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domingo, 5 de janeiro de 2025

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajuda. Muitos deles, durante a permanência na comunidade terapêutica, cumprem o programa sem dificuldades, mas, assim que deixam a instituição não conseguem manter-se sóbrios. Isso nos faz pensar sobre o que pode ser feito para a manutenção da sobriedade ao longo do tempo.

Longe de querer apresentar uma receita pronta para um problema de alta complexidade, mas deixo algumas dicas para refletirmos e que podem ajudar na prevenção às recaídas:

1 - Compreenda que a internação em clinicas ou acolhimento em comunidades terapêuticas é apenas uma parte do processo de recuperação. A dependência química não tem cura e é necessário continuar o tratamento fora das instituições;

2 - Após o período de internação é fundamental aderir a grupos de auto e mútua ajuda, como o grupo de Sobriedade do Programa Amor-Exigente, os Alcoólicos Anônimos, os Narcóticos Anônimos, a Pastoral da Sobriedade etc.

3 - Fortaleça a espiritualidade, consciente de que para enfrentar tamanho desafio é necessário contar com a força que vem do alto. Seja um membro ativo na religião a qual se identifica.

4 - Modifique o estilo de vida. Aqueles que desejam deixar as drogas, mas não estão dispostos a modificar o jeito de viver dificilmente irão o êxito. Isso inclui evitar pessoas, lugares e hábitos que tenham alguma relação com o uso de substâncias;

5 - Retome os rumos da própria vida, volte a estudar, a trabalhar, a se responsabilizar pelos atos, a conduzir os rumos da sua nova história;

6 - Descubra outros prazeres que sejam saudáveis, ocupe ao máximo o tempo, evitando a ociosidade. Pratique um esporte, faça um curso, aprenda outra língua, descubra o prazer da leitura, faça uma dança etc.;

7 - Compreenda que além da dependência química existem outras comorbidades que também precisam ser tratadas e que, inclusive, pode ter contribuído para o desenvolvimento da doença - transtornos mentais, como depressão, ansiedade, bipolaridade, esquizofrenia etc. Não despreze a ajuda profissional, seja particular ou através dos Caps-ad, ou Saúde Mental;

8 - Trabalhe a sobriedade comportamental e não apenas a abstinência, corrigindo continuamente os defeitos de caráter, visando ser a cada dia uma pessoa melhor para si mesmo, melhor para sua família e para a comunidade em que vive;

9 - E esta dica é para os familiares: compreendam que todos fazem parte do processo de recuperação e a família também precisa se tratar, cuidar da co-dependência e adquirir habilidades para lidar com um problema de alta complexidade, sem perder o equilíbrio e o controle emocional. Participem do Programa Amor-Exigente;

10 - Entenda que estamos diante de uma doença multifacetada, de alta complexidade e não existem soluções simples para problemas complexos. Quanto maior a determinação, quanto maiores os recursos buscados para lidar com o desafio, maiores as chances de sucesso. Vamos à luta, descobrir o quanto é valioso viver em sobriedade. 


Celso Garrefa

Pedagogo Social

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

"VOCÊ JÁ FOI USUÁRIO DE DROGAS?"


"Você já foi usuário de drogas?" Esta é uma pergunta que costumo receber quando falo com dependentes químicos na ativa ou mesmo em recuperação. Não, eu não passei pela experiência de uso e, portanto, não consigo me colocar no lugar de quem o fez, não consigo saber exatamente como é a experiência de quem desenvolveu a dependência. 

Mas, seja trabalhando profissionalmente ou de forma voluntária com dependentes do álcool ou outras drogas há quase 30 anos, sinto-me na condição de realizar trocas importantes com este público. Necessariamente, não vejo porque ter vivenciado a mesma condição para interagir. Exemplo disso são os médicos obstetras que realizam excelentes trabalhos no cuidado da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, sem nunca ter gerado um filho.

