domingo, 6 de outubro de 2013

COOPERAÇÃO E INTERDEPENDÊNCIA

       
          O Programa Amor-Exigente utiliza uma interessante definição de família, quando cita que “Família é um grupo de pessoas que cooperam entre si.” Nessa concepção, a casa pertence a todos e todos devem ser membros cooperadores do bem estar familiar, entretanto, na contramão dessa ideia, cada vez mais os filhos são poupados de assumir quaisquer responsabilidades na casa. Como principezinhos ou reizinhos são servidos o tempo todo sem em nada retribuir. 

       Poupados de assumir quaisquer atividades no lar, deitam-se no sofá, onde determinam ordens que são atendidas prontamente: mãe, traz uma água; mãe, faz um suco; mãe, prepara um lanche; mãe, pega o biscoito; mãe, guarda os meus materiais. No final do dia ela está arrebentada, enquanto eles continuam ditando ordens.

Equivocam-se aqueles que acreditam que servindo sempre os filhos, contribuímos para a  favorecimento da empatia ou que eles reconhecerão nossos esforços. Pelo contrário, sem cooperação, a relação familiar passa a ser caracterizada pela frieza nos relacionamentos. 

            Outro fator que contribui significativamente para o afastamento e isolamento familiar são os recursos tecnológicos. Cada um com seu aparelho, em seu mundo, no seu canto  e assim, o contato e o diálogo estão cada vez mais prejudicados. Os filhos vivem com fones nos ouvidos e os pais ocupados com suas redes sociais só se dirigem a eles para reclamar e dar broncas. 

            O 10º princípio do Programa Amor-Exigente cita que “A essência da família repousa na cooperação e não só na convivência”. Precisamos fazer da nossa casa um lar, onde todos devem se responsabilizar pelo bem estar de todos, cooperando entre si, caso contrário, nossa casa deixa de ser um lar para se transformar num amontoado de pessoas que vivem no mesmo espaço e nada mais.

          Também precisarmos nos atentar que o verdadeiro sentido da cooperação vai além de fazer algo para o outro ou esperar que o outro nos faça algo. A essência da cooperação está em realizarmos atividades juntos, visando o bem de todos. Enquanto a mãe lava as louças, a filha as enxugam, enquanto o pai lava o carro, o filho auxilia no enxágue, entretanto, para que haja aprendizados e fortalecimento dos vínculos afetivos, precisamos aproveitar esses momentos. 

         Caso os filhos percebam que durante a realização das tarefas os pais só reclamam, resmungam, estão mal humorados, despejando broncas, tendem a se afastar. Para conquistá-los é preciso aproveitar esses momentos e fazer as atividades de forma prazerosa, aproveitando para desenvolver um diálogo agradável, trocar contatos, mostrar interesse por eles, conquistá-los. 

Não é enchendo os filhos de presentes, viagens, festas, mesadas fartas e nem os poupando de assumir responsabilidades no grupo familiar que conquistaremos o respeito, a preocupação e o interesse deles. Vínculos afetivos se constroem através de um relacionamento sadio e a cooperação possui um papel fundamental nessa tarefa, possibilitando uma relação de interdependência entre os seus membros, onde o bem estar de todos está diretamente ligado aos esforços de cada um.

                       

Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente de 
Sertãozinho SP

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

AMOR E ÓDIO


Amor e ódio são sentimentos tão opostos, que parecem distantes, no entanto a convivência com um dependente químico é algo tão complexo onde esses sentimentos se misturam e se confundem.

O amor dos pais em relação aos filhos é um sentimento tão intenso, despertado antes mesmo do seu nascimento. Por amor, verdadeiros pais são capazes de dar a vida por um filho, mas apesar de toda essa dedicação, por razões diversas, muitos deles se desviam no caminhar da existência e acabam se envolvendo com o uso de substâncias entorpecentes.

As drogas afetam a família com tamanha intensidade suficiente para os pais não reconhecerem mais o filho. Toda a delicadeza e inocência da infância desaparecem cedendo lugar as mentiras, as grosserias, as ameaças. Eles não os ouvem mais e rejeitam a presença familiar. Surge o caos, as confusões, as loucuras.

Mesmo enfrentando todos os problemas possíveis, o amor dos pais ainda prevalece com muita intensidade, entretanto também surgem outros sentimentos como a decepção, a raiva e o ódio. Essa mistura mexe profundamente com os familiares que, ora se culpam por esses sentimentos negativos, ora se frustram por perceber que todo o amor dedicado ao filho não foi suficiente para preservá-lo das drogas. Como lidar com isso?

É importante compreendermos que um pouco de raiva e ódio são sentimentos naturais mediante as decepções vividas e não devemos nos culpar por isso, entretanto é necessário cuidarmos para não permitir que esses sentimentos se tornem dominantes a ponto de superar o amor. Para tanto, precisamos possuir o domínio das nossas atitudes e comportamentos, não permitindo que a raiva nos impulsione a cometermos loucuras. Somos humanos e é natural sentirmos raiva e ódio, o problema é o fazemos movidos por estes sentimentos.
 
Atitudes descontroladas em nada ajudam na busca da solução do problema, pelo contrário, comportamentos desequilibrados movidos pelo ódio, geram mais ódio e onde esse sentimento domina a tragédia torna-se um perigo iminente. 

No enfrentamento do desafio é importante que o amor prevaleça, mas não deve ser um amor gratuito. Amar um filho não significa aceitar ser mal tratado, ofendido ou magoado por eles, muito menos concordar com tudo aquilo que eles fazem de equivocado. Não podemos utilizar o amor como justificativa para aceitar todo e qualquer desequilíbrio dos filhos. 
      
    O ódio e a raiva corroem, enquanto o verdadeiro amor constrói e restaura. O verdadeiro amor é sábio e equilibrado e nos impulsiona a fazer aquilo que precisa ser feito. Ele corrige, educa e prepara. O verdadeiro amor também é aquele que não mata o amor próprio. 

Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho SP

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Grupo de Apoio

A primeira atitude da família, ao tomar conhecimento da dependência de um de seus membros, é tentar esconder o fato, acreditando que sozinhos seremos capazes de resolver a situação e que vão conseguir ajudá-lo a se livrar do enrosco em que ele se meteu, porém, não basta querer ajudar, é preciso saber ajudar e na busca por esse saber os grupos de apoio são extremamente importantes.
        
Sentimentos como culpa, medo e vergonha nos fazem retrair e buscar o isolamento, no entanto, essa é a pior decisão, pois o que mais precisamos, nesse momento, é de ajuda, de apoio e de orientação. Sozinhos perdemos forças, sentimo-nos perdidos e fragilizados, tornamo-nos alvo de fácil manipulação, passíveis de chantagens e não raro, adoecemos.

Sozinhos enfrentamos o medo, os problemas, os desgastes, além do preconceito de muitos. Assistimos ao afastamento de pessoas amigas ou familiares e não sabemos mais a quem recorrer. Ouvimos muitos conselhos, mas a maioria deles vinda de pessoas bem intencionadas, no entanto, despreparadas em relação ao problema e o que conseguem é apenas aumentar o nosso sentimento de culpa.

Os grupos de apoio do programa Amor-Exigente não possuem uma receita pronta, não apresentam soluções mágicas e nem prometem milagres, mas ao chegarmos nos grupos percebemos, desde o primeiro instante, que não estamos mais sozinhos. Na partilha falamos e somos ouvidos com atenção e respeito, sem acusações e sem críticas.

As trocas de experiências no grupo, norteadas pelos seus princípios básicos e éticos, potencializam a nossa capacidade de enfrentamento do problema e assim começamos a recuperar a esperança perdida. Aprendemos a agir com equilíbrio ao invés de só falar e traçamos metas para alcançarmos objetivos.

 Isolamento não resolve problemas. Os grupos de apoio não fazem mágicas, mas nos capacitam para lidarmos com um problema de alta complexidade de forma assertiva e orientada, amplia nossa visão de mundo, potencializa nossa capacidade de enfrentamento dos desafios e devolve a esperança de retomar os rumos da nossa vida e da nossa família. Por tudo isso, procurem por um grupo de apoio e usufruam do seu poder transformador. 

              
             


Texto de Celso Garrefa          
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP





quarta-feira, 31 de julho de 2013

CRISE: VAMOS ENCARAR OU FUGIR?


Quando ouvimos falar em crise pensamos em algo que perturba, que causa dores e sofrimentos, e por essa razão costumamos lutar para fugir dela, pois ninguém gosta de algo que incomoda, entretanto, o Programa Amor-Exigente visualiza na crise, não só a dor e o sofrimento, mas também a possibilidade da mudança e do crescimento.

Diante de situações de crises precisamos fazer as nossas escolhas. Uma delas é apenas lamentar a situação. Optar por esta escolha é optar pela aceitação do problema, pela acomodação ao sofrimento e à dor. Outra opção é tentar fugir do problema, entretanto, essa atitude não resolve a situação e como resultado, podemos nos surpreender com o agravamento do problema. Por fim, podemos fazer a escolha por enfrentá-la, levantar a cabeça, abandonar o isolamento e buscar soluções.

Enfrentar as crises nos tira da nossa zona de conforto e vamos precisar de coragem para abandonar nossa zona de acomodação, porém, com essa atitude ganhamos em aprendizados, conhecimentos e sabedorias, que são ingredientes indispensáveis à solução de um grande problema. 

Lutar sozinhos contra uma grande crise é tarefa difícil e não precisamos estar só. Podemos buscar auxílio, apoio e orientação e nessa busca vamos encontrar pessoas que vivenciaram crises semelhantes às nossas e conseguiram superá-las, servindo-nos de estímulo e exemplo, mostrando-nos que não estamos sozinhos. A dor, quando dividida, significa dor diminuída.

       Durante os momentos de crises experimentamos os mais variados sentimentos possíveis, como o medo, a vergonha, a culpa, o desânimo, o desespero, a desesperança, mas não podemos permitir que esses sentimos enfraqueçam nossa fé e nossa coragem de enfrentar o desafio. Nos momentos de crises devemos nos aproximar ainda mais de Deus, com a certeza absoluta de que são nos momentos mais difíceis de nossas vidas que sentimos com maior intensidade a manifestação divina.

           Crises fazem parte da vida e isso não é nenhum problema. O grande problema é enfrentarmos uma grande crise sem que dela nada tiramos proveito, nada aprendemos, nada melhoramos e ainda nos afastamos da presença de Deus. Isso significa sofrimento gratuito e sem sentido. E como citou, certa vez, Charles Haddon Spurgeon: “Muitas pessoas devem a grandeza de suas vidas aos problemas e obstáculos que tiveram de vencer”. Portanto, vamos apagar o "S" da palavra "CRISE", usar nossa criatividade e transformá-la em "CRIE". 
                                   
                    
              

Texto de Celso Garrefa

 Elaborado com base no 8º princípio do Programa Amor-Exigente: “De uma crise bem administrada, surge a possibilidade de uma mudança positiva”.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

FILHOS ÓRFÃOS DE PAIS VIVOS

Imagem extraída da internet
          
          Muitos pais da nossa geração são tão ausentes na educação dos filhos, que estamos assistindo o surgimento de um novo tipo de orfandade: são os filhos órfãos de pais vivos, isto é, mesmo as crianças possuindo pai e mãe, parecem que não os têm, pois estes não apresentam nenhuma atitude ou ação diante dos comportamentos desajustados dos pequenos ou terceirizam sua educação.


