Antes de me aventurar a escrever este texto, procurei
colher opiniões e comentários sobre o assunto e o que ficou claro é que as
opiniões se divergem. Entre aqueles que são contra, argumentam que a maconha é
substância que causa dependência e prejuízos à saúde ou que como conseqüência
da liberação assistiremos um aumento ainda maior no número de usuários. Os
defensores da legalização acreditam que a liberação elimina a figura do
traficante, resultando em uma diminuição da violência. Argumentam ainda que o modelo
atual não consegue diminuir o consumo ou ainda que a arrecadação com a venda
poderia ser investido em educação, saúde, etc.
Tenho que concordar com o deputado em relação à busca
de modelos alternativos no enfrentamento ao uso da droga, no entanto,
trabalhando e convivendo há dezoito anos com familiares e dependentes químicos,
não acredito que o modelo alternativo seja a liberação e tentativa de controle
da venda.
Todas as vezes que uma alteração da lei é proposta,
precisamos refletir sobre os prós e contras que a mudança poderá proporcionar. Como
pró, podemos pensar no dependente adulto que faz uso apenas da maconha e que
não pretende ou não consegue parar. Com a mudança da lei, estes poderão
utilizar o produto através das vendas autorizadas pelo governo sem precisar
arriscar-se em pontos de tráfico, eliminando a intermediação do traficante, no
entanto, a mudança não produziria diminuição do uso.
Como contra, caso a lei seja aprovada semelhante ao
modelo Uruguaio, a venda continuaria proibida aos menores de idade. Acontece
que a iniciação, com raríssimas exceções, começa na adolescência, portanto esse
grupo de jovens continuaria a busca pela droga nas bocas de fumo, com um
agravante: os traficantes, além de continuar com a venda da maconha,
intensificariam a venda de outras consideradas mais danosas, como cocaína ou
crack.
Também acredito que o governo não possui capacidade
para controlar o comércio da substância. Moramos em um país de dimensões
continentais onde o poder público encontra dificuldades para controlar serviços
básicos, seria utópico imaginar que controlaria a produção e o comércio da
maconha.
Precisamos considerar ainda que o método do governo
para tentar reduzir o consumo, baseia-se quase que exclusivamente em fixação de
altas taxas de impostos sobre os produtos. Dessa forma estaremos diante de um
impasse: se o produto oferecido pelo governo encarece devido aos pesados
impostos, os usuários continuarão a buscar a erva com os traficantes. Caso o
produto oferecido e controlado pelo governo seja barateado, corremos o risco de
assistir um aumento ainda maior no número de consumidores.
Além disso, ainda há muitas perguntas que nos enchem
de preocupações e precisam ser respondidas: Caso a lei seja aprovada, quem será
o produtor? Quem e como pretendem controlar as vendas? Como pretendem proteger
as plantações? Como irão fiscalizar as residências para controlar apenas o
plantio de doze pés da planta? Quem receberá autorização para vender o produto?
Em um país culturalmente marcado pela corrupção, não seria este mais um campo
fértil para aproveitadores? Tudo isto nos assusta.
Em relação à possibilidade do usuário possuir a
permissão para cultivar até doze pés da cannabis em sua residência, com todo
respeito ao deputado, mas me parece ideia insana. Como podemos imaginar uma
diminuição do consumo com a mudança da lei, se ela própria permitirá trazer a
droga para o quintal das residências, normalmente freqüentados por crianças,
adolescentes e jovens muitas vezes desacompanhados de seus responsáveis?
Imaginem esses pequenos reunidos em grupinhos sozinhos na casa. Juntem a isso a
curiosidade natural da idade, somados as desinformações ou informações
distorcidas que chegam até eles e agregue a tudo isso, a facilidade de acesso,
com o produto ao alcance das mãos.
Não consigo visualizar no projeto de lei do deputado,
nada que me convença que sua aprovação fará diminuir o consumo da maconha ou de
outras drogas no país. Respeito quem pensa diferente, mas o meu posicionamento
é contrário a legalização da droga no Brasil. Parece-me irônico pensar na
redução do uso da maconha, facilitando o acesso à droga, inclusive trazendo a
planta para dentro de casa.
Acredito sim, que necessitamos de políticas públicas
voltadas à educação e prevenção, onde as abordagens comecem o mais cedo
possível. Acredito que precisamos orientar os pais com informações de
qualidade, capacitar os educadores e demais profissionais que lidam diretamente
com crianças, adolescentes e jovens, levando a prevenção para dentro da sala de aula,
semelhante ao que acontece em relação à dengue e assim criar uma cultura de
valorização da vida. Precisamos preparar os jovens para que façam escolhas
saudáveis. Eu já fiz a minha: Em meu jardim quero rosas, não maconha.
Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho
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