terça-feira, 11 de julho de 2017

PALAVRAS QUE FEREM

        Um certo dia, próximo ao final do ano, questionei um aluno dos anos iniciais, se seria aprovado, ele respondeu que não. – “Mas você não estudou, perguntei” e ele respondeu: - “Não adianta tio, meu pai falou que eu sou burro”.

Crianças possuem uma enorme capacidade de internalizar as mensagens que recebem. Aquilo que transmitimos aos pequenos durante essa fase da vida, eles absorvem com grande facilidade e podem carregar ao longo da sua existência. Isso nos lança um alerta sobre a maneira como nos dirigimos a eles.

Ao serem insistentemente rotulados como burros, eles podem interiorizar isso como verdadeiro e como consequência, apresentar reais dificuldades de aprendizagem.

O uso de ofensas verbais direcionadas a uma criança, mesmo não deixando marcas físicas, também é uma violência que deixa outras marcas, por vezes, muito mais profundas e doloridas. Elas atingem o fundo da alma e curar as feridas interiores nem sempre é possível.

Muitos crianças são atacadas dentro de casa: você é um burro, você não presta pra nada, você é um inútil, você não faz nada direito. Esses bombardeios dirigidos aos pequenos destroem sua autoestima e uma baixa autoestima é um dos fatores de risco em relação ao uso de drogas. O elogio que nunca recebem dentro de casa, muitos vezes é encontrado nas ruas, porém, na rua ele pode conter interesses escusos, e por detrás deles conter armadilhas e propostas perigosas.

Na medida em que crescem, começam a reagir. Podem apresentar problemas comportamentais e manifestar agressividades. Quando adultos tendem a reproduzir esse ciclo, repetindo com os filhos a mesma agressividade verbal que foi vítima.

Por outro lado, não significa que vamos assistir aos comportamentos inadequados dos pequenos de forma passiva, sem chamar-lhes a atenção, porém precisamos focar no comportamento que desejamos corrigir e tirar o foco da criança, como pessoa. Podemos e devemos adotar uma postura firme com os pequenos, diante de um comportamento que precisa ser corrigido, mas não precisamos atacá-los com palavras ofensivas e grotescas. Como sempre cita o programa Amor-Exigente, precisamos mostrar a eles que nós o amamos, mas não aceitamos aquilo que eles fazem de errado.


Texto de Celso Garrefa

Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

sábado, 8 de julho de 2017

CUIDADO COM O BICHO PAPÃO


Júnior, apesar da forte inflamação de garganta, recusava tomar o medicamento. A mãe, como forma de convencê-lo, utilizou como argumento, uma pequena mentirinha. – “Toma filho, esse remédio é gostoso e docinho”. A criança, ao colocar o...

Obs.: Em razão de regras contratuais, este texto não está mais disponível neste blog, podendo ser lido na íntegra no livro "ASSERTIVIDADE, UM JEITO INTELIGENTE DE EDUCAR", de Celso Luís Garrefa, com lançamento previsto para 03/02/2024. 


           






domingo, 2 de julho de 2017

DEPENDÊNCIA: ENGANADOS PELO NOSSO CÉREBRO

Foto da Internet (Pinterest)
O desenvolvimento da dependência do álcool ou de outras drogas é um processo que se instala ao longo do tempo. A pessoa, por curiosidade, influência do grupo ou por razões diversificadas  tem o seu primeiro contato com essas substâncias através da experimentação. A busca contínua pela sensação do prazer faz com que ele volte a consumi-las, e assim, passa da experimentação ao uso esporádico e ocasional.

Nessa fase, nosso cérebro reconhece o prazer, mas não as consequências e começa a trabalhar como nosso inimigo, nos enganando. Iludimos, achamos que possuímos o comando e paramos no momento em que bem desejarmos, sem dificuldades.