Percebo que, por vezes, alguns dependentes químicos utilizam esse discurso como uma justificativa: "Vocês não entendem o que é passar por isso, só quem vive isso sabe como é difícil". Não tenho dúvidas do quão dificultoso é retomar a sobriedade. Isso exige uma determinação absurda do dependente visando a sua transformação de vida, mas deixo uma pergunta no ar: E o que você está fazendo e o quanto tem se empenhado na busca da sobriedade?

Se por um lado não conseguimos compreender na íntegra como é passar pelo problema, por não tê-lo vivenciado, por outro, os dependentes químicos também não têm noção do que é para seus familiares conviver com uma pessoa dependente. Podem até fazer uma ideia do quanto sofrem, mas não conseguem dimensionar o tamanho do sofrimento por eles vivenciado.

Por tudo isso, não dá para ficarmos buscando justificativas. Precisamos uns dos outros, podemos aprender, crescer e evoluir com as trocas de experiências. Podemos aprender muito com as vivências de quem enfrentou o problema, e aqueles que estão lutando para construir sua sobriedade também podem aprender, crescer e evoluir trocando experiências com pessoas, mesmo que estas nunca fizeram uso de droga alguma. 


Celso Garrefa
Pedagogo Social





domingo, 8 de setembro de 2024

FILHOS AGRUPADOS, PAIS ISOLADOS

Desde muito cedo nossos filhos formam seus grupos, seja na escola onde estudam, seja com os colegas do bairro, seja nos projetos que participam e até mesmo em suas redes sociais. Agrupados, fazem uso intensivo dessas redes de apoio, trocando experiências o tempo todo. Na contramão dessa realidade, encontramos pais sozinhos e isolados.

Os grupos aos quais os filhos se juntam são influenciadores, e dependendo da turma, tanto podem exercê-las de forma positiva como negativa. Além de influenciadores, os grupos exercem pressões e isso exige atenção e cuidado. 

A adolescência é a fase da transição. Neste período eles tendem a ouvir menos os pais e mais os grupos de amizade, os influenciadores de internet, os ídolos etc. Em geral, sentem-se imunes e poderosos, e se testam o tempo todo. É, portanto, a fase em que estão mais sujeitos a desviar do caminho.

Nessa etapa da vida eles precisam fazer escolhas o tempo tempo, e sem exceção, em algum momento alguém vai apresentar-lhes o álcool e outras drogas. Caberá a eles fazer a escolha, com um detalhe, no momento da oferta, nós, pais, não vamos estar presentes, ou seja, a decisão caberá somente a eles.

Por tudo isso me convenço cada vez mais da necessidade dos pais buscarem conhecimentos, orientações e apoio. Filhos agrupados e pais isolados, alienados e ausentes em nada colaboram para uma transição segura e sadia da adolescência para a fase adulta.

Em primeiro lugar, devemos abandonar a negação e aceitar a ideia de que todos os nossos filhos estão sujeitos a desviar-se da rota. Podemos aprender com eles e formar os nossos grupos, onde trocamos experiências e nos preparamos para lidar com os desafios que atualmente é educar filhos, pois, como cito no livro "Assertividade, um jeito inteligente de educar" - Não existem garantias de sucesso, mas sem uma postura educativa é quase certo o fracasso. 



Celso Garrefa 


sábado, 16 de dezembro de 2023

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM, O CORAÇÃO NÃO SENTE

É comum os pais de dependentes químicos demorarem a aceitar que estão diante de um grande desafio, mesmo quando seus filhos já apresentam indícios claros do uso. O que os olhos não veem, o coração não sente, mas se recusam a enxergar, como podem corrigir?

Essa negação do problema acontece de forma inconsciente e possui o objetivo de protegê-los de uma realidade dolorosa, na qual eles não desejam e não sabem como lidar. Mas não tem jeito, abandonar a negação é necessário e urgente.

Esse não é um momento fácil, tendo em vista que a aceitação dos fatos aos quais recusam enxergar causa sofrimentos profundos e angustiantes. Para os pais, reconhecer o problema é como receber um choque paralisante, como se nada mais na vida fizesse sentido.

