Celso Garrefa
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Se formos bem sucedidos é gratificante bater
no peito e assumir o crédito do sucesso, porém, se der errado é comum buscarmos
justificativas para o fracasso. É mais cômodo encontrar um culpado para o nosso
insucesso do que reconhecer a falha, porém, não é uma atitude que ajuda a
corrigirmos os rumos, pois, ao justificarmos a falha fora de nós mesmos, não
assumimos as nossas responsabilidades.
Não há como apagar aquilo que passou, mas um
olhar sobre o passado pode ser uma atitude interessante porque nos permite
enxergarmos onde falhamos, ajustar as arestas e corrigir o futuro. No entanto,
é preciso muito cuidado para não nos mantermos amarrados ao que passou, vivendo
de lamentações.
Mais do que lamentar as escolhas mal
sucedidas, neste novo momento, podemos parar de buscar os culpados nos outros
ou nas circunstâncias, e planejarmos novas escolhas a partir de nós mesmos e do
momento presente. O bom da vida é isso: sempre podemos adotar novas atitudes,
mas devemos ter a consciência de que se não mudarmos nossas escolhas, não
corrigimos aquilo que não está bom. Se as escolhas são nossas, as consequências também.
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Em estado de desespero os familiares sofrem um
impacto paralisante, que os impedem de adotar qualquer tipo de ação, ou pior, pode
leva-los agir no impulso do momento e adotar atitudes impensadas que, ao invés
de produzir resultados positivos, agravam ainda mais uma situação que já é
grave.
O pânico impede os familiares de enxergar o
problema na medida certa. É comum super dimensionarem a situação, e com isso,
não conseguem vislumbrar uma saída ou uma solução. Os pensamentos não possuem uma lógica e são
dominados pelo negativismo.
Nos raros momentos em que pensam em alguma
medida, buscam o imediatismo, porém, nem sempre se resolve um problema instalado a longo
tempo em um estalar de dedos e a frustração aumenta ainda mais o estado de
desespero.
O primeiro passo é tentar manter a calma diante de um grande desafio. A calma nos permite lidarmos com um problema de
alta complexidade com discernimento, controle e sabedoria. Ela nos permite
agir ao invés de apenas reagir, conscientes de que manter a calma diante do
caos não significa aceitar comportamentos que desaprovamos, mas lidar com eles
com posicionamentos firmes e ações controladas e equilibradas.
Duas atitudes são fundamentais para mantermos
a calma: fortalecer nossa espiritualidade e buscar ajuda, com a certeza de que
são nos momentos mais difíceis que sentimos com maior intensidade a presença de
Deus em nossa vida.
Por fim, o desespero é um grande engano, portanto, acalme-se, como sugere a canção de Leandro Borges: "Se eu pudesse conversar com sua alma, eu diria, fique calma, isso logo vai passar".
Pedagogo Social
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Durante o período de
dependência química ou alcoólica é comum a pessoa se afastar dos bons amigos, inclusive fazendo com
eles piadinhas bem infantilizadas e sem graça – não aguenta, toma leite – ou se
achando o cara, enquanto enxerga o outro como careta. Muitos se afastam inclusive da
família ou a própria família, após tanto sofrimento, não suporta mais conviver
com uma pessoa altamente destrutiva.
Na medida em que a dependência
se agrava e os prejuízos pelo uso se tornam muito superiores aos prazeres
proporcionados pelo consumo, pode despertar em muitos a necessidade de abandonar a
vida louca e se tratar.
Nesse momento muitos se veem sozinhos. Para abandonar um vício é preciso se afastar da turma do uso e, em geral, os amigos que não são usuários se afastaram a tempo. Nessa hora, os grupos de apoio são importantíssimos e estão de portas
abertas para acolhê-los e ajudá-los a conquistar sua sobriedade, através de um
processo de construção de novas relações baseadas na cooperação e no apoio mútuo,
em uma via de mão dupla.
A sobriedade torna-se plena e a sua manutenção é facilitada quando utilizamos o grupo em que estamos inseridos para continuarmos recebendo apoio ao mesmo tempo em que oferecemos apoio, cooperando uns com os outros, reconhecendo a nossa necessidade e a necessidade do outro. De graça recebestes, de graça deveis dar! (Mateus 10:8).