No entanto, haverá um momento em que atravessamos a fase do uso ocasional ou esporádico e desenvolvemos a dependência. Não é possível identificarmos a linha que separa essas etapas e, mesmo dominado pelo vício, nosso cérebro, mas uma vez, trabalha como nosso inimigo e continua nos enganando, transmitido a mensagem de que ainda possuímos o controle.

Grande engano. Fomos vítimas de nossas escolhas, traídos pelo nosso cérebro e estamos presos nas armadilhas do alcoolismo ou da dependência química. Como fazer, se toda a nossa vida é comandada pelo nosso cérebro? 

Já com a dependência instalada nosso cérebro não dá trégua e continua nos enganando e assim, seguimos negando o problema, não aceitando nossas dificuldades, diminuindo o tamanho do desafio, sem perceber que estamos em queda livre. Como saímos dessa enrascada?  

Só há um caminho. Colocarmos nosso cérebro em guerra com ele mesmo. Mesmo com a dependência instalada, ainda resta um espaço reservado nele que podemos chamá-lo de consciência, no entanto, numa dependência ela é minoria absoluta e terá que lutar contra um gigante que nos domina.

Primeiro, precisamos despertar o último resquício de consciência e colocá-la em ação. Como ela está em terrível desvantagem, necessitamos fortalecê-la, caso contrário é derrota certa. Para fortalecê-la vamos precisar de toda a ajuda possível. Quanto mais fortalecermos a nossa consciência, maiores as possibilidades de vitória. Para fortalecê-la vamos precisar dos grupos de apoio e de orientação, de muita espiritualidade e de tratamento.

Não existem outros caminhos. Ou fortalecemos a fragilizada consciência para lutar contra um poderoso que insiste nos ludibriar ou cada vez mais nos enganamos, afundamos, adoecemos e sofremos. Vamos à luta, enquanto ainda é tempo, pois sábio é aquele que dá valor ao que tem antes de perder. 


Celso Garrefa
Amor-Exigente de Sertãozinho SP

domingo, 25 de junho de 2017

DIA INTERNACIONAL DE COMBATE ÀS DROGAS - ESTAMOS PERDENDO ESSA GUERRA

Criado pela ONU em 1987, o Dia Internacional de Combate às Drogas completou mais de trinta anos e ao longo deste tempo não vemos motivos para comemorarmos. As estatísticas apresentam número crescente de usuários, com iniciação cada vez mais cedo. O tráfico está cada vez mais ousado e nossas cidades possuem pontos de venda em cada esquina. O que está dando errado?

Acredito que só vamos conseguir resultados significativos e redução do consumo das drogas quando atuarmos nos dois eixos. Um deles é o combate ao tráfico, que envolve o papel da polícia, da inteligência, dos legisladores.  O outro é tirarmos o foco das drogas, que é uma substância inanimada e investirmos no sujeito.

O segundo eixo merece extrema importância, pois, não é a droga que vai até o sujeito, mas o sujeito que vai até ela e como todo comércio, existe a lei da procura, onde o tráfico se sustenta. Infelizmente, quase nada vemos nesse sentido. Estamos em plena semana internacional de combate às drogas e o que você viu de campanha nestes dias?

As drogas ilícitas e outras lícitas consumidas abusivamente, como o álcool, são um dos maiores desafios que assolam a humanidade e parece-nos que estamos todos cochilando quando o assunto é esse. Vemos campanhas maravilhosas e necessárias, como o outubro rosa ou a campanha de preservação do meio ambiente. Nas escolas, a campanha sobre dengue é fantástica.  Mas quando o assunto é drogas, pouco se vê.

Estamos perdendo essa guerra porque menosprezamos o inimigo. As drogas é um perigo iminente e todas as nossas crianças correm riscos. Os pais têm medo de falar com seus filhos sobre o assunto, poder público é ineficiente no tratamento aos dependentes do álcool e outras drogas e não se interessa pela prevenção. Não disponibilizam recursos para trabalhos preventivos, cujo custo é barato, enquanto isso os problemas instalados sugam, sem piedade, recursos públicos na área da saúde, segurança, previdência e social. Faltam espaços públicos onde os jovens possam se identificar com outros prazeres, que não sejam os ilusórios das drogas.