Encarar as verdades, que de maneira inconscientes relutavam para aceitar, é como viver um luto, mas não tem jeito, a família precisa o mais breve possível despertar do transe provocado pela aceitação da realidade e começar a se mover.

Para tanto, precisam abandonar a ideia de que sozinhos iram solucionar um problema de alta complexidade e buscar ajuda, não apenas para o filho, mas também para toda a família, que adoece tanto quanto ou até mais que o próprio dependente.

Precisam abandonar o sentimento de culpa, parar de justificar os fatos e enxergá-los na medida certa, sem minimizá-los, nem os maximizar. Tratar da codependência e trabalhar o desligamento emocional, ou seja, ampliar os seus recursos para preservar uma mente sã e equilibrada, independente dos comportamentos insanos do outro.

Encarar a realidade dos fatos é sem dúvidas o primeiro passo para a busca da solução do problema. Isso é desafiador, mas a família não precisa enfrentar isso sozinha. Podem contar sempre com a ajuda dos grupos de apoio do Programa Amor-Exigente para enxergar, com clareza, que um desafio nunca chega sem estar carregado de oportunidades.



Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP

domingo, 18 de junho de 2023

QUAL É A QUALIDADE DOS SEUS PENSAMENTOS?


Começo este texto fazendo a você uma pergunta: Qual é a qualidade dos seus pensamentos? 

Nós, seres humanos, somos sujeitos pensantes e são os nossos pensamentos que geram os nossos sentimentos e, consequentemente, os nossos comportamentos, assim sendo, um processo de mudança comportamental não começa no comportamento em si, mas nos pensamentos.

Somos bombardeados diariamente por uma avalanche de pensamentos, muitos deles positivos, muitos deles negativos e diante destes pontos extremos irá sobressair aquele que mais alimentamos.

Dizem que o pensamento é uma semente que se materializa. Daí a importância de avaliarmos a qualidade dos nossos pensamentos, valorizando a positividade e reduzindo a negatividade. Pensar que nada vai dar certo, que não é possível, que não somos capazes, que tudo está perdido é plantar a semente do insucesso. Por outro lado, acreditar que podemos evoluir, melhorar, crescer e aprender significa regar a semente de possibilidades extraordinárias.

Nem sempre dominamos nossos pensamentos e quando eles insistem em nos incomodar, necessitamos de alternativas para freá-los. Para tanto, não podemos dar espaço para a ociosidade, ao mesmo tempo, fortalecer nossa espiritualidade e buscar ajuda.

Encontrar o equilíbrio em relação ao que pensamos é fundamental para equilibrarmos também a nossa vida. Por vezes pensamos de menos e agimos no impulso, sem refletir, sem pesar as consequências, sem pensar no depois. Agindo na irreflexão cometemos muitas bobagens. Por outro lado, pensar demais e agir de menos paralisa quaisquer possibilidades de mudanças positivas.

Para lidar com isso podemos contar com o apoio do Amor-Exigente, um programa comportamental capaz de nos ajudar a melhorar a qualidade dos nossos pensamentos, consequentemente, equilibrar nossos sentimentos e a partir disso, construir as nossas mudanças comportamentais, tão necessárias para modificar os rumos daquilo que nos incomoda e adoece. Pense nisso.


Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP


domingo, 30 de abril de 2023

DEPENDÊNCIA QUÍMICA, É POSSÍVEL VENCÊ-LA

Muitos dependentes do álcool ou de outras drogas, após anos de problemas, perdas e sofrimentos, decidem abandonar o vício, porém, percebemos que são poucos que conseguem sucesso nesta batalha. A grande maioria para por dias ou semanas, mas não sustenta a sobriedade. Mesmo aqueles que internam em comunidades ou clínicas por meses, ao retornarem para o convívio em sociedade, parte deles sofrem as recaídas e voltam ao consumo da substância. 

