculpas para desistir e essas justificativas quase nunca estão em si mesmos, mas nos outros.
Muitos buscam um tratamento, porém, poucos perseveram. Isso, em parte, justifica o baixo índice de pessoas dependentes que conseguem superar o vício.
Segundo o Programa Amor-Exigente é preciso exigência na disciplina para ordenar e organizar a nossa vida. O uso de substâncias é um fator capaz de desestruturar a vida de qualquer pessoa e não é tarefa fácil reorganizar o que se transformou em uma desordem total.
É preciso muita disciplina, determinação, perseverança e insistência com foco em um objetivo e um conceito muito interessante, cuja autoria desconheço, cita que “disciplina é fazermos aquilo que precisa ser feito, mesmo quando não estamos com vontade de fazer”.
O foco na disciplina é uma atitude necessária para o sucesso e manutenção da sobriedade, sem isso, o desejo de superar o desafio não passa de mais uma enganação, não dos outros, mas de si próprio.


Celso Garrefa
Assoc. AE de Sertãozinho SP 

domingo, 23 de outubro de 2022

TENHA CALMA, O DESESPERO É UM GRANDE ENGANO


Muitas vezes nos vemos diante de uma situação tão complicada, que não enxergamos uma saída e entramos em desespero. A descoberta de que um filho está fazendo uso abusivo de drogas é um exemplo de drama que leva muitos pais a experimentarem essa terrível sensação.

Em estado de desespero os familiares sofrem um impacto paralisante, que os impedem de adotar qualquer tipo de ação, ou pior, pode leva-los agir no impulso do momento e adotar atitudes impensadas que, ao invés de produzir resultados positivos, agravam ainda mais uma situação que já é grave.

O pânico impede os familiares de enxergar o problema na medida certa. É comum super dimensionarem a situação, e com isso, não conseguem vislumbrar uma saída ou uma solução.  Os pensamentos não possuem uma lógica e são dominados pelo negativismo.

Nos raros momentos em que pensam em alguma medida, buscam o imediatismo, porém, nem sempre se resolve um problema instalado a longo tempo em um estalar de dedos e a frustração aumenta ainda mais o estado de desespero.

O primeiro passo é tentar manter a calma diante de um grande desafio. A calma nos permite lidarmos com um problema de alta complexidade com discernimento, controle e sabedoria. Ela nos permite agir ao invés de apenas reagir, conscientes de que manter a calma diante do caos não significa aceitar comportamentos que desaprovamos, mas lidar com eles com posicionamentos firmes e ações controladas e equilibradas.

Duas atitudes são fundamentais para mantermos a calma: fortalecer nossa espiritualidade e buscar ajuda, com a certeza de que são nos momentos mais difíceis que sentimos com maior intensidade a presença de Deus em nossa vida.

Por fim, o desespero é um grande engano, portanto, acalme-se, como sugere a canção de Leandro Borges: "Se eu pudesse conversar com sua alma, eu diria, fique calma, isso logo vai passar". 


Celso Garrefa

Pedagogo Social 

Assoc. AE de Sertãozinho SP

domingo, 31 de julho de 2022

SÓ SEI QUE NADA SEI

Em uma de nossas reuniões semanais chegou um pai pela primeira vez no grupo, relatando que foi aconselhado a frequentar um grupo de apoio para familiares em razão da internação do filho em uma comunidade terapêutica. Disse ele que procurou o grupo, mas que a psicóloga da comunidade havia conversado com ele e ele já sabia tudo. Ironicamente, pensei comigo: esse pai deve ser um gênio. Tenho mais de 25 anos atuando com familiares e dependentes químicos e ainda aprendo algo novo a cada reunião.

Nesse fato relatado ainda existe algo de positivo. Ele procurou o grupo e com um mínimo de abertura vai perceber rapidamente que a dependência química é uma doença multifatorial de alta complexidade. Vai compreender que não existem receitas prontas, nem soluções mágicas ou respostas imediatas.

Pior são aqueles que não buscam ajuda. Estão diante de um desafio gigantesco e ainda acreditam que sozinhos vão conseguir resolvê-lo, sem perceber que, na maioria das vezes, estão mais adoecidos que o próprio dependente.

