O
trágico fato ocorrido no Colégio Goyases em Goiânia, onde um aluno matou dois
colegas de classe e feriu outros quatro, mais uma vez, traz à tona a discussão
sobre o bullying, um problema recorrente em nossas unidades escolares, públicas
ou privadas.
A
pretensão deste texto não é julgar o ocorrido, nem mesmo apontar os motivos da
tragédia, mas refletir sobre a prática do bullying, amplamente comentado sempre
que fatos semelhantes acontecem, até mesmo para justificá-los.
Esse
problema ganha reforço de aceitação influenciado por programas humorísticos que
fazem piadas apelando para brincadeiras e pegadinhas, muitas delas de mau
gosto, humilhando, zombando ou provocando pessoas em vias públicas.
Em
geral, as escolas são os locais de maior ocorrência do bullying, mas a atenção
a esse problema deve começar dentro de casa. Os pais precisam ficar atentos aos
comportamentos dos filhos, que podem ocupar tanto o papel do provocador, como o
de vítima.
Em
muitos lares impera a cultura machista, onde desde pequenas, as crianças são
incentivadas a mostrar sua força, a exercer sua valentia. Se provocarem brigas e
saírem aplaudidos, ganham força e esse é o incentivo que precisam para se
tornarem potenciais provocadores do bullying. Normalmente ele não é o mais
forte da turma, assim, ele escolhe como vítimas, aqueles que ele consegue
dominar e amedrontar.
Se
por um lado não devemos incentivar brigas ou discussões com os colegas, por
outro, precisamos prepará-los para uma autodefesa e elevar sua autoestima. Quem
conhece bem um ambiente escolar sabe que se trata de ambiente hostil. A
autodefesa não está ligada a revidar, entrar na briga, mas saber se proteger,
com atitude e coragem de buscar ajuda.
Algumas atitudes em casa são importantes para
identificarmos se o filho está sendo vítima desse problema. Um deles é o
diálogo, mas precisamos entender que diálogo não é bronca. O bom diálogo é
aquele que estamos dispostos a ouvir o que eles têm a nos dizer, sem
condená-los ou criticá-los. Por vezes, damos broncas ou ameaçamos e assim eles
tendem a se afastar.
Outra atitude importante é a proximidade entre pais e
filhos, sem permitir que os recursos tecnológicos ocupem todo o tempo livre da
família. É através da convivência que ganhamos capacidade de notar sutis
mudanças comportamentais e agir.
A escola também deve estar atenta aos seus alunos, não
somente em sala de aula, mas também fora dela, durante o recreio ou mesmo no
portão de saída e percebendo quaisquer problemas, devem adotar medidas para
coibir. Sinto que no anseio de mostrar autoridade, muitos dirigentes escolares relutam
em aceitar a ideia de mudança do aluno para outra sala, ou troca do turno
escolar.
Por vezes sinto que a escola e a família não se
conversam. A escola reclama que os pais não aparecem e os pais criticam a
escola porque só os chamam para reclamar dos filhos. Isso não ajuda. Só vamos
conseguir avanços em relação à prevenção do bullying quando olhamos com atenção
nossos filhos ou alunos e quando a família e escola tornarem-se parceiros nesse
desafio.
Texto de Celso Garrefa
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