Sabemos que não existe cura para a dependência, porém, é plenamente possível controlar a doença e para tanto é preciso contar com um conjunto de fatores capazes de sustentar uma vida sem drogas. Para obter o máximo de recursos necessários para a recuperação e manutenção da sobriedade são necessárias duas atitudes conjuntas: contar com uma rede de apoio e fazer a sua parte no processo de recuperação.

Quanto maior a rede de apoio, maiores as possibilidades de recuperação. Comunidades terapêuticas, clínicas, Caps-ad, grupos de apoio, o fortalecimento da espiritualidade, o apoio seletivo da família, etc., são recursos disponíveis que podem ser buscados. Contudo, nenhuma ajuda, nenhum serviço, nada será capaz de produzir resultados positivos se o dependente não está disposto a fazer o movimento que somente ele pode fazer na construção da sobriedade. 

Não é possível ajudar quem não deseja ser ajudado ou quem espera que os outros resolvam o seu problema, sem que nada precisem fazer. Recuperação é um processo a ser construído, que exige perseverança e muita determinação. 

Por fim, precisam também compreender que a recuperação é construída por etapas, em uma busca contínua e permanente. Mesmo quando se sentem bem e sem fazer uso, precisam continuar seu tratamento. O auge da recuperação é atingido quando desenvolvem a interdependência, ou seja, receber apoio ao mesmo tempo em que oferece apoio para quem precisa. 

Celso Garrefa
Assoc. AE de Sertãozinho SP

domingo, 25 de setembro de 2022

A MELHOR RESPOSTA COMEÇA PELA ESCUTA

Certa vez, uma participante das nossas reuniões do Programa Amor-Exigente relatou que o que a encantou foi ter encontrado no grupo pessoas dispostas a ouvi-la sem críticas e sem julgamentos, em uma época em que cada vez mais encontramos menos pessoas com tempo para nos escutar.

Os retornos das partilhas são fundamentais para as reuniões do grupo, mas um bom retorno começa pelo interesse e atenção na fala das pessoas. O maior responsável pelo alívio proporcionado para aqueles que chegam carregados de problemas não é a nossa fala, mas a nossa escuta interessada.

Por isso, deixemos falar, conscientes da importância de tudo o que for dito. Ouçamos a história de cada um com muito respeito, atenção e empatia, sem a ansiedade de apresentar receitas e soluções imediatas para o problema. Muitos que chegam até nós, num primeiro momento, sequer conseguem nos ouvir.

Caso necessário, o nosso retorno deve ser breve, sem fazer deles uma palestra. Deve ser acolhedor e compreensivo, com todo o cuidado para não fazermos comparações com o nosso momento atual.

Se precisarmos organizar o tempo, é importante usarmos toda a nossa empatia para interferir, sem cortes bruscos, mostrando que desejamos conhecer mais a sua história, convidando para que retornem nas próximas reuniões.

Por tudo isso, a nossa entrega durante as reuniões deve ser plena. Nossos ouvidos devem trabalhar mais que a nossa boca, pois a melhor resposta é, sem dúvidas, aquela que começa pela escuta.


Celso Garrefa

Assoc. AE de Sertãozinho SP

domingo, 31 de julho de 2022

SÓ SEI QUE NADA SEI

Em uma de nossas reuniões semanais chegou um pai pela primeira vez no grupo, relatando que foi aconselhado a frequentar um grupo de apoio para familiares em razão da internação do filho em uma comunidade terapêutica. Disse ele que procurou o grupo, mas que a psicóloga da comunidade havia conversado com ele e ele já sabia tudo. Ironicamente, pensei comigo: esse pai deve ser um gênio. Tenho mais de 25 anos atuando com familiares e dependentes químicos e ainda aprendo algo novo a cada reunião.

Nesse fato relatado ainda existe algo de positivo. Ele procurou o grupo e com um mínimo de abertura vai perceber rapidamente que a dependência química é uma doença multifatorial de alta complexidade. Vai compreender que não existem receitas prontas, nem soluções mágicas ou respostas imediatas.

