segunda-feira, 14 de março de 2016

FILHOS BONZINHOS TAMBÉM PRECISAM DE ATENÇÃO


Costumamos olhar com maior preocupação em relação a um possível envolvimento com substâncias ilícitas para os jovens cujos comportamentos desaprovamos e nos acomodamos em relação aqueles considerados “bonzinhos”. Infelizmente, as drogas não costumam poupar ninguém e os filhos “bonzinhos” correm risco semelhante ou até maior que aqueles que nos preocupam.

            Neste texto quero focar neste grupo de jovens que, devido ao comportamento “certinho” não costumam levantar preocupações. Estes meninos normalmente são educados, carinhosos e obedientes. Muitos deles também são um tanto quanto introvertidos e evitam contato com outras pessoas. Em sociedade sentem-se deslocados e por vezes, preferem o isolamento.

            Seus comportamentos e atitudes agradam aos pais e por não apresentarem problemas, passam meio despercebidos, principalmente se na casa houver outros filhos que exigem atenção permanente. Filhos bonzinhos em casa onde existem outros problemáticos, tornam-se invisíveis aos olhos dos pais. 

            O filho de comportamento “bonzinho” dentro de casa, que obedece a todos, sem questionar, que aceita calado todas as condições impostas, que não sabe dizer um não em família, quando lá fora, pode reproduzir aquilo que vive dentro de casa e assim, pode tornar-se um alvo fácil para a malandragem. Sabemos que os grupos exercem grande pressão sobre os jovens e para resistir a isso é preciso personalidade, coisa que, comumente costuma faltar ao jovem bonzinho. Assim como ele é “tão bonzinho” em casa, ele pode ser também “tão bonzinho” com os amigos, tanto que não consegue dizer um não como resposta e quando tenta, na primeira pressão, cede.

            Outro fator que eleva o grau de risco em relação a este grupo de jovens é exatamente o seu jeito introvertido. Muitos deles não são felizes com o próprio comportamento e partem para o uso de substâncias ilícitas para fugir da inibição, acreditando, equivocadamente, que encontraram a solução para sua timidez. Cito, equivocadamente, porque sabemos que o preço que pagarão pelo equívoco vão lhes custar caro demais.

Outro detalhe que os colocam em situação de perigo é o desejo de chamar a atenção. Como não são considerados um risco, não são notados e passam despercebidos. Como são garotos introvertidos possuem uma percepção aguçada e conseguem perceber com facilidade um detalhe: a família, a mídia e a sociedade estão sempre falando de garotos problemas e não de garotos bonzinhos. Dessa forma, eles podem acreditar que esta é a receita, ou seja, apresentar problemas para ganhar a atenção.

Para trabalhar na prevenção com estes filhos precisamos, primeiramente, enxergá-los como pessoas, dar-lhes atenção e visibilidade, valorizando suas qualidades. Incentivá-los a interagir com pessoas, porém sem uma cobrança desmesurada. Também é importante ensiná-los a dizer “não” como resposta e para isso é importante trabalhar para o fortalecimento de sua autoestima. Devemos também, durante os diálogos e contatos familiares, falar sobre pessoas e personalidades que são bons exemplos e não focar sempre em atitudes e exemplos de pessoas cujos comportamentos desaprovamos.

Por fim, é bom que sejam bons e que percebam que é bom ser bons e que percebam também, que ser bons é diferente de ser bobos. A nós cabe enxergá-los e valorizar suas qualidades. Para reflexão, finalizo este texto com uma interessante citação do marquês de Vauvenargues: “Os tipos infames surpreendem-se quando notam que um homem bom também sabe ser esperto”. Está aí a receita: Ensinemos nossos filhos a serem bons, mas também, espertos.


Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente Sertãozinho SP

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