Muitas de nossas escolas estão omissas em relação ao assunto. É preciso trazer o tema ao debate em sala de aula. Orientar nossas crianças e jovens, trazendo informações de qualidade. Não adianta ensinar um aluno sobre o que aconteceu na época do império se não discutirmos com eles sobre os perigos atuais. Não adianta formarmos doutores, sem formarmos cidadãos.

O combate às drogas somente colherão resultados positivos quando pensarmos em estratégias de curto, médio e longo prazo. Quando intensificarmos o foco no sujeito, que é o agente da ação e quando a cegueira familiar, social e pública retirar o véu do preconceito, da acomodação e do medo, e acordar para essa triste realidade, que cada vez mais destroem nossas crianças e jovens e consequentemente, toda a família.

Precisamos parar de enxergar esse problema como algo distante. Ele bate a nossa porta e todos nós, direta ou indiretamente, sofremos as consequências do consumo abusivo das drogas. Precisamos nos mover, caso contrário, mais trinta anos se passarão, sem enxergamos resultados positivos.

           


Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

sábado, 10 de junho de 2017

AÇÃO OU REAÇÃO (SOFRIMENTO NÃO É REMÉDIO QUE CURA DEPENDÊNCIA)

               
Conviver com um dependente do álcool ou de outras drogas dentro de casa é uma situação insana que leva muitos familiares ao desespero.  Como muitos não estão preparados para enfrentar esse desafio, não sabem como agir e numa tentativa desesperada de solucionar o problema apenas reagem às atitudes do outro. Essas reações, além de não solucionar o problema, são combustíveis para os conflitos.

            Criar conflitos é uma especialidade de muitos adictos. Enquanto na ativa são verdadeiros mestres na arte das chantagens, das manipulações, das ameaças. Sabem perfeitamente bem quando é hora de fazer barulhos e quando é hora de se fingirem de coitadinhos.
                                                                      
            Precisamos buscar o equilíbrio necessário para não abraçarmos uma loucura que não nos pertence. Aquele que está alterado pelos efeitos das substâncias entorpecentes é ele, não nós. Se chegarem gritando, não adianta gritarmos mais alto. Se estiverem buscando o conflito, nada resolve entrarmos no embate. Não é o momento de confrontarmos enquanto estão sob o efeito das drogas.

            Não é esse o momento de tentarmos o diálogo, pois eles não estão em condições de nos ouvir. Não é hora que atacá-los com palavras ofensivas, ameaçá-los ou agredi-los. Nada disso resolve. O mundo do conflito é o mundo deles, não pode ser o nosso. Entrar nesse jogo é derrota certa. As reações não possuem um propósito. São motivadas pelo desespero, seja porque perdemos a paciência ou porque estouramos nossos limites emocionais. Seja porque estamos com raiva ou porque não sabemos o que fazer.

            Outra forma de reação, e isso é uma característica marcante da codependência, é anularmos nossa existência, entregando-a por completo para o domínio do adicto, ou seja, paralisamos todas as nossas ações e apenas reagimos de acordo com os comportamentos deles. Só conseguimos ficar bem se ele estiver bem. Só conseguimos dormir à noite, se ele estiver em casa.         Só vamos às reuniões se ele também for. Tudo o que ele deseja, atendemos prontamente. Em geral, deixamos de viver a nossa vida para viver a dele, transformando-o no centro do universo da casa.

            Precisamos trocar as reações por ações. Isso exigirá, de nós, a busca de um equilíbrio emocional e comportamental adequados para lidarmos com uma situação de grande complexidade, sem, no entanto, entrarmos no desespero e na loucura do outro. Abandonar as reações não significa aceitarmos tudo aquilo que o outro faz de errado e se calar, pelo contrário, significa parar de reagir para agir de acordo com nossa personalidade. Significa tomarmos atitudes e nos posicionarmos com muita firmeza e clareza.

