sexta-feira, 21 de abril de 2017

BALEIA AZUL: SUICÍDIO OU PEDIDO DE SOCORRO?

Nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas sobre postagens referentes à baleia azul, um jogo que consiste em estimular, principalmente crianças e jovens, a uma série de desafios, cujo objetivo final é colocar fim a própria vida. Isso tem preocupado as autoridades e aterrorizado muitos pais, tendo em vista que no mundo todo e também no Brasil, já existem relatos de suicídios, cuja origem está relacionada a esse tipo de brincadeira.

Não há como negar que crianças e adolescentes são mais facilmente influenciáveis, além disso, atravessam um momento de transição e da busca da própria identidade, gostam de desafios e não temem a morte, no entanto, por detrás de um jovem capaz de tirar a própria vida, existem outras questões que vão muito além desse desafio.

Nossas crianças e jovens vivenciam as novas tecnologias com muita intensidade, conectados durante todo o tempo, estão sempre com fones nos ouvidos e ligados às redes sociais. Juntam-se a grupos e seguem perfis que se assemelham aos seus interesses. Vivem tão intensamente o mundo virtual que ele já se confunde com o mundo real. As novas tecnologias é o mundo do jovem, mas precisamos mostrar-lhes que existe vida fora da internet.

Uma das características de um jovem capaz de cometer um suicídio é a sua baixa autoestima, que contribui para o desencadeamento da depressão. Baixa autoestima, somada a depressão e estimulada por desafios como o da baleia azul podem potencializar o desejo de colocar fim à própria existência.

Como abordamos no texto “O Poder do Elogio”, os pais podem contribuir para a construção de uma boa autoestima dos filhos. Muitos só se dirigem a eles para darem broncas e reclamarem, porém nunca fazem um elogio quando existem méritos. Precisamos ser firmes quando necessário, mas precisamos elogiá-los quando acertam nas atitudes.

A ausência de limites na educação da criança também é um dos fatores contribuintes para aceitarem desafios, muitos deles macabros, como esse da nossa baleia. Crianças e jovens que não são testadas em casa podem buscar lá fora o conhecimento de si mesmos. Até onde posso ir? Qual é meu limite? E nada melhor que um jogo com cinquenta desafios para testá-los.

A invisibilidade dentro do lar também é um fator a ser combatido. Vivemos uma geração de filhos órfãos de pais vivos, ou seja, possuem pai e mãe, mas parece não tê-los, já que estes não assumem nenhuma responsabilidade sobre as crianças, deixando-as a mercê de si mesmas. O mundo moderno isolou a família. Cada um no seu canto, em seu mundo e os relacionamentos característicos de uma família praticamente não existe mais.

Essa invisibilidade citada é agravada quando não permitimos a participação da criança ou do jovem dentro do lar. O vazio existencial, o sentir-se inútil, também é agravante para o problema. Muitos pais, com o objetivo de demonstrarem amor aos filhos, não permitem que eles nada façam, nem mesmo aquilo que é obrigação deles. Como superprotetores, são muitos os que exageram nos cuidados e roubam a oportunidade de crescimento e desenvolvimento dos filhos. Quando carregamos a mochila escolar deles, quando recolhemos os brinquedos e calçados que eles vão espalhando pela casa, quando não permitimos que eles se sirvam sozinhos de um copo de água, não demonstramos amor, pelo contrário, transmitimos em linguagem não verbal, que eles são tão inúteis e incapazes que precisamos fazer por eles aquilo que eles possuem plenas condições de fazerem.

Por fim, devemos desenvolver a capacidade de prestar atenção aos nossos filhos e abrir nossos ouvidos àquilo que eles têm para nos dizer. Não podemos permitir que a televisão, celulares e internets emudeçam a família. A abertura ao diálogo dentro do lar é fundamental para conhecermos nossos filhos, orientá-los e prepará-los para a vida, sem que eles sejam dominados por desafios capazes de destruí-los.

Os jovens que praticam esses desafios não desejam acabar com a própria vida, mas estão pedindo para serem vistos, ouvidos, valorizados. Estão pedindo por atenção e nós, pais, devemos trabalhar na construção dos vínculos afetivos, fundamentais para uma educação assertiva e preventiva.



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