      Nossos filhos são nossa responsabilidade e devemos exercer o nosso papel de pais de forma ativa e sem acomodação. No livro “O Que é Amor-Exigente” a Senhora Mara Sílvia Carvalho de Menezes cita que “Pai é guia, orientador, legislador: deve nortear a conduta do filho, criando regras ou leis que precisam ser respeitadas e vão prepará-lo para enfrentar o mundo”.
          Essa responsabilidade não se constrói com falação ou ameaças vazias, mas com ações e atitudes. Os filhos rapidamente se acostumam com as ameaças que nunca se concretizam: - “Se você fizer bagunça não vai sair com a gente”; no entanto, ele apronta e mesmo assim sai. – “Nunca mais te compro mais nada”. Meia hora depois cedem e ele ganha mais um brinquedinho. A cada ameaça não cumprida cresce o descrédito na autoridade dos pais.
           Mais do que falação, precisamos também de ação. Não é possível aceitar que o filho grite conosco e nos calamos; não podemos concordar que eles batam as portas do quarto sem nos manifestarmos; não dá para assisti-los quebrar objetos na casa e achar graça; não podemos permitir que façam birras e aceitar isso como “coisa de criança”. É absurdo assistir o filho pegar dinheiro na carteira do pai, enquanto ele se mantém omisso. É preciso atitude. É preciso assumir o comando da casa.
          Mas é necessário cuidado. Não podemos confundir tomada de atitude com agressões físicas, verbais ou castigos humilhantes que colocam a criança em situação aterrorizante. Na educação moderna não existe mais espaço para esses comportamentos grotescos. Uma tomada de atitude é o exercício da autoridade com responsabilidade, com postura firme e equilibrada.
     Nossas ações devem possuir, como objetivo, fazer com que a criança perceba que os seus comportamentos inadequados não são aceitos e, caso insistirem neles, sofrerão, como consequência, um prejuízo, porém, não pode ser algo que traga qualquer tipo de dano ou problema para o filho, pelo contrário, deve ser uma ação consciente que o leve a um direcionamento de suas condutas.
          Lembro-me certa vez, enquanto minha filha, na ocasião com uns cinco anos de idade, tomava um refrigerante e andava de bicicleta em frente a nossa casa. Assim que esvaziou o pequeno frasco, ela o arremessou no meio da rua. Pedi, então, que o pegasse e levasse ao lixo, porém ela apanhou a garrafinha e ao invés de levá-la ao cesto, preferiu arremessá-la em um bueiro existente na nossa esquina. Chamei-a e conversamos sobre o que ela havia feito de errado e que devido sua conduta, naquele dia havia encerrado a brincadeira. Claro que ela queria mais e até chorou, porém mantive minha posição: - “Hoje não”.
          O objetivo dessa atitude foi mostrar a ela que ao fazer algo errado existe um prejuízo. Não fui rude, nem violento, sequer precisei gritar; apenas tomei uma atitude. Passado algum tempo me deparei com situação semelhante e sem que eu pedisse, assim que terminou de beber o suco, ela se dirigiu ao cesto e depositou lá o frasco vazio.
          O diálogo é muito importante na educação dos filhos e muitas vezes basta explicar para a criança, de forma firme, que não aceitamos determinados comportamentos e tudo se resolve, porém, existem situações em que se faz necessário a ação. Uma tarde sem bicicleta; uma hora sem tevê; um tempo sem vídeo game; um período sem internet; alguns minutos para pensar sobre a sua falha, entre outros, costuma funcionar muito bem.

          Os pequenos desvios de comportamento merecem atenção, pois se não corrigidos crescem e a melhor forma de prevenir que futuramente apresentem grandes desvios de conduta começa pela correção das pequenas falhas, porém, isso só é possível quando assumimos ativamente nossas responsabilidades de pais, não deixando nossos filhos a mercê da própria sorte.

                        
           



Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

domingo, 30 de junho de 2013

TOMADA DE ATITUDE


Imagem extraída da internet
O maior desejo dos familiares que convivem com um dependente do álcool ou de outras drogas é ajudá-lo a sair da enrascada em que ele se meteu. Para tanto, oferecem ajuda, aconselham, ameaçam e os resultados esperados não acontecem, pois nem sempre o dependente compartilha com o mesmo desejo da família.

É difícil convencer com palavras aquele que não está disposto a ouvir, portanto, mais do que falação precisamos entrar em ação, adotando um posicionamento claro e firme em relação ao abuso do álcool ou ao consumo das drogas e acabar com as ameaças vazias que não levam a lugar algum: - "Se você continuar usando drogas, eu sumo de casa", diz a mãe; – "Se você não parar de beber eu volto para a casa dos meus pais", reclama a esposa. Entretanto, o usuário já ouviu tantas vezes essas mesmas ameaças vazias que elas não fazem mais sentido para eles.

Diferente das ameaças vazias, as tomadas de atitude exigem postura firme, norteadas por ações concretas. Elas não devem ser estabelecidas no impulso do momento ou na hora da raiva, pelo contrário, precisam ser pensadas, estudadas e estruturadas.

A atitude a ser tomada depende de cada caso e também do que estamos em condições de realizar. O importante é começar a nos mover e agir, modificar estruturas, rejeitar padrões repetitivos, abandonar comportamentos previsíveis e padronizados e buscar um novo jeito de fazer.

Também é fundamental nos preparar para as reações do dependente através do uso das manipulações, das promessas e ameaças. É comum, diante das nossas ações, surgirem momentos de conflitos, que devem ser encarados sem fugas, pois eles fazem parte do processo de retomada do equilíbrio e precisam ser administrados para que aconteçam as mudanças que desejamos.

Um grande problema não se resolve por si só.  Atitudes são necessárias, não por ódio ou raiva, mas por amor de pessoas que amam tanto seus entes queridos que não podem assisti-los se auto destruírem sem que nada façam. O primeiro passo, buscar ajuda, pois tomar atitudes exige orientação, preparo e apoio.


Celso Garrefa
Prog. Amor-Exigente
de Sertãozinho SP

domingo, 23 de junho de 2013

CONFIANÇA PERDIDA: DIFÍCIL RESGATE


         
           
          A desconfiança é um sentimento que perturba e tira o sono de muitos familiares que convivem com pessoas envolvidas com a dependência química e a retomada da confiança perdida é algo muito difícil, que exige esforço e paciência. 