            Quando trocamos nossas reações por ações assumimos o nosso domínio, sem transferir o controle da nossa vida a uma pessoa adoecida pela dependência. Isso significa que devemos fazer tudo aquilo que precisa ser feito, sem medir esforços na busca da solução do desafio, mas cuidando para que o problema não nos adoeça mais que o próprio dependente, pois um doente não tem forças para ajudar o outro e, como tenho dito, sofrimento de pais não é remédio capaz de salvar nossos filhos.
           



Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente
 de Sertãozinho SP


sábado, 3 de junho de 2017

INTERNAÇÃO VOLUNTÁRIA, INVOLUNTÁRIA OU COMPULSÓRIA

Nos últimos dias, em razão da ação realizada naquela região central de São Paulo, conhecida popularmente como cracolândia, muito tem se falado sobre internações de dependentes químicos e sobre a legalidade ou não de interná-los contra a própria vontade.

Primeiro, faz-se necessário esclarecermos as diferenças relacionadas aos três tipos de internação: voluntária, involuntária e compulsória. A internação voluntária é aquela que se dá a partir da decisão do próprio dependente, que aceita ou pede por ajuda. A internação involuntária não depende da aceitação do dependente. Essa modalidade de tratamento é realizada por iniciativa dos familiares do usuário. Já a internação compulsória ocorre por determinação judicial, fundamentada por lado médico.

Diante destas possibilidades devemos refletir sobre qual o tratamento mais adequado para cada situação, pois uma escolha mal feita poderá resultar em desfecho adverso ao esperado.  Os tratamentos para dependência química são subjetivos e, assim sendo, devemos levar em consideração as diferenças e individualidades de cada um.

O primeiro questionamento a nos fazermos é sobre se existe mesmo a necessidade da internação, pois existem outras modalidades de tratamento sem que, necessariamente, seja preciso retirar a pessoa do convívio familiar. É indicado para dependentes que já admitiram a dependência e que se dispõe a buscar por ajuda, que pode ser através de tratamento ambulatorial, junto aos Caps, através de profissionais qualificados, ou por meio de grupos de auto e mútua ajuda como AA, NA, Grupos de Sobriedade do Programa Amor-Exigente, Pastorais da Sobriedade, etc.

A internação voluntária é indicada para o dependente que não consegue manter-se na sobriedade e pede para ser internado. Antes da internação é importante saber se essa decisão é concreta ou ele está buscando uma fuga porque está carregado de dívidas, ameaçado ou se é uma decisão por impulso. Se assim for, a estadia na clínica ou comunidade terapêutica será breve, pois, assim como a internação acontece pela própria vontade do dependente, o abandono do tratamento também só dependerá dele.

A internação involuntária é indicada para o usuário que atravessa uma fase crítica de dependência, porém não reconhece a necessidade de se tratar, recusa qualquer tipo de abordagem e não aceita ser internado. Neste caso, os familiares poderão tomar a decisão por ele, internando-o em clínicas para tratamento. Como a internação acontece por decisão dos familiares, a interrupção do tratamento precisará também do aval deles e o término da internação acontecerá por alta médica.

Já a internação compulsória é indicada para o dependente que perdeu por completo o domínio de si mesmo. Muitos destes já apresentam comorbidades, ou seja, outras doenças associadas à dependência, como por exemplo, transtorno psicótico. Essa modalidade de internação ocorre por determinação judicial, fundamentada em laudo médico.

Há quem, justificando questões éticas, defenda a ideia da ilegalidade em se internar alguém contra a própria vontade, porém, precisamos ter claro que muitos dependentes químicos, em grau avançado, perderam o domínio de sua própria vontade. Em um comparativo, se assistirmos alguém se afogando, sem forças para pedir por ajuda, o que fazemos? Precisamos intervir.

