sábado, 26 de novembro de 2016

AMOR-EXIGENTE DÁ CERTO?



         
Esta semana, uma mãe me questionou se o Amor-Exigente dá certo. É óbvio que jamais minha resposta seria não, pois não faria nenhum sentido eu estar a tanto tempo envolvido neste trabalho voluntário se eu não acreditasse nele, mas por outro lado, uma simples resposta sim, soaria como parcial e, além disso, entre o sim e o não existem os “considerandos”.

            Acredito sim que o Programa Amor-Exigente dá certo, porém não funciona para todos. Não funciona para aqueles que buscam uma solução mágica, acreditando que apenas uma reunião de duas horas será suficiente para reverter uma dependência de anos. Não funciona para aqueles que estão em busca de uma resposta pronta, como em uma receita de bolo. Não funciona para aqueles que só desejam empurrar o problema para os outros e não estão dispostos a fazer a parte que lhes cabe. Também não funciona para aqueles que nada desejam, ou seja, não estão contentes com a situação, porém não estão dispostos e abertos a mudanças.

            Amor-Exigente também não funciona para os familiares que buscam as reuniões com o propósito único e exclusivo de pegar um comprovante de frequência para apresentar na comunidade terapêutica onde o filho está em tratamento. Estes, durante as reuniões apenas esquentam cadeiras, não se envolvem e nem aderem às propostas apresentadas.

            Por outro lado, o Programa Amor-Exigente funciona muito bem para quem compreende a dinâmica do programa e persevera. Funciona para aqueles que, orientados e apoiados pelo grupo, se apoderam dos princípios básicos e éticos, vivenciando-os em seu dia-a-dia. Funciona para aqueles que possuem objetivos e com o apoio do grupo traçam metas para atingi-los, abandonando a falação e adotando a ação.

            Funciona para aqueles que, apesar da ansiedade em solucionar o problema, conseguem perceber que a cada reunião ocorrem avanços significativos, mesmo que eles pareçam quase imperceptíveis. Como já citei em um dos nossos textos, costumo comparar os trabalhos de um grupo de apoio à fase de crescimento dos nossos filhos.          Quem possui filhos pequenos, em fase de crescimento e estão com eles todos os dias, não se dá conta do quanto crescem. Basta chegar alguém que não os vê a seis meses ou mais para ouvirmos: “nossa, como ele cresceu”! Assim é com os trabalhos dos grupos de apoio. Desde a primeira participação nas reuniões, inicia-se um processo de evolução, de crescimento e de avanços em direção a solução do problema, mas precisamos compreender que este é um processo em construção, que não acontece da noite para o dia. A busca pelo imediatismo faz com que muitos desistem, acreditando que o programa não funciona. Aos que perseveram, não demora muito para as mudanças positivas tornarem-se nítidas.

            Em conclusão, o Amor-Exigente funciona quando nos permitimos sermos beneficiados por este programa que a cada encontro semanal nos incentiva a ser e estar cada vez melhor. Como diz Mara Menezes: “Acredite que dá certo”.

                    Texto de Celso Garrefa
                    Amor-Exigente de Sertãozinho SP

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

PRIMEIRA VEZ NO AMOR-EXIGENTE



A cada reunião semanal, o Programa Amor-Exigente recebe pessoas que procuram o grupo pela primeira vez.  Normalmente chegam fragilizadas, externando sinais visíveis de sentimentos profundos e precisamos acolhê-las com carinho e empatia.

Não é um momento fácil para a família e muitos relutam até tomar a decisão de buscar ajuda. Quando chegam trazem consigo muita frustração, acompanhada de um forte sentimento de culpa. Em geral, chegam com rostos abatidos, desesperançados, cheios de mágoas e sem rumo.

Chegam com a autoestima abalada, sem alegria de viver, como se nada mais fizesse sentido. A aparência exterior evidencia aquilo que seu interior tenta esconder. Em geral, vestem cores escuras e é notório o descuido com a própria aparência.

