sábado, 9 de julho de 2016

A REPÓRTER E A MACONHA

No último dia 26 de junho comemoramos o dia mundial de combate às drogas e na ocasião postei um texto sobre a data, onde, entre outras coisas, citei que temos a sensação de que estamos perdendo a guerra contra as drogas. Parece que corremos atrás de uma Ferrari montados em uma bicicleta.

Durante a semana de combate às drogas praticamente nada se viu, em termos de reportagem sobre o assunto em nossos canais televisivos. Apenas campanhas isoladas, normalmente produzidas por entidades ou grupos ligados ao tema, porém sem o apoio da grande mídia, seu alcance é limitado.

Na contramão do que esperávamos da grande mídia, ao acompanharmos uma reportagem de um grande canal aberto tivemos o desprazer de assistir uma cena patética, protagonizado por uma repórter de competência inquestionável. Na cena, ela fuma um cachimbo gigante de maconha e justifica "recusar nem pensar", pois segundo ela, seria um sinal de desrespeito.

            Desrespeito?  E o respeito aos próprios princípios? E o respeito a nossas crianças e jovens tão carentes de informações de qualidade sobre os perigos que as drogas representam? Se lá na Jamaica a maconha é utilizada em ritos religiosos, aqui no Brasil é utilizada como entorpecente, inclusive por muitas crianças a partir dos dez ou onze anos de idade.

            Como fica difícil convencer um jovem de que ele não precisa de droga nenhuma para ser feliz se ele assiste nossa repórter brisar em rede nacional. Como dificulta nossa tarefa de informar ao jovem que a maconha aumenta consideravelmente a probabilidade dele desenvolver a esquizofrenia se a maconha é apresentada como algo inofensivo.

            Vou além deste fato envolvendo a maconha. Sabemos, por estatísticas, que o uso abusivo e a dependência do álcool afetam uma parcela acima de 10% da população brasileira. Assistimos diariamente motoristas embriagados matarem no trânsito e mais, uma pesquisa da ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) apontou que nossos adolescentes consomem 6% de todo o álcool produzido no país, mesmo sendo proibida a venda e a distribuição para menores de 18 anos.

            Apesar de todas as estatísticas apresentarem números alarmantes sobre o abuso ou a dependência da droga “álcool”, não notamos a mesma comoção das pessoas ao assistirem nossas celebridades consumirem este produto livremente nos nossos canais de tevê, associando-o diretamente ao sucesso, ao prazer e à felicidade. Aplaudimos as músicas que fazem apologia ao seu consumo e achamos graça quando assistimos bêbados em situações vexatórias.

            Não estou justificando a cena da maconha, muito menos fazendo sua defesa. Não faço essa comparação com o objetivo de diminuir o impacto da reportagem, mas como um alerta em relação ao álcool que, apesar de lícito, também é droga, causa dependência e danos imensuráveis, no entanto sua propaganda é veiculada diariamente nos diversos canais de mídia sem nos chocar.

            Não possuímos o poder das grandes mídias, porém não vamos desanimar, como cita Edward Everett Hale: Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas ainda assim posso fazer alguma coisa. E não é porque não poder fazer tudo, que vou deixar de fazer aquilo que posso”.

            Texto de Celso Garrefa

            Programa Amor-Exigente (Sertãozinho SP)

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