domingo, 13 de novembro de 2016

MANTENDO A SOBRIEDADE



           
           A internação acabou e agora chegou a hora de voltar para casa. Foram meses longe da família e da convivência em sociedade. Durante o período do tratamento, o recuperando ficou longe da sua substância de uso. Agora é hora de retomar a vida aqui fora e enfrentar os desafios que surgirão a cada dia, mantendo-se em sobriedade.

        É preciso conscientizar-se de que a dependência química não tem cura, mas é plenamente controlável, por isso exige atenção permanente. Basta um pequeno deslize para ela manifestar toda a sua força destruidora. É preciso dar continuidade ao tratamento aqui fora, através da ajuda de profissionais, de grupos de mútua ajuda e ainda, trabalhar a espiritualidade.

            Será necessário mudar hábitos antigos. Aqueles que desejam parar de usar drogas, mas não estão dispostos a mudar sua rotina de vida, estão se enganando. Precisam aprender a viver diferente, buscar outras formas de prazer que sejam saudáveis e que não possuam ligação direta com as substâncias de uso. Não dá para ficar longe do consumo do álcool voltando a frequentar o mesmo barzinho de antes da internação. Não dá para viver sem drogas, frequentando as mesmas baladas com a antiga turma de uso. É preciso afastar-se de tudo que remete ao passado de consumo.

            Precisam aprender a conviver com as desconfianças, sem utilizar delas como desculpas para voltar à ativa. A família do dependente, após anos de sofrimentos, convivendo com manipulações, mentiras e promessas não cumpridas, carrega a desconfiança fortemente enraizada. Será preciso abandonar o discurso “ninguém confia em mim” e entender que o processo de recuperação da confiança perdida será uma conquista construída a cada dia, através de atitudes e comportamentos adequados e equilibrados e não com palavras e promessas.

            A ociosidade também é um vazio a ser combatido. No retorno nem sempre há um trabalho à espera e agora é hora de retomar os rumos da própria vida, assumindo responsabilidades. Muitos abandonaram os estudos, que neste momento podem ser retomados.

            Momentos complicados e difíceis surgirão. Isso faz parte da vida e todos nós possuímos dias bons e dias ruins, todos nós enfrentamos momentos difíceis e complicados e não será diferente com o recuperando. Grandes desafios vão surgir na caminhada, momentos em que dará vontade de jogar tudo para o alto e abandonar tudo, mas é preciso resistência. Os momentos difíceis também passam. Cuidado para não gritar a palavra trágica “foda-se”, que em segundos põe todo o trabalho e esforço a perder, jogando-o de volta ao abismo da dependência.

            É importante viver um dia de cada vez, cientes de que a cada dia conquistado a carga vai perdendo o peso. Permita que Deus ilumine seu caminho e saboreie o quanto é bom viver em sobriedade.

                                               Texto de Celso Garrefa
                                               Amor-Exigente de Sertãozinho

sábado, 5 de novembro de 2016

DE VOLTA PARA CASA



Muitos dependentes do álcool ou de outras drogas buscam o tratamento através de comunidades terapêuticas ou clínicas, cujo tempo de afastamento do convívio em sociedade gira em torno dos seis aos nove meses. Após esta etapa do tratamento chega a hora de voltar para casa. Este é um momento de grande aflição para os familiares, carregado de incertezas, preocupações e desconfianças. E agora? Como vai ser? Como podemos ajudá-lo a manter-se na sobriedade?

Primeiramente, precisamos ter clareza de que o final da internação não significa o final do tratamento. Ele concluiu uma fase importante, mas o desafio continua. Como sabemos, a dependência química é uma doença perfeitamente controlável, mas incurável e isso exige a continuidade permanente do tratamento após a internação.

Os familiares que, durante o período de internação do adicto também procuraram por ajuda e orientação, seja ela profissional ou através de grupos de apoio, neste momento terão mais condições de lidar com o desafio, enquanto que aqueles que nada fizeram poderão encontrar maiores dificuldades.
             
            O dependente em recuperação, em seu retorno, não precisa ganhar uma festa ou ser premiado por haver chegado até aqui, afinal não fez nenhuma façanha para ganhar um troféu, no entanto  devemos recebê-lo com alegria e proporcionar-lhe um ambiente familiar acolhedor. Neste momento ele precisará muito do nosso apoio, tendo em vista que ele deverá manter-se afastado da turma de uso, enquanto que os bons amigos, se é que ainda restam, são pouquíssimos. 

