segunda-feira, 14 de abril de 2014

E OS FILHOS BONZINHOS, COMO FICAM? INVISÍVEIS?

          O núcleo familiar que convive com um dependente químico inserido em seu meio vê toda a sua estrutura abalada e como consequência vivenciam sofrimentos profundos, onde a culpa, o medo, o desespero, a angústia, entre outros, passam a fazer parte do seu cotidiano. Em geral, perdem a alegria de viver e não raro, buscam o isolamento. Os pais, adoecidos pela codependência, concentram todas as suas atenções no filho problema, esquecendo de si próprios e também daqueles filhos considerados bonzinhos
  
Muitos deles, ainda crianças ou mesmo adolescentes, não ficam imunes às consequências do problema. Primeiro, porque sofrem ao acompanharem a dependência do irmão. Sofrem, ainda, porque acompanham o sofrimento dos pais e como não dão trabalho, não chamam a atenção e acabam esquecidos dentro da própria casa, tornando-se pessoas invisíveis aos olhos dos pais.

Esses filhos, que não apresentam problemas sérios, também precisam de carinho, de atenção, de cuidado e como não apresentam condutas desajustadas, assistem toda a atenção dos pais concentrada no filho adicto, que faz barulho, que grita, que reclama, que ameaça. Os “bons filhos” desejam viver, sair, passear, divertir e nunca encontram seus responsáveis com disposição para acompanhá-los, porém, basta o “filho problema” fazer uma queixa, uma cobrança que imediatamente é atendido. A concentração no dependente, somado ao medo de contrariá-lo, torna-se tão intensa que os pais não possuem mais ouvidos para os filhos “certinhos”. O diálogo torna-se escasso e em casos mais severos, chegam ao absurdo de esquecerem até mesmo a data de seus aniversários.

Quaisquer queixas ou pequenos problemas que eles apresentam passam despercebidos e não são levados a sério, pois são considerados pequenos e sem importância, comparados com ao problemão enfrentado com o filho usuário.

Como os pais concentram todo o foco no filho dependente químico, não conseguem visualizar detalhes importantes em relação aos outros considerados “bonzinhos” e sem perceber acabam ignorando-os. Sentindo-se invisíveis, os “bons filhos” podem experimentar momentos de solidão, vivendo como se não existissem dentro do lar, como se não houvesse espaço para eles na vida dos seus responsáveis.

Estes filhos esquecidos podem estar gritando por atenção, por socorro, vivendo momentos de sofrimento e angústia, esperando por um abraço, implorando por um carinho e mesmo assim, continuam ignorados. Por vezes se calam, se fecham em seu mundo, sem se queixar de nada, sem reclamar de nada. Como se fecham acabam transmitindo a falsa impressão de que estão bem, mas talvez chorem escondidos no silêncio do seu quarto, carentes de um colo de mãe.

Sabemos o quanto a batalha pela recuperação do filho dependente químico absorve tempo e energia dos pais, porém, precisamos de um olhar cuidadoso em relação aos demais filhos. Reservar um tempo e espaço só para eles, onde possamos brincar, sair, divertir, ouvi-los com atenção, mostrando nosso interesse, sem esquecer de transmitir o quanto são importantes para nós, lembrando sempre que eles precisam de atenção redobrada que, vez ou outra, precisam de um abraço apertado, precisam de “colo”.

Precisamos enxergar os “bons filhos”, antes que eles se cansem da invisibilidade e decidam mostrar que estão ali. Como bons observadores eles já aprenderam como conquistar nossa atenção: criando problemas.

Não devemos nunca desistir do filho problema que, com certeza, exige muito dos pais, porém precisamos de todo cuidado possível em relação aqueles filhos que não nos dão trabalho, caso contrário, no futuro nossos desafios poderão gerar crias e multiplicar-se.


                                   Texto de Celso Garrefa
                                   Amor-Exigente de Sertãozinho

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