Conviver com um dependente do álcool ou de outras drogas dentro de casa é uma situação insana que leva muitos familiares ao desespero. Como muitos não estão preparados para enfrentar esse desafio, não sabem como agir e numa tentativa desesperada de solucionar o problema apenas reagem às atitudes do outro. Essas reações, além de não solucionar o problema, são combustíveis para os conflitos.
Criar conflitos é uma especialidade de muitos adictos.
Enquanto na ativa são verdadeiros mestres na arte das chantagens, das
manipulações, das ameaças. Sabem perfeitamente bem quando é hora de fazer barulhos
e quando é hora de se fingirem de coitadinhos.
Precisamos buscar o equilíbrio
necessário para não abraçarmos uma loucura que não nos pertence. Aquele que está
alterado pelos efeitos das substâncias entorpecentes é ele, não nós. Se
chegarem gritando, não adianta gritarmos mais alto. Se estiverem buscando o
conflito, nada resolve entrarmos no embate. Não é o momento de confrontarmos
enquanto estão sob o efeito das drogas.
Não é esse o momento de tentarmos o
diálogo, pois eles não estão em condições de nos ouvir. Não é hora que
atacá-los com palavras ofensivas, ameaçá-los ou agredi-los. Nada disso resolve.
O mundo do conflito é o mundo deles, não pode ser o nosso. Entrar nesse jogo é
derrota certa. As reações não possuem um propósito. São motivadas pelo
desespero, seja porque perdemos a paciência ou porque estouramos nossos limites
emocionais. Seja porque estamos com raiva ou porque não sabemos o que fazer.
Outra forma de reação, e isso é uma
característica marcante da codependência, é anularmos nossa existência,
entregando-a por completo para o domínio do adicto, ou seja, paralisamos todas
as nossas ações e apenas reagimos de acordo com os comportamentos deles. Só
conseguimos ficar bem se ele estiver bem. Só conseguimos dormir à noite, se ele
estiver em casa. Só vamos às reuniões
se ele também for. Tudo o que ele deseja, atendemos prontamente. Em geral,
deixamos de viver a nossa vida para viver a dele, transformando-o no centro do
universo da casa.
Precisamos trocar as reações por
ações. Isso exigirá, de nós, a busca de um equilíbrio emocional e comportamental
adequados para lidarmos com uma situação de grande complexidade, sem, no
entanto, entrarmos no desespero e na loucura do outro. Abandonar as reações não
significa aceitarmos tudo aquilo que o outro faz de errado e se calar, pelo
contrário, significa parar de reagir para agir de acordo com nossa personalidade.
Significa tomarmos atitudes e nos posicionarmos com muita firmeza e clareza.
Quando trocamos nossas reações por ações assumimos o nosso domínio, sem transferir o controle da nossa vida a uma pessoa
adoecida pela dependência. Isso significa que devemos fazer tudo aquilo que precisa ser feito,
sem medir esforços na busca da solução do desafio, mas cuidando para que o
problema não nos adoeça mais que o próprio dependente, pois um doente não tem
forças para ajudar o outro e, como tenho dito, sofrimento de pais não é remédio capaz de salvar nossos filhos.