Como não buscam apoio, muitos acabam desabafando com pessoas, por vezes bem intencionadas, mas totalmente despreparadas em relação ao problema. Dependência química não é um jogo de futebol, mas está cheio de palpiteiros e especialistas de poltrona, que apresentam soluções simplistas para um desafio gigantesco, com isso apenas aumentam ainda mais o sentimento de culpa já fortemente enraizado na família.

É comum ouvirmos aquela famosa frase: - Ah, se fosse comigo! Mas não é contigo e até por isso não tem nem ideia do quão complexo é lidar com tudo isso.

O primeiro passo para lidar com o problema é reconhecer a sua complexidade, compreendendo que será preciso muito trabalho, muita busca de informações adequadas, muita persistência e perseverança. No final, a recompensa chega com os juros do crescimento próprio e da sabedoria. E como tenho repetido: a maioria das pessoas que considero “grandes” são aquelas que tiveram de enfrentar grandes desafios, que reconheceram o quão pouco sabiam, foram em busca e se tornaram gigantes.


Celso Garrefa

Assoc. Amor-Exigente de Sertãozinho SP

sexta-feira, 1 de abril de 2022

VIVER É PRECISO

A dependência química é vista por muitos pais como algo distante, que acontece apenas na casa dos outros e de repente, muitos de nós somos surpreendidos pelo problema, que chega como uma verdadeira avalanche e da noite para o dia parece que tudo se transforma. 

A descoberta provoca em muitos familiares um choque paralisante, como se nada mais na vida fizesse sentido. É comum deixarmos de fazer coisas que estávamos acostumados no dia a dia. Abandonamos o lazer, paralisamos projetos e planos, procuramos o isolamento. É como se a vida pessoal parasse a partir da descoberta para vivermos tão somente em função do nosso desafio e com isso experienciamos um sofrimento profundo.

Abandonar os cuidados pessoais não é solução para o problema. Podemos fazer muito pelo outro, sem medir esforços na busca de soluções para o desafio, sem que para isso precisemos deixar de viver a nossa vida. Deixar de nos alimentar, não dormir a noite, abusar do uso de remédios ou buscar o isolamento apenas nos fragilizam e fragilizados reduzimos as nossas forças para lidarmos com tamanho desafio.

Desejamos imensamente ajudar o nosso familiar a se livrar do problema, mas em estado de choque, adoecemos e vamos precisar de apoio para nos livrarmos de sentimentos paralisantes, como o medo, o estado depressivo e a culpa etc., tão presentes nas famílias codependentes. 

A vida continua, e é urgente resgatá-la. Precisamos despertar do impacto paralisando que o problema provoca. Não precisamos desistir do outro, mas não podemos esquecer de nós. Se não formos capazes de cuidar da nossa vida, onde vamos encontrar forças para tentar ajudar o outro? 

Celso Garrefa
Sertãozinho SP

domingo, 20 de fevereiro de 2022

CHANTAGEM EMOCIONAL

A chantagem emocional é um artifício muito utilizado por familiares de dependentes do álcool ou de outras drogas para sensibilizá-los a buscar por tratamento, porém, essa tática quase nunca funciona.

Muitos pais e mães param de se cuidar, exteriorizando um sofrimento profundo numa doce ilusão de que o filho se compadeça com seu sofrimento e mude seus comportamentos. Infelizmente quase nunca isso acontece porque a outra parte não está em condições de perceber o sofrimento alheio ou está desprovido de compaixão. Ao longo do tempo, o dependente muito afetado pelo uso, provavelmente já está enfrentando o seu próprio sofrimento, que nem sempre ele mesmo percebe, que dirá perceber o sofrimento do outro. 

Sabemos e reconhecemos que o comportamento do outro nos afeta e sofremos também, mas é importante reconhecermos que tais sofrimentos em nada coopera na busca da solução para o desafio, portanto, devemos cuidar para não os utilizarmos como chantagens emocionais.

Mesmo entre os dependentes que percebem, que conseguem dimensionar o drama da família, essa atitude não é produtiva, considerando que isso apenas aumenta o seu drama, pois além de lidar com a própria dependência, ainda sofre pelo sofrimento que causa aos familiares. 

Devemos considerar, ainda, que quanto mais os familiares se debilitam, quanto mais se autoabandonam, menores serão suas forças para enfrentar tamanho desafio. Por tudo isso, as chantagens emocionais não são atitudes assertivas para lidar com tamanho problema. Eles vão precisar muito dos pais, mas pais inteiros, fortalecidos, capazes de ajudá-los. Têm, e não são poucos, mães e pais que chegam aos grupos mais adoecidos do que o próprio dependente e precisam também se curar.

