Muitos dependentes do álcool ou de outras drogas buscam o tratamento através de comunidades terapêuticas ou clínicas, cujo tempo de afastamento do convívio em sociedade gira em torno dos seis aos nove meses. Após esta etapa do tratamento chega a hora de voltar para casa. Este é um momento de
grande aflição para os familiares, carregado de incertezas, preocupações e desconfianças. E agora? Como vai ser? Como podemos
ajudá-lo a manter-se na sobriedade?
Primeiramente, precisamos ter clareza de que o final da
internação não significa o final do tratamento. Ele concluiu uma fase
importante, mas o desafio continua. Como sabemos, a dependência química é uma
doença perfeitamente controlável, mas incurável e isso exige a continuidade
permanente do tratamento após a internação.
Os familiares que, durante o período de internação do
adicto também procuraram por ajuda e orientação, seja ela profissional ou
através de grupos de apoio, neste momento terão mais condições de lidar com o
desafio, enquanto que aqueles que nada fizeram poderão encontrar maiores
dificuldades.
O dependente em recuperação, em seu
retorno, não precisa ganhar uma festa ou ser premiado por haver chegado até
aqui, afinal não fez nenhuma façanha para ganhar um troféu, no entanto devemos recebê-lo com alegria e proporcionar-lhe um ambiente familiar
acolhedor. Neste momento ele precisará muito do nosso apoio, tendo em vista que
ele deverá manter-se afastado da turma de uso, enquanto que os bons amigos, se é
que ainda restam, são pouquíssimos.
Também é muito importante que ele
encontre uma família renovada. Não precisamos mudar de casa ou de endereço, mas
podemos começar as mudanças pelo ambiente físico, como por exemplo, modificando
a disposição dos móveis da casa, mudando as cores do quarto, eliminando objetos
que trazem lembranças do período de uso das drogas, enfim, devemos usar a criatividade
para ele sentir-se em outro ambiente.
Mais importante, ainda, são as
mudanças familiares. Devemos tratar da nossa codependência, deixando de ser
membros facilitadores ou permissivos em relação às atitudes que desaprovamos. Precisamos
nos posicionar em relação ao abuso do álcool ou o consumo de outras drogas.
Também é importante aprendermos a dizer “não” como resposta, deixando assim, de
sermos um alvo de fácil manipulação. Precisamos permitir que ele cresça e
assuma a condução de sua vida, sem ficar pendurado na família.
Durante o tratamento ele conviveu com regras, com limites
e disciplinas. Na volta para casa, devemos proporcionar-lhe a continuidade
deste tratamento, estabelecendo as novas regras da casa, apresentando a ele uma
família organizada, equilibrada e comprometida com o bem estar de todos, onde
ele também deverá responsabilizar-se por si próprio e contribuir para o bem
comum.
Durante o período de internação, o dependente seguiu seu
tratamento na comunidade ou clínica e os familiares através dos grupos. Esse
processo não termina com o retorno para casa. Tanto o dependente como os
familiares precisam continuar frequentando os grupos de apoio, mas agora, podemos
caminhar juntos, cada qual de acordo com sua respectiva necessidade.
Por fim, o enfrentamento do
desafio deixou muitos familiares paralisados no passado e nesse novo momento
precisamos retomar os rumos de nossas vidas e seguir em frente, não só soltando
as amarras que nos prendiam ao passado, mas também não sofrendo antecipadamente
por aquilo que imaginamos que poderá acontecer no futuro. Hoje é o primeiro dia de uma
nova vida. Vivam o dia de hoje e sempre contem com os grupos de apoio e
orientação do Programa Amor-Exigente.
Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho
SP