Quando chegam aos grupos relatam que já  tentaram de tudo, sozinhos em casa. Pensavam que seriam capazes de resolver o problema, e tentaram esconder, sem sucesso, aquilo que todos lá fora já sabiam. Normalmente chegam cheios de vergonha, de cabeça baixa e adoecidos, tentando enxergar uma luz no final do túnel.

Ao recebermos estes pais e mães, nossa primeira missão é acolhê-los, dar colo e emprestar-lhes ouvidos. Recebê-los sem nenhum tipo de preconceito, sem críticas e sem qualquer tipo de condenação. Não adianta enchê-los de teorias e explicações, muito menos apresentar-lhes soluções. Neste primeiro contato devemos falar o mínimo necessário e ouvir, ouvir e ouvir. O primeiro impacto que recebem ao chegarem ao grupo é automático: eles percebem que não estão mais sozinhos e que muitos outros enfrentam ou enfrentaram problemas semelhantes aos seus.

Os coordenadores que recebem os familiares que chegam pela primeira vez devem ser carismáticos, acolhedores e conduzir a reunião com empatia, visando atingir três metas. A primeira é fazer com que os familiares sintam-se acolhidos. A segunda é enchê-los de esperança de que seu desafio tem soluções e finalmente, a terceira meta é o resultado das duas primeiras, ou seja, que eles voltem para o próximo encontro. E aos coordenadores, devemos adotar a ideia de Madre Tereza de Calcutá: "Não podemos permitir que alguém saia da nossa presença, sem se retirar melhor e mais feliz". 

Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente Sertãozinho SP

domingo, 13 de novembro de 2016

MANTENDO A SOBRIEDADE



           
           A internação acabou e agora chegou a hora de voltar para casa. Foram meses longe da família e da convivência em sociedade. Durante o período do tratamento, o recuperando ficou longe da sua substância de uso. Agora é hora de retomar a vida aqui fora e enfrentar os desafios que surgirão a cada dia, mantendo-se em sobriedade.

        É preciso conscientizar-se de que a dependência química não tem cura, mas é plenamente controlável, por isso exige atenção permanente. Basta um pequeno deslize para ela manifestar toda a sua força destruidora. É preciso dar continuidade ao tratamento aqui fora, através da ajuda de profissionais, de grupos de mútua ajuda e ainda, trabalhar a espiritualidade.

            Será necessário mudar hábitos antigos. Aqueles que desejam parar de usar drogas, mas não estão dispostos a mudar sua rotina de vida, estão se enganando. Precisam aprender a viver diferente, buscar outras formas de prazer que sejam saudáveis e que não possuam ligação direta com as substâncias de uso. Não dá para ficar longe do consumo do álcool voltando a frequentar o mesmo barzinho de antes da internação. Não dá para viver sem drogas, frequentando as mesmas baladas com a antiga turma de uso. É preciso afastar-se de tudo que remete ao passado de consumo.

            Precisam aprender a conviver com as desconfianças, sem utilizar delas como desculpas para voltar à ativa. A família do dependente, após anos de sofrimentos, convivendo com manipulações, mentiras e promessas não cumpridas, carrega a desconfiança fortemente enraizada. Será preciso abandonar o discurso “ninguém confia em mim” e entender que o processo de recuperação da confiança perdida será uma conquista construída a cada dia, através de atitudes e comportamentos adequados e equilibrados e não com palavras e promessas.

            A ociosidade também é um vazio a ser combatido. No retorno nem sempre há um trabalho à espera e agora é hora de retomar os rumos da própria vida, assumindo responsabilidades. Muitos abandonaram os estudos, que neste momento podem ser retomados.

            Momentos complicados e difíceis surgirão. Isso faz parte da vida e todos nós possuímos dias bons e dias ruins, todos nós enfrentamos momentos difíceis e complicados e não será diferente com o recuperando. Grandes desafios vão surgir na caminhada, momentos em que dará vontade de jogar tudo para o alto e abandonar tudo, mas é preciso resistência. Os momentos difíceis também passam. Cuidado para não gritar a palavra trágica “foda-se”, que em segundos põe todo o trabalho e esforço a perder, jogando-o de volta ao abismo da dependência.