Isso não significa que precisamos ou devemos abandonar a pessoa que desejamos ajudar. Podemos fazer por ela tudo o que estiver ao nosso alcance, não medindo esforços na busca da solução para o problema, tomando atitudes assertivas e nos posicionando com firmeza em relação aos seus comportamentos, mas ganhamos força nessa batalha a partir do momento em que compreendemos que não é nos destruindo que vamos salvar quem amamos. 

Portanto, abandone o autoabandono, arrume seu cabelo, coloque um sorriso no rosto, acabe com as chantagens emocionais, procure ajuda, cuide-se também e assim ganhará resistência para ajudar aquele que te precisa forte. 

Celso Garrefa 
Sertãozinho SP


domingo, 16 de janeiro de 2022

A VIDA NÃO TEM PENA DA GENTE

Por vezes, reclamamos da vida, culpamos as circunstâncias, justificamos as dificuldades e queixamos que conosco, nada dá certo. Mas, somos nós mesmos os construtores da nossa vida. Aquilo que somos é o resultado dos nossos comportamentos, das nossas atitudes e das escolhas que fazemos todos os dias. E as nossas escolhas produzem consequências, que tanto podem ser positivas como negativas. 

As consequências positivas ou negativas das nossas decisões nem sempre se manifestam imediatamente, mas ao longo do tempo, por isso, as nossas escolhas não devem ser pensadas apenas no efeito imediato, mas refletida sobre o seu resultado ao longo do tempo.

Um profissional competente e valorizado, por exemplo, é o resultado de anos de escolhas positivas. Escolha de levantar cedo e estudar, de abdicar de alguns prazeres em função do objetivo, de dormir tarde, mesmo estando cansado. Escolha de não desistir, de insistir, de acreditar, de olhar para o futuro.

Da mesma forma, escolhas negativas também trazem prejuízos ao longo do tempo. Se pensarmos em uma pessoa dependente de quaisquer substâncias entorpecentes, vamos ver que tudo começou com a escolha de experimentar, e essa atitude pode ter produzido uma consequência imediata de sensação de prazer que a agradou, fazendo com que ela escolhesse repetir o uso. 

A sensação prazerosa do imediato pode impedir uma reflexão mais profunda daquela atitude ao longo do tempo. Por vezes, o prazer é tão intenso que a pessoa não enxerga ou não acredita nos prejuízos futuros decorrentes daquela atitude. Mas a lei da consequência não perdoa e cobra caro, trazendo prejuízos e sofrimentos profundos, afetando, inclusive, aqueles que a amam. 

Mas, sempre é tempo de fazermos novas escolhas a partir do agora. Escolher mudarmos aquilo que não está bom, que adoece, que machuca, que afeta quem amamos. Sempre é tempo de recomeçarmos, de nos reconstruirmos, de rever  nossos conceitos.

O Programa Amor-Exigente cita que nada muda se não mudarmos, nem mesmo as consequências de nossas escolhas. Por isso, podemos escolher parar de justificar, de culpabilizar e de reclamar e adotar atitudes capazes de nos elevar, de nos melhorar e de produzir consequências positivas. Se não o fizermos, não tenham dúvida, a vida não terá pena de nós. 

   
Celso Garrefa
Sertãozinho SP








terça-feira, 28 de setembro de 2021

QUEM ACOSTUMA AO SOFRIMENTO NÃO BUSCA A CURA

Nem sempre compreendemos o porquê uma pessoa fortemente afetada pela dependência do álcool ou de outras drogas relutar tanto para buscar ajuda, mesmo quando o uso se tornou um grande problema, provocando, a nosso ver, um grande sofrimento.

Como seres humanos somos por natureza adaptáveis às situações vivenciadas. No caso do dependente, essas adaptações podem levá-lo a acomodação, naturalizando o problema de tal forma que não percebe o tamanho exato do seu sofrimento. Essa conformação às intempéries dificulta a percepção do quanto ele está sendo afetado, e como resultado, torna-se inerte ao problema, não busca ajuda, nem a cura.