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Júnior mal chegou da escola, jogou a mochila num canto da sala, deixou o tênis no meio do corredor, esticou-se no sofá e lançou o primeiro de muitos pedidos para sua mãe: - Mãe, pega uma água pra mim. Ela parou, por um instante, o almoço que fazia, encheu um copo e o serviu.
Se questionada, provavelmente vai
justificar sua atitude como uma demonstração de amor, de cuidado, de carinho, como
um meio de fortalecer os vínculos afetivos, mas para o filho todo o esforço dela é visto apenas como uma obrigação.
O fortalecimento dos vínculos
afetivos é essencial para a solidificação das relações familiares, no entanto,
é preciso muito cuidado para não confundirmos um vínculo afetivo com uma
ligação emocional, que, apesar da linha tênue que os diferenciam, são duas
situações complemente diferentes.
Os vínculos afetivos são
construções conjuntas, uma via de mão dupla, em que um se preocupa com o bem
estar do outro, em que os membros cooperam entre si, visando o bem comum, enquanto
que a ligação emocional apenas um lado atua em função do outro, sem nada
receber em troca, um desejo permanente de resolver a vida do outro, de
facilitar a vida do outro, de viver a vida do outro.
Ligações emocionais são
prejudiciais tanto para quem assume as responsabilidades que não são suas, como
para aquele que tem a vida facilitada. Quem vive a vida do outro, não tem vida.
Quem vive em função do outro, não é visto, não existe. E o que é pior, se em
algum momento a pessoa assistida resolver tomar conta da própria vida, quem o
assistia perde a razão de viver. E agora, quem é você? o que sobrou de você?
A pessoa que tem a vida facilitada, sem necessidade, também é prejudicada. Pode encontrar dificuldades de crescimento pessoal, de evoluir, de se tornar independente e responsável. Torna-se frio e enxerga o outro apenas como um serviçal, obrigado a atendê-lo custe o que custar. Se um dia se ver só, pode não saber que rumo seguir.
Por tudo isso, as ligações emocionais devem ser repensadas nas relações familiares. É um comportamento que adoece todos os envolvidos, enquanto que os vínculos afetivos devem ser valorizados, pois são essenciais na construção de um ambiente familiar funcional. Enfim, para que viver em função do outro, se podemos viver todos?
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Os retornos das partilhas são fundamentais
para as reuniões do grupo, mas um bom retorno começa pelo interesse e atenção na
fala das pessoas. O maior responsável pelo alívio proporcionado para aqueles que
chegam carregados de problemas não é a nossa fala, mas a nossa escuta
interessada.
Por isso, deixemos falar, conscientes da importância
de tudo o que for dito. Ouçamos a história de cada um com muito respeito,
atenção e empatia, sem a ansiedade de apresentar receitas e soluções imediatas
para o problema. Muitos que chegam até nós, num primeiro momento, sequer
conseguem nos ouvir.
Caso necessário, o nosso retorno deve ser breve,
sem fazer deles uma palestra. Deve ser acolhedor e compreensivo, com todo o
cuidado para não fazermos comparações com o nosso momento atual.
Se precisarmos organizar o tempo, é
importante usarmos toda a nossa empatia para interferir, sem cortes bruscos,
mostrando que desejamos conhecer mais a sua história, convidando para que
retornem nas próximas reuniões.
Por tudo isso, a nossa entrega durante as
reuniões deve ser plena. Nossos ouvidos devem trabalhar mais que a nossa boca,
pois a melhor resposta é, sem dúvidas, aquela que começa pela escuta.
Assoc. AE de Sertãozinho SP
As mudanças que tanto desejamos nem sempre acontece num estalar de dedos e a busca pelo imediatismo pode nos levar a desistir de caminhar e, desistindo, não chegamos a lugar algum.
Em um processo de mudança pessoal é fundamental percebermos e valorizarmos cada pequeno progresso, por mais sutil que seja. Chegamos ao final de um livro grosso lendo página por página; construímos grandes casas assentando tijolo por tijolo. Nestes casos é fácil percebermos o avanço. Como pessoas humanas nem sempre fica nítido o quanto estamos evoluindo.
A falta de percepção do progresso, que muitas vezes acontece a conta gotas, faz com que muitos de nós abandonemos os objetivos, paramos pelo caminho e assim, não chegamos a lugar algum.