Pior são aqueles que não buscam ajuda. Estão diante de um desafio gigantesco e ainda acreditam que sozinhos vão conseguir resolvê-lo, sem perceber que, na maioria das vezes, estão mais adoecidos que o próprio dependente.

Como não buscam apoio, muitos acabam desabafando com pessoas, por vezes bem intencionadas, mas totalmente despreparadas em relação ao problema. Dependência química não é um jogo de futebol, mas está cheio de palpiteiros e especialistas de poltrona, que apresentam soluções simplistas para um desafio gigantesco, com isso apenas aumentam ainda mais o sentimento de culpa já fortemente enraizado na família.

É comum ouvirmos aquela famosa frase: - Ah, se fosse comigo! Mas não é contigo e até por isso não tem nem ideia do quão complexo é lidar com tudo isso.

O primeiro passo para lidar com o problema é reconhecer a sua complexidade, compreendendo que será preciso muito trabalho, muita busca de informações adequadas, muita persistência e perseverança. No final, a recompensa chega com os juros do crescimento próprio e da sabedoria. E como tenho repetido: a maioria das pessoas que considero “grandes” são aquelas que tiveram de enfrentar grandes desafios, que reconheceram o quão pouco sabiam, foram em busca e se tornaram gigantes.


Celso Garrefa

Assoc. Amor-Exigente de Sertãozinho SP

domingo, 25 de agosto de 2019

COOPERAÇÃO - PRINCÍPIO ÉTICO FAMILIAR

(Imagem extraída da internet)
 Para vivenciarmos o oitavo princípio ético do Amor-Exigente devemos responder a três questões: O que eu posso fazer por você? O que você pode fazer por mim? O que podemos fazer juntos?

A primeira questão nos convida a um olhar sobre nós mesmos para identificarmos como podemos nos envolver, colocando-nos a disposição para apoiar, auxiliar e agir visando o bem do outro. Essa atitude é uma demonstração do quanto nos preocupamos com aqueles que convivem conosco, pois sem isso, tornamo-nos pessoas egoístas e autoritárias, que ditam ordens, cobram, mas nada fazem.

Mas precisamos de cuidado para não nos transformarmos em meros serviçais do outro. Existem coisas que não precisamos fazer, pois eles possuem plenas condições de realizar por si mesmos. Quando carregamos o material escolar dos filhos ou passamos o dia recolhendo tudo o que eles espalham pela casa, enquanto eles vivem espichados no sofá, não estamos cooperando com eles, pelo contrário, além de sofrermos com uma sobrecarga, ainda tiramos deles a oportunidade de crescimento, de independência e de se tornarem futuramente pessoas responsáveis.

A segunda questão nos leva a refletir sobre a aceitação da ideia de também sermos servidos pelo outro. Muitas de nós gostamos de servir, sem aceitar do outro nada em troca.  Dessa forma não valorizamos suas capacidades e menosprezamos a importância do servir como um valor ético. Quando apenas um lado serve, enquanto o outro somente recebe, o relacionamento torna-se frio. 

A terceira questão nos leva a pensar sobre tudo aquilo que podemos fazer juntos para benefício de todos. Essa é a verdadeira essência da cooperação, no entanto, não basta fazermos juntos, precisamos aproveitar o momento para criarmos um ambiente favorável, fazendo das atividades, algo agradável, onde haja um contato sadio e de qualidade.

Os lares funcionais possuem como uma das principais características os fortes vínculos afetivos entre seus membros. A vivência desse princípio ético em sua plenitude é o combustível que alimenta e fortalece esses vínculos, contribuindo para uma convivência familiar agradável, onde a harmonia reina e o respeito mútuo prevalece. E a isso chamamos de família, ou seja, um grupo de pessoas que cooperam entre si. Sem isso, a casa não passa de um amontoado de pessoas e nada mais.


Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

domingo, 20 de janeiro de 2019

RESPEITAR A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

(Imagem da internet)
Respeitar a dignidade da pessoa humana é o primeiro dos doze princípios éticos do Programa Amor-Exigente e o pilar que sustenta os demais. Respeitar nossos semelhantes é tão óbvio, porém, ao observarmos as pessoas, parece-nos que existe certo prazer em falar sobre o outro, listar seus defeitos, criticar suas atitudes, julgar seus comportamentos, condenar suas ações. 