O desenvolvimento da dependência é um processo extremamente lento, que ocorre em um período prolongado de tempo. Assim, o sujeito lentamente vai se acomodando ao sofrimento, que demora perceber o quanto está se debilitando física, mental e espiritualmente. Mesmo que outras pessoas tentem alertá-lo, é comum ele não perceber e negar o quanto está em queda livre.

A família, por sua vez, tenta fazer de tudo para amortecer a queda, sem perceber que essa atitude não impede a progressão da doença, apenas favorece o protelamento do pedido e aceite de ajuda.

Essa acomodação ao drama torna-se uma barreira para o tratamento. Quem vê de fora percebe claramente o quanto a pessoa está se debilitando, porém, nem sempre esta é a mesma visão do dependente.

Para tentar ajudá-lo precisamos fazê-lo perceber aquilo que recusa aceitar, precisamos fazê-lo enxergar aquilo que não consegue ver. É necessário que ele se inconforme com a situação, ou seja, deixe de se conformar com o sofrimento para descobrir o quanto é prazeroso viver em sobriedade.

Celso Garrefa

Sertãozinho SP

sábado, 17 de abril de 2021

NEGAÇÃO: UMA ATITUDE QUE NOS PRENDE AO PROBLEMA


Costumamos ouvir, com certa frequência, uma fala popular que diz que o que os olhos não veem, o coração não sente, mas se recusamos a enxergar, como podemos corrigir?

Em relação ao uso de drogas, possuímos uma grande preocupação em relação aos filhos, mas ao mesmo tempo, por falta de conhecimentos,  acreditamos que isso acontece na casa do outro, do vizinho, com filhos negligenciados, de periferias. Esse pensamento negacionista em nada contribui para evitarmos o problema, pois, ao não nos sentirmos ameaçados pelo perigo, não adotamos medidas de proteção.

Quando o filho começa a externar alguns comportamentos sugerindo que algo está acontecendo, a negação torna-se ainda mais intensa. A primeira atitude é perguntarmos para ele se está fazendo uso, no entanto, o medo da resposta é tão grande que formulamos a pergunta induzindo-o para a resposta que gostaríamos de ouvir: – filho, você não está usando drogas não, né?

Nenhum de nós queremos enfrentar um problema dessa magnitude e como ninguém deseja sofrer, recusamos, num primeiro momento, a aceitar a realidade. Essa negação é uma atitude inconsciente, utilizada como uma autodefesa das dores e dos sofrimentos oriundos desse drama.

 Inicialmente essa negação é total, ou seja, negamos totalmente aquilo que parece óbvio, mas haverá um momento em que o uso se torna tão escancarado e evidente que não conseguiremos mais negá-lo, no entanto, o pensamento negacionista ainda prevalece, mas de outra forma. Nesse novo momento tendemos a diminuir o tamanho do desafio. É comum, nessa fase, o uso de palavras no diminutivo: é só uma cervejinha, é só um peguinha, é só um cigarrinho, ou buscarmos justificativas: todo mundo usa; ele usa, mas é tão bonzinho; isso é coisa da idade.

 Precisamos abandonar a negação, reconhecer que estamos diante de um grande problema, mesmo sabendo do tamanho do desafio que iremos enfrentar. Esse é um momento extremamente complexo, pois ao abandonarmos a negação, outros sentimentos irão aflorar, como a culpa, a vergonha, a decepção, a tristeza, o medo, a incerteza, etc.

 Para lidarmos com tudo isso, vamos precisar abandonar outras negações, como por exemplo, a ideia de que sozinhos conseguiremos resolver o problema, de que não precisamos de ajuda, de que o problema é só dele, de que surgirá uma solução mágica capaz de solucionar o desafio.

 Por mais difícil que isso possa parecer, precisamos abrir os olhos, para enxergar o problema na medida exata, mesmo que o coração sinta. E para aliviar os sentimentos do coração existe remédio: grupos de apoio, que nos ajudarão a negar outras crenças: de que não damos conta, de que não exista soluções, de que não vamos aguentar, de que não somos capazes.

Celso Garrefa 

Sertãozinho SP

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

CODEPENDÊNCIA - A ILUSÃO DO CONTROLE

(Foto extraída da internet) 
 Certa vez acompanhei o relato de uma mãe que, mesmo não tendo o hábito de beber, decidiu ajudar o filho  para evitar que ele consumisse sozinho toda uma caixa de cerveja, sabendo ela que após o consumo do álcool ele partia para a cocaína, na esperança de que ele diminuísse o consumo. Doce ilusão. Assim que esvaziou a caixa, ela estava bêbada e ele foi buscar outra.

