segunda-feira, 16 de março de 2015

LIMITES: PROTEÇÃO E CRESCIMENTO

Certa vez, durante um programa de tevê para arrecadação de doações para a AACD, um casal compareceu para entrevista no palco acompanhando a filha de cinco anos de idade, em uma cadeira de rodas adequada para a sua faixa etária. Na entrevista os pais disseram que ajudam a filha de acordo com as suas necessidades, mas que ela não possui nenhum privilégio por utilizar-se da cadeira de rodas. Segundo eles, na medida do possível, eles permitem que ela faça tudo aquilo que ela possui condições de fazer, pois ela tem limitações, mas também possui muitos recursos que precisam ser valorizados e explorados.

Diferente do caso citado, muitos pais da nossa geração possuem enormes dificuldades em permitir que os filhos façam aquilo que eles possuem condições de fazer. Querem poupá-los de assumir quaisquer responsabilidades, preferindo fazer tudo por eles, como por exemplo, carregar sua mochila escolar ou guardar os objetos e brinquedos que eles espalham pela casa.

Podemos ajudar e auxiliar nossos filhos, mas não precisamos fazer tudo por eles. Podemos ajudá-los nas tarefas escolares, mas não devemos apresentar o resultado pronto. Não precisamos carregar no colo aquele que é capaz de caminhar com as próprias pernas. Tratar filhos como coitadinhos significa diminuir, desvalorizar e desprezar suas potencialidades. Esse comportamento fragiliza, não prepara para a vida e cria filhos folgados.

É óbvio que precisamos respeitar a capacidade dos nossos filhos, sem exigir deles algo que está além das suas condições, mas devemos também lançar um olhar sobre suas competências para  buscarmos o equilíbrio entre o respeito ao limites, que significa proteção e ao mesmo tempo explorar e valorizar suas qualidades, permitindo que explorem suas competências com coragem e determinação. 

Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

domingo, 1 de fevereiro de 2015

PAIS TAMBÉM SÃO GENTE

Somos humanos. Isso nos parece tão óbvio, porém, esquecemo-nos com frequência essa verdade e buscamos uma perfeição que não está ao nosso alcance e nos frustramos. A perfeição é divina e não somos Deus, somos gente.

Precisamos assumir nossa condição humana. Como gente, somos únicos e possuímos o domínio apenas sobre nossa própria vida e mesmo assim, acertamos muito, mas também erramos. Não somos perfeitos. Temos defeitos, somos limitados, mas também possuímos muitas qualidades. Em relação aos filhos, podemos orientá-los, aconselhá-los, mostrar caminhos, mas não vivemos a vida deles e eles fazem suas próprias escolhas. Não podemos nos condenar por aquilo que o outro faz de errado.

Quando nos empenhamos em mostrar aos nossos filhos que somos perfeitos, eles assimilam e interiorizam a ideia e cobram permanentemente a nossa perfeição. Acontece que pais e filhos não são iguais e aquilo que nós pais enxergamos como perfeição é diferente daquilo que os filhos enxergam.

Para nós, a busca da perfeição está associada a fazer o nosso melhor, com dedicação, amor e carinho. Para eles, os pais perfeitos são aqueles que nunca dão bronca, que estão sempre disponíveis, que sempre dizem sim e permitem que eles façam tudo aquilo que eles desejam. Como isso não é funcional para uma boa educação, rapidamente eles percebem que os pais não são tão perfeitos como desejavam mostrar e assim se decepcionam.

Ao confrontarmos com um grande problema devemos fazê-lo como pessoa humana, sem máscaras e sem encarnar personagens. Somos gente e não máquinas, que consegue trabalhar vinte e quatro horas por dia para cobrir todas as dívidas dos filhos. Não somos caixa eletrônico, prontos para abastecê-los com dinheiro sempre que desejam, custe o que custar. Não devemos vestir a capa do super-herói, que sozinho dá conta de tudo. Não somos um objeto, inanimado. Possuímos sentimentos e precisamos nos mover e não aceitar xingamentos, hostilizações ou desrespeitos. Não mágico, capazes de solucionar o problema num piscar de olhos. Devemos, também, nos livrar do personagem “mártir” que carrega para si todas as falhas do outro.

Aceitar-nos como pessoa humana significa assumirmos o compromisso de fazer sempre o nosso melhor, sem idealizar a perfeição. Devemos nos enxergar como gente, que também possui direitos. Direito de nos equivocarmos, de ficarmos tristes, de mudarmos de opinião, de não aceitarmos o comportamento inadequado do outro, de exigir respeito, de viver, de sonhar, de sermos felizes. 

