sexta-feira, 27 de maio de 2016

DROGAS: O IMPACTO DA DESCOBERTA


Esta semana uma mãe comentou comigo que após a descoberta da dependência química do filho tudo ficou muito intenso e ele passou a fazer uso com frequência assustadoramente maior e  a situação tomou uma proporção gigantesca.

Mas não é bem assim. Acontece que até que a dependência química do filho não é de conhecimento dos pais, ele faz de tudo para esconder que está usando drogas. Consomem longe do contato dos familiares e utilizam de disfarces para esconder os sinais e efeitos do uso. Quando questionados, negam veementemente e até juram que não estão fazendo isso. Mesmo quando os pais começam a desconfiar, acabam convencidos do contrário.

A partir do momento em que a família toma ciência do problema, o filho não precisa mais se preocupar em esconder sua dependência. Abandona os disfarces e pode, inclusive, culpá-los pelo seu problema. Por outro lado, os pais passam a prestar maior atenção em tudo o que ele faz. Vasculha seus pertences, cheiram suas roupas, vigiam quando sai à noite, observam quando ele volta para casa. Todos esses fatores juntos proporcionam a falsa sensação que as coisas pioraram. Na verdade, já estava muito ruim, apenas não era visível para a família.

Como os familiares estão fragilizados pelo impacto da descoberta, esse é um momento perigoso. O desespero aflora o instinto de proteção e assim, equivocadamente, acreditam que conseguirão poupar o filho de todos os problemas oriundo de sua dependência. Alguns pagam suas dívidas, outros permitem que ele consuma dentro de casa, etc. Essa tentativa de protegê-lo só não o protege da própria droga e e dele mesmo e dessa forma, o dependente tem sua vida na ativa facilitada. Quando a família tenta recuar, eles jogam pesado: - Vai pagar ou prefere me ver morto?

Por toda complexidade que gira em torno da convivência com um adicto, a primeira atitude da família, diante do problema, é buscar orientação e apoio, capazes de prepará-los para enfrentar tamanho desafio. Junto a um grupo de apoio poderão enxergar o problema na exata medida, sem minimizá-lo ou torná-lo um gigante. Por isso, insistimos na importância de procurarem por um grupo do Programa Amor-Exigente mais próximo, pois sozinhos, o fardo é pesado demais.



Celso Garrefa
Sertãozinho SP

terça-feira, 10 de maio de 2016

FILHO, VOCÊ NÃO ESTÁ USANDO DROGAS NÃO, NÉ?

       
Postei, há alguns dias, um texto falando sobre o sentimento de culpa que afeta pais e mães de dependentes químicos e nele citei que ela surge tão logo os familiares atravessam a fase da negação e recebi de uma leitora um pedido para falar um pouco sobre essa fase.

            Cara leitora, aceitar o fato de que um filho está fazendo uso das drogas é um choque para os pais. É uma realidade tão dura e cruel que eles, inconscientemente, se recusam a aceitar, mesmo quando os sinais evidenciam que algo está acontecendo. Essa é a fase da negação. Ela inicia assim que o filho começa a apresentar mudanças comportamentais sinalizando que algo está acontecendo e dura até o momento em que o uso torna-se tão evidente e escancarado que não é mais possível negá-lo. 

            A negação do problema é uma atitude inconsciente e, de certa forma, serve como um mecanismo de defesa dos pais contra as dores e os sofrimentos resultantes do problema. O medo de aceitar e reconhecer a realidade é tão intenso que muitos pais, ao desconfiarem que algo está errado, questionam o filho sobre as drogas, porém já elaboram a pergunta induzindo-os para a resposta que desejam ouvir: - “Você não está usando drogas não, né? ” 

            Mesmo quando os pais encontram drogas na casa aceitam com facilidade o argumento de que não são deles, mas de amigos. Quando sinais visíveis aparecem, ainda assim buscam as mais variadas justificativas: Isso é coisa da idade. Esse povo fala demais. Ele só exagerou um pouquinho na bebida. Ele é tão carinhoso! Isso é perseguição. Ele jurou que não usa, etc.

            Chega um momento em que a situação atinge um nível tão crítico que não é mais possível negá-la. O filho assumiu a dependência. Ele foi pego no flagra. Foi detido pela polícia, etc. Esse é o momento mais difícil para os pais. É a hora de abandonar a negação, aceitar a realidade mesmo com todo o sofrimento e angústia que isso provoca. Por um lado, isso é terrível, pois terão que se confrontar com a triste realidade que relutavam aceitar, mas por outro, é um momento importante, pois é encarando a realidade que poderão começar a agir e tomar as devidas atitudes na tentativa de corrigir o problema.

            Por vezes, os pais retrocedem e voltam a negar o problema:  - "Será que ele está mesmo usando drogas”? Ou tentam se enganar, acreditando que após uma semana mais tranquila e cheia de promessas do dependente, o problema está solucionado. Quiçá fosse simples assim, mas não é.

            Para solucionar um problema de alta complexidade é preciso encará-lo, por mais doloroso que seja, sem se iludir ou se enganar. Encarar a realidade é difícil e causa muito sofrimento, mas os pais não precisam enfrentar isso sozinhos. Os grupos de apoio do Programa Amor-Exigente é o local certo para buscarem as forças necessárias para enfrentarem esse desafio. Vamos à luta. Com o Amor-Exigente você não estará sozinho.

                        Texto de Celso Garrefa
                         Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...