Mas, seja trabalhando profissionalmente ou de forma voluntária com dependentes do álcool ou outras drogas há quase 30 anos, sinto-me na condição de realizar trocas importantes com este público. Necessariamente, não vejo porque ter vivenciado a mesma condição para interagir. Exemplo disso são os médicos obstetras que realizam excelentes trabalhos no cuidado da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, sem nunca ter gerado um filho.
Percebo que, por vezes, alguns dependentes químicos utilizam esse discurso como uma justificativa: "Vocês não entendem o que é passar por isso, só quem vive isso sabe como é difícil". Não tenho dúvidas do quão dificultoso é retomar a sobriedade. Isso exige uma determinação absurda do dependente visando a sua transformação de vida, mas deixo uma pergunta no ar: E o que você está fazendo e o quanto tem se empenhado na busca da sobriedade?
Se por um lado não conseguimos compreender na íntegra como é passar pelo problema, por não tê-lo vivenciado, por outro, os dependentes químicos também não têm noção do que é para seus familiares conviver com uma pessoa dependente. Podem até fazer uma ideia do quanto sofrem, mas não conseguem dimensionar o tamanho do sofrimento por eles vivenciado.
Por tudo isso, não dá para ficarmos buscando justificativas. Precisamos uns dos outros, podemos aprender, crescer e evoluir com as trocas de experiências. Podemos aprender muito com as vivências de quem enfrentou o problema, e aqueles que estão lutando para construir sua sobriedade também podem aprender, crescer e evoluir trocando experiências com pessoas, mesmo que estas nunca fizeram uso de droga alguma.
Pedagogo Social