            A confiança é algo muito importante no fortalecimento de qualquer relação. Quando as pessoas apresentam atitudes e comportamentos corretos, são equilibradas e coerentes em relação aquilo que fazem e cumprem com o prometido, a confiança só tende a aumentar, solidificando as relações, entretanto, quando ocorrem desvios de comportamento e conduta, quando pisam na bola repetidamente, toda a confiança é perdida, as relações se abalam e rapidamente a desconfiança ocupa o seu espaço.

            O envolvimento com substâncias entorpecentes é um fator que faz tremer as relações, anulando a confiança por completo. O desenvolvimento da dependência traz a tona algumas características marcantes na pessoa, como a mentira, a chantagem, a manipulação e as promessas não cumpridas. Nunca estão onde dizem estar, raramente cumprem com os horários combinados, dizem que vão se cuidar, porém retornam para casa sobre efeito de álcool ou outras drogas. Prometem que vão melhorar, mas não mostram mudança alguma.

            Como a dependência é um processo longo, uma doença progressiva, a desconfiança só cresce, cresce e cresce. Quanto maior o tempo de envolvimento com as drogas, mais enraíza nos familiares o sentimento de desconfiança, descrença e desesperança.

             Chega um momento em que o jovem decide abandonar a dependência. Para isso alguns buscam grupos de auto e mútua ajuda, outros fazem tratamento em clínicas ou comunidades terapeutas. A família, por sua vez, participa de reuniões do programa Amor-Exigente. Durante esse processo, a desconfiança continua: será que vai dar certo; como será quando ele retornar; e se ele voltar a fazer uso; e se sofrer uma recaída. Esses questionamentos perturbam e incomodam os familiares, afinal foram tantas as promessas não cumpridas que as desconfianças e incertezas ainda prevalecem com muita força.

Ao final de uma internação, eles vivem outro momento. O recuperando está buscando viver em sobriedade, tentando construir uma nova vida. Nessa fase eles buscam resgatar a confiança perdida, contudo precisam aprender a conviver com ela, pois esse sentimento está fortemente enraizado na família. Por mais que os familiares desejam confiar, isso não é tarefa tão simples assim.

            A retomada da confiança é um processo muito lento que não se recupera com palavras ou promessas do recuperando, mas através de atitudes e comportamentos adequados e equilibrados.

            Isso será facilitado quando o dependente em recuperação, num exercício de humildade, procurar posicionar os familiares em relação ao que pretende fazer, onde deseja ir, a que horas pretende voltar e consequentemente, cumprir rigorosamente com aquilo que estabeleceu. Esta atitude, vagarosamente vai proporcionando segurança aos familiares e assim encurtando o processo de retomada da confiança.

            Em relação aos familiares, sabemos que não é fácil recuperar a confiança perdida depois de anos de problemas e promessas e seu resgate vai depender muito das atitudes apresentadas pelo outro, contudo, precisamos adotar algumas posturas para lidar com nossas desconfianças.

            Aprender a viver o dia de hoje é uma forma de proteção aos familiares que convivem com um dependente em recuperação. Se hoje tudo está bem, precisamos viver bem o dia de hoje, sem atolar o pensamento naquilo que pode dar errado amanhã. Precisamos lutar contra o sofrimento por antecipação, tentar não projetar o negativismo para o amanhã, evitando não sofrer por aquilo que ainda não aconteceu.

            Precisamos aprender a confiar, desconfiando. Estar sempre atentos, espertos, ligados, porém não fazer da desconfiança uma marcação cerrada, com cobranças exageradas, lembrando-o a todo instante sobre sua dependência, investigando seus pertences como um detetive. Devemos evitar falar com ele como se ele fosse fazer uso, todas as vezes que ele sair de casa e evitar recebê-lo como se ele tivesse usado no momento em que retornam para a casa. Caso apresentem sinais visíveis de uso, uma conversa franca no dia seguinte é muito mais produtiva que barulhos e discussões.

Se um pouquinho de desconfiança ajuda a ficarmos atentos, ligados e prontos para adotar alguma ação caso surja algum problema, demonstrar desconfiança exagerada em nada ajuda, pois o dependente em luta pela recuperação, ao não perceber nenhuma confiança e empenha da família poderá utilizar isso como a desculpa que precisa para retomar o uso.

            No resgate da confiança perdida precisamos dar tempo ao tempo, viver o dia de hoje. Se a perda da confiança é processo veloz como um guepardo, sua recuperação é lenta como uma tartaruga. É preciso muita paciência.

                                                   Celso Garrefa
                                                   Amor-Exigente de Sertãozinho SP
                                                    

sexta-feira, 31 de maio de 2013

FILHO, VOCÊ ESTÁ USANDO DROGAS?





          Muitos pais, por não possuírem conhecimento sobre a problemática das drogas, acreditam, erroneamente, que tão logo um filho entre em contato com estas substâncias, isto se tornará visível para eles, mas na realidade não é assim que acontece.

         Em geral, um pai ou uma mãe só consegue perceber que o filho está fazendo uso de substâncias entorpecentes depois de aproximadamente dois a três anos de uso, ou seja, quando ele já está mergulhado na dependência.

Quando surge alguma desconfiança, costumam questionar os filhos, entretanto o medo da resposta é tão grande que eles fazem a pergunta quase que respondendo para o jovem: "Você não está usando drogas não, né"? É óbvio que a resposta será “não”. Isso satisfaz plenamente os pais, pois é exatamente aquilo que eles desejam ouvir.

            Uma das características do dependente é a sua capacidade de mentir e manipular e num processo de uso, o seu objetivo é esconder a verdade, fazer com que os pais não saibam, pois sabem que ao tomarem conhecimento da realidade, obviamente começarão a pegar no pé, a colocar obstáculos e a não aceitar tal situação.