            Também é muito importante que ele encontre uma família renovada. Não precisamos mudar de casa ou de endereço, mas podemos começar as mudanças pelo ambiente físico, como por exemplo, modificando a disposição dos móveis da casa, mudando as cores do quarto, eliminando objetos que trazem lembranças do período de uso das drogas, enfim, devemos usar a criatividade para ele sentir-se em outro ambiente.

            Mais importante, ainda, são as mudanças familiares. Devemos tratar da nossa codependência, deixando de ser membros facilitadores ou permissivos em relação às atitudes que desaprovamos. Precisamos nos posicionar em relação ao abuso do álcool ou o consumo de outras drogas. Também é importante aprendermos a dizer “não” como resposta, deixando assim, de sermos um alvo de fácil manipulação. Precisamos permitir que ele cresça e assuma a condução de sua vida, sem ficar pendurado na família.

Durante o tratamento ele conviveu com regras, com limites e disciplinas. Na volta para casa, devemos proporcionar-lhe a continuidade deste tratamento, estabelecendo as novas regras da casa, apresentando a ele uma família organizada, equilibrada e comprometida com o bem estar de todos, onde ele também deverá responsabilizar-se por si próprio e contribuir para o bem comum.

Durante o período de internação, o dependente seguiu seu tratamento na comunidade ou clínica e os familiares através dos grupos. Esse processo não termina com o retorno para casa. Tanto o dependente como os familiares precisam continuar frequentando os grupos de apoio, mas agora, podemos caminhar juntos, cada qual de acordo com sua respectiva necessidade.
                                                                                                            
Por fim, o enfrentamento do desafio deixou muitos familiares paralisados no passado e nesse novo momento precisamos retomar os rumos de nossas vidas e seguir em frente, não só soltando as amarras que nos prendiam ao passado, mas também não sofrendo antecipadamente por aquilo que imaginamos que poderá acontecer no futuro. Hoje é o primeiro dia de uma nova vida. Vivam o dia de hoje e sempre contem com os grupos de apoio e orientação do Programa Amor-Exigente.

Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho SP

sábado, 24 de setembro de 2016

PARALIMPÍADAS: MAIS QUE MEDALHAS, EXEMPLOS DE VIDA



Há poucos dias terminaram as paralimpíadas, desta vez realizada na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, em território brasileiro. Mais que medalhas e conquistas, quantas lições e exemplos de vida, capazes de nos conduzir a reflexões, sejam em relação às superações, aos limites e as deficiências.

Quem pode acompanhar as várias modalidades de competição, pessoalmente ou mesmo através da tevê, surpreenderam-se ao assistir o quanto os atletas superam as diversidades e deficiências, competindo em alto nível. Pessoas que nasceram com alguma limitação ou sofreram lesões por acidentes ou mesmo acometidas por doenças que deixaram sequelas, uma visão limitada ou nula, a falta de um ou mais membros do corpo, etc., situação que poderiam levá-los a acomodação.

Mas a vida é feita de escolhas e estes escolheram viver, seguir em frente, desenvolver outras capacidades, competências e habilidades, superar limites e servir de exemplo para muitos acomodados, resmungões e folgados.

            Num destes dias de competições, a tevê da nossa sala estava ligada em num canal onde era apresentado um destes realitys shows, muito comum e de grande audiência nos tempos atuais. O pouco que vi, não por interesse, mas por me deparar com a tevê já ligada no programa, um jovem nos seus precoces 26 anos aproximadamente, gabava-se da sua condição de folgado. Sem trabalho e sem vontade de fazê-lo, sem estudar e ainda zombando da sua condição de sustentado pelos pais, em uma vida resumida em acordar tarde, frequentar baladas diárias até madrugada, bebedeiras, farras e só.

            Rapidamente um clique no controle e mudei o canal para acompanhar um pouco das competições paralímpicas e quanta diferença. Os atletas eram pessoas portadoras de pequenas a severas necessidades especiais, diferente do jovem do realit, mas quantas capacidades, quantas autonomias. Isso automaticamente fez me perguntar a mim mesmo: Quem é o deficiente? O rapaz do reality ou os atletas paralímpicos?

            Fala-se muito desta atual geração sobre um grupo de jovens conhecidos como nem-nem, ou seja, nem estudam, nem trabalham, não por falta de condições, mas por falta de interesse e vontade. Sugadores dos recursos familiares, eles utilizam-se do infantil discurso de que não pediram para nascer para nada fazerem.

Limitam-se a uma vida pequena e não crescem, estagnam e não avançam fases. Na vida há um tempo para cada etapa. Existe aquele período em que somos bebê e chupamos chupeta, mas isso passa e a abandonamos. Existe aquele momento em que somos crianças, amarramos um barbante em um carrinho e corremos na rua, puxando-o, mas isso passa. Vêm a adolescência, momento de algumas rebeldias, desafios e buscas, por vezes até algumas loucuras, mas isso também tem seu tempo e precisamos avançar, tornar-se adulto e assumir a condução de nossa vida.

No último Congresso do Amor-Exigente, realizado na cidade de Curitiba, o palestrante Mário Sérgio Cortella, brilhantemente falou sobre o segredo da vida. Segundo Cortella, a vaca não dá leite, é preciso tirá-lo. Portanto, quem nesta vida deseja realizar alguma coisa, precisa mover-se, correr atrás, preparar-se. Atingir objetivos exige empenho e dedicação. Há muita força de vontade, muita dedicação e preparo por detrás de cada medalha paralímpica conquistada e para nós que acompanhamos, mais do que medalhas, há exemplos de vida em cada competição.

            Texto de Celso Garrefa
            Amor-Exigente de Sertãozinho SP

sábado, 13 de agosto de 2016

DEPENDÊNCIA QUÍMICA TEM CURA?

Em um dos nossos textos sobre a problemática das drogas citamos que a dependência química não tem cura, apenas controle, e um dos comentários que recebemos discordou dessa colocação, argumentando que existe sim cura através da espiritualidade. De acordo com o comentário postado, Deus possui o poder de curá-la.
Não tenho dúvidas sobre o poder de Deus. A espiritualidade é o alicerce na manutenção da sobriedade, mas ainda assim, continuo acreditando que Deus não cura a dependência química, mas somente a controla. Também creio que Ele possui o poder de curá-la, mas não o faz com o propósito de nos mantermos conectados a Ele.
Todo aquele que se sentir curado pela força do Poder Superior e se afastar Dele caminha a passos largos rumo a recaída e ao retrocesso. Com isso, acredito que Deus, sabiamente, não proporciona a cura, exatamente para não nos afastarmos da Sua presença.
O terceiro passo dos Alcoólicos e Narcóticos Anônimos nos sugere entregarmos nossa vontade às vontades do Ser Superior.
Mas é preciso cuidado para não cairmos na acomodação. Entregar-nos à vontade Divida não significa nos acomodarmos e achar que tudo está resolvido. É preciso fazer, também, a parte que nos cabe, sendo membros ativos na religião de nossa escolha, participando dos grupos de apoio, aderindo aos tratamentos propostos, corrigindo continuamente os comportamentos inadequados e os defeitos de caráter, na busca contínua para melhorarmos a cada dia.
É importante compreendermos que Deus age segundo o Seu propósito e não o nosso. Deus age de acordo com o Seu tempo e não o nosso. Muitas vezes o propósito divino vai além de nos fazermos parar de consumir as drogas ou o álcool. Ele não cura, Ele controla para não nos afastarmos de Sua presença. Ele precisa de nós e devemos deixar o nosso sim ao Ser Superior, transformando-nos em resgatadores de outras vidas que ainda vivem mergulhadas nas trevas da dependência química ou alcoólica.
Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho SP

terça-feira, 26 de julho de 2016

SOFRIMENTO DE PAIS NÃO SALVA FILHOS

Pais e mães, quando surpreendidos pela dependência química de um filho, experimentam sofrimentos profundos. Sentimentos de dor e tristeza os afetam intensamente, tirando lhes toda a alegria de viver. Sempre ouviram falar sobre as drogas, porém nunca imaginavam que isso pudesse acontecer em sua casa.

Em geral, imaginavam que isso acontecia com filhos negligenciados ou abandonados e, como sempre deram "de tudo" ao filho, muitos sentiam-se imunes ao problema. Criaram expectativas, as melhores possíveis, e idealizaram um filho sem problemas graves.

Quando o fato vem à tona, o primeiro sentimento experimentado é a frustração: -“Como ele pôde fazer isso com a gente”? Sentem-se traídos pelo filho, principalmente porque o ouviu repetir inúmeras vezes que podiam confiar nele.

            Os sofrimentos vão se somando e o sentimento de culpa também passa a dominar os pensamentos dos pais: - “Onde será que nós erramos”? Não bastasse culparem a si próprios, também se culpam mutuamente. Os porquês martelam em suas mentes em uma busca vã pelas respostas.

