segunda-feira, 28 de abril de 2014

Culpa: Um sentimento que paralisa

Onde será que eu errei? Essa pergunta, dirigida a nós mesmos, marca o ponto inicial do jogo da culpa, um sentimento paralisante capaz de nos afetar intensamente, causando-nos grande sofrimento. Em geral, ela se instala a partir do momento em que atravessamos a fase da negação e reconhecemos que um filho está fazendo uso de drogas.

Ao nos questionarmos onde erramos, iniciamos uma tentativa vã de descobrir os porquês. Se somos separados, atribuímos a culpa à separação. Se moramos juntos, acreditamos que somos culpados porque a mãe precisou trabalhar fora, ou porque o mimamos demais ou fomos rígidos demais. A busca continua até encontrarmos algum ponto que justifique o fato indesejado.

Num segundo momento, os pais culpam um ao outro. Segundo o pai, a culpa é da mãe, porque era ela quem ficava em casa com o filho e deveria ter percebido que algo estava acontecendo. Por sua vez, a mãe culpa o pai, porque ele também deveria se responsabilizar e só pensava no trabalho. Não raro, ofendem-se, discutem e brigam.
Este jogo da culpa vai se expandindo e começamos a buscar os culpados fora da casa. Por vezes culpamos os primos julgando que foram eles que levaram o garoto para o mau caminho, culpamos os amigos julgando serem eles péssima influência para o filho. Não bastasse tudo isso, culpamos, ainda, a escola, as leis, os traficantes, o sistema, a polícia, os políticos, etc.
A culpa nos faz olhar para o passado, porém, não é possível modificarmos aquilo que já passou,  deixando-nos sem ação, carregados de lamentações: - Se eu tivesse feito assim; se eu não tivesse feito isso; se eu tivesse feito diferente. Essas lamentações causam sofrimento, adoecem e paralisam.
Por vezes chegamos a reconhecer que é preciso agir, tomar alguma atitude para resolver o problema, mas como estamos adoecidos pelo sentimento de culpa, começamos a nos culpar também por algo que ainda nem aconteceu e assim, tudo que planejamos fazer esbarra no “E SE”: - E se eu não der dinheiro e ele for roubar; e se eu endurecer e ele fugir de casa; E se eu não pagar a dívida e alguém o matar. Como só pensamos negativo, mais uma vez ficamos sem ação.
Dá para perceber que a culpa tira de nós a capacidade de vivermos o momento presente: ou buscamos as causas no passado ou projetamos o que poderá dar errado no futuro. Acontece que para mudar os rumos das coisas é preciso agir, fazer algo, tomar alguma atitude e isso só pode ser feito no presente, para tanto precisamos lutar contra o sentimento de culpa, sair desse jogo onde, ora nos culpamos, ora procuramos os culpados.

Para modificarmos este processo doentio precisamos acabar com culpas, desculpas e culpados, parar de nos fazer de vítimas e enxergarmos o foco do problema, sem buscar causas fora dele para justificá-lo e sozinho é tarefa difícil, portanto, é fundamental buscarmos ajuda e os grupos de apoio do Programa Amor-Exigente são de extrema importância nesse momento, pois nos capacita a enfrentarmos um problema de alta complexidade de forma assertiva, direcionada, norteada por princípios básicos e éticos, ajudando-nos a nos libertar desse sentimento que provoca tanto sofrimento, conscientes de que sofrimento de pais não é remédio que cura filhos. 
Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

segunda-feira, 14 de abril de 2014

E OS FILHOS BONZINHOS, COMO FICAM? INVISÍVEIS?

          O núcleo familiar que convive com um dependente químico inserido em seu meio vê toda a sua estrutura abalada e como consequência vivenciam sofrimentos profundos, onde a culpa, o medo, o desespero, a angústia, entre outros, passam a fazer parte do seu cotidiano. Em geral, perdem a alegria de viver e não raro, buscam o isolamento. Os pais, adoecidos pela codependência, concentram todas as suas atenções no filho problema, esquecendo de si próprios e também daqueles filhos considerados bonzinhos
  
Muitos deles, ainda crianças ou mesmo adolescentes, não ficam imunes às consequências do problema. Primeiro, porque sofrem ao acompanharem a dependência do irmão. Sofrem, ainda, porque acompanham o sofrimento dos pais e como não dão trabalho, não chamam a atenção e acabam esquecidos dentro da própria casa, tornando-se pessoas invisíveis aos olhos dos pais.

Esses filhos, que não apresentam problemas sérios, também precisam de carinho, de atenção, de cuidado e como não apresentam condutas desajustadas, assistem toda a atenção dos pais concentrada no filho adicto, que faz barulho, que grita, que reclama, que ameaça. Os “bons filhos” desejam viver, sair, passear, divertir e nunca encontram seus responsáveis com disposição para acompanhá-los, porém, basta o “filho problema” fazer uma queixa, uma cobrança que imediatamente é atendido. A concentração no dependente, somado ao medo de contrariá-lo, torna-se tão intensa que os pais não possuem mais ouvidos para os filhos “certinhos”. O diálogo torna-se escasso e em casos mais severos, chegam ao absurdo de esquecerem até mesmo a data de seus aniversários.

Quaisquer queixas ou pequenos problemas que eles apresentam passam despercebidos e não são levados a sério, pois são considerados pequenos e sem importância, comparados com ao problemão enfrentado com o filho usuário.

Como os pais concentram todo o foco no filho dependente químico, não conseguem visualizar detalhes importantes em relação aos outros considerados “bonzinhos” e sem perceber acabam ignorando-os. Sentindo-se invisíveis, os “bons filhos” podem experimentar momentos de solidão, vivendo como se não existissem dentro do lar, como se não houvesse espaço para eles na vida dos seus responsáveis.

Estes filhos esquecidos podem estar gritando por atenção, por socorro, vivendo momentos de sofrimento e angústia, esperando por um abraço, implorando por um carinho e mesmo assim, continuam ignorados. Por vezes se calam, se fecham em seu mundo, sem se queixar de nada, sem reclamar de nada. Como se fecham acabam transmitindo a falsa impressão de que estão bem, mas talvez chorem escondidos no silêncio do seu quarto, carentes de um colo de mãe.

Sabemos o quanto a batalha pela recuperação do filho dependente químico absorve tempo e energia dos pais, porém, precisamos de um olhar cuidadoso em relação aos demais filhos. Reservar um tempo e espaço só para eles, onde possamos brincar, sair, divertir, ouvi-los com atenção, mostrando nosso interesse, sem esquecer de transmitir o quanto são importantes para nós, lembrando sempre que eles precisam de atenção redobrada que, vez ou outra, precisam de um abraço apertado, precisam de “colo”.

Precisamos enxergar os “bons filhos”, antes que eles se cansem da invisibilidade e decidam mostrar que estão ali. Como bons observadores eles já aprenderam como conquistar nossa atenção: criando problemas.

Não devemos nunca desistir do filho problema que, com certeza, exige muito dos pais, porém precisamos de todo cuidado possível em relação aqueles filhos que não nos dão trabalho, caso contrário, no futuro nossos desafios poderão gerar crias e multiplicar-se.


                                   Texto de Celso Garrefa
                                   Amor-Exigente de Sertãozinho

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...