Conviver com pessoas dependentes do álcool ou de outras drogas é um desafio para muitos familiares. Sem uma base orientadora, muitos desviam do foco do problema, dificultando a busca da solução para o desafio enfrentado.
Existem várias formas de desviar do foco. Uma delas é
atacar o dependente, sem critério algum. O sujeito dependente do álcool costuma
ser massacrado pelos familiares, muitas vezes taxando-o como
vagabundo, sem vergonha ou traste, no entanto, são muitos que possuem problemas
com o uso do álcool, mas não são vagabundos. Buscar o foco significa desaprovar
o comportamento inadequado e não a pessoa em si - “Eu amo você, mas isso não me obriga a amar as suas atitudes que desaprovo"
Outra forma de desviar do foco é diminuir o tamanho do problema,
buscando justificativas constantes para minimizar a dependência do outro. –
“Ele usa drogas, mas é tão carinhoso”. Mesmo na dependência,
muitos ainda preservam pontos positivos que devem ser valorizados, mas é
preciso cuidado para, em função do ponto positivo, não nos tornarmos passivos
diante dos pontos negativos. O foco é valorizar os pontos positivos, sem fazer
deles desculpas para aceitar os comportamentos negativos que precisam ser
trabalhados e corrigidos.
A maximização do problema enfrentado também nos tira do
foco. Essa atitude causa nos familiares sofrimentos gigantescos, tendo em vista que
enxergam o problema com uma dose exagerada da realidade. Acreditam, por
exemplo, que devido ao uso das drogas, alguém vai matá-lo, ou que vai morrer a
qualquer momento. Essa visão exagerada e negativista só traz pânico aos
familiares e em estado de desespero, paralisam.
A negação também desvia do foco. Negar a
existência da dependência é característico do próprio dependente e os
familiares precisam cuidar para não entrarem nesse jogo. Negar o óbvio pode
servir como uma forma inconsciente de se proteger do sofrimento advindo do
convívio com o adicto, mas em nada contribui para o enfrentamento do desafio.
Quando negamos um problema, estamos nos enganando e assim, acomodamos. Por mais
doloroso que seja, precisamos aceitar a realidade e assim, visualizar com
clareza e coragem a atual e real situação.
Outra forma importante de desviar-se do foco acontece com
os familiares em relação a sua própria vida. Afetados pela codependência,
muitos pais e mães, equivocadamente, abandonam a própria existência e assim
param de se olhar, de se cuidar. Abandonam a vida social, preferindo se
esconder. Propositadamente ou de forma inconsciente muitos exteriorizam um sofrimento
profundo numa doce ilusão de que o dependente perceba que está causando sofrimentos
alheios e assim possa escolher mudar sua condição. Ficar sem se alimentar, sem dormir direito,
abandonar o emprego ou se culpar não é o foco, não possui nenhuma relação direta
com a dependência do outro e em nada ajuda no enfrentamento do problema.
Costumo citar, com frequência, que sofrimento de pais não salva filhos.
Direcionar nossas atenções ao foco do problema significa
agir com assertividade, assim, sofremos menos, ganhamos tempo e equilíbrio.
Conviver e lidar com pessoas dependentes exige objetividade e quando
concentramos nossos esforços no âmago do problema, chegamos mais perto de
solucioná-lo.
Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho