domingo, 28 de outubro de 2012

Álcool para crianças?


           Numa sexta-feira a noitinha estava eu juntamente com minha esposa e minha filha na área de alimentação de um grande supermercado de nossa cidade, comendo alguma coisa, quando minha esposa me chamou a atenção para a mesa próxima da nossa.
            Pelas características de nossos vizinhos de mesa, as evidências indicavam tratar-se de uma família composta pelo pai e a mãe juntamente com dois filhos ainda bem pequenos. O maior aparentava idade próxima aos quatro anos de idade e o menor, ainda com chupeta na boca indicava idade inferior a um ano de vida.
            A mãe segurava o filho menor no seu colo, enquanto o outro estava acomodado numa cadeira ao lado dos pais.
            Até aí tudo normal, porém o que fez chamar-nos a atenção foi o comportamento do pai. Enquanto tomava sua cerveja, por diversas vezes ele retirava a chupeta da boca da criança menor, mergulhava o bico de borracha em seu copo e recolocava novamente na boca do bebê. A mãe assistia a cena indiferente à situação.
            Notamos grande preocupação dos pais em relação ao perigo dos seus filhos se envolverem com o uso de drogas ilícitas, como a maconha, cocaína ou crack, porém não percebemos a mesma preocupação em relação ao uso do álcool, onde na grande maioria dos casos a iniciação acontece dentro de suas próprias casas, com a permissão dos pais.
            Precisamos ter claro que no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o consumo do álcool aos menores de 18 anos de idade. De acordo com o ECA, ao tratar sobre os crimes em espécie, no artigo 244 relata que:
            “Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida”:
            Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.
            Portanto, o pai ou mãe que fornece, permite, ou facilita o uso de bebidas alcoólicas aos seus filhos menores de 18 anos de idade comete um crime, além de favorecer futuros problemas decorrentes do uso e abuso de substâncias alcoólicas.
            Negar os perigos e problemas decorrentes do uso de substâncias alcoólicas em nada ajuda. Acreditar que os filhos estão imunes aos problemas decorrentes do uso do álcool não os protegem, ao contrário, coloca-os em risco ainda maior, considerando que ao não reconhecermos um perigo, deixamos de adotar uma atitude de ação e defesa, deixando-os a mercê da própria sorte.
            Os jovens são bombardeados diariamente por uma avalanche de apelo ao consumo de bebidas alcoólicas. Recebem pressões por todos os lados. As propagandas são fantásticas ligando o consumo do álcool ao sucesso, à beleza, à felicidade, à diversão e ao prazer. Os grupos também exercem pressão sobre o indivíduo e raríssimas são as festas onde não há excesso de álcool, inclusive festinhas de aniversário de criança, bailes debutante para adolescentes ou os festejos dos finais de ano. Aos pais cabe a missão de orientá-los sobre os perigos do consumo de substâncias alcoólicas e não fortalecer e facilitar a iniciação de seu consumo.
Muitos são os pais que relatam preferir fornecer bebidas alcoólicas para os filhos em casa, acreditando que assim eles aprendem a beber de forma consciente e com moderação.          Não acreditamos que essa seja uma boa ideia  Ao permitir, fornecer ou favorecer o uso do álcool às crianças, mesmo que seja de forma moderada, estamos transmitindo-lhes a idéia da nossa permissividade em relação ao uso do álcool. Equivocam-se quem imagina que aprendendo a beber em casa, os filhos saberão consumir com moderação.
O uso moderado poderá acontecer sob nossos olhos, porém lá fora estará propenso a extrapolar os limites da permissão.
       Qualquer pai ficaria chocado se percebesse que um filho chegou drogado em casa, porém nem todos se chocam ao deparar com um filho bêbado, aceitando como “normal” ou “isso é coisa de adolescente”, ou ainda “todos bebem nessa idade”.
   Precisamos, portanto, assumir uma postura clara em relação ao uso de bebidas alcoólicas dentro de nossa casa, orientado e norteando a conduta de nossos filhos em relação ao consumo dessas substâncias e quando adultos, se optarem por consumi-las, que saibam fazer de forma consciente, equilibrada e moderada.


Por

Celso Garrefa

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...