Quem convive com um dependente do álcool ou de outras drogas conhece muito bem algumas características marcantes presentes nessas pessoas, como a mentira, a chantagem, a manipulação e as promessas não cumpridas. Nunca estão onde dizem estar, raramente cumprem com os horários combinados, dizem que vão se cuidar, porém retornam para casa sobre efeito de álcool ou outras drogas. Prometem que vão melhorar, mas não mostram mudança alguma, com isso, a confiança é perdida, cedendo espaço para as desconfianças.
Como a dependência é um processo longo, uma doença progressiva, a desconfiança cresce, cresce e cresce. Quanto maior o tempo de envolvimento com as drogas, mais enraíza nos familiares o sentimento de desconfiança, descrença e desesperança.
Chega um momento em que o dependente decide abandonar as drogas. Para isso alguns buscam grupos de auto e mútua ajuda, outros fazem tratamento em clínicas ou comunidades terapeutas. A família, por sua vez, participa de reuniões do programa Amor-Exigente. Durante esse processo, a desconfiança continua: será que vai dar certo; como vai ser o seu retorno; e se ele voltar a fazer uso; e se sofrer uma recaída. Esses questionamentos perturbam e incomodam os familiares, afinal foram tantas as promessas não cumpridas que as desconfianças ainda prevalecem com muita força.
Espera-se que ao final de uma internação, o dependente viva um novo momento, busque a sua sobriedade, construa uma nova vida. Nessa fase eles buscam resgatar a confiança perdida, contudo precisam aprender a conviver com ela, pois esse sentimento está fortemente enraizado na família. Por mais que os familiares desejam confiar, isso não é tarefa tão simples assim.
Não resolve cobrar confiança. Sua retomada é um processo muito lento que não se recupera com palavras ou promessas, mas através de atitudes e comportamentos adequados e equilibrados. Se precisamos de pouca coisa para perder a confiança, vamos precisar de muita para recuperá-la.
PS: Próximo texto vamos apresentar algumas dicas para lidar com a confiança perdida.
Celso Garrefa
Autor dos livros "Assertividade, um jeito inteligente de educar" e "O primeiro dia da minha nova vida".