Certa vez, falando a um grupo de internos em uma
comunidade terapêutica, citamos que a recuperação não é para todos e que os
melhores resultados não atingem o índice de trinta por cento de
sucesso, ou seja, daqueles cinquenta internos do local, pelas estatísticas, apenas
quinze conseguirão recuperar-se. Um dos internos levantou as mãos e, mostrando
muita determinação, disse: eu serei um destes quinze.
Lutar contra a dependência do álcool
e ou de outras drogas é uma batalha que requer muita força de vontade e
determinação do dependente. Mais do que isso, será necessário também estar disposto e
aberto às mudanças.
Aqueles que desejam uma nova vida, mas não são capazes de
soltar as amarras que os prendem às drogas, não conseguem fazer a travessia.
Lutam, lutam, mas apenas amassam barro. Muitos até conseguem alguns dias livre
do consumo, no entanto, sem cortar as raízes que os prendem à dependência, logo
voltam ao consumo. Mesmo aqueles que se internam por meses em clinicas ou
comunidades terapêuticas, se não buscarem um novo jeito de viver, estão propensos a recaídas.
O dependente na ativa cria rotinas e padrões de consumo, cada qual a seu modo, em uma sequência de ações, que inclui o envolvimento
de grupos de amizade, dias certos de uso (normalmente finais de semana),
horários, locais definidos, maneiras de conseguir as drogas. Eventos como baladas, churrascadas, determinadas músicas, também fazem parte da rotina, e cada um cria suas táticas de manipulações, mentiras e disfarces.
Todo esse ritual possui uma ligação íntima com o consumo
da substância de uso e manter-se em sobriedade exigirá muito mais do que apenas
parar de usar drogas. Será necessárias mudanças profundas para eliminar todos os fatores
que impulsionam o uso. Há alguns dias, conversando com um amigo que está em
sobriedade a mais de cinco anos, ele me disse que até hoje, quando sai do
trabalho e passa em frente à loja de conveniência que frequentava na época da
ativa, ele desvia o olhar para o lado oposto.
Uma vida livre das drogas requer atenção aos detalhes, que
por mais inofensivos que pareçam, podem colocar tudo a perder. Manter-se
afastado do grupo de consumo, desviar caminhos, evitar situações e locais,
abandonar a vida louca e ocupar-se com algo novo. Mudar rotinas, buscar apoio e
contato com pessoas que podem ajudá-los. Aprender a sossegar-se, desligando-se
de tudo que anteriormente estava associado ao consumo, trocando um prazer destrutível por novas
fontes de prazer que sejam saudáveis. Prazeres saudáveis são aqueles que nos
fazem felizes, sem nos causar sofrimentos e, com determinação e atitudes poderemos redescobrir o quanto é bom viver em
sobriedade.
Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho
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