Posicionar-nos como gente significa que não precisamos enfrentar sozinhos os nossos desafios. Gente precisa de gente e como humanos podemos buscar ajuda, apoio e orientação, até mesmo para aceitarmos o óbvio: Somos tão somente gente.

Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente de Sertãozinho SP
Elaborado com base no 2º princípio do Amor-Exigente

domingo, 25 de janeiro de 2015

MACONHA: PROBLEMA OU SOLUÇÃO?

Com a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) de liberar, no Brasil, o uso terapêutico do canabidiol, ele deixa de fazer parte da lista de substâncias proibidas pela agência. Tal decisão deixa no ar um questionamento: afinal, a maconha é um problema ou uma solução?

Normalmente somos condicionados a fazer escolhas baseado nos extremos: tudo ou nada; certo ou errado; sim ou não; contra ou a favor. Precisamos desenvolver nosso senso crítico, buscar informações para nos posicionarmos sem simplismos, compreendendo que entre o branco e o preto existem muitos tons de cinza.

"O canabidiol é um dos 480 compostos da maconha. Extraído do caule e das folhas da planta, a substância não é psicoativa nem tóxica. O que promove o efeito alucinógeno é o tetraidrocanabinol (THC), substrato da resina e da flor da Cannabis sativa. É ele o responsável pela alteração de raciocínio, lapsos de memória, perda cognitiva e dependência". (Fonte http://veja.abril.com.br/noticia/saude/anvisa-libera-o-uso-do-canabidiol) acessado em 23/01/2015

Como estudos têm demonstrado que o uso terapêutico do canabidiol tem diminuído as crises convulsivas entre pacientes com doenças neurológicas graves e a liberação da substância no Brasil, facilitará o desenvolvimento de pesquisas visando à criação de novos medicamentos, como por exemplo, para os tratamentos do mal de Parkinson e do Alzheimer entre outros, seria contraproducente nos posicionarmos contrários a isso, baseados simplesmente na repulsa que o nome “maconha” nos remete.

Precisamos nos lembrar que tanto a heroína como a morfina são substâncias extraídas da papoula. A heroína, quando utilizada como entorpecente, possui alto poder de dependência com conseqüências devastadoras, enquanto a morfina, utilizada como medicamento, possui alto poder analgésico, muito utilizado em pacientes terminais de câncer como forma de aliviar a dor.

Também não podemos cair na ingenuidade. Muitos jovens usuários da erva, já argumentavam que ela é remédio. Maconha não é remédio e o canabidiol não é maconha e sim um composto derivado dela, livre do THC (tetraidrocanabinol). A maconha fumada é droga, causa dependência e possíveis danos à saúde e em relação a isso, nosso posicionamento continua o mesmo: somos contrários ao uso da erva como entorpecente.

Por fim, é importante distinguirmos as diferenças entre o que cura e o que adoece, para não fazermos da maconha, nem anjo nem demônio e a diferença está exatamente na forma e na maneira com que o ser humano manipula a erva.

                        Texto de Celso Garrefa
                        Amor-Exigente de Sertãozinho SP



Leia também: Maconha: Entrada para outras drogas? disponível no link abaixo:
https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6594050642586374024#editor/target=post;postID=4383256899850871886;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=2;src=postname

domingo, 11 de janeiro de 2015

DROGAS: VOCÊ JÁ FALOU COM SEUS FILHOS SOBRE ISSO?

Uma das principais preocupações dos pais em relação aos seus filhos é o medo deles se envolverem com o uso das drogas, mesmo assim, parece existir certo tabu em falar com eles sobre o assunto. Muitos não sabem como fazê-lo e outros são tão ausentes na educação dos filhos que os deixam a mercê da própria sorte.

A desinformação sobre as drogas é um dos fatores que levam os pais a adiarem a conversa. Alienados sobre o tema ficam à espera de algum sinal de consumo para tomarem providências, porém, quando surge algum indício de uso já é tarde demais.  Em média, a família demora de dois a três anos para descobrir o uso, ou seja, quando ficam sabendo, o filho já está mergulhado na dependência.

            A negação é, sem dúvida, um dos maiores motivos do adiamento da conversa. Muitos pais enxerga as drogas como algo muito distante, que acontece na casa do vizinho, com filhos abandonados, negligenciados. Estes pais precisam acordar. O problema está batendo à nossa porta e qualquer um de nós está sujeito a enfrentá-lo. Negar isso não nos garante proteção, pelo contrário, coloca-nos em situação de vulnerabilidade, pois ao negar o problema, silenciamos e deixamos de agir.