            É importante viver um dia de cada vez, cientes de que a cada dia conquistado a carga vai perdendo o peso. Permita que Deus ilumine seu caminho e saboreie o quanto é bom viver em sobriedade.

                                               Texto de Celso Garrefa
                                               Amor-Exigente de Sertãozinho

sábado, 5 de novembro de 2016

DE VOLTA PARA CASA



Muitos dependentes do álcool ou de outras drogas buscam o tratamento através de comunidades terapêuticas ou clínicas, cujo tempo de afastamento do convívio em sociedade gira em torno dos seis aos nove meses. Após esta etapa do tratamento chega a hora de voltar para casa. Este é um momento de grande aflição para os familiares, carregado de incertezas, preocupações e desconfianças. E agora? Como vai ser? Como podemos ajudá-lo a manter-se na sobriedade?

Primeiramente, precisamos ter clareza de que o final da internação não significa o final do tratamento. Ele concluiu uma fase importante, mas o desafio continua. Como sabemos, a dependência química é uma doença perfeitamente controlável, mas incurável e isso exige a continuidade permanente do tratamento após a internação.

Os familiares que, durante o período de internação do adicto também procuraram por ajuda e orientação, seja ela profissional ou através de grupos de apoio, neste momento terão mais condições de lidar com o desafio, enquanto que aqueles que nada fizeram poderão encontrar maiores dificuldades.
             
            O dependente em recuperação, em seu retorno, não precisa ganhar uma festa ou ser premiado por haver chegado até aqui, afinal não fez nenhuma façanha para ganhar um troféu, no entanto  devemos recebê-lo com alegria e proporcionar-lhe um ambiente familiar acolhedor. Neste momento ele precisará muito do nosso apoio, tendo em vista que ele deverá manter-se afastado da turma de uso, enquanto que os bons amigos, se é que ainda restam, são pouquíssimos. 

            Também é muito importante que ele encontre uma família renovada. Não precisamos mudar de casa ou de endereço, mas podemos começar as mudanças pelo ambiente físico, como por exemplo, modificando a disposição dos móveis da casa, mudando as cores do quarto, eliminando objetos que trazem lembranças do período de uso das drogas, enfim, devemos usar a criatividade para ele sentir-se em outro ambiente.

            Mais importante, ainda, são as mudanças familiares. Devemos tratar da nossa codependência, deixando de ser membros facilitadores ou permissivos em relação às atitudes que desaprovamos. Precisamos nos posicionar em relação ao abuso do álcool ou o consumo de outras drogas. Também é importante aprendermos a dizer “não” como resposta, deixando assim, de sermos um alvo de fácil manipulação. Precisamos permitir que ele cresça e assuma a condução de sua vida, sem ficar pendurado na família.

Durante o tratamento ele conviveu com regras, com limites e disciplinas. Na volta para casa, devemos proporcionar-lhe a continuidade deste tratamento, estabelecendo as novas regras da casa, apresentando a ele uma família organizada, equilibrada e comprometida com o bem estar de todos, onde ele também deverá responsabilizar-se por si próprio e contribuir para o bem comum.

Durante o período de internação, o dependente seguiu seu tratamento na comunidade ou clínica e os familiares através dos grupos. Esse processo não termina com o retorno para casa. Tanto o dependente como os familiares precisam continuar frequentando os grupos de apoio, mas agora, podemos caminhar juntos, cada qual de acordo com sua respectiva necessidade.
                                                                                                            
Por fim, o enfrentamento do desafio deixou muitos familiares paralisados no passado e nesse novo momento precisamos retomar os rumos de nossas vidas e seguir em frente, não só soltando as amarras que nos prendiam ao passado, mas também não sofrendo antecipadamente por aquilo que imaginamos que poderá acontecer no futuro. Hoje é o primeiro dia de uma nova vida. Vivam o dia de hoje e sempre contem com os grupos de apoio e orientação do Programa Amor-Exigente.

Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...