quinta-feira, 26 de outubro de 2017

BULLYING, COMO PREVENIR?

O trágico fato ocorrido no Colégio Goyases em Goiânia, onde um aluno matou dois colegas de classe e feriu outros quatro, mais uma vez, traz à tona a discussão sobre o bullying, um problema recorrente em nossas unidades escolares, públicas ou privadas.

A pretensão deste texto não é julgar o ocorrido, nem mesmo apontar os motivos da tragédia, mas refletir sobre a prática do bullying, amplamente comentado sempre que fatos semelhantes acontecem, até mesmo para justificá-los.

Apelidos e brincadeiras são comportamentos comuns dentro das escolas, no entanto, há um momento em que essas atitudes ultrapassam a normalidade, onde o provocador exerce uma pressão desmedida e recorrente sobre o provocado, zombando, criticando, ou mesmo agredindo, sem que a vítima reúna forças suficientes para se autoproteger. Isso é o bullying, palavra de origem inglesa, derivada de bully, que significa tirano, valentão, brigão.

Esse problema ganha reforço de aceitação influenciado por programas humorísticos que fazem piadas apelando para brincadeiras e pegadinhas, muitas delas de mau gosto, humilhando, zombando ou provocando pessoas em vias públicas.

Em geral, as escolas são os locais de maior ocorrência do bullying, mas a atenção a esse problema deve começar dentro de casa. Os pais precisam ficar atentos aos comportamentos dos filhos, que podem ocupar tanto o papel do provocador, como o de vítima.  

Em muitos lares impera a cultura machista, onde desde pequenas, as crianças são incentivadas a mostrar sua força, a exercer sua valentia. Se provocarem brigas e saírem aplaudidos, ganham força e esse é o incentivo que precisam para se tornarem potenciais provocadores do bullying. Normalmente ele não é o mais forte da turma, assim, ele escolhe como vítimas, aqueles que ele consegue dominar e amedrontar.

Se por um lado não devemos incentivar brigas ou discussões com os colegas, por outro, precisamos prepará-los para uma autodefesa e elevar sua autoestima. Quem conhece bem um ambiente escolar sabe que se trata de ambiente hostil. A autodefesa não está ligada a revidar, entrar na briga, mas saber se proteger, com atitude e coragem de buscar ajuda.

            Algumas atitudes em casa são importantes para identificarmos se o filho está sendo vítima desse problema. Um deles é o diálogo, mas precisamos entender que diálogo não é bronca. O bom diálogo é aquele que estamos dispostos a ouvir o que eles têm a nos dizer, sem condená-los ou criticá-los. Por vezes, damos broncas ou ameaçamos e assim eles tendem a se afastar.

            Outra atitude importante é a proximidade entre pais e filhos, sem permitir que os recursos tecnológicos ocupem todo o tempo livre da família. É através da convivência que ganhamos capacidade de notar sutis mudanças comportamentais e agir.

            A escola também deve estar atenta aos seus alunos, não somente em sala de aula, mas também fora dela, durante o recreio ou mesmo no portão de saída e percebendo quaisquer problemas, devem adotar medidas para coibir. Sinto que no anseio de mostrar autoridade, muitos dirigentes escolares relutam em aceitar a ideia de mudança do aluno para outra sala, ou troca do turno escolar.

            Por vezes sinto que a escola e a família não se conversam. A escola reclama que os pais não aparecem e os pais criticam a escola porque só os chamam para reclamar dos filhos. Isso não ajuda. Só vamos conseguir avanços em relação à prevenção do bullying quando olhamos com atenção nossos filhos ou alunos e quando a família e escola tornarem-se parceiros nesse desafio.


            Texto de Celso Garrefa

domingo, 22 de outubro de 2017

EDUCANDO, SEM PERDER O EQUILÍBRIO

           
(Imagem da internet)
Um comportamento equilibrado é uma arma poderosa na educação dos filhos, no entanto, é uma atitude pouco explorada. Erroneamente muitos acreditam que é necessário gritar, bater, fazer um escândalo para educar as crianças, e assim, agem de forma histérica, numa demonstração clara de desequilíbrio comportamental.