            Quanto maior a qualidade da conversa, melhores os resultados. Orientar sobre os perigos das drogas de forma adequada exige a busca de informações de qualidade sobre o assunto, caso contrário, acabamos falando bobagens e não somos levados a sério. Exige capacidade de argumentação e preparo para lidar com os questionamentos e pontos de vista diferentes do nosso. Exige segurança naquilo que desejamos transmitir e posicionamento claro mediante o assunto a ser tratado.

      Ao abordar sobre o tema devemos nos preocupar em fazer uso da verdade sobre as drogas , sem medo. É inegável que elas também proporcionam prazer e eles devem tomar conhecimento desta realidade através dos pais, pois assim é possível também mostrar que esse "benefício" é passageiro, resultando depois, em grandes prejuízos e perdas. Se nos negarmos a falar sobre esta particularidade das drogas, sua rede de amizade o fará, com uma diferença, somente mostrarão, de forma fantasiada, os prazeres e benefícios, omitindo as consequências e danos provocados pelo uso.

            Nossa abordagem deve ser clara, sem fantasias e sem simplismos, evitando dramatizações e exageros desnecessários. Devemos evitar comparações com tempos passados, trazendo a conversa para os nossos dias e a realidade em que vivem nossos jovens. 

Conversar com os filhos sobre o assunto não significa fazer um sermão onde nós falamos, falamos e falamos, enquanto eles somente ouvem ou fingem ouvir. A boa conversa consiste também em sabermos ouvi-los, conhecer nossos filhos e suas opiniões, levando-os a uma reflexão sobre o assunto abordado. 

Não podemos permitir que os filhos cresçam sem nossa orientação. O Programa Amor-Exigente também trabalha na prevenção, levando informações de qualidade para a família que deseja ver seus filhos longe do pesadelo das drogas. Procurem por um grupo em sua cidade e capacitem-se.

Texto de Celso Garrefa

Programa Amor-Exigente de Sertãozinho SP

domingo, 28 de dezembro de 2014

MACONHA: ENTRADA PARA OUTRAS DROGAS?

         
A maconha, por si só, não possui em sua composição, substâncias que despertam o desejo do usuário em migrar para outras drogas, como a cocaína ou o crack, no entanto, sabemos que uma grande parcela de fumantes da erva acabam enveredando para aquelas consideradas “mais pesadas”.

          Aqueles que fazem uso da maconha, certamente foram orientados que ela causa dependência e danos à saúde. Eles sabem que é uma droga ilícita e para consegui-la precisam da figura do traficante. Mesmo assim, menosprezaram os riscos e a ilegalidade e optaram pelo uso. A característica da transgressão, associada à minimização dos perigos, pode levá-los a mesma atitude em relação às outras drogas.

          A curiosidade também é um dos motivos que leva a pessoa a experimentar a maconha, mas o uso da erva não elimina esse comportamento que continua latente no sujeito e essa mesma curiosidade pode fazê-lo migrar para outras drogas de maior potencial de destruição.

          Outro comportamento que leva a pessoa ao uso da maconha é a busca por novas sensações e assim que se acomodam ao uso, ela deixa de ser uma novidade. É preciso buscar por outras experiências, conhecer outros baratos e essa busca pode levá-los a conhecer, por exemplo, a cocaína. 

Muitos jovens que fazem uso da maconha argumentam que ela faz menos mal que o cigarro. Seguindo esse mesmo pensamento, logo poderão cheirar a cocaína argumentando que ela faz menos mal que o crack.
          Outro fator da migração acontece pela proximidade do usuário da maconha em relação às outras drogas, seja através do contato com o seu grupo de uso, que incentiva, que desafia, que pressiona ou mesmo através dos pontos de tráfico, onde vez ou outra lhe é ofertado outro produto que, ao alcance das mãos e dos olhos, torna-se tentador.

         Por fim, o uso da maconha por si só não induz ao uso da cocaína, crack ou outras drogas, mas ainda assim ela pode servir como a porta de entrada para essas consideradas “mais pesadas” e o que proporciona isto, não está presente nela propriamente dito, mas nas características, comportamentos, atitudes e escolhas dos próprios usuários. 

            Grande abraço

            Celso Garrefa (Amor-Exigente Sertãozinho SP)

domingo, 21 de dezembro de 2014

COMO LIDAR COM A INCERTEZA DO SUCESSO NO TRATAMENTO?

Meu filho está em recuperação em uma comunidade. Ele está na metade do tratamento e mais alguns meses retorna para casa. Vivo uma grande ansiedade sobre a sua volta, me questionando: será que vai dar certo? E se ele voltar ao uso? Que faço para relaxar um pouco?
                                    Pergunta enviada por P.S.L. (Colombo - PR)



        Um dos grandes dilemas da família durante o processo de recuperação de um dependente é a incerteza e desconfiança no resultado do tratamento. Isso até certo ponto é natural, afinal foram tantas promessas não cumpridas, tantas frustrações, que nos custa, agora, acreditar que tudo será diferente.

              Não há muito como fugir totalmente dessa ansiedade, mas precisamos trabalhar para não permitir que ela tenha uma intensidade exagerada. Como sugestão segue algumas dicas.

           Procure não focar seu pensamento somente no negativo, imaginando o que pode dar errado. Isto significa sofrer por antecipação, por algo que ainda não aconteceu e que possui grande possibilidade de nem acontecer. Procure pensar também de forma positiva, acreditando que pode sim dar certo, pois trata-se de um outro momento. 

           Não se isole nesse momento, vivendo uma tristeza profunda. Procure relaxar, saia um pouco de casa, visite um amigo, faça um passeio, viva momentos de lazer. Não se iluda: sofrimento profundo não recupera filhos. 

          Evite contatos com pessoas negativas e dramáticas que só te colocam para baixo, que julgam sem conhecimento de causa e são preconceituosas, incluindo nessa relação, alguns familiares próximos. Quando em contato com tais pessoas, evite falar do seu desafio.  

          Mantenha sua espiritualidade alimentada. Aproxime-se ainda mais de Deus. A fé é a força necessária para lidarmos com um grande desafio, sem desespero. Em Mateus 7:7-8 podemos ler: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á”. 

          Procure por um grupo de apoio em sua cidade. Isso ajudará você a lidar com seu desafio e trabalhar sua ansiedade. São nos grupos que você encontrará pessoas preparadas para te ouvir e te elevar, sem julgamentos ou críticas e onde você terá contato com pessoas que vivenciaram situação semelhante e superaram.


          Não idealize um tratamento como tudo ou nada. Há sim riscos de recaídas, mas isso não significa o fim ou que tudo esteja acabado. Se por ventura, ocorrer alguma surpresa indesejável, não significa a volta para a estaca zero. Os aprendizados durante este período permanecem, ocorreram avanços e a luta continua até atingir o objetivo final. 

         
        Aprenda a viver o dia de hoje, pois o amanhã não nos pertence. Se tudo está bem hoje, viva bem hoje. Faça o seu melhor, hoje. Confie em Deus e seja feliz.

                                               Grande abraço
                                               Celso Garrefa (Amor-Exigente - Sertãozinho SP)       

domingo, 7 de dezembro de 2014

FAMÍLIA DE DEPENDENTE TAMBÉM PRECISA DE CUIDADOS

“Por que a família do dependente químico também precisa participar das reuniões, se é o filho quem está usando drogas?
            Pergunta enviada por M.L.P. (São Simão SP)  


A dependência química não atinge somente aqueles que fazem uso de substâncias entorpecentes, mas também afeta aqueles que convivem com ele. 

           É comum os familiares chegarem aos grupos mais
adoecidos que o próprio dependente. Chegam com o relato que desejam ajudar a pessoa com problemas, mas afetados pela  codependência carregam uma mistura de sentimentos e um sofrimento profundo. Sentimento de culpa, vergonha, frustração, medo, tristeza, desespero, etc. o fazem paralisar. Desejam ajudar o outro, mas estão tão fragilizados que não sabem nem por onde começar e as tentativas de ajuda sem orientação, em geral, agravam ainda mais o problema.

            São nos grupos de apoio que a família começa a tratar sua codependência, a se livrar da carga de sentimentos que travam seus passos. Nos grupos de apoio os familiares sentem-se acolhidos por pessoas preparadas para orientá-los, sem condenações, sem críticas, sem acusações. 

            Em um grupo de apoio as famílias são fortalecidas e quando fortes, deixam de ser um alvo de fácil manipulação ou chantagem. Aprendem a lidar com um problema de grande complexidade de forma assertiva e orientada, ampliam sua visão de mundo, potencializam sua capacidade de enfrentamento dos desafios, recuperam a esperança de retomar os rumos de sua vida e a resgatar os rumos daquele que deseja ajudar.

            Enfim, a família precisa participar de um grupo de apoio porque ela faz parte do processo de recuperação do dependente químico e, quando enfrentam o desafio juntos, estatisticamente, as possibilidades de sucesso do tratamento aumentam de forma extraordinária.
                                  
                                   Celso Garrefa
                                   Sertãozinho SP


                        

domingo, 30 de novembro de 2014

DEPENDÊNCIA QUÍMICA TEM CURA?

Quando me deparei com a dependência química do meu filho, ouvi pessoas relatando que ela é uma doença incurável e isso me assustou. Gostaria de saber se isso é verdade?
           Pergunta enviada por A.M.P.S. (Uberlândia MG)


A dependência química é de fato considerada como uma doença incurável, mas nem por isso devemos nos assustar ou nos desesperar, acreditando que não exista soluções. Mesmo incurável, ela é perfeitamente tratável e seu tratamento baseia-se no controle e domínio da sobriedade.