Costumo comparar o nosso crescimento pessoal à fase de crescimento físico dos nossos filhos, quando ainda pequenos. Quem convive com eles diariamente não consegue perceber o quanto estão crescendo de um dia para o outro, no entanto, basta chegar alguém que não os vê a meses para externar em tom admirado: - Nossa, quanto eles cresceram!
Portanto, para atingir um objetivo, comece, sem se prender ao imediatismo. Insista, perceba e valorize cada pequeno avanço, porque os resultados finais certamente serão evidentes e extraordinários.
Assoc. AE de Sertãozinho SP
(Imagem da internet) |
É comum, ao nos depararmos com uma queixa de
nossos semelhantes, tentar diminuir o tamanho do seu sofrimento, apresentando
receitas prontas e simplistas como solução para o seu drama. Tal comportamento
não costuma diminuir a dor do outro. Não se resolve problemas complexos com “achismos”
ou teorias de sofá.
Quando a dor não é física, mas atinge o fundo da alma da pessoa, parece-nos que os julgamentos ganham contornos ainda mais dolorosos. É cruel, e contribuímos para aumentar sua angústia, sempre que rotulamos tais sofrimentos como “frescura”. Não menos cruel é taxar e transmitir aos nossos semelhantes que o drama que estão vivenciando é motivado pela falta de Deus.
É possível ajudar aqueles que passam por grandes sofrimentos, respeitando a sua dor e nos abrindo ao diálogo, conscientes de que o mais importante não é aquilo que transmitimos, mas a escuta atenta e interessada, sem críticas, sem julgamentos, sem receitas prontas e sem minimizar a dor do outro. Exigem momentos em que a pessoa precisa apenas de um abraço acolhedor, nada mais. Portanto, diante do sofrimento alheio, que sejamos colo e orientemos a buscar a ajuda adequada.
(Imagem extraída da internet) |
Plantarmos essas ideias significa acomodar diante dos desafios da vida. Quem acredita que não é capaz, com certeza não vai chegar a lugar algum e com isso irá validar a própria incapacidade. Quem deseja algo, mas não está disposto e encarar a batalha, não conseguirá resolver o seu desafio.
Outras vezes, argumentamos que não sabemos como fazer. Mas, na vida ninguém nasce sabendo e aprendemos a cada dia. Reconhecer que ainda não sabemos, mas que estamos dispostos a aprender significa nos abrir para novas oportunidades.A busca
pelo imediatismo impede-nos de atingir nossos desejos. Devemos perceber cada pequeno
avanço por mais sutil que se apresente e valorizá-lo. Aceitar que nem todas as
coisas na vida são fáceis, ou recebemos prontas, e que as maiores conquistas
são aquelas que exigem maiores esforços. Nem sempre vai ser fácil, porém, como
a frase citada no filme Sound Surfer – coragem de viver – “Quem disse que precisa
ser fácil, só precisa ser possível”. E se é possível, então que vamos à luta.
Pedagogo Social
Assoc. AE de Sertãozinho SP
Não existem pessoas ou recursos capazes de ajudar alguém, se o sujeito não faz qualquer movimento de busca e não toma quaisquer atitudes de mudança. É extremamente complexo e quase impossível ajudar aqueles que não desejam ser ajudados, ou que manifestam o desejo, mas esperam apenas que os outros resolvam um problema que é seu.
Porém, por maior que seja a vontade dos familiares em ajudar, por melhor que sejam os recursos oferecidos, por melhor que seja a dedicação dos voluntários, por mais qualificados que sejam os profissionais, ainda assim, não vai funcionar se a pessoa que necessita de ajuda não fizer qualquer movimento para modificar a sua condição.
Também precisamos ter ciência de que apenas o desejo de ajudar não é suficiente. Precisamos possuir um mínimo de condição para ofertar um apoio adequado e funcional. Sem conhecimento, sem prática, uma tentativa de ajuda pode causar mais dano, que apoio, até mesmo para quem se coloca na condição de salvador.
Por isso, quem deseja ajudar, mas não possui conhecimento da problemática que o outro está vivenciando, também precisa buscar ajuda. Percebam que o processo é o mesmo, num ciclo sem fim. Estamos todos no mesmo movimento, precisando uns dos outros, apoiando ao mesmo tempo em que precisamos de apoio. Seja para ajudar ou ser ajudado, precisamos sempre uns dos outros, e quando cada uma das partes envolvidas faz o que lhe cabe, o resultado acontece.
