quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

"VOCÊ JÁ FOI USUÁRIO DE DROGAS?"


"Você já foi usuário de drogas?" Esta é uma pergunta que costumo receber quando falo com dependentes químicos na ativa ou mesmo em recuperação. Não, eu não passei pela experiência de uso e, portanto, não consigo me colocar no lugar de quem o fez, não consigo saber exatamente como é a experiência de quem desenvolveu a dependência. 

Mas, seja trabalhando profissionalmente ou de forma voluntária com dependentes do álcool ou outras drogas há quase 30 anos, sinto-me na condição de realizar trocas importantes com este público. Necessariamente, não vejo porque ter vivenciado a mesma condição para interagir. Exemplo disso são os médicos obstetras que realizam excelentes trabalhos no cuidado da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, sem nunca ter gerado um filho.

Percebo que, por vezes, alguns dependentes químicos utilizam esse discurso como uma justificativa: "Vocês não entendem o que é passar por isso, só quem vive isso sabe como é difícil". Não tenho dúvidas do quão dificultoso é retomar a sobriedade. Isso exige uma determinação absurda do dependente visando a sua transformação de vida, mas deixo uma pergunta no ar: E o que você está fazendo e o quanto tem se empenhado na busca da sobriedade?

Se por um lado não conseguimos compreender na íntegra como é passar pelo problema, por não tê-lo vivenciado, por outro, os dependentes químicos também não têm noção do que é para seus familiares conviver com uma pessoa dependente. Podem até fazer uma ideia do quanto sofrem, mas não conseguem dimensionar o tamanho do sofrimento por eles vivenciado.

Por tudo isso, não dá para ficarmos buscando justificativas. Precisamos uns dos outros, podemos aprender, crescer e evoluir com as trocas de experiências. Podemos aprender muito com as vivências de quem enfrentou o problema, e aqueles que estão lutando para construir sua sobriedade também podem aprender, crescer e evoluir trocando experiências com pessoas, mesmo que estas nunca fizeram uso de droga alguma. 


Celso Garrefa
Pedagogo Social





sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O VALOR DA BANANA

Uma banana presa à parede por uma fita adesiva foi arrematada, como obra de arte, em um leilão, por R$ 35,8 milhões e o fato foi comentado e discutido em vários canais de comunicação, fazendo-nos refletir sobre o valor da banana. 

Evidente que valor é diferente de preço. Se pensarmos em preço, é possível comprar uma dúzia delas por alguns reais, mas o valor de um produto ou serviço vai muito além do seu preço e inclui a percepção que a pessoa faz em relação ao mesmo produto ou serviço.

O episódio da banana me vez refletir sobre o seu valor. Tenho repetido em minhas palestras, que na nossa casa acontece um fato interessante: a última banana da fruteira nós jogamos fora. Essa banana dispensada evidentemente não custa milhões de reais, mas para nós o seu valor vai muito além dos poucos reais por ela pago.

Um dos principais valores a ser construído e preservado nas relações familiares são os fortes vínculos afetivos entre os seus membros, e onde existe vínculo, existe respeito, existe interesse e preocupação de uns com os outros. Vínculos afetivos são, portanto, uma via de mão dupla, ou seja, dar e receber na mesma proporção.

Sem o fortalecimento dos vínculos, a relação entre os membros da família é de frieza. Cada um vive a seu modo, no seu egoísmo, sem se preocupar com o bem estar do outro, ou os esforços partem de apenas um dos lados, que está sempre cedendo, permitindo inadequações, diminuindo o seu valor, enquanto o outro não demonstra qualquer empatia ou compaixão. 

Talvez, a essa altura, você esteja se perguntando sobre aquela última banana da fruteira, que jogamos fora e isso acontece exatamente devido aos vínculos afetivos construídos na nossa relação familiar. É comum na nossa casa, quando apenas resta uma banana na fruteira, nenhum de nós comê-la pensando no outro. Por fim, a banana acaba amolecendo e dispensada. 

Acho isso fantástico, pois me transmite a certeza de que na nossa casa existe uma relação de empatia, de cuidado, de preocupação com o outro, onde o bem estar de cada um é uma responsabilidade de todos. Finalizo este texto desejando intensamente que na sua casa, a última banana da fruteira também seja jogada fora.


Celso Garrefa
Pedagogo Social





PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...