domingo, 30 de novembro de 2014

DEPENDÊNCIA QUÍMICA TEM CURA?

Quando me deparei com a dependência química do meu filho, ouvi pessoas relatando que ela é uma doença incurável e isso me assustou. Gostaria de saber se isso é verdade?
           Pergunta enviada por A.M.P.S. (Uberlândia MG)


A dependência química é de fato considerada como uma doença incurável, mas nem por isso devemos nos assustar ou nos desesperar, acreditando que não exista soluções. Mesmo incurável, ela é perfeitamente tratável e seu tratamento baseia-se no controle e domínio da sobriedade.

            O desenvolvimento da dependência química é um processo lento, onde o sujeito inicia o contato com a droga através da experimentação, passando depois ao uso esporádico e em seguida, ao uso frequente. O usuário busca no álcool ou outras drogas a manutenção do prazer inicial, podendo desenvolver a tolerância em relação a substância de referência, ou seja, necessita aumentar cada vez mais a quantidade de consumo para obter o mesmo prazer, podendo desencadear o desenvolvimento da doença.

            O tempo entre a experimentação e instalação da doença depende do tipo de droga de escolha, além de outras variáveis, como a resistência do sujeito ao uso, a frequência com que as utilizam, etc., mas não acontece da noite para o dia. A concretização da doença ocorre depois de um período de uso frequente e prolongado.

            Mesmo com a doença instalada, ele pode viver em sobriedade, mantendo-a adormecida pelo restante de sua vida. Isso exigirá que se mantenha afastado da substância causadora do seu problema, pois mesmo após muitos anos no controle, basta uma nova experimentação para despertá-la e trazê-la à tona e, diferentemente do que acontece no desenvolvimento da doença, o período entre uma nova experimentação e a perda do controle sobre a droga de uso é imediata.

            Reconhecer a dependência como uma doença incurável, porém controlável, é fundamental para que o dependente em recuperação conscientize-se que sua batalha contra o vício será pelo restante de sua existência. Como isso pode parecer tempo demais, é comum adotarem o famoso discurso do “só por hoje” e isso funciona.

            Também é importante para os familiares do dependente aceitar essa realidade sem desespero ou dramas. As pessoas que convivem com o doente, reconhecendo a incurabilidade da doença, podem adotar atitudes de apoio verdadeiro, não o expondo desnecessariamente à situações de risco e não o testando para ver se realmente ele está bem.

            Facilita muito, para a família do adicto em recuperação, também utilizar o discurso do “só por hoje”, ou seja, se hoje ele está bem, mantendo-se na sobriedade, não vamos ficar sofrendo por antecipação, imaginando o que pode dar errado amanhã, ou daqui uma semana, ou daqui um mês. Viva bem hoje.
                                               
                                               
                Texto de Celso Garrefa
                  (Sertãozinho SP)

sábado, 22 de novembro de 2014

MELHOR TRATAMENTO PARA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

                                   
Qual o tratamento mais adequado para a dependência química?
Pergunta enviada por J.P.A. (Ribeirão Preto SP)

     
      O tratamento para a dependência química possui um caráter subjetivo, portanto, é complexo apontar um determinado tipo de abordagem como sendo a mais adequada. O que funciona para uns, pode não funcionar para outros, além disso não podemos esquecer que dependência química não possui cura, apenas controle.

Há quem consegue bons resultados através do acompanhamento médico e/ou de outros profissionais como psicólogos, terapeutas. Há aqueles que através dos grupos de auto e mútua ajuda conseguem manter-se na sobriedade. Há também os adictos que se entregam a fé e se agarram a uma religião, conseguindo sucesso no seu objetivo. Existem os que necessitam de um afastamento temporário do convívio em sociedade e conseguem livrar-se do vício depois de um tratamento em Comunidade Terapêutica. Têm aqueles que se adaptam melhor as clínicas especializadas.  Alguns chegam ao extremo, perdendo o próprio domínio, necessitando de intervenção através da internação compulsória ou involuntária.

                Um tipo de tratamento não deve excluir outros, dessa forma, o dependente pode contar com o auxílio médico e profissional, ao mesmo tempo, juntar-se a um grupo de auto e mútua ajuda, como os Narcóticos Anônimos, os Alcoólicos Anônimos, o Grupo de Sobriedade do Programa Amor-Exigente e ainda trabalhar sua espiritualidade através da religião de sua referência.

                É equivocado acreditar que o dependente só consegue se recuperar, por exemplo, se ele passar por uma internação. O importante é que ele busque, junto com seus familiares, o método que ele melhor se adapta e, se por acaso, a abordagem não estiver atingindo o resultado esperado, que possam buscar outras formas de tratamento.