Sertãozinho SP
Em uma de nossas reuniões semanais chegou um pai pela primeira vez no grupo, relatando que foi aconselhado a frequentar um grupo de apoio para familiares em razão da internação do filho em uma comunidade terapêutica. Disse ele que procurou o grupo, mas que a psicóloga da comunidade havia conversado com ele e ele já sabia tudo. Ironicamente, pensei comigo: esse pai deve ser um gênio. Tenho mais de 25 anos atuando com familiares e dependentes químicos e ainda aprendo algo novo a cada reunião.
Nesse fato relatado ainda existe algo de
positivo. Ele procurou o grupo e com um mínimo de abertura vai perceber
rapidamente que a dependência química é uma doença multifatorial de alta complexidade.
Vai compreender que não existem receitas prontas, nem soluções mágicas ou
respostas imediatas.
Pior são aqueles que não buscam ajuda. Estão
diante de um desafio gigantesco e ainda acreditam que sozinhos vão conseguir
resolvê-lo, sem perceber que, na maioria das vezes, estão mais adoecidos que o
próprio dependente.
Como não buscam apoio, muitos acabam
desabafando com pessoas, por vezes bem intencionadas, mas totalmente despreparadas
em relação ao problema. Dependência química não é um jogo de futebol, mas está
cheio de palpiteiros e especialistas de poltrona, que apresentam soluções simplistas
para um desafio gigantesco, com isso apenas aumentam ainda mais o sentimento de
culpa já fortemente enraizado na família.
É comum ouvirmos aquela famosa frase: - Ah,
se fosse comigo! Mas não é contigo e até por isso não tem nem ideia do quão complexo
é lidar com tudo isso.
O primeiro passo para lidar com o problema é
reconhecer a sua complexidade, compreendendo que será preciso muito trabalho,
muita busca de informações adequadas, muita persistência e perseverança. No
final, a recompensa chega com os juros do crescimento próprio e da sabedoria. E
como tenho repetido: a maioria das pessoas que considero “grandes” são aquelas
que tiveram de enfrentar grandes desafios, que reconheceram o quão pouco sabiam, foram
em busca e se tornaram gigantes.
Assoc. Amor-Exigente de Sertãozinho SP
Assoc. AE. de Sertãozinho SP
Diariamente somos bombardeados e pressionados a adotar comportamentos que não condizem com nossa personalidade. As propagandas televisivas e de outras mídias ditam ordens e criam padrões o tempo todo: compre determinada marca, beba este produto, vista esta grife, etc.
Diante dessa pressão, muitos de nós cedemos e adotamos comportamentos padronizados. Compramos coisas que não precisamos, consumimos produtos que não gostamos, fazemos coisas que não desejamos. Vivemos mais preocupamos em agradar aos olhos dos outros, que a nós mesmos.
Não se trata de paralisarmos no tempo. O mundo e a vida mudam em alta velocidade e precisamos nos ajustar às novas realidades, mas é importante desenvolvermos em nós a habilidade do questionamento. Para que eu preciso disso? Por que devo adquirir esta marca? Que necessidade tenho de adotar determinado comportamento?
Além de assumirmos nossa identidade também devemos enxergar os outros em suas diversidades e aceitá-los como são. A expansão das redes sociais trouxe à tona o quanto o ser humano é intolerante em relação aqueles que julga diferentes de si. É com tristeza que vemos ainda hoje a necessidade de campanhas para combater a intolerância, seja ela, racial, sexual, política, religiosa, etc.
A maravilha da vida está na diversidade e cada um de nós é uma versão única e exclusiva de nós mesmos. Aceitemo-nos como somos e respeitemos as diferenças e que cada um seja feliz a seu modo.
Mas, respeitar limites não significa criar barreiras paralisantes, que nos mantém estagnados. A consciência sobre os limites dos nossos recursos é o fator que delimita os momentos em que precisamos frear e os momentos em que é possível superá-los com determinação. Se gastamos mais do que ganhamos, se achamos que somos capazes de tudo, se não paramos de vez em quando para relaxar e descansar, se não repormos nossas energias, adoecemos.