Nos grupos de Amor-Exigente esse respeito deve começar pelo sigilo em relação à identidade de quem procura pelo programa, bem como em relação aos assuntos ali compartilhados e partilhados. Tudo aquilo que é conversado na reunião não pode sair da sala.

Durante os encontros, o respeito às pessoas deve prevalecer, acolhendo-as sem julgamentos, sem criticas e sem condenações. Quem chega até nós já vivenciou tudo isso com grande intensidade, não desejam e nem precisam de mais ataques

Nas reuniões de grupos, a formação deve ser em círculo, todos sentados em cadeiras, sem mesas ou outras barreiras à frente. O objetivo dessa formação é colocar todos os participantes no mesmo nível, e em igualdade de condições. O coordenador não é o dono, mas um membro do grupo, deve partilhar em igualdade com os demais e também assumir sua meta para a semana.

As pessoas devem ser respeitadas como chegam, independente de sua religião, do seu nível social, da sua orientação sexual ou da sua condição financeira, sem bajular aqueles que possuem melhores condições e sem menosprezar os menos favorecidos. A dignidade da pessoa humana não está relacionada ao ter, mas ao ser. 

Toda correção, quando necessária, deve ser fraterna, com respeito e educação e, preferencialmente, sem expor a pessoa diante de um grupo. 

Também devemos cuidar para não sermos inconvenientes, cortando as falas das pessoas, desviando a nossa atenção, iniciando conversas paralelas, ou acessando o celular durante as partilhas. Enquanto um fala, os outros ouvem, com muita atenção e interesse. Também não devemos exagerar nos retornos das partilhas, fazendo deles quase uma nova palestra. Não deixa de ser uma forma de desrespeito tentar mostrar ao outro, o tempo todo, o quanto sabemos.

Quem procura pelo programa possui grande chance de permanecer se sentir pertencente e respeitado pelos membros do grupo, portanto, devemos fazer deste primeiro princípio ético, uma missão, abandonando o comportamento ciclista, ou seja, pisa embaixo e se curva em cima.

Celso Garrefa
Sertãozinho SP

sábado, 16 de junho de 2018

À ESPERA DE UM MILAGRE

(Imagem da internet)
A dependência do álcool ou de outras drogas é um problema complexo que, além do dependente, afeta toda a família, no entanto, percebemos certa relutância de muitos familiares em participarem das reuniões de grupo.

    Isso ocorre por diversas razões, a começar pela preocupação em expor o problema, temendo pelo julgamento ou crítica das pessoas. Acreditam que sozinhos serão capazes de resolver a situação e demoram em procurar a ajuda do grupo. Quando procuram estão tão aflitos e desesperados que buscam uma solução mágica, uma receita pronta capaz de solucionar, em apenas um encontro, um problema de alta complexidade que se arrasta por anos.

     Muito pais não compreendem a importância de se trabalhar o grupo familiar do dependente, julgando que o problema é dele e assim, ele que resolva. 

         Há também os familiares disfuncionais, carregadas de comportamentos inadequados. Estes vivem condenando o dependente o tempo todo, no entanto, são incapazes de olharem para si mesmos e reconhecerem os seus próprios desajustes. Quando percebem que o programa também cobrará deles uma mudança de comportamento que não estão abertos, nem dispostos a fazê-lo, preferem se afastar.

           Outras famílias não têm coragem para abandonar sua zona de conforto. Acomodam-se em seu pequeno mundo, não se abrem para novos aprendizados e preferem buscar justificativas para tudo. Nada fazem para solucionar o problema e vivem a espera de um milagre.

       Aqueles que permanecem nos grupos são famílias que entendem a proposta do programa e compreendem que a recuperação do dependente é um desafio que envolve todo o grupo familiar, em um processo construído a cada encontro semanal.

