Numa sexta-feira a noitinha estava eu
juntamente com minha esposa e minha filha na área de alimentação de um grande
supermercado de nossa cidade, comendo alguma coisa, quando minha esposa me
chamou a atenção para a mesa próxima da nossa.
Pelas características de nossos
vizinhos de mesa, as evidências indicavam tratar-se de uma família composta
pelo pai e a mãe juntamente com dois filhos ainda bem pequenos. O maior
aparentava idade próxima aos quatro anos de idade e o menor, ainda com chupeta
na boca indicava idade inferior a um ano de vida.
A mãe segurava o filho menor no seu
colo, enquanto o outro estava acomodado numa cadeira ao lado dos pais.
Até aí tudo normal, porém o que fez
chamar-nos a atenção foi o comportamento do pai. Enquanto tomava sua cerveja,
por diversas vezes ele retirava a chupeta da boca da criança menor, mergulhava
o bico de borracha em seu copo e recolocava novamente na boca do bebê. A mãe
assistia a cena indiferente à situação.
Notamos grande preocupação dos pais
em relação ao perigo dos seus filhos se envolverem com o uso de drogas
ilícitas, como a maconha, cocaína ou crack, porém não percebemos a mesma
preocupação em relação ao uso do álcool, onde na grande maioria dos casos a
iniciação acontece dentro de suas próprias casas, com a permissão dos pais.
Precisamos ter claro que no Brasil,
o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o consumo do álcool aos menores
de 18 anos de idade. De acordo com o ECA, ao tratar sobre os crimes em espécie,
no artigo 244 relata que:
“Vender,
fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a
criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida”:
Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
se o fato não constitui crime mais grave.
Portanto, o pai ou mãe que fornece,
permite, ou facilita o uso de bebidas alcoólicas aos seus filhos menores de 18
anos de idade comete um crime, além de favorecer futuros problemas decorrentes
do uso e abuso de substâncias alcoólicas.
Negar os perigos e problemas
decorrentes do uso de substâncias alcoólicas em nada ajuda. Acreditar que os
filhos estão imunes aos problemas decorrentes do uso do álcool não os protegem,
ao contrário, coloca-os em risco ainda maior, considerando que ao não
reconhecermos um perigo, deixamos de adotar uma atitude de ação e defesa,
deixando-os a mercê da própria sorte.
Os jovens são bombardeados
diariamente por uma avalanche de apelo ao consumo de bebidas alcoólicas.
Recebem pressões por todos os lados. As propagandas são fantásticas ligando o
consumo do álcool ao sucesso, à beleza, à felicidade, à diversão e ao prazer.
Os grupos também exercem pressão sobre o indivíduo e raríssimas são as festas
onde não há excesso de álcool, inclusive festinhas de aniversário de criança,
bailes debutante para adolescentes ou os festejos dos finais de ano. Aos pais cabe
a missão de orientá-los sobre os perigos do consumo de substâncias alcoólicas e
não fortalecer e facilitar a iniciação de seu consumo.
Muitos são os pais que relatam
preferir fornecer bebidas alcoólicas para os filhos em casa, acreditando que
assim eles aprendem a beber de forma consciente e com moderação. Não acreditamos que essa seja uma boa ideia Ao permitir, fornecer ou favorecer o uso do álcool às crianças, mesmo
que seja de forma moderada, estamos transmitindo-lhes a idéia da nossa
permissividade em relação ao uso do álcool. Equivocam-se quem imagina que
aprendendo a beber em casa, os filhos saberão consumir com moderação.
O uso moderado poderá acontecer sob
nossos olhos, porém lá fora estará propenso a extrapolar os limites da
permissão.
Qualquer pai ficaria chocado se percebesse
que um filho chegou drogado em casa, porém nem todos se chocam ao deparar com
um filho bêbado, aceitando como “normal” ou “isso é coisa de adolescente”, ou
ainda “todos bebem nessa idade”.
Precisamos, portanto, assumir uma
postura clara em relação ao uso de bebidas alcoólicas dentro de nossa casa,
orientado e norteando a conduta de nossos filhos em relação ao consumo dessas
substâncias e quando adultos, se optarem por consumi-las, que saibam fazer de forma consciente, equilibrada e moderada.
Por
Celso Garrefa