                Qualquer que seja o tratamento, é importante se certificar sobre as competências daqueles que desenvolvem os trabalhos. Não basta encaminhá-lo a um psicólogo ou psiquiatra; é precisa saber se esses profissionais possuem especialização em dependência química. Não basta interná-lo em uma Comunidade Terapêutica ou Clínica para Tratamento, é importante pesquisar sobre a qualidade dos trabalhos, a seriedade dos profissionais, coordenadores ou monitores envolvidos no tratamento e conhecer o local para saber se ele possui adequadas condições de alojamento.

                Para o sucesso do tratamento é muito importante que a família do dependente conscientize que eles fazem parte do processo de recuperação do adicto, portanto, também precisam de acompanhamento, seja ele profissional e/ou através de grupos para familiares como o Amor-Exigente ou o Al-Anon, pois não basta apenas o desejo de ajudar um dependente, é preciso saber ajudar, aprender a lidar com a co-dependência, livrar-se da manipulação, das promessas vazias, do sofrimento profundo e entrar em ação e posicionar-se, tornando, assim, um ponto de apoio real e concreto. 

                Por fim, o que de fato não funciona de forma alguma é cruzar os braços, esconder-se ou isolar-se e esperar para ver o que acontece. Dependência química têm soluções, vamos à luta.

                                                               Celso Garrefa
                                                               Amor-Exigente de Sertãozinho SP

terça-feira, 11 de novembro de 2014

AUTOESTIMA: FATOR DE PROTEÇÃO

A baixa autoestima é citada por muitos dependentes químicos como um dos fatores que contribuiu para a sua adicção. Isso nos alerta sobre nossas atitudes e comportamentos enquanto pais ou educadores.

A formação da autoestima de uma criança começa a se desenvolver já nos primeiros anos de sua existência e é influenciada diretamente pelas atitudes e ações das pessoas que fazem parte do seu convívio, a  começar pelo seu grupo familiar, que é a sua primeira referência de vida. Toda vez que apresentamos estímulos positivos favorecemos a construção de um bom valor de si mesmos, enquanto os estímulos negativos colaboram para reduzir o juízo que fazem de si próprios.

Ao lidarmos com os pequeninos precisamos evitar comportamentos que minimizam suas capacidades. Cada criança é única e exclusiva, portanto, nunca devemos compará-la a outras, como um irmão, primo ou coleguinha. Também devemos evitar apelidos depreciativos, incluindo aqueles relacionados a algum aspecto físico, como uma orelha grande ou um peso acima do normal.  As crianças costumam supervalorizar os pequenos detalhes de seu corpo.

Os pequeninos também são gente e se ofendem, portanto, devemos evitar chamá-los de feios, de chatos ou preguiçosos. Ao ser repetidamente chamada de burra, uma criança poderá interiorizar isso como uma verdade e como consequência apresentar reais dificuldades no aprendizado.

Muitos pais descarregam sobre os filhos os seus erros ou frustrações, reclamando de coisas que não são culpa da criança, como se ela fosse culpada por ser menina, enquanto idealizaram um menino ou vice-versa. Outros despejam sobre os filhos as mágoas de um relacionamento frustrado e ainda há aqueles que culpam a criança por ela haver nascido de forma não planejada.

As cobranças exageradas e além da capacidade da criança é outro fator que desfavorece a construção da autoestima, por isso, é importante valorizar as suas capacidades, respeitando suas limitações. 

Talvez não haja nada pior para a desconstrução da autoestima de uma criança quando ela vivencia situações de violências, sejam sexuais, físicas ou verbais. Os pequenos precisam de proteção, pois as consequências futuras dos maus tratos é perverso.
Por outro lado, podemos adotar comportamentos que favorecem a construção de uma autoestima positiva em nossas crianças, como por exemplo, usando o poder do elogio de forma equilibrada, valorizando suas boas condutas e seus avanços. É nossa obrigação corrigi-las quando erram, mas não podemos esquecer de elogiá-las quando acertam.

Mesmo quando erram, devemos corrigir os seus comportamentos inadequados, sem ataques pessoas. O foco é o comportamento que não aprovamos e não a criança como pessoa que amamos. O Programa Amor-Exigente utiliza uma colocação muito interessante em relação a isso: “Nós amamos você, mas não aceitamos aquilo que você faz de errado.” 

Outra forma de valorizá-las é permitir que elas façam aquilo que possuem condições de fazer, como por exemplo, que carreguem seu material escolar, que guardem os seus brinquedos no final da brincadeira.  Devemos incentivá-los a se alimentarem sozinhos; a tomarem banho, sozinhos; a dormirem em seus quartos, etc.

Normalmente, o que uma criança assimila em seus primeiros anos de vida, ela carrega por toda a sua existência, portanto, se conseguirmos, desde cedo, auxiliá-la a desenvolver um sólido valor de si mesma, onde ela consiga se amar sem egoísmo, favorecemos a construção de uma solida autoestima, que é, sem dúvidas, um importante fator de prevenção.

                Texto de Celso Garrefa

               Amor-Exigente de Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...