Esse é um exemplo de codependência, um termo amplamente utilizado nos grupos de auto e mútua ajuda para se referir a pessoas fortemente ligadas emocionalmente a outra pessoa, normalmente um familiar dependente do álcool ou de outras drogas, e que acredita ser capaz de controlá-lo. A codependência possui características muito semelhantes aos da própria dependência.

Se o dependente depende do uso das drogas, o codependente depende do dependente, ou seja, para estar bem, o codependente depende de que seu familiar adicto esteja bem, para estar feliz, também depende da felicidade dele.

Da mesma forma com que o dependente nutre a ilusão de que possui o controle sobre a sua droga de abuso, o codependente também nutre a ilusão de que possui o controle sobre o dependente. Assim como o dependente nega o problema, o codependente também nega sua codependência.

 Na ilusão do controle, o codependente passa a viver exclusivamente em função do outro. Quase tudo o que pensa, fala, faz e vive possui alguma relação com o dependente.  Não consegue enxergar a si mesmo, nem as outras pessoas em seu entorno e perde a alegria pela vida.

Se o primeiro passo para o dependente corrigir seu problema é reconhecê-lo, o primeiro passo do codependente também é reconhecer o problema em si mesmo e não no outro e buscar ajuda. Assim como o tratamento do dependente é um processo construído ao longo do tempo, o tratamento do codependente também não se soluciona num passe de mágica. Redescobrir-se além do outro é o começo da batalha contra a codependência, portanto, busque ajuda e redescubra-se.

Celso Garrefa - Sertãozinho SP

sábado, 2 de maio de 2020

LIVES MOVIDAS A ÁLCOOL - UM DESSERVIÇO À COMUNIDADE

(Imagem da internet)
Neste momento de pandemia, em que a recomendação das autoridades de saúde é de isolamento, as lives se tornaram um meio de interação entre as pessoas. Essa prática foi adotada por vários artistas com o objetivo de arrecadar recursos para apoiar no enfrentamento da doença. Isso é fantástico, no entanto, uma parcela deles tem prestado mais um desserviço que um benefício à comunidade.

É de se lamentar assistir alguns cantores realizarem suas lives regados ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, em estado deplorável de embriaguez. O sucesso que estes artistas alcançaram faz deles influenciadores em potencial, acompanhados de perto inclusive por crianças e adolescentes que curtem imitar seus ídolos.

É óbvio que a prevenção à Covid-19 no momento é a nossa maior preocupação, mas não podemos nos esquecer da desgraça que o consumo abusivo do álcool produz em nossas famílias. Os números são alarmantes. Segundo diversas pesquisas, inclusive da OMS, aproximadamente 11% da população mundial enfrentam problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas.  

Será que esses cantores desconhecem os dramas vivenciados por tantas famílias? Provavelmente nunca enxergaram (ou não querem enxergar) o pavor estampado no rosto de uma criança ao ver o pai alcoolista retornar violento para casa. Ou da esposa, cujo companheiro derrete todo seu mísero salário nos botecos. Ou mesmo do próprio doente do alcoolismo que revira os lixos da cidade para juntar algum material para reciclagem, com o único objetivo de consumir sua cachaça. Ou ainda da mãe alcoolista, cujos filhos vivem em estado de total abandono.

Enquanto isso os senhores banalizam o consumo dessas substâncias durante suas lives. Cuidado, o alcoolismo não é uma escolha, mas uma doença que se desenvolve ao longo do tempo e ela é totalmente democrática, não faz distinção alguma entre ricos ou pobres, anônimos ou famosos.

Consciência, meus queridos. De nada vale tentar combater um mal causando outro ainda mais danoso e perigoso. Se não for para fazer direito, não façam, por favor, para o bem de nossas famílias.

Texto de Celso Garrefa
Assoc. Amor-Exigente de Sertãozinho SP

segunda-feira, 16 de março de 2020

LIMITES: SUPERAR OU FREAR?