            O desenvolvimento da dependência química é um processo lento, onde o sujeito inicia o contato com a droga através da experimentação, passando depois ao uso esporádico e em seguida, ao uso frequente. O usuário busca no álcool ou outras drogas a manutenção do prazer inicial, podendo desenvolver a tolerância em relação a substância de referência, ou seja, necessita aumentar cada vez mais a quantidade de consumo para obter o mesmo prazer, podendo desencadear o desenvolvimento da doença.

            O tempo entre a experimentação e instalação da doença depende do tipo de droga de escolha, além de outras variáveis, como a resistência do sujeito ao uso, a frequência com que as utilizam, etc., mas não acontece da noite para o dia. A concretização da doença ocorre depois de um período de uso frequente e prolongado.

            Mesmo com a doença instalada, ele pode viver em sobriedade, mantendo-a adormecida pelo restante de sua vida. Isso exigirá que se mantenha afastado da substância causadora do seu problema, pois mesmo após muitos anos no controle, basta uma nova experimentação para despertá-la e trazê-la à tona e, diferentemente do que acontece no desenvolvimento da doença, o período entre uma nova experimentação e a perda do controle sobre a droga de uso é imediata.

            Reconhecer a dependência como uma doença incurável, porém controlável, é fundamental para que o dependente em recuperação conscientize-se que sua batalha contra o vício será pelo restante de sua existência. Como isso pode parecer tempo demais, é comum adotarem o famoso discurso do “só por hoje” e isso funciona.

            Também é importante para os familiares do dependente aceitar essa realidade sem desespero ou dramas. As pessoas que convivem com o doente, reconhecendo a incurabilidade da doença, podem adotar atitudes de apoio verdadeiro, não o expondo desnecessariamente à situações de risco e não o testando para ver se realmente ele está bem.

            Facilita muito, para a família do adicto em recuperação, também utilizar o discurso do “só por hoje”, ou seja, se hoje ele está bem, mantendo-se na sobriedade, não vamos ficar sofrendo por antecipação, imaginando o que pode dar errado amanhã, ou daqui uma semana, ou daqui um mês. Viva bem hoje.
                                               
                                               
                Texto de Celso Garrefa
                  (Sertãozinho SP)

sábado, 22 de novembro de 2014

MELHOR TRATAMENTO PARA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

                                   
Qual o tratamento mais adequado para a dependência química?
Pergunta enviada por J.P.A. (Ribeirão Preto SP)

     
      O tratamento para a dependência química possui um caráter subjetivo, portanto, é complexo apontar um determinado tipo de abordagem como sendo a mais adequada. O que funciona para uns, pode não funcionar para outros, além disso não podemos esquecer que dependência química não possui cura, apenas controle.

Há quem consegue bons resultados através do acompanhamento médico e/ou de outros profissionais como psicólogos, terapeutas. Há aqueles que através dos grupos de auto e mútua ajuda conseguem manter-se na sobriedade. Há também os adictos que se entregam a fé e se agarram a uma religião, conseguindo sucesso no seu objetivo. Existem os que necessitam de um afastamento temporário do convívio em sociedade e conseguem livrar-se do vício depois de um tratamento em Comunidade Terapêutica. Têm aqueles que se adaptam melhor as clínicas especializadas.  Alguns chegam ao extremo, perdendo o próprio domínio, necessitando de intervenção através da internação compulsória ou involuntária.

                Um tipo de tratamento não deve excluir outros, dessa forma, o dependente pode contar com o auxílio médico e profissional, ao mesmo tempo, juntar-se a um grupo de auto e mútua ajuda, como os Narcóticos Anônimos, os Alcoólicos Anônimos, o Grupo de Sobriedade do Programa Amor-Exigente e ainda trabalhar sua espiritualidade através da religião de sua referência.

                É equivocado acreditar que o dependente só consegue se recuperar, por exemplo, se ele passar por uma internação. O importante é que ele busque, junto com seus familiares, o método que ele melhor se adapta e, se por acaso, a abordagem não estiver atingindo o resultado esperado, que possam buscar outras formas de tratamento.

                Qualquer que seja o tratamento, é importante se certificar sobre as competências daqueles que desenvolvem os trabalhos. Não basta encaminhá-lo a um psicólogo ou psiquiatra; é precisa saber se esses profissionais possuem especialização em dependência química. Não basta interná-lo em uma Comunidade Terapêutica ou Clínica para Tratamento, é importante pesquisar sobre a qualidade dos trabalhos, a seriedade dos profissionais, coordenadores ou monitores envolvidos no tratamento e conhecer o local para saber se ele possui adequadas condições de alojamento.