          Quando surgem os primeiros sinais de uso, os pais são afetados pela negação, que os deixam "cegos". Negam o óbvio e continuam acreditando nos filhos, desenvolvendo, inconscientemente, um mecanismo de defesa contra as dores e os sofrimentos que a descoberta podem causar-lhes.

Quando alertados por colegas, parentes ou vizinhos, eles preferem se chatear com os alertas, virar a cara com quem está tentando abrir-lhes os olhos e continuam acreditando no filho. Quando o garoto chega diferente em casa, preferem acreditar que só exagerou um pouquinho na bebida, como se isso fosse pouco. Mesmo quando encontram droga escondida no quarto do menino, aceitam com facilidade o argumento de que ela não é dele e sim de um amigo que pediu para que ele a guardasse.

Muitos desconhecem que o desenvolvimento da dependência acontece de forma progressiva. Inicia-se na experimentação, passando para uso esporádico, evoluindo para uso frequente e, consequentemente o desencadeamento da dependência. No primeiro momento, os filhos conseguem disfarçar com facilidade. Eles não retornam para casa aos pedaços, muito menos doidões. Isso só começa acontecer quando atingem níveis de uso severo.

Iniciado o uso, buscam o prazer proporcionado pelo consumo e precisam obter sempre mais para conseguir o mesmo efeito, de tal forma que o problema se agrava. Com o passar dos tempos, não conseguem mais esconder o problema e começam evidenciar os sinais do uso. Objetos desaparecem da casa, eles somem por horas ou até dias, dormem o dia todo, pois estão acabados pela noitada. Nunca são encontrados nos locais onde dizem que frequentam.  É nesse momento que vem à tona a triste realidade que a família não queria e nem desejava conhecer, porém torna-se tão visível que não dá mais para negar.

Esperar que os filhos apresentem sinais visíveis do uso de drogas para começar a agir pode levar tempo demais, portanto as ações precisam acontecer muito antes deles externizarem os sinais do consumo.

Ninguém está a salvo do problema e acreditar que em nossa casa não vai acontecer, em nada ajuda. Achar que estamos isentos do problema não é suficiente para evitá-lo, pelo contrário, somente faz com que não adotamos nenhuma medida de prevenção, deixando os filhos a mercê da própria sorte. Precisamos nos conscientizar que vivemos uma geração onde todas as crianças e jovens de nosso tempo, em algum momento de sua vida, terão acesso ao álcool e outras drogas, independente de condição financeira, nível intelectual, classe social ou crença e isso não é diferente em nossa casa, com nossos filhos.

As ações de prevenção precisam acontecer desde o mais cedo possível. Necessitamos desenvolver a capacidade de observar com atenção nossos filhos, procurando conhecê-los o máximo possível, pois é prestando atenção que notaremos as primeiras mudanças em suas condutas, o que possibilita corrigir todo e qualquer comportamento inadequado que eles apresentem. Corrigindo os pequenos desvios de comportamento, estamos prevenindo para que não cheguem aos grandes desvios que podem levá-los até às drogas.

Também é importante observar a situação com que o jovem retorna para casa. Não ser tolerante em relação ao consumo do álcool, que também é droga, causa dependência e pode servir de porta de entrada para outras. Observar seu rendimento escolar, conhecer os seus amigos, seus gostos, seus estilos. Procurar sempre o contato olho no olho, pois o dependente possui, como característica, não encarar as pessoas de frente. Eles desviam o olhar, não gostam de falar sobre o assunto e se isolam com frequência.

Aceitar a realidade pode ser muito duro e difícil para os pais, pois a descoberta desencadeia sofrimentos profundos, porém é o primeiro passo na busca da solução para o problema. Mais do que acreditar em palavras, precisamos observar comportamentos e atitudes e na dúvida devemos procurar por ajuda, auxílio e orientação e os grupos de Amor-Exigente espalhados pelo país estão de portas abertas para acolher quem procura.


                                                                Texto de Celso Garrefa
                                                Programa Amor-Exigente de Sertãozinho SP

domingo, 26 de maio de 2013

EQUILÍBRIO COMPORTAMENTAL


O Amor-Exigente é um programa comportamental que parte do seguinte princípio: “NADA MUDA SE VOCÊ NÃO MUDAR”. Essa colocação, num primeiro momento, gera certa desconfiança nos familiares que buscam ajuda, pois o motivo da procura quase sempre é o desejo de modificar o comportamento de um familiar que se tornou dependente do álcool ou de outras drogas.

Participando das reuniões, logo percebem uma realidade: Deus não nos deu o poder de modificarmos ninguém, porém, deu a cada um de nós o poder de mudarmos a nós mesmos e esse é o segredo: quando mudamos, aqueles que estão a nossa volta precisam se adaptar às nossas mudanças.

Isso não significa que estamos errados ou que somos culpados pelas falhas do outro, mas nos convida a avaliar as nossas atitudes, a abandonar comportamentos previsíveis e repetitivos. Muitos filhos enxergam seus pais da mesma forma que assistem a tevê da casa, com o controle remoto em mãos; sabem exatamente em qual tecla apertar para conseguirem o que desejam.

Assim como os comportamentos dos nossos filhos nos afetam, os nossos também são capazes de afetá-los, portanto, precisamos aprender a cuidar dos nossas atitudes e fazer delas exemplos a serem seguidos, assim ganhamos em autoridade para cobrá-los. É complicado desejar filhos equilibrados se vivemos em estado de loucura. É missão dificílima desejar que eles fiquem livres do abuso do álcool, se assistem ao consumo abusivo dos pais. É tarefa complicada colocar Deus na vida dos filhos, se não vivemos uma espiritualidade. É difícil fazer com que eles respeitem os pais, se os próprios não se respeitam.

A violência e agressividade, as agressões verbais, as comparações e acusações, as gritarias, os maus exemplos, a permissividade, o abuso no consumo de medicamentos, do álcool, das drogas, o mau humor, a ausência de Deus em nossa vida, etc., são exemplos de comportamentos que afetam de forma negativa, e devemos corrigi-los.

Por outro lado, a coerência em relação aquilo que falamos e fazemos, o uso da verdade, a correção com firmeza, mas também com amor, o elogio quando merecido, o diálogo, a presença na vida deles, a vivência de uma espiritualidade, entre outros tantos, são exemplos de atitudes e comportamentos capazes de influenciá-los positivamente.

Adotar comportamentos coerentes, tranquilos e equilibrados significa cuidar da nossa saúde comportamental. Se não cuidado, o comportamento também adoece, contagiando aqueles que estão a nossa volta. Por outro lado, um comportamento sadio possui o poder de influenciar positivamente aqueles que amamos e isso pode ser decisivo, seja para uma educação preventiva ou na busca de soluções para problemas já instalados.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Imediatismo e insatisfação


       
  
     Queremos dar aos nossos filhos tudo aquilo que não tivemos e na ânsia de agradá-los transformamos os seus desejos em direitos e estamos colhendo resultado contrário. Quanto  mais proporcionamos,  mais insatisfeitos ficam.

       É para hoje. Eu quero agora. Na recusa, um choro, uma birra, um escândalo e cedemos. Não estamos conseguindo fazê-los esperar. - “Quando ele quer, tem que dar logo, senão ele não sossega”, reclama uma mãe, e assim, eles vão se acostumando ao imediatismo e na mesma velocidade com que ganham, abandonam, deixam num canto, não curtem e nem valorizam e estão prontos para manifestarem outros desejos.

Quando éramos crianças não era assim. Lembro-me dos dias natalinos, onde aguardávamos pelo nosso presente com grande ansiedade, mesmo que fosse algo bem simples, e com um detalhe: ele só vinha mesmo naquele dia. Havia um ritual de espera, e criávamos grande expectativa. Ao recebê-lo a satisfação e alegria eram imensas. Atualmente nossas crianças ganham tantos agrados nos dias que antecedem o natal, que o presente ganho no dia da festa é recebido com frieza e indiferença.

            Outro fator interessante é o merecimento. Nem sempre a criança merece ganhar o presente. Não estudou como deveria, gritou com a mãe, bateu a porta do quarto, demorou duas horas para ir ao banho, agrediu o irmãozinho e no final do dia ganhou presente? Isso se chama injustiça.

        Na mesma proporção em que crescem acostumados ao imediatismo, também crescem as exigências. Muitos filhos chegam a adolescência com todos os seus desejos atendidos e prontamente. Presentes de todos os tipos, as melhores roupas, viagens aos montes, festas as melhores. Chegam à juventude e agora o que ganham são motos, são carros e quando esses agrados são recebidos sem esforço algum, sem merecimento nenhum, não curtem, não cuidam, não valorizam e assim, muitos pais vivem para consertar carros amassados e pagar multas de transito dos filhos.

            Acostumados ao imediatismo, interiorizam a ideia de que todos os seus desejos e vontades são direitos. Desejam tudo para já, querem tudo pronto e possuem grande dificuldade em esperar por algo ou em receber um não como resposta.  Ao crescerem desejam sucesso rápido, buscam pelo prazer imediato e sem esforços, querem se dar bem, sem demora. Nessa busca muitos se perdem. Não conseguem se firmar em nenhum emprego, porque não possuem paciência para buscar seu espaço. Já querem começar por cima. Na busca pelo prazer imediato, muitos encontram as drogas que, infelizmente, têm esse poder, e a busca pelo dinheiro fácil e rápido podem levá-los ao tráfico.  

Com todos os desejos atendidos de forma imediata e sem esforços muitos chegam à adolescência e juventude sem que nada mais lhes seduzem. A vida perdeu a graça. Tem tudo, o que mais podem ganhar? Nesse processo pode surgir a busca por algo novo, novas experiências, novas aventuras. Nessa busca, muitos encontram armadilhas que poderão custar-lhes muito caro.

Resguardadas as devidas proporções, em parte, isso justifica tantos jovens que tudo têm, sem que nada lhes faltem, criados com tudo de bom e de repente passam a apresentar grandes desvios de comportamento e conduta. 

Contudo, sempre é bom e conveniente frisarmos que cada um dá ou proporciona ao filho aquilo que pode, mas independente dos recursos disponíveis é importante aprendermos a dosar, a buscar um equilíbrio em relação ao que proporcionamos. Precisamos ensiná-los dentro de casa que existe um limite.

       Independente dos nossos recursos financeiros, devemos ensiná-los a esperar por algo, a cobrar algo em troca, fazê-los sentirem-se responsáveis pela conquista e se não houver merecimento, não devem ser presenteados.

        Existe algo melhor que o próprio presente que é a satisfação por tê-lo recebido e o mérito por havê-lo conquistado e quando atendemos imediatamente a todos os pedidos dos pequenos, estamos roubando-lhes essa alegria. Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que quanto mais proporcionamos algo aos filhos, sem nada deles cobrarmos em troca, mais eles viverão em estado de insatisfação total.


         

Texto de Celso Garrefa
           Amor-Exigente de 
           Sertãozinho SP
                                  

sábado, 30 de março de 2013

NÃO PRECISA PROVOCAR DOR PARA EDUCAR

Enquanto tomava seu leite, Júnior deixou que o copo tombasse sobre o tapete e a reação da mãe foi imediata. De posse de um chinelo, golpeou uma boa chinelada no bumbum da criança, que por sua vez a desafiou: - “Não doeu”! Isso provocou ainda mais a ira da mãe, fazendo com que ela golpeasse outras vezes. Quando voltou a si, percebeu que havia agredido o filho de forma muito violenta, cujas lesões precisaram de atendimento médico.

Temos observado com muita preocupação a defesa do uso das palmadas e chineladas na educação das crianças, sempre com o mesmo argumento: é preciso educar. Mas será mesmo que é necessário provocar dor para educar? Será que os pais que não batem em seus filhos, estão criando cobras?

