Júnior mal chegou da escola, jogou a mochila num canto da sala, deixou o tênis no meio do corredor, esticou-se no sofá e lançou o primeiro de muitos pedidos para sua mãe: - Mãe, pega uma água pra mim. Ela parou, por um instante, o almoço que fazia, encheu um copo e o serviu.
Se questionada, provavelmente vai
justificar sua atitude como uma demonstração de amor, de cuidado, de carinho, como
um meio de fortalecer os vínculos afetivos, mas para o filho todo o esforço dela é visto apenas como uma obrigação.
O fortalecimento dos vínculos
afetivos é essencial para a solidificação das relações familiares, no entanto,
é preciso muito cuidado para não confundirmos um vínculo afetivo com uma
ligação emocional, que, apesar da linha tênue que os diferenciam, são duas
situações complemente diferentes.
Os vínculos afetivos são
construções conjuntas, uma via de mão dupla, em que um se preocupa com o bem
estar do outro, em que os membros cooperam entre si, visando o bem comum, enquanto
que a ligação emocional apenas um lado atua em função do outro, sem nada
receber em troca, um desejo permanente de resolver a vida do outro, de
facilitar a vida do outro, de viver a vida do outro.
Ligações emocionais são
prejudiciais tanto para quem assume as responsabilidades que não são suas, como
para aquele que tem a vida facilitada. Quem vive a vida do outro, não tem vida.
Quem vive em função do outro, não é visto, não existe. E o que é pior, se em
algum momento a pessoa assistida resolver tomar conta da própria vida, quem o
assistia perde a razão de viver. E agora, quem é você? o que sobrou de você?
A pessoa que tem a vida facilitada, sem necessidade, também é prejudicada. Pode encontrar dificuldades de crescimento pessoal, de evoluir, de se tornar independente e responsável. Torna-se frio e enxerga o outro apenas como um serviçal, obrigado a atendê-lo custe o que custar. Se um dia se ver só, pode não saber que rumo seguir.
Por tudo isso, as ligações emocionais devem ser repensadas nas relações familiares. É um comportamento que adoece todos os envolvidos, enquanto que os vínculos afetivos devem ser valorizados, pois são essenciais na construção de um ambiente familiar funcional. Enfim, para que viver em função do outro, se podemos viver todos?
Assoc. AE de Sertãozinho SP