domingo, 11 de dezembro de 2016

SOBRIEDADE




Certa vez, falando a um grupo de internos em uma comunidade terapêutica, citamos que a recuperação não é para todos e que os melhores resultados não atingem o índice de trinta por cento de sucesso, ou seja, daqueles cinquenta internos do local, pelas estatísticas, apenas quinze conseguirão recuperar-se. Um dos internos levantou as mãos e, mostrando muita determinação, disse: eu serei um destes quinze.

            Lutar contra a dependência do álcool e ou de outras drogas é uma batalha que requer muita força de vontade e determinação do dependente. Mais do que isso, será necessário também estar disposto e aberto às mudanças. 

Aqueles que desejam uma nova vida, mas não são capazes de soltar as amarras que os prendem às drogas, não conseguem fazer a travessia. Lutam, lutam, mas apenas amassam barro. Muitos até conseguem alguns dias livre do consumo, no entanto, sem cortar as raízes que os prendem à dependência, logo voltam ao consumo. Mesmo aqueles que se internam por meses em clinicas ou comunidades terapêuticas, se não buscarem um novo jeito de viver, estão propensos a recaídas.

            O dependente na ativa cria rotinas e padrões de consumo, cada qual a seu modo, em uma sequência de ações, que inclui o envolvimento de grupos de amizade, dias certos de uso (normalmente finais de semana), horários, locais definidos, maneiras de conseguir as drogas. Eventos como baladas, churrascadas, determinadas músicas, também fazem parte da rotina, e cada um cria suas táticas de manipulações, mentiras e disfarces.

Todo esse ritual possui uma ligação íntima com o consumo da substância de uso e manter-se em sobriedade exigirá muito mais do que apenas parar de usar drogas. Será necessárias mudanças profundas para eliminar todos os fatores que impulsionam o uso. Há alguns dias, conversando com um amigo que está em sobriedade a mais de cinco anos, ele me disse que até hoje, quando sai do trabalho e passa em frente à loja de conveniência que frequentava na época da ativa, ele desvia o olhar para o lado oposto.

Uma vida livre das drogas requer atenção aos detalhes, que por mais inofensivos que pareçam, podem colocar tudo a perder. Manter-se afastado do grupo de consumo, desviar caminhos, evitar situações e locais, abandonar a vida louca e ocupar-se com algo novo. Mudar rotinas, buscar apoio e contato com pessoas que podem ajudá-los. Aprender a sossegar-se, desligando-se de tudo que anteriormente estava associado ao consumo, trocando um prazer destrutível por novas fontes de prazer que sejam saudáveis. Prazeres saudáveis são aqueles que nos fazem felizes, sem nos causar sofrimentos e, com determinação e atitudes poderemos redescobrir o quanto é bom viver em sobriedade.

Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho

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