domingo, 30 de junho de 2013

TOMADA DE ATITUDE


Imagem extraída da internet
O maior desejo dos familiares que convivem com um dependente do álcool ou de outras drogas é ajudá-lo a sair da enrascada em que ele se meteu. Para tanto, oferecem ajuda, aconselham, ameaçam e os resultados esperados não acontecem, pois nem sempre o dependente compartilha com o mesmo desejo da família.

É difícil convencer com palavras aquele que não está disposto a ouvir, portanto, mais do que falação precisamos entrar em ação, adotando um posicionamento claro e firme em relação ao abuso do álcool ou ao consumo das drogas e acabar com as ameaças vazias que não levam a lugar algum: - "Se você continuar usando drogas, eu sumo de casa", diz a mãe; – "Se você não parar de beber eu volto para a casa dos meus pais", reclama a esposa. Entretanto, o usuário já ouviu tantas vezes essas mesmas ameaças vazias que elas não fazem mais sentido para eles.

Diferente das ameaças vazias, as tomadas de atitude exigem postura firme, norteadas por ações concretas. Elas não devem ser estabelecidas no impulso do momento ou na hora da raiva, pelo contrário, precisam ser pensadas, estudadas e estruturadas.

A atitude a ser tomada depende de cada caso e também do que estamos em condições de realizar. O importante é começar a nos mover e agir, modificar estruturas, rejeitar padrões repetitivos, abandonar comportamentos previsíveis e padronizados e buscar um novo jeito de fazer.

Também é fundamental nos preparar para as reações do dependente através do uso das manipulações, das promessas e ameaças. É comum, diante das nossas ações, surgirem momentos de conflitos, que devem ser encarados sem fugas, pois eles fazem parte do processo de retomada do equilíbrio e precisam ser administrados para que aconteçam as mudanças que desejamos.

Um grande problema não se resolve por si só.  Atitudes são necessárias, não por ódio ou raiva, mas por amor de pessoas que amam tanto seus entes queridos que não podem assisti-los se auto destruírem sem que nada façam. O primeiro passo, buscar ajuda, pois tomar atitudes exige orientação, preparo e apoio.


Celso Garrefa
Prog. Amor-Exigente
de Sertãozinho SP

domingo, 23 de junho de 2013

CONFIANÇA PERDIDA: DIFÍCIL RESGATE


         
           
          A desconfiança é um sentimento que perturba e tira o sono de muitos familiares que convivem com pessoas envolvidas com a dependência química e a retomada da confiança perdida é algo muito difícil, que exige esforço e paciência. 

            A confiança é algo muito importante no fortalecimento de qualquer relação. Quando as pessoas apresentam atitudes e comportamentos corretos, são equilibradas e coerentes em relação aquilo que fazem e cumprem com o prometido, a confiança só tende a aumentar, solidificando as relações, entretanto, quando ocorrem desvios de comportamento e conduta, quando pisam na bola repetidamente, toda a confiança é perdida, as relações se abalam e rapidamente a desconfiança ocupa o seu espaço.

            O envolvimento com substâncias entorpecentes é um fator que faz tremer as relações, anulando a confiança por completo. O desenvolvimento da dependência traz a tona algumas características marcantes na pessoa, como a mentira, a chantagem, a manipulação e as promessas não cumpridas. Nunca estão onde dizem estar, raramente cumprem com os horários combinados, dizem que vão se cuidar, porém retornam para casa sobre efeito de álcool ou outras drogas. Prometem que vão melhorar, mas não mostram mudança alguma.

            Como a dependência é um processo longo, uma doença progressiva, a desconfiança só cresce, cresce e cresce. Quanto maior o tempo de envolvimento com as drogas, mais enraíza nos familiares o sentimento de desconfiança, descrença e desesperança.

             Chega um momento em que o jovem decide abandonar a dependência. Para isso alguns buscam grupos de auto e mútua ajuda, outros fazem tratamento em clínicas ou comunidades terapeutas. A família, por sua vez, participa de reuniões do programa Amor-Exigente. Durante esse processo, a desconfiança continua: será que vai dar certo; como será quando ele retornar; e se ele voltar a fazer uso; e se sofrer uma recaída. Esses questionamentos perturbam e incomodam os familiares, afinal foram tantas as promessas não cumpridas que as desconfianças e incertezas ainda prevalecem com muita força.

Ao final de uma internação, eles vivem outro momento. O recuperando está buscando viver em sobriedade, tentando construir uma nova vida. Nessa fase eles buscam resgatar a confiança perdida, contudo precisam aprender a conviver com ela, pois esse sentimento está fortemente enraizado na família. Por mais que os familiares desejam confiar, isso não é tarefa tão simples assim.

            A retomada da confiança é um processo muito lento que não se recupera com palavras ou promessas do recuperando, mas através de atitudes e comportamentos adequados e equilibrados.

            Isso será facilitado quando o dependente em recuperação, num exercício de humildade, procurar posicionar os familiares em relação ao que pretende fazer, onde deseja ir, a que horas pretende voltar e consequentemente, cumprir rigorosamente com aquilo que estabeleceu. Esta atitude, vagarosamente vai proporcionando segurança aos familiares e assim encurtando o processo de retomada da confiança.

            Em relação aos familiares, sabemos que não é fácil recuperar a confiança perdida depois de anos de problemas e promessas e seu resgate vai depender muito das atitudes apresentadas pelo outro, contudo, precisamos adotar algumas posturas para lidar com nossas desconfianças.

            Aprender a viver o dia de hoje é uma forma de proteção aos familiares que convivem com um dependente em recuperação. Se hoje tudo está bem, precisamos viver bem o dia de hoje, sem atolar o pensamento naquilo que pode dar errado amanhã. Precisamos lutar contra o sofrimento por antecipação, tentar não projetar o negativismo para o amanhã, evitando não sofrer por aquilo que ainda não aconteceu.

            Precisamos aprender a confiar, desconfiando. Estar sempre atentos, espertos, ligados, porém não fazer da desconfiança uma marcação cerrada, com cobranças exageradas, lembrando-o a todo instante sobre sua dependência, investigando seus pertences como um detetive. Devemos evitar falar com ele como se ele fosse fazer uso, todas as vezes que ele sair de casa e evitar recebê-lo como se ele tivesse usado no momento em que retornam para a casa. Caso apresentem sinais visíveis de uso, uma conversa franca no dia seguinte é muito mais produtiva que barulhos e discussões.

Se um pouquinho de desconfiança ajuda a ficarmos atentos, ligados e prontos para adotar alguma ação caso surja algum problema, demonstrar desconfiança exagerada em nada ajuda, pois o dependente em luta pela recuperação, ao não perceber nenhuma confiança e empenha da família poderá utilizar isso como a desculpa que precisa para retomar o uso.

            No resgate da confiança perdida precisamos dar tempo ao tempo, viver o dia de hoje. Se a perda da confiança é processo veloz como um guepardo, sua recuperação é lenta como uma tartaruga. É preciso muita paciência.

                                                   Celso Garrefa
                                                   Amor-Exigente de Sertãozinho SP
                                                    

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...