                Para o sucesso do tratamento é muito importante que a família do dependente conscientize que eles fazem parte do processo de recuperação do adicto, portanto, também precisam de acompanhamento, seja ele profissional e/ou através de grupos para familiares como o Amor-Exigente ou o Al-Anon, pois não basta apenas o desejo de ajudar um dependente, é preciso saber ajudar, aprender a lidar com a co-dependência, livrar-se da manipulação, das promessas vazias, do sofrimento profundo e entrar em ação e posicionar-se, tornando, assim, um ponto de apoio real e concreto. 

                Por fim, o que de fato não funciona de forma alguma é cruzar os braços, esconder-se ou isolar-se e esperar para ver o que acontece. Dependência química têm soluções, vamos à luta.

                                                               Celso Garrefa
                                                               Amor-Exigente de Sertãozinho SP

terça-feira, 11 de novembro de 2014

AUTOESTIMA: FATOR DE PROTEÇÃO

A baixa autoestima é citada por muitos dependentes químicos como um dos fatores que contribuiu para a sua adicção. Isso nos alerta sobre nossas atitudes e comportamentos enquanto pais ou educadores.

A formação da autoestima de uma criança começa a se desenvolver já nos primeiros anos de sua existência e é influenciada diretamente pelas atitudes e ações das pessoas que fazem parte do seu convívio, a  começar pelo seu grupo familiar, que é a sua primeira referência de vida. Toda vez que apresentamos estímulos positivos favorecemos a construção de um bom valor de si mesmos, enquanto os estímulos negativos colaboram para reduzir o juízo que fazem de si próprios.

Ao lidarmos com os pequeninos precisamos evitar comportamentos que minimizam suas capacidades. Cada criança é única e exclusiva, portanto, nunca devemos compará-la a outras, como um irmão, primo ou coleguinha. Também devemos evitar apelidos depreciativos, incluindo aqueles relacionados a algum aspecto físico, como uma orelha grande ou um peso acima do normal.  As crianças costumam supervalorizar os pequenos detalhes de seu corpo.

Os pequeninos também são gente e se ofendem, portanto, devemos evitar chamá-los de feios, de chatos ou preguiçosos. Ao ser repetidamente chamada de burra, uma criança poderá interiorizar isso como uma verdade e como consequência apresentar reais dificuldades no aprendizado.

Muitos pais descarregam sobre os filhos os seus erros ou frustrações, reclamando de coisas que não são culpa da criança, como se ela fosse culpada por ser menina, enquanto idealizaram um menino ou vice-versa. Outros despejam sobre os filhos as mágoas de um relacionamento frustrado e ainda há aqueles que culpam a criança por ela haver nascido de forma não planejada.

As cobranças exageradas e além da capacidade da criança é outro fator que desfavorece a construção da autoestima, por isso, é importante valorizar as suas capacidades, respeitando suas limitações. 

Talvez não haja nada pior para a desconstrução da autoestima de uma criança quando ela vivencia situações de violências, sejam sexuais, físicas ou verbais. Os pequenos precisam de proteção, pois as consequências futuras dos maus tratos é perverso.
Por outro lado, podemos adotar comportamentos que favorecem a construção de uma autoestima positiva em nossas crianças, como por exemplo, usando o poder do elogio de forma equilibrada, valorizando suas boas condutas e seus avanços. É nossa obrigação corrigi-las quando erram, mas não podemos esquecer de elogiá-las quando acertam.

Mesmo quando erram, devemos corrigir os seus comportamentos inadequados, sem ataques pessoas. O foco é o comportamento que não aprovamos e não a criança como pessoa que amamos. O Programa Amor-Exigente utiliza uma colocação muito interessante em relação a isso: “Nós amamos você, mas não aceitamos aquilo que você faz de errado.” 

Outra forma de valorizá-las é permitir que elas façam aquilo que possuem condições de fazer, como por exemplo, que carreguem seu material escolar, que guardem os seus brinquedos no final da brincadeira.  Devemos incentivá-los a se alimentarem sozinhos; a tomarem banho, sozinhos; a dormirem em seus quartos, etc.

Normalmente, o que uma criança assimila em seus primeiros anos de vida, ela carrega por toda a sua existência, portanto, se conseguirmos, desde cedo, auxiliá-la a desenvolver um sólido valor de si mesma, onde ela consiga se amar sem egoísmo, favorecemos a construção de uma solida autoestima, que é, sem dúvidas, um importante fator de prevenção.