 Agir com equilíbrio, mas com posicionamento claro e firme significa cobrar, exigir, direcionar, conduzir e nortear as condutas dos filhos, sem precisarmos assumir comportamentos grosseiros, rudes, estúpidos ou violentos. Como cita aquele velho ditado, a carroça, quanto mais vazia, mais barulho faz.

            O equilíbrio permite lidarmos com os desafios de forma consciente. Isso nos ajuda a raciocinar sobre a melhor conduta a ser adotada diante daquilo que desaprovamos. O equilíbrio nos direciona a agir, enquanto a falta dele nos conduz a reação. Quando agimos com equilíbrio somos donos da razão e ganhamos em respeito.

            Só precisamos tomar cuidado para não confundirmos uma atitude equilibrada com a falta de atitude ou a passividade na educação dos filhos. Mesmo com atitude equilibrada, por vezes, precisamos falar mais alto, dar uma bronca, subir na mesa.

            Existem momentos na educação das crianças que elas precisam receber não como resposta. Sem um comportamento equilibrado, facilmente perdemos o controle, gritamos, fazemos barulhos, mas o próprio desequilíbrio emocional não nos permite suportarmos as pressões dos pequenos e cedemos. Não adianta gritar, depois permitir; não adianta bater, depois se arrepender e agradar com presentinhos.

            Por outro lado, quando falamos um não com atitude equilibrada, significa nos posicionarmos com clareza e firmeza sem, no entanto, cedermos para o jogo da pressão, das chantagens ou manipulações. Quando minha filha, ainda pequena, começava o jogo da insistência, eu me abaixava e dizia com muita clareza: - Pode insistir quanto quiser, a resposta é não e já está decidido, você não vai conseguir me convencer do contrário. Foi muito fácil fazê-la entender que suas birras não eram suficientes para me tirar do equilíbrio e me fazer mudar de atitude.

            Os filhos, sabendo que os pais perdem o equilíbrio com facilidade, utilizam isso para benefício próprio. Eles sabem, como ninguém, a agir para perdermos a paciência e cedermos. Insistem, imploram, fazem birras, até nos tirar do sério. Quando eles conseguem irritar os pais, estes costumam ceder e os pequenos sabem disso.

            O comportamento equilibrado nos permite tomarmos atitudes firmes, sem perdermos nosso controle emocional e ao mesmo tempo, transmitimos segurança e domínio sobre a situação, enquanto os comportamentos desequilibrados é uma demonstração clara de insegurança.

           


Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

CASTIGO NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA

(Imagem da internet)
O uso do castigo é uma atitude adotada por muitos pais como forma de educação dos filhos, mas quais os limites dessa prática? Até onde a utilização desse método pode produzir resultados positivos e até onde ele pode ser prejudicial?

Todo comportamento inadequado apresentado pelas crianças deve ser corrigido e cabe aos pais, como responsáveis pelos filhos, nortear suas condutas, exercendo sua autoridade, sem abuso. Muitas vezes o uso do diálogo é o suficiente, no entanto, existem certas ocasiões em que somente na base da conversa não surte efeito. É hora da ação.

            É nesse momento que muitos adotam os castigos. A palavra castigo, por vezes, soa pesado. Parece que cometeram um crime e por isso, devem ser castigados, mas essa atitude é uma forma deles assimilarem que tudo aquilo que fazem de errado, resulta, como consequência, em uma perda e quando utilizado de forma adequada, pode ser sim uma ferramenta importante na educação dos pequenos.

            No entanto, essa prática deve possuir um objetivo claro de educar. O castigo educativo é aquele que levam as crianças à reflexão, a repensar as suas falhas, a corrigir os seus erros e isso não se consegue com abuso da autoridade, com castigos físicos ou humilhantes.

Não há nada mais grotesco e arcaico que o uso da violência na educação das crianças. Esse tipo de castigo não tem nada a ver com educação. É apenas uma demonstração do desequilíbrio emocional de quem a pratica e ou a falta de recursos para educar. A essa carência costumo chamar de analfabetismo educacional, ou seja, pessoas que só possuem, como recurso educativo, a prática de atos agressivos. Como justificativa, alegam que também apanharam quando criança.