Quando me perguntam se o Amor-Exigente é para quem tem problemas, costumo responder que não. Problemas todos nós temos. O Amor-Exigente é para pessoas perseverantes e determinadas em buscar soluções para os seus problemas, com a certeza de que quando fazemos a nossa parte, a providência divina se manifesta e então o milagre acontece.



Texto de Celso Garrefa 
Sertãozinho SP

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

RESPONSABILIDADE SOCIAL (ÚNICOS, MAS PARTE DE UM TODO)

(Imagem da internet)
Nenhum de nós vive isolado. Nascemos em uma família e desde cedo nos juntamos a outros grupos. Somos parte de uma comunidade e vivemos em sociedade. Sofremos os reflexos dos problemas que nos rodeiam e não há como nos colocarmos a margem destes desafios. Adotar uma postura egoísta ou egocentrista é puro engano e não nos imuniza das crises.

A responsabilidade social nos convida a sairmos de nós mesmos e assumirmos nosso papel em sociedade, sem o velho discurso do levar vantagem em tudo. Nós somos a própria sociedade e fechar os olhos para isso significa trabalharmos contra nós mesmos.

O Amor-Exigente nos ajuda a assumirmos nossas responsabilidades sociais fundamentado em seus princípios básicos e éticos. Na terceira semana de cada mês o foco do programa é a nossa comunidade e assim, nos apoderamos dos princípios, discutindo, refletindo e assumindo metas em relação ao nosso papel em sociedade.

Em tempos modernos onde criticar, condenar e buscar culpados são comportamentos rotineiros a nossa volta, o Programa Amor-Exigente, em suas ações de responsabilidade social, acolhe, orienta, assume posições claras e busca soluções, visando a transformação do eu, da família e da comunidade, sem preconceitos ou egoísmos.

Richard Whately citou, certa vez, que “Um homem é chamado de egoísta não por seguir seu próprio bem, mas por negligenciar o bem do seu próximo”. Somos únicos, porém, como uma engrenagem, somos parte de um todo. Responsabilidade social significa ampliarmos nossa visão e nossas ações para além de nós mesmos.

É exagerado engano imaginarmos que ao fazermos algo ao outro apenas ele será beneficiado.  As boas ações também brotam. Ganha o individuo, ganha a sociedade, ganham todos. E não tenho nenhuma dúvida em afirmar que o maior beneficiado de uma ação de responsabilidade social é próprio agente da ação.


De Celso Garrefa
(Texto publicado na revistae - agosto/17 - Ano IX - edição 215)


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ESPOSA DE DEPENDENTE QUÍMICO


Quando começamos os trabalhos do Programa Amor-Exigente em nossa cidade, há mais de vinte anos, a grande procura pelo grupo era de pais e mães de dependentes químicos em busca de ajuda. Atualmente, essa busca se diversificou e atendemos também um número significativo de esposas ou companheiras dos adictos.

Muitas destas mulheres se uniram ao parceiro, mesmo sabendo do envolvimento dele com o uso ou abuso de substâncias entorpecentes, mas há também um grande número delas que só descobriram após a união e existe uma parcela de mulheres que só se deram conta do problema depois de um período mais prolongado de convivência, geralmente entre um a três anos após a união.


Em se tratando da recuperação do dependente não costuma haver meio termo, ou seja, elas podem ajudá-los de forma extraordinária ou podem favorecer o agravamento da dependência do parceiro. O que fará a diferença é a busca de orientação e apoio para lidar com o desafio.

Sem orientação, muitas delas desenvolvem a codependência e assim, além de sofrerem todas as consequências negativas advindas da convivência com um adicto, podem contribuir, de forma inconsciente e involuntária para o agravamento do problema. Ameaças vazias, brigas frequentes, agressões verbais ou mesmo físicas, acusações sem limites ou a ausência de um posicionamento claro e firme em relação à dependência do parceiro são atitudes que em nada contribuem para um verdadeiro apoio à recuperação do adicto.
Outro equívoco destas mulheres é a perda da identidade de esposa para adotarem o papel de mãe do parceiro. Esposa é esposa e deve agir como sua esposa, trocando as broncas pela adoção do diálogo claro, corajoso e sincero. Em geral, os dependentes químicos possuem grande dificuldade de amadurecimento. Não são adeptos a assumir responsabilidades e encontram bastantes dificuldades para se tornarem adultos de fato. Normalmente eles buscam na esposa o mesmo trato que recebia da mãe. É preciso que eles percebam as diferenças.