(Foto da internet)
Limites muitas vezes são vistos como uma barreiras paralisantes, no entanto, dependendo do contexto, devemos analisar nossos limites sob dois pontos de vista. Há momentos em que o objetivo será superá-los, com garra e determinação, e existem situações em que devemos tomar atitudes para interromper um processo antes de atingirmos nossos extremos e a consciência sobre os limites dos nossos recursos é o fator que delimita os momentos em que precisamos frear e os momentos em que é possível superá-los com determinação. 
Em relação a determinadas situações, limites não devem ser vistos como um ponto final, nem utilizados como justificativa para a acomodação, mas sim, como possibilidades de crescimento, de evolução. Essa busca pela superação deve relacionar-se as situações positivas, ou seja, aquelas que são saudáveis e que sua superação tende a nos fazer bem, a nos melhorar.
Como exemplos, podemos ampliar nossa busca por mais conhecimento, melhorar nosso desempenho no trabalho, lutar por melhores condições de vida, encarar situações novas, experimentar novos desafios, abandonar nossa zona de conforto, etc.
Por outro lado, existem momentos que vivenciamos sérios problemas, que exigem ação rápida. Em relação a esses momentos não precisamos esperar atingir nossos extremos para tomarmos atitudes, mas antecipar nossas ações. Empurrar o problema com a barriga, numa crença cega de que as coisas se resolverão por si só apenas faz aumentar nossos dramas e nos expõe a alto grau de risco.
Como exemplo, observemos os dependentes do álcool ou de outras drogas. A cada dia o problema cresce, ganha intensidade, causa danos severos e a resistência em buscar ajuda é enorme. Muitos, somente aderem ao tratamento quando atingem a degradação total, o limite, que alguns preferem chamar de fundo do poço, outros de fundo da fossa. Na família não é diferente. Vivem um drama crescente a cada dia, minam todos os seus recursos e nutrem uma ilusão de que as coisas mudarão por si só. Seguem procrastinando até os limites das suas forças e só buscam ajuda quando não aguentam mais.
Nessas situações, a grande sacada é despertar antes do colapso total, agindo o mais rápido possível para solucionar o problema. Caso seja necessário, podemos buscar ajudar e nos mover, pois esperar até o último segundo para tomarmos uma atitude poderá ser tarde demais. Existem momentos em que precisamos ser sábios, pois, como sugere um velho ditado, sábio é aquele que dá valor ao que tem, antes de perder.
Celso Garrefa
Sertãozinho SP

sábado, 29 de setembro de 2018

ABSTINÊNCIA X SOBRIEDADE


(Crédito Foto: Shutterstok.com)
Abolir por completo o consumo da substância causadora da dependência é um passo gigantesco na busca da sobriedade, porém, estar abstêmio nem sempre significa viver em sobriedade.

Enquanto a abstinência limita-se ao ato de eliminar completamente o consumo da substância causadora da dependência, decidir viver em sobriedade é uma atitude muito maior, que exige do dependente, em recuperação, o compromisso de mudança em todas as áreas da sua vida.

Pouco adianta parar de consumir drogas, mas continuar externando comportamentos desajustados e desequilibrados. É pouco produtivo abandonar o uso, mas continuar culpando os outros pelo problema. Pouco resolve deixar de beber, mas reproduzir a mesma agressividade com a família.

A busca pela sobriedade é uma atitude comportamental que vai além do se manter afastado do consumo da substância de uso. Trabalhar a sobriedade plena significa resgatar os domínios da própria vida, assumindo responsabilidades, corrigindo os defeitos de caráter, abandonando as manipulações e mentiras, etc.

Mais do que parar de usar, o dependente em recuperação, também precisa resgatar o respeito e a confiança das pessoas próximas, e isso não se conquista com palavras ou promessas, nem deixando de fazer uso, mas com atitudes e comportamentos equilibrados e muita perseverança. 

Aqueles, cujo objetivo visa apenas se manterem abstêmios, mas não se preocupam com a sobriedade comportamental, estão na iminência de uma recaída. Sem modificar e reorganizar o modo de viver, o dependente em recuperação coloca-se em constante situação de vulnerabilidade em relação à substância de escolha. E isso é de alto risco.

Alertamos, também, que a sobriedade comportamental não se limita à pessoa usuária de substâncias causadoras de dependência. Existem muitos por aí que jamais fizeram uso de qualquer tipo de droga, mas não possui a mínima sobriedade comportamental. Vivem intoxicados por condutas inadequadas, despejando críticas nos outros, mas são incapazes de olharem para si mesmos. Sobriedade comportamental é, acima de tudo, uma questão ética, que vale para todos.

           

Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...