Por outro lado, os pequenos devem conhecer a força da autoridade dos pais, sem necessariamente, precisar agredi-los. Eles devem saber quem está no comando e que não são eles. Tem hora que não basta mandar tomar banho, é preciso pegá-los firme pelos braços, falar grosso e levá-los ao banheiro.

Ao utilizarmos o recurso do castigo, não devemos fazê-lo porque estamos nervosos, zangados ou estressados. O castigo educativo é aquele que atuamos sem perder o nosso controle e o fazemos por amor e com objetivo claro de nortear uma conduta. Ele deve ser criativo, breve, não violento e, de preferência, estar associado à prática da atitude que desaprovamos. Além disso, as crianças devem saber o porquê estão recebendo uma punição.

            Uma tarde sem tevê, algumas horas sem internet, um período sem vídeo game, a perda de um passeio, uns minutos sentados para repensar as atitudes, um pedido de desculpas são mais eficientes que simplesmente provocar dor.

Cobrar para que eles limpem aquilo que sujaram ou exigir que guardem o que eles espalharam são exemplos de atitudes que não causam danos ou prejuízos a sua formação, e quase sempre é suficiente para perceberem o porquê do castigo e a refletirem sobre o que fizeram.

O castigo, quando provoca dor ou é humilhante, gera revolta, mas quando ele é estabelecido de forma equilibrada e coerente, acompanhado de uma boa conversa sobre o assunto é um recurso poderoso na construção de uma educação assertiva e funcional. 




Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho - SP

domingo, 8 de outubro de 2017

DEPENDÊNCIA QUÍMICA NÃO SE TESTA

         
    A dependência química e o alcoolismo são reconhecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma doença de característica progressiva e incurável, no entanto, plenamente controlável. 
Um dos pontos fundamentais para o controle dessa doença é reconhecer o seu poder. Um deslize pode ser o bastante para acabar com um processo de recuperação de anos, por isso, em se tratando de dependência, não há espaço para testes.

            Isso vale tanto para o dependente em recuperação como também para seus familiares. Toda vez que o sóbrio cita ser um dependente em recuperação costuma assustar a família, mas é pensando assim que ele reconhece o poder da doença, não se colocando em situações de risco,

Ao afirmarem que estão curados, enganam-se e ao mesmo tempo satisfazem aos anseios da família, pois essa é a resposta que ela deseja ouvir, porém é exatamente aí que reside o perigo.  Quando acreditam que já estão bons, muitos iniciam um processo de testes. Como se sentem curados, alguns acreditam que podem frequentar os mesmos locais de antes, outros acham que podem beber só um pouquinho, abandonar os grupos e afastar-se da sua religião. 

Em relação à família, também precisam entender e aceitar essa realidade. Não se testa dependente. Já vi muitos familiares oferecerem bebida ao alcoólatra argumentando que uma só não dá nada. Outros deixam dinheiro à vista para testar se o recuperando está bom mesmo, e há aqueles que acreditam que, por fazer tanto tempo em sobriedade, só um pouquinho não fará mal. Muitos desconhecem a relação perigosa do álcool e algumas drogas e sugerem trocas. Sugestão danosa. 

A família também precisa parar de insistir para o recuperando fazer algo que ele não deseja fazer. Se acontecer uma festa familiar e ele não deseja participar, devido ao volume de bebidas que rodeiam esses eventos, precisamos respeitar seu momento. Não somos nós que sabemos o quanto ele está preparado para isso, mas ele próprio.

Em festas, amigos verdadeiros são raridades. Contam-se aos dedos aqueles que compreenderão sua luta, enquanto que o grande volume irá tentar manter o seu copo cheio ou lidar com ironia, por exemplo, quando ele pede um suco em substituição ao álcool.

Também é preciso cuidado com sugestões e receitas de pessoas que adoram apresentar soluções para tudo, mas nada conhecem sobre o assunto. Mais do que se testar ou testar o dependente, a receita para a manutenção da sobriedade é a busca por informações, é o contato permanente com os grupos de apoio e o alicerce espiritual. Alcoolismo e dependência química têm controle e esse controle não possui data de validade, portanto, só por hoje não vamos realizar teste algum.
           


Texto de Celso Garrefa

 Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...