Quando começamos os trabalhos
do Programa Amor-Exigente em nossa cidade, há mais de vinte anos, a
grande procura pelo grupo era de pais e mães de dependentes químicos em busca
de ajuda. Atualmente, essa busca se diversificou e atendemos também um número
significativo de esposas ou companheiras dos adictos.
Muitas destas mulheres se uniram ao parceiro, mesmo sabendo do envolvimento dele com o uso ou abuso de substâncias entorpecentes, mas há também um grande número delas que só descobriram após a união e existe uma parcela de mulheres que só se deram conta do problema depois de um período mais prolongado de convivência, geralmente entre um a três anos após a união.
Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP
Muitas destas mulheres se uniram ao parceiro, mesmo sabendo do envolvimento dele com o uso ou abuso de substâncias entorpecentes, mas há também um grande número delas que só descobriram após a união e existe uma parcela de mulheres que só se deram conta do problema depois de um período mais prolongado de convivência, geralmente entre um a três anos após a união.
Em se tratando da recuperação do dependente não costuma
haver meio termo, ou seja, elas podem ajudá-los de forma extraordinária ou
podem favorecer o agravamento da dependência do parceiro. O que fará a
diferença é a busca de orientação e apoio para lidar com o desafio.
Sem orientação, muitas delas desenvolvem a codependência e assim, além de sofrerem todas as consequências negativas advindas da convivência com um adicto, podem contribuir, de forma inconsciente e involuntária para o agravamento do problema. Ameaças vazias, brigas frequentes, agressões verbais ou mesmo físicas, acusações sem limites ou a ausência de um posicionamento claro e firme em relação à dependência do parceiro são atitudes que em nada contribuem para um verdadeiro apoio à recuperação do adicto.
Sem orientação, muitas delas desenvolvem a codependência e assim, além de sofrerem todas as consequências negativas advindas da convivência com um adicto, podem contribuir, de forma inconsciente e involuntária para o agravamento do problema. Ameaças vazias, brigas frequentes, agressões verbais ou mesmo físicas, acusações sem limites ou a ausência de um posicionamento claro e firme em relação à dependência do parceiro são atitudes que em nada contribuem para um verdadeiro apoio à recuperação do adicto.
Outro equívoco destas mulheres é a perda da identidade de
esposa para adotarem o papel de mãe do parceiro. Esposa é esposa e deve agir
como sua esposa, trocando as broncas pela adoção do diálogo claro, corajoso e sincero. Em geral, os dependentes químicos possuem grande dificuldade
de amadurecimento. Não são adeptos a assumir responsabilidades e encontram bastantes
dificuldades para se tornarem adultos de fato. Normalmente eles buscam na
esposa o mesmo trato que recebia da mãe. É preciso que eles percebam as
diferenças.
Desculpem-me as mães, mas em geral, as esposas costumam
exercer um poder maior que elas sobre o dependente e se souberem fazer uso
deste poder, podem contribuir muito para a recuperação do marido. Para tanto,
em primeiro lugar, elas precisam buscar o equilíbrio, mesmo diante do caos.
Devem adotar uma postura firme, não permitindo ser desrespeitada e muitos menos
aceitar quaisquer tipos de violência, tomando atitudes caso ocorra. Também é
importante que se relacionem como pessoas casadas. Não funciona casar-se e
desejar a continuidade da vida de solteiro. Também é importante direcionar
responsabilidades para o dependente, exigindo dele a participação nos
pagamentos das contas da casa, o envolvimento na educação dos filhos, etc.
Finalmente, estas esposas não devem de forma ingênua acreditar que amá-los basta e será suficiente para recuperá-los. É preciso
mais. É preciso atitude e ação. É importante frequentar um grupo de apoio e
orientação. É preciso amor-exigente, e mais importante: é preciso amor próprio
para não perder a dignidade. “Eu amo
você, mas não aceito as coisas que você faz de errado”.
Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP