domingo, 26 de março de 2017

FAMÍLIA AJUDA O DEPENDENTE A RECAIR?

“Um dia destes vi um comentário citando que famílias podem trabalhar para a recaída do dependente. Gostaria de saber se isso realmente acontece”.
                        Pergunta enviada por PCSS de São Carlos - SP

           
            Por mais insano que isso parece, essa é uma situação que de fato pode acontecer. Em geral, as famílias que adotam essa atitude são aquelas que estão afetadas pela codependência em um estágio mais avançado.

            Não é uma ação consciente e, portanto, não devemos culpá-las. Não agem com essa intenção e não se dão conta que suas ações são colaboradoras das recaídas do adicto.

            Para entender melhor, imaginem um alcoólatra em níveis avançados, cuja doença já o impede de assumir as responsabilidades da casa. Não trabalha e, quando muito, cata reciclados para manter o uso da cachaça. Perdeu a autoridade sobre os filhos e é tratado por todos como um traste. O comando da casa é exercido pela esposa, que trabalha, cuida dos filhos, põe comida na mesa e ainda, tem de aguentar o “cachaceiro”.

            A ela, todos os méritos. Uma guerreira, forte, decidida. Como uma leoa, comanda o lar e ainda, não desiste do companheiro. Sua valentia rende-lhe intensos e constantes elogios, que inflam seu ego.

            Imaginem que, de repente, seu companheiro toma a atitude de buscar por apoio e ajuda e que, após um período em tratamento, ele consegue manter-se em sobriedade. Todos aqueles elogios que eram direcionados para a esposa, agora vão para ele. Ele é o valente, o determinado, que conseguiu sair da lama do alcoolismo. Voltou a trabalhar, ajuda em casa e divide as atenções dos filhos.

            A esposa, acostumada a ser paparicada por todos, perdeu sua posição, e se vê esquecido por todos e isso a incomoda, assim, ela de forma inconsciente e involuntária começa a trabalhar para que o companheiro recaia, recuperando assim o posto de super-heroína. Ela sabe que o marido em recuperação não pode beber, mas ao fazer compras no supermercado, traz algumas garrafas de cerveja para ele, justificando que uma cervejinha não dá nada. Insisto em dizer que isso ocorre de forma inconsciente, pois estamos falando de um processo doentio.

            Não é diferente no caso de pais de dependentes químicos. Precisamos lembrar que, por vezes, um dependente em casa traz alguns benefícios para a família, quando o transformam no bode expiatório da casa. Dessa forma, todas os problemas pessoas enfrentados pelos pais, eles têm onde justificar. Se o casal vive brigando, justificam o problema no filho dependente. Se o pai perdeu o emprego, também justifica seu fracasso devido o comportamento do adicto.

            A partir do momento em que ele se propõe a um tratamento, seus familiares precisarão olhar para si mesmos, encarar seus defeitos e fracassos e isso pode incomoda e, mais uma vez, inconscientemente podem ajudá-lo a recair.

            Volta a frisar que essa etapa é a mais avançada num processo de codependência e não atinge a todos, mas não há como negar que, uma parcela de familiares é afetada por este nível e podem, sim, agir no sentido de facilitar a recaída do dependente.

            Por tudo isso, é de extrema importância tratar, não só o dependente, mas também seus familiares, pois a dependência do álcool ou de outras drogas adoece a todos.

              Texto de Celso Garrefa
              Sertãozinho SP

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