                Texto de Celso Garrefa

               Amor-Exigente de Sertãozinho SP

domingo, 21 de setembro de 2014

CADA VEZ MELHOR


Há alguns anos nossas reuniões de grupo eram realizadas em uma escola centenária localizada no centro da nossa cidade. Ao adentrarmos o portão principal daquela unidade escolar, virando para a direita, visualizávamos um frondoso pé de ipê roxo. Era uma quinta-feira, dia em que realizávamos nossos encontros e, especialmente naquele dia, a árvore estava completamente florida. Cheguei um pouco mais cedo, sentei em um banco no pátio e comecei a observar os comportamentos e os comentários espontâneos de cada um, na medida em que chegavam para a reunião. 

Haviam pessoas que ao observarem a árvore florida, com o chão arroxeado pelas flores do ipê espalhadas em seu entorno, encantavam-se com a beleza produzida pela árvore - Nossa, que coisa mais linda! Outras, porém, diante da mesma cena, conseguiam enxergar apenas a sujeira que a árvore fazia ao despejar suas belas flores pelo chão. 


Colocando-nos diante da cena acima descrita, como reagiríamos? Enxergaríamos a beleza das flores espalhadas pelo chão ou reclamaríamos da sujeira que a árvore produz?  


As famílias, ao procurarem por um grupo de apoio, como os realizados pelo Programa Amor-Exigente, em geral, chegam trazendo um sofrimento profundo, carregadas de dúvidas e incertezas. Fortemente afetadas pelo sentimento de culpa, chegam desesperançadas e adoecidas. É comum, diante do grande desafio que estão enfrentando, não conseguirem enxergar nada além do próprio problema. Não conseguem visualizar uma solução capaz de reestabeleceu a alegria de viver. Por maior que seja o colorido das flores, só conseguem enxergar cores acinzentadas e escuras. 


O primeiro desafio do programa é devolver aos familiares a esperança de que tudo pode mudar e o primeiro passo é ajudá-los a pensar positivo. Quando a família recupera a esperança perdida e enxerga a possibilidade da mudança, ela sai do impacto paralisante gerado pelo problema e começa a agir. Começa a ver seu problema, não apenas como dor e sofrimento, mas também como possibilidades de crescimentos, aprendizados e de engrandecimento da própria vida.  


Pensar positivo e acreditar significa fortalecer e alimentar a nossa fé. Em Mateus 7:7-8 podemos ler: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á”. Portando, quando respondemos que vamos cada vez melhor, sempre que nos perguntam "como vai você", não devemos fazê-lo apenas da boca pra fora, mas sim com entusiasmo e com a fé de que quando acreditamos, o Ser Superior manifesta e passamos a colher os resultados que buscamos. Deixamos de murmurar pela sujeira produzida pela árvore para nos encantar e nos alegrar com a beleza de suas flores.   


Texto de Celso Garrefa

Sertãozinho SP

sábado, 6 de setembro de 2014

NOSSOS FILHOS VIVEM AGRUPADOS, E NÓS?

(Imagem da internet)
Nossas crianças e jovens possuem uma extraordinária capacidade de se agruparem. Desde muito cedo formam seus pares, seja na escola onde estudam, em sua vizinhança ou na igreja que frequentam. Sabem como ninguém fazer uso dos seus grupos, dialogando, trocando informações e se abastecendo.
      
          Não bastasse esse contato direto com seus iguais, eles também usam intensamente os seus grupos virtuais, através das redes sociais. Os jovens vivem o tempo todo agrupados e tiram o máximo proveito disso, onde influenciam e são influenciados. Lembro-me certa vez em que minha filha conversava online com uma amiga. Em certo momento a colega a convidou para sair. Minha filha respondeu que não sabia se eu deixaria. Rapidamente a colega lhe forneceu a dica, em uma só palavra: “Implora”.

          Na contramão dessa característica encontramos pais isolados, sozinhos e fechados em seu mundo. Com essa competição desigual, os filhos estão levando enorme vantagem. Com uma equipe por detrás estão preparados e abastecidos de argumentos.
          Estou cada vez mais convencido da necessidade de nós, pais, também formarmos os nossos grupos para nos orientarmos e trocarmos experiências. Educar bem os filhos da atual geração exige capacitação, pois vivemos uma época de desafios intensos e perigos iminentes, somados a um mundo em constante transformação e a velocidade espantosa. Por tudo isso, não dá mais para ficarmos parados e isolados, presos dentro de casa, repetindo métodos ultrapassados de educação, esperando para ver o que acontece.