Não concordamos com isso. Precisamos compreender que quem utiliza as palmadas ou chineladas está muito próximo de aplicar uma surra, isso porque elas não são aplicadas de forma consciente visando à educação dos filhos, mas sim, movidas por uma reação, resultante da falta de paciência, intensificada pelo estresse de dias conturbados. Pais irritados e raivosos comumente descarregam a ira na criança que é frágil e não consegue se defender. Como a criança sente dor e tem medo, quando apanha, se cala, criando a falsa sensação do objetivo alcançado.

Não podemos limitar nossa visão e método de educação única e exclusivamente no uso da agressão. Imaginar que é preciso bater para educar significa pensar pequeno demais diante das infinitas possibilidades e alternativas de ações educativas. Agredir uma criança, mesmo com o objetivo de educá-la, nada mais é que a pura demonstração do analfabetismo educacional que vivem os pais. Quando defendemos a argumentação de uma educação sem agressões, não significa que somos contra a educação dos filhos, pelo contrário, é responsabilidade dos pais, educá-los e corrigi-los, nortear suas condutas, porém necessitamos buscar alternativas mais eficientes nessa tarefa, alternativas mais funcionais para a época em que vivemos.

Filhos não precisam ter medo de seus pais, mas respeitá-los. A relação entre pais e filhos baseada no medo possui data limite para acabar, considerando que os filhos crescem e assim que as forças se equiparam, o medo cede lugar aos confrontos, enquanto que as relações baseadas no respeito são para toda a vida. O importante é que os filhos respeitem seus pais durante toda a sua existência e não apenas enquanto sentem medo de suas reações.

Sentimos que muitos pais não utilizam o uso das palmadas ou chineladas por maldade, mas sim, por desconhecerem outras formas e métodos de educação. Como não existem escolas que preparem os pais para educar os filhos e eles não chegam com manuais de instruções, estes se sentem perdidos, portanto, este blog também possui o objetivo de levar aos pais informações sobre como educar bem os filhos sem o uso de nenhum tipo de violência, utilizando uma educação assertiva e funcional, adequada aos novos tempos, visando proporcionar à eles uma educação eficiente com o objetivo de preparar filhos saudáveis mesmo diante de um mundo cheio de desafios e armadilhas.

Texto de Celso Garrefa

terça-feira, 26 de março de 2013

Educação com autoridade (Pais e filhos não são iguais)

(Imagem extraída da internet)
Certa vez, durante uma palestra para um grupo de mães, tratávamos da importância da autoridade na educação das crianças, quando uma participante nos relatou que vivia com seu marido e um filho de cinco anos. Segundo ela, todas as vezes que o companheiro saía de casa, transmitia a seguinte mensagem ao menino: - "Papai está saindo, agora você é o homem da casa". Esse poder transmitido ao garoto, fazia-o sentir-se poderoso e arrebentava com a autoridade da mãe.

        Vivenciamos um passado recente em que o autoritarismo era marcante e na educação das crianças não havia espaço para flexibilidades. Esse tipo de comportamento não se encaixa mais na educação moderna, com todas as mudanças de mundo que acompanhamos e por isso precisava ser interrompido, entretanto, a autoridade deveria ser preservada, o que não aconte
ceu, pois no ímpeto da mudança, sem que nos déssemos conta, perdendo também nossa autoridade.

          Para agravar ainda mais, muitos pais começaram a se relacionar com os filhos, tratando-os mais como “amiguinhos” e esqueceram que, antes de serem seus amiguinhos, são pais e precisam exercer o seu papel de pais. Em seu livro “O que é Amor-Exigente” Mara Sílvia Carvalho de Menezes cita que “pai é guia, orientador, legislador: deve nortear a conduta do filho, criando regras ou leis que precisam ser respeitadas e vão prepará-los para enfrentar o mundo”. Sem assumir essas responsabilidades, estamos sujeitos a vivenciar duas tristes realidades: a primeira é uma inversão de papeis, onde quem manda, quem dita as regras, quem reina a casa são as crianças, enquanto os pais apenas obedecem; e a segunda, e não menos preocupante, favorecemos a criação de uma geração de filhos órfãos de pais vivos.


          Mas a conquista da autoridade não cai do céu. É uma busca que exige empenho e que precisa começar o mais cedo possível, pois recuperá-la depois de perdida é tarefa dificílima. 


Muitos pais vivem intensos conflitos relacionais e sem poupar palavras ofendem-se mutuamente. – Sua mãe é uma burra, resmunga o pai. - Seu pai é um “banana”, reclama a mãe. Como esperar que uma criança respeite a autoridade da mãe se está sendo plantada na sua mente em formação, a imagem de uma mãe burra? Como esperar que a criança respeite a autoridade do pai se está interiorizando a imagem de um pai “banana”? O fortalecimento da autoridade é facilitado quando o casal se respeita e faz-se unidade na educação dos filhos, falando a mesma língua.

          Outro fator essencial para o exercício da autoridade e que a difere do autoritarismo é o poder do exemplo. É complicado desejar que os filhos sejam equilibrados se vivemos em estado de loucura. É missão dificílima aconselhar os filhos em relação ao abuso de álcool se eles assistem ao consumo abusivo dos pais. É tarefa complicada colocar Deus na vida dos pequenos, se não vivemos uma espiritualidade. Não é fácil fazer com que as crianças se dediquem a leituras se eles nunca veem os pais com um livro nas mãos. Mas precisamos entender que não basta dar exemplos. É preciso ser modelo e cobrar resposta. Se não quero que meus filhos deixem o calçado no meio do corredor, primeiro cuido dos meus e depois, com autoridade, cobro para que façam o mesmo com os deles.