Desculpem-me as mães, mas em geral, as esposas costumam exercer um poder maior que elas sobre o dependente e se souberem fazer uso deste poder, podem contribuir muito para a recuperação do marido. Para tanto, em primeiro lugar, elas precisam buscar o equilíbrio, mesmo diante do caos. Devem adotar uma postura firme, não permitindo ser desrespeitada e muitos menos aceitar quaisquer tipos de violência, tomando atitudes caso ocorra. Também é importante que se relacionem como pessoas casadas. Não funciona casar-se e desejar a continuidade da vida de solteiro. Também é importante direcionar responsabilidades para o dependente, exigindo dele a participação nos pagamentos das contas da casa, o envolvimento na educação dos filhos, etc.

Finalmente, estas esposas não devem de forma ingênua acreditar que amá-los basta e será suficiente para recuperá-los. É preciso mais. É preciso atitude e ação. É importante frequentar um grupo de apoio e orientação. É preciso amor-exigente, e mais importante: é preciso amor próprio para não perder a dignidade.  “Eu amo você, mas não aceito as coisas que você faz de errado”.

Texto de Celso Garrefa 
 Sertãozinho SP

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Grupo de Apoio

A primeira atitude da família, ao tomar conhecimento da dependência de um de seus membros, é tentar esconder o fato, acreditando que sozinhos seremos capazes de resolver a situação e que vão conseguir ajudá-lo a se livrar do enrosco em que ele se meteu, porém, não basta querer ajudar, é preciso saber ajudar e na busca por esse saber os grupos de apoio são extremamente importantes.
        
Sentimentos como culpa, medo e vergonha nos fazem retrair e buscar o isolamento, no entanto, essa é a pior decisão, pois o que mais precisamos, nesse momento, é de ajuda, de apoio e de orientação. Sozinhos perdemos forças, sentimo-nos perdidos e fragilizados, tornamo-nos alvo de fácil manipulação, passíveis de chantagens e não raro, adoecemos.

Sozinhos enfrentamos o medo, os problemas, os desgastes, além do preconceito de muitos. Assistimos ao afastamento de pessoas amigas ou familiares e não sabemos mais a quem recorrer. Ouvimos muitos conselhos, mas a maioria deles vinda de pessoas bem intencionadas, no entanto, despreparadas em relação ao problema e o que conseguem é apenas aumentar o nosso sentimento de culpa.

Os grupos de apoio do programa Amor-Exigente não possuem uma receita pronta, não apresentam soluções mágicas e nem prometem milagres, mas ao chegarmos nos grupos percebemos, desde o primeiro instante, que não estamos mais sozinhos. Na partilha falamos e somos ouvidos com atenção e respeito, sem acusações e sem críticas.

As trocas de experiências no grupo, norteadas pelos seus princípios básicos e éticos, potencializam a nossa capacidade de enfrentamento do problema e assim começamos a recuperar a esperança perdida. Aprendemos a agir com equilíbrio ao invés de só falar e traçamos metas para alcançarmos objetivos.

 Isolamento não resolve problemas. Os grupos de apoio não fazem mágicas, mas nos capacitam para lidarmos com um problema de alta complexidade de forma assertiva e orientada, amplia nossa visão de mundo, potencializa nossa capacidade de enfrentamento dos desafios e devolve a esperança de retomar os rumos da nossa vida e da nossa família. Por tudo isso, procurem por um grupo de apoio e usufruam do seu poder transformador. 

              
             


Texto de Celso Garrefa          
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP





PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...