Respeitar nossos limites nos protege de nós mesmos, mas também precisamos nos proteger em relação ao outro. E para isso, somos nós que devemos estabelecer os limites do aceitável, somos nós que devemos colocar uma barreira em tudo que extrapola nossos limites, visando impedir toda forma de manipulação, de pressão ou de chantagem.
Não podemos esperar que o outro respeito os nossos limites, se nos apresentamos como se fôssemos o todo poderoso, o invencível, aquele que dá contar de tudo, que suporta tudo, que sempre dá um jeitinho em tudo.
Não é possível trabalharmos este princípio na prática, se não aprendermos a também dizer não como resposta, mas um não que tenha significado de não.
Por fim, vivemos em uma sociedade consumista, onde somos incentivados a comprar, a consumir. Mais que isso, atualmente precisamos mostrar e ostentar em nossas redes sociais aquilo que temos, como se a quantidade de coisas adquiridas fosse condição para vivermos bem. Grande engano. Quando mais gastamos, quanto mais desrespeitamos os limites dos nossos recursos visando nos enquadrarmos às exigências crescentes de uma sociedade de consumo, mais prejuízos sofremos, mais adoecemos.
Por tudo isso, devemos refletir um pouco sobre nossos recursos para respeitá-los e valorizá-los, lamentando menos em relação às coisas que ainda não conquistamos e valorizando e valorizando mais aquilo que possuímos.
Celso Garrefa
A chantagem emocional é um artifício muito utilizado por familiares de dependentes do álcool ou de outras drogas para sensibilizá-los a buscar por tratamento, porém, essa tática quase nunca funciona.
Muitos pais e mães param de se cuidar, exteriorizando um sofrimento profundo numa doce ilusão de que o filho se compadeça com seu sofrimento e mude seus comportamentos. Infelizmente quase nunca isso acontece porque a outra parte não está em condições de perceber o sofrimento alheio ou está desprovido de compaixão. Ao longo do tempo, o dependente muito afetado pelo uso, provavelmente já está enfrentando o seu próprio sofrimento, que nem sempre ele mesmo percebe, que dirá perceber o sofrimento do outro.
Sabemos e reconhecemos que o comportamento do outro nos afeta e sofremos também, mas é importante reconhecermos que tais sofrimentos em nada coopera na busca da solução para o desafio, portanto, devemos cuidar para não os utilizarmos como chantagens emocionais.
Mesmo entre os dependentes que percebem, que conseguem dimensionar o drama da família, essa atitude não é produtiva, considerando que isso apenas aumenta o seu drama, pois além de lidar com a própria dependência, ainda sofre pelo sofrimento que causa aos familiares.
Devemos considerar, ainda, que quanto mais os familiares se debilitam, quanto mais se autoabandonam, menores serão suas forças para enfrentar tamanho desafio. Por tudo isso, as chantagens emocionais não são atitudes assertivas para lidar com tamanho problema. Eles vão precisar muito dos pais, mas pais inteiros, fortalecidos, capazes de ajudá-los. Têm, e não são poucos, mães e pais que chegam aos grupos mais adoecidos do que o próprio dependente e precisam também se curar.Isso não significa que precisamos ou devemos abandonar a pessoa que desejamos ajudar. Podemos fazer por ela tudo o que estiver ao nosso alcance, não medindo esforços na busca da solução para o problema, tomando atitudes assertivas e nos posicionando com firmeza em relação aos seus comportamentos, mas ganhamos força nessa batalha a partir do momento em que compreendemos que não é nos destruindo que vamos salvar quem amamos.
Portanto, abandone o autoabandono, arrume seu cabelo, coloque um sorriso no rosto, acabe com as chantagens emocionais, procure ajuda, cuide-se também e assim ganhará resistência para ajudar aquele que te precisa forte.
Celso Garrefa(imagem extraída da internet) |
Reconhecer-nos como "gente" é o primeiro passo para aceitarmos nossos limites. Não somos máquinas, nem bancos. Não damos conta de tudo, nem conseguimos viver a vida do outro. Não somos o todo poderoso, prontos para tudo, capazes de tudo. Somos tão somente humanos, carregados de sentimentos que não precisam ser camuflados.
Precisamos abandonar o discurso de que vivemos em função do outro, pois quem vive em função do outro, não vive. Abandonar também o discurso de que para mim qualquer coisa serve, pois se assim o fizermos, assim seremos tratados: como algo sem valor e não como pessoa humana.