Aos familiares de dependentes químicos, não tomem decisões por impulso. Busquem por ajuda, apoio e orientação. Procurem se informar, conhecer sobre cada modalidade de tratamento, discuta qual a melhor forma de tratamento para o dependente. Se possível, ouça-o. Lembrem-se sempre: familiares de dependentes também adoecem e precisam de cuidados. Contem sempre com os grupos do Programa Amor-Exigente.



Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

sábado, 20 de maio de 2017

A CULPA É DA CAÇAMBA

Já perceberam como existem pessoas que vivem buscando justificativas para tudo que não sai de acordo com o esperado? Estes indivíduos possuem grande dificuldade para assumir suas falhas e vivem buscando desculpas ou procurando culpados para tentar explicar o seu infortuno.

            Todos nós enfrentamos nossos problemas, nossos desafios, mas vivemos em uma sociedade onde é preciso camuflá-los, mostrar que tudo está bem, transmitir a imagem do sucesso, onde mais do que ter, é preciso mostrar que temos. Ao acessarmos as redes sociais parece-nos que todos os problemas acabaram. Pessoas sorrindo, fazendo festas, tirando selfies, ou mostrando os problemas - dos outros. 

            Esse mundo irreal transmite-nos a falsa sensação de que somente nós temos problemas e isso pode nos afetar. Sentimentos de tristeza, de frustração, de vergonha, de fracasso perturbam e assim,  como mecanismo de defesa muitos de nós prefere adotar as justificativas. Para tal, possuímos uma lista de opções para despejarmos as culpas: culpamos os governos, as leis, os professores, os políticos, os policiais, os amigos, os traficantes, a caçamba, culpamos o outro, ou seja, tudo, menos admitimos nossas falhas.

            Quando cito que devemos admitir nossas falhas não significa nos culparmos pelos problemas que enfrentamos. Falhar é humano. Acertamos e erramos diariamente e muitas de nossas falhas são cometidas com um único objetivo: acertar. O problema é que nem sempre acontece como imaginamos.

Também não podemos nos enganar. Só somos responsáveis pelos nossos comportamentos e atitudes. As nossas falhas são nossas, as do outro são deles e não devemos abraçar responsabilidades que não são nossas. Não devemos nos culpar por aquilo que o outro faz de errado, mesmo que esse outro seja nosso filho.

Por fim, camuflar nossas falhas ou problemas é uma atitude que adoece. Melhor assumir nossa condição humana e reconhecer que não somos perfeitos, conscientes de que buscamos o acerto, mas por vezes falhamos e devemos assumir isso com tranquilidade e tenham certeza: essa atitude trará leveza a nossa existência. 

           

Texto de Celso Garrefa            
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

sábado, 13 de maio de 2017

CULPA, DESCULPA PARA NÃO FAZER NADA


Ao falarmos sobre o sentimento de culpa costumamos relacioná-lo a fatos ocorridos no passado, onde nos autocondenamos, julgando haver cometido alguma falha, mas a culpa também pode ser projetada para o futuro, ou seja, nos culpamos antes mesmo de agir, imaginando o que poderá dar errado.

          A culpa, quando relacionada a algo passado paralisa, pois não dá para modificarmos o que já passou e quando projetada para o futuro também é paralisante, porque projetamos todo nosso foco e preocupação sobre o que poderá dar errado, que preferimos não arriscar.

Isso se aplica a todas as áreas da nossa vida, nosso trabalho, nossos estudos, nossos relacionamentos, nossos projetos. Quantas ideias grandiosas, quantos sonhos se perdem por medo de arriscarmos? Quantas esposas suportam companheiros violentos por medo de agir? Quantos pais se acomodam diante de filhos dependentes de droga por receio em tomar atitudes? Sempre a mesma justificativa: E se der errado?