         Outro ponto fundamental na conquista da autoridade é a clareza e a firmeza nas decisões tomadas. O sim dos pais precisa ser sim, mas quando a resposta exigida for um não, ela precisa ser mantida com posicionamento claro e firme, mesmo diante do choro, das birras ou da insistência perturbadora com que eles reclamam. Quando cedemos facilmente diante das pressões recebidas, transmitimos aos filhos uma mensagem não verbal: pressionem que cedemos.


          Não podemos confundir uso da autoridade com agressões ou violências, com barulhos ou gritos e nem através de comportamentos hostis, grosseiros ou estúpidos. Autoridade não é algo que se impõe, mas sim uma conquista que exige respeito e cobra respeito, fazendo desse comportamento o norte do relacionamento familiar e, finalmente, quando a autoridade é exercida com equilíbrio, coerência e responsabilidade, os pais certamente serão os melhores amigos dos seus filhos.

             Texto de Celso Garrefa (Amor-Exigente de Sertãozinho)
             Elaborado com base no 4º princípio do programa Amor-Exigente “Pais e Filhos não são Iguais”



segunda-feira, 18 de março de 2013

RAÍZES CULTURAIS



      O mundo em que vivemos está em constante transformação e nas últimas décadas, com os avanços e evoluções tecnológicas, essas mudanças passaram a acontecer com velocidade espantosa e assombrosa. Se por um lado, as novas tecnologias e a velocidade com que as coisas acontecem trazem avanços e novidades, por outro, elas também criam impactos na vida das pessoas, sejam elas adultas, jovens ou crianças.

            Em um passado recente, a formação da criança ou do jovem era influenciada basicamente pelos valores transmitidos dos pais para os filhos. Hoje não é mais assim. Além das influências dos pais, a formação dos filhos é bombardeada por influências transmitidas por diversos seguimentos, como as interferências da macro-família, a transmissão dos conhecimentos escolares, a pressão dos grupos de amizades, os ensinamentos religiosos, as tendências da moda, o poder dos diferentes tipos de mídia, etc. que vão se somando, formando, transformando e moldando o sujeito. 

            Entre todos, os avanços e disponibilidades tecnológicas são os fatores que atualmente estão mais presentes na nossa vida, de nossos jovens e de nossas crianças. Os pequeninos nascem com uma tevê a sua frente. Ganham o primeiro celular ou tablet já nos primeiros anos de existência e se encantam com os brinquedinhos eletrônicos. Os jovens vivem com fone nos ouvidos e os adultos também se renderam às redes sociais. A tevê ocupa espaço em cada cômodo da casa e coloca a nossa disposição uma centena de canais como opção. Essas tecnologias nos interligam ao mundo, aproximam quem está distante mas, ironicamente, distancia quem está ao nosso lado.

            Mesmo diante do bombardeio de informações, nós pais não podemos perder a essência de nosso papel de pais e devemos trabalhar ativamente para deixar a nossa marca e são nos primeiros anos de existência dos filhos que nossas influências possuem poder maior de enraizar valores capazes de formar caráter e que deverão servir de base ao longo de toda a sua existência, no entanto, só conseguiremos transmitir princípios de integridade moral, ética e espiritual se os possuímos e, sem medir esforços, nos dispomos a transmiti-los.

            Nesta missão precisamos, primeiramente, buscar tempo e espaço para participar ativamente da vida de nossos filhos, cientes que possuímos concorrências fortes e poderosas. Precisamos compreender que as novas tecnologias fazem parte da vida atual e não podem ser descartadas, mas é necessário, por vezes, desligar a tevê, sair do computador, mostrar aos filhos que existe vida real e não somente virtual. Precisamos reservar tempo para a convivência familiar, onde possamos criar momentos favoráveis ao diálogo, onde possamos transmitir aos nossos filhos quem nós somos, quais são nossas raízes, nossas origens, nossos valores e nossos princípios.

            Na formação da base, não podemos perder a preciosa oportunidade de plantar na raiz da existência das nossas crianças, a essência de Deus em sua vida. Também é na base que devemos começar a fortalecer sua autoestima, começar na base ensinar-lhes o respeito aos pais e às pessoas. Também é na base que precisamos mostrar a importância dos hábitos saudáveis, as vantagens de se fazer boas escolhas, o respeito aos limites e regras.

            Não podemos esperar nossos filhos crescerem, tornarem-se adolescentes ou criarem problemas para começarmos a agir. O segredo de uma boa educação é começar cedo, orientando, ensinando, norteando suas condutas, preparando-os para se posicionarem diante da avalanche de fatores que exercerão influências no decorrer de sua formação.

Precisamos nos atentar, também, que o mundo está em constante transformação, conforme citamos, e com isso mudam-se os costumes, afetando e modificando as pessoas. Os filhos de hoje não são iguais os filhos que fomos e aquilo que deu certo no passado, pode não dar mais certo hoje. Exemplo disso é a legião gigantesca de pais que estão tão presos ao passado e alienados sobre novas abordagens educativas, que ainda acreditam que é preciso provocar dor para educar. Por isso precisamos acompanhar as mudanças do mundo, nos adaptando, buscando conhecimento, nos informando, trocando experiências e adequando as novas realidades.

            Os filhos crescem, vem a adolescência, momento em que eles começam a criar asas, momento em que reclamam por liberdade e buscam sua identidade. Nesse momento, a cada dia precisam fazer novas escolhas. Não vamos estar sempre ao lado deles, entretanto, se conseguirmos deixar nossa marca, trabalharmos forte na formação de suas raízes, nesse momento da vida eles poderão alçar voos com segurança e, se porventura, ocorrer algum desvio de conduta, com certeza a retomada do rumo acontecerá com grande facilidade.
                                                                      


                        Texto de Celso Garrefa (Amor-Exigente de Sertãozinho - SP)
                        Elaborado com base no 1º princípio do Programa Amor-Exigente


 Leia também: Os pais também são gente, disponível no link: http://aesertaozinho.blogspot.comhttp://aesertaozinho.blogspot.com/2014/02/os-pais-tambem-sao-gente.html/2014/02/os-pais-tambem-sao-gente.html




PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...