Por vezes esquecemos essas verdades e nos posicionamos como se fôssemos uma imponente rocha, capaz de absorver todo impacto, sem se desfazer, porém, ao transmitirmos essa ideia ao outro, não possibilitamos que nos enxerguem como gente, frágeis como somos e após cada pancada, vem outra. Se mesmo a rocha se despedaça quando golpeada, imaginem nós que somos humanos!
Ser gente também significa respeitar as nossas individualidades, mesmo diante de uma sociedade que insiste em nos tratar como números, como estatísticas, condicionando-nos a pensar como um todo e não em nossas peculiaridades.
Reconhecer-nos como pessoas humanas significa acordar para nós mesmos, cobrar nossos direitos, valorizar nossas qualidades, respeitar nossas limitações e viver também em função do meu eu e não apenas para agradar a terceiros.
Celso Garrefa
Sertãozinho SP
O conhecimento é um dos maiores recursos que o ser humano pode adquirir. Ele não ocupa espaço, não se gasta e ninguém pode roubá-lo, no entanto, o saber apenas faz sentido se utilizado. Um conhecimento, por maior que seja, se não colocado em prática, não possui valor algum.
Também não podemos confundir conhecimento com informação. Atualmente, com a evolução tecnológica, o volume de informações que chegam até nós é estrondoso, porém, nem sempre confiável. É evidente que o saber começa pela informação, mas ela precisa ser filtrada, refletida, analisada, questiona e avaliada, para depois ser absorvida de acordo com nossas convicções. Buscar fontes confiáveis é importante, pois tem muita ignorância travestida de especialidade.
Uma vez adquirido, o conhecimento precisa ser colocado em prática. Não adianta saber que precisamos controlar a alimentação, se não a controlamos. De nada vale reconhecer que o álcool é um problema se continuamos fazendo uso abusivo dele. Não adianta participar de infinitas reuniões de grupo, mas não modificarmos em nada a nossa vida. Não possui produtividade assistir a uma palestra maravilhosa, mas não absorver nada para o nosso dia a dia. Perdemos tempo lendo um bom livro, sem que dele nada tiramos proveito.
Além de colocarmos os nossos conhecimentos em prática, também devemos repassá-los. O saber, diferente das coisas, não se gasta, pelo contrário, quanto mais utilizamos, quanto mais repassamos, mais ele se intensifica, por isso, podemos usá-lo sem egoísmo e sem moderação.
O domínio do conhecimento, sem a prática, não modifica, não transforma e não serve para nada, portanto, que sejamos sábios e façamos dos nossos saberes instrumentos de crescimento e evolução e assim, que possamos ficar cada vez melhores.
As consequências positivas ou negativas das nossas decisões nem sempre se manifestam imediatamente, mas ao longo do tempo, por isso, as nossas escolhas não devem ser pensadas apenas no efeito imediato, mas refletida sobre o seu resultado ao longo do tempo.
Um profissional competente e valorizado, por exemplo, é o resultado de anos de escolhas positivas. Escolha de levantar cedo e estudar, de abdicar de alguns prazeres em função do objetivo, de dormir tarde, mesmo estando cansado. Escolha de não desistir, de insistir, de acreditar, de olhar para o futuro.
Da mesma forma, escolhas negativas também trazem prejuízos ao longo do tempo. Se pensarmos em uma pessoa dependente de quaisquer substâncias entorpecentes, vamos ver que tudo começou com a escolha de experimentar, e essa atitude pode ter produzido uma consequência imediata de sensação de prazer que a agradou, fazendo com que ela escolhesse repetir o uso.
A sensação prazerosa do imediato pode impedir uma reflexão mais profunda daquela atitude ao longo do tempo. Por vezes, o prazer é tão intenso que a pessoa não enxerga ou não acredita nos prejuízos futuros decorrentes daquela atitude. Mas a lei da consequência não perdoa e cobra caro, trazendo prejuízos e sofrimentos profundos, afetando, inclusive, aqueles que a amam.
O Programa Amor-Exigente cita que nada muda se não mudarmos, nem mesmo as consequências de nossas escolhas. Por isso, podemos escolher parar de justificar, de culpabilizar e de reclamar e adotar atitudes capazes de nos elevar, de nos melhorar e de produzir consequências positivas. Se não o fizermos, não tenham dúvida, a vida não terá pena de nós.
Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...