          Ao partilharmos experiências no grupo de prevenção ganhamos em poderes, ampliamos nossa visão de mundo, agimos de forma orientada e assim, cometemos menos erros. Enriquecemos nossos conhecimentos, melhoramos nossa capacidade de observação e aprendemos a agir com assertividade. Deixamos de ser um alvo de fácil manipulação, saímos do analfabetismo educacional e vislumbramos diferentes possibilidades educativas funcionais e adequadas para os dias atuais.

          Como resultado, aumentamos de forma extraordinária nossas chances de chegarmos antes que coisas desagradáveis nos peguem de surpresa. Pensar e agir na prevenção significa agir por amor, significa andarmos à frente para depois não precisarmos correr atrás movidos pela desespero, dor e sofrimento. 

Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

sábado, 16 de agosto de 2014

O PODER DO ELOGIO

        Um dos principais fatores capaz de levar um jovem a não experimentação e não envolvimento com as drogas, é o receio de decepcionar os seus pais e o poder do elogio exerce um papel fundamental para conquistarmos esse respeito.

          Exercer o papel de pais responsáveis e preocupados com a educação dos filhos exige estabelecer limites e regras, exige cobranças e até mesmo postura firme quando isso se fizer necessário e não há mal algum nessas atitudes, pelo contrário, quando norteamos a conduta de nossos filhos, estamos demonstrando nossa preocupação e nosso amor verdadeiro por eles.

          Assim como devemos ser atuantes e agir prontamente mediante todo e qualquer comportamento que desaprovamos, também precisamos agir nos momentos em que eles apresentam conduta correta, valorizando e elogiando os seus atos e boas atitudes.

           Com tantos recursos tecnológicos dentro de casa, a família perdeu muito em termos de contatos e de convivências. Parece-nos que falta tempo para um diálogo agradável entre os seus membros e cada um está vivendo o seu mundo no seu canto, com os seus recursos. Apesar de tão próximos, ao mesmo tempo parecem muito distantes.

          Filhos absorvidos por computadores, celulares, tablets e fone nos ouvidos não possuem mais tempo para ouvir os pais. Por sua vez, os pais também estão muito atarefados e ocupados. A falta de tempo para os filhos somados ao estresse dos nossos dias faz com que muitos só se dirigem a eles aos berros, para dar brocas e criticar.

          Reclamam que os filhos nada fazem, mas ao contrário do que muitos acreditam, os filhos sentem prazer em auxiliar os seus pais, no entanto, esse prazer vai sendo desconstruído na medida em que ao fazerem juntos alguma tarefa, os filhos só recebem criticas: “você não faz nada direito”; “Quantas vezes vou ter que repetir isso”; “Você não presta pra nada”.

          Quando a crítica é constante e o elogio inexistente, ocorre o favorecimento da baixa auto-estima, que é um dos fatores de vulnerabilidade em relação à busca pelas drogas e outras armadilhas, pois com um baixo valor de si mesmo, o jovem não se gosta e assim não se cuida, não se preserva e não se protege. Se os pais desconhecem e não usam o poder do elogio para conquistar seus filhos, os traficantes conhecem muito bem e fazem uso dele intensivamente: - "Você é o cara".
          
          Podemos nos apoderar do elogio até mesmo nos momentos em que desaprovamos algum comportamento ou atitude de nossos filhos e para isso precisamos separar o filho, como pessoa, do comportamento que não aceitamos. Amamos nossos filhos, mas não amamos certas atitudes e quando tivermos que corrigi-los devemos nos focar no comportamento que desaprovamos e não nele como ser humano.

          Para tanto, podemos utilizar a técnica do PNP (positivo, negativo, positivo) para corrigi-los, por exemplo, começamos com uma fala positiva: - “Filho amamos muito você e gostaríamos que soubesse o quanto você é especial para nós”. Em seguida focamos no comportamento que desaprovamos, ou seja, a fala negativa: - “no entanto, ontem recebemos uma reclamação de sua escola que não nos agradou e nos deixou preocupados. Gostaríamos que isso não se repetisse”. Finalmente, terminamos nosso contato com uma fala positiva: - “Como sabemos o quanto você é inteligente e que podemos contar com você, sabemos que se esforçará para corrigir o problema”.

          Para a criança moderna, esse tipo de abordagem possui grande funcionalidade. O elogio possui o poder da valorização de suas capacidades, trazem os filhos para perto de nós e ganhamos em respeito, mesmo nos momentos em que precisamos contrariá-los.

          Quando a correção é feito com amor e o elogio não é meloso, mas sincero, estamos favorecendo a construção de um relacionamento de reciprocidade, melhorando o contato entre pais e filhos e mesmo quando não estivermos junto deles fisicamente, nossa marca estará presente e falará por nós.


                                                  Texto de Celso Garrefa

                                                  Amor-Exigente de Sertãozinho

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...