            Os medos e as incertezas sobre aquilo que virá pela frente os deixam apavorados e muitos experimentam o pânico. As noites não são mais donas de um sono tranquilo, quando o filho está fora, e basta um toque do telefone ou a sirene de um carro de polícia para acordarem de sobressalto.

            Sentimentos como amor e ódio se confundem. Ao mesmo tempo em que amam o filho, também sentem raiva pela situação em que ele se meteu. Os pais sentem como se todos os olhares se direcionassem a eles, como a condená-los, assim, enchem-se de vergonha e como consequência, muitos paralisam e buscam o isolamento.

            Outros, equivocadamente, fazem questão de escancarar o sofrimento que estão vivenciando, numa insana ilusão de que o dependente se sensibilize e mude suas atitudes. Sem sucesso.

            Sabemos que muitos pais de dependentes químicos se identificarão com esses relatos, pois eles já experimentaram na pele sua cruel força e seria hipocrisia, de minha parte, achar que isso poderia ser diferente. Precisamos respeitar esse momento e o primeiro passo no cuidado dos familiares é pegá-los no colo, dar esperança e fazê-los crer que há soluções.

            Os sentimentos profundos são reflexos do problema enfrentado mas, devagar precisam enfrentar suas dores e reagir. Sabemos que os pais são afetados pelas atitudes dos filhos, mas precisam lutar com todas as suas forças não permitindo que o problema os adoeçam a ponto de destruí-los. Pais doentes não possuem forças suficientes para realizar aquilo que mais desejam: ajudar o filho. Fragilizados e em desespero são facilmente manipulados pelo dependente.

            Pais, façam tudo o que for possível para ajudar seu filho a recuperar-se. Não meçam esforços e vão à luta. Busquem conhecimentos, saiam do isolamento e enfrentem o desafio com coragem. Não tenham vergonha de buscar ajuda, mas não esqueçam de que também são gente. Lutem bravamente contra o sofrimento profundo, que em nada colabora para a solução do problema e acredite: SOFRIMENTO DE PAIS NÃO SALVA FILHOS.
                                  
                                   


Texto de Celso Garrefa                     
Amor-Exigente de 
Sertãozinho SP

sábado, 23 de julho de 2016

VOCÊ SABE O QUE É BINGE DRINKING

Sempre que falamos sobre os problemas relacionados ao consumo do álcool costumamos nos focar nos problemas gerados pelo alcoolismo, que afeta parte significativa da população, causando danos imensuráveis, porém existe outra forma de beber, conhecida como “binge drinking” ou “beber em binge” cujos danos à saúde e riscos pessoais ou a terceiros equiparam-se ou, por vezes, até superam os problemas relacionamos ao alcoolismo.

"Beber em binge" é uma modalidade que se caracteriza pelo consumo esporádico de bebidas alcoólicas, porém em quantidade elevada de álcool em um curto espaço de tempo. Essa maneira de consumir bebidas alcoólicas é bastante comum entre os mais jovens e ocorre principalmente em finais de semana ou em baladas.

O alcoolismo define-se como o consumo excessivo, duradouro e compulsivo de bebidas alcoólicas. Considerado pelo OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma doença que se instala ao longo do tempo. O bebedor em "binge", em geral, ainda não é um alcoólatra. É um abusador do consumo do álcool.

Normalmente, ele critica o alcoólatra, julgando-o como um fraco para beber e não acredita que ele próprio caminha para o alcoolismo. Adora se vangloriar do consumo pesado do álcool, exibindo-se aos amigos. Faz piadas com aqueles que não bebem e adora postar o consumo excessivo em sua rede social. Acredita que precisa mostrar aos outros o quanto bebe, como se isso fosse um grande feito e julga-se como alguém que bebe socialmente.

Mesmo não sendo, ainda, um alcoólatra, o bebedor em “binge” frequentemente se envolve em problemas. Após consumir grande quantidade de álcool, muitos pegam a direção do carro colocando em risco a própria vida, de seus familiares e de terceiros. Também se envolvem frequentemente em conflitos familiares, violências domésticas, acidentes pessoais, afogamentos e até homicídios.

O “beber em binge”, apesar de muitas vezes passar despercebido, merece grande atenção, pois, além de todos os prejuízos já citados, é uma modalidade de consumo que arrasta o bebedor a passos largos rumo ao alcoolismo. Só há uma forma de barrar esse processo desastroso: “Conscientização”. Infelizmente, uma atitude que está distante do “bebedor em binge”, pois em geral, ele não acredita nas consequências e prefere pagar para ver, pena que o preço será caro demais.

            Texto de Celso Garrefa

            Amor-Exigente de Sertãozinho

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...