Já está dando errado. Muitas vezes a culpa é apenas uma grande desculpa para a acomodação e para justificar a ausência de atitudes. E se eu endurecer e ele fugir de casa? E se eu não pagar suas drogas e ele roubar? E se eu não permitir que ele use dentro de casa e ele for preso na rua? E se eu denunciar um marido violento e ele me abandonar?

Isso é culpa por antecipação. pensamos somente o que poderá dar errado, concluindo que se isso acontecer seremos culpados. Esse medo imobiliza. Precisamos enxergar que, ao tomarmos uma atitude, a possibilidade maior é de começar a dar certo.

A culpa quando projetada para o futuro vem carregada de medos. Medo da reação do outro, medo do agravamento do problema, medo do que poderá acontecer, medo de perder.

Esses medos são naturais diante dos grandes desafios, e em certa dose servem para medirmos os prós e os contras, mas quando ele se transforma em pânico, impede qualquer tipo de ação. Esses medos também podem ser divididos em dois modos, o medo real e o medo imaginário. Ao analisamos criteriosamente percebemos que os reais são poucos e devem ser pensados e levados em consideração, entretanto, precisamos nos libertar dos medos imaginários, que ocupa quase a totalidade dos nossos receios e nos engessam.

Somente conseguiremos avanços eliminando as amarras que nos imobilizam. O futuro é incerto e a Deus pertence e ao imaginarmos o que virá pela frente, também precisamos nos ocupar de otimismo e de pensamentos positivos e esse já é um grande começo.

Celso Garrefa
AE Sertãozinho SP

domingo, 30 de abril de 2017

PROBLEMAS SÃO OPORTUNIDADES

              “A felicidade não se resume na ausência de problemas, mas sim na capacidade de lidar com eles”.
                                                                                                          (Albert Einstein)

O palestrante, antes de iniciar sua fala, fez o seguinte pedido ao público: - Quem de vocês possui algum tipo de problema levante os braços. Todos os presentes ergueram as mãos, com exceção de um senhor que sentava na terceira fileira. O comunicador, admirado, dirigiu-se a ele e perguntou: O senhor não possui nenhum tipo de problema? – Claro que sim, disse ele. Tenho um problemão nos braços, que me impede de erguê-los.

            Nossa existência é recheada de desafios e aqueles que desejam resolver todos os seus problemas para serem felizes, viverão uma vida de tristezas e frustrações. O segredo é lidarmos com nossas angústias sem, no entanto, permitirmos que elas nos afetem de tal forma que destrua nossa vida e nossa felicidade.

            Cada um enfrenta suas intempéries a seu modo. Há quem possui grandes problemas e lidam com eles de forma assertiva e equilibrada, fazendo seu problemão parecer pequeno.  Vivem sorrindo, estão sempre de bem com a vida e não permitem que os seus desafios o dominem.

Há aqueles cujos transtornos enfrentados são mínimos, no entanto, fazem deles grandes dramas, criando dos pequenos problemas, um monstro. Vivem reclamando, lamentando e resmungando. Fazem-se de vítimas e assumem o papel de coitadinhos. Estes concentram tanta atenção aos pequenos problemas que esquecem de viver a vida.

Os desafios precisam ser encarados, sem perdermos o foco. Não adianta deixarmos de nos alimentar porque o filho está dando trabalho; não resolve ficarmos sem dormir, porque temos uma dívida. Quanto mais nos debilitamos, menor nossa capacidade de reunirmos forças para enfrentarmos o problema.

          É importante, também, cuidarmos para não transformarmos um problema em mais um monte de outros. Fugas através do uso de remédios, do abuso de álcool e ou de outras drogas, além de não solucionar o problema,  geram outros tantos.

       Não negamos que enfrentar um grande problema mexe conosco, no entanto, tristeza e sofrimento não são remédios que curam essa ferida. Nesse momento não podemos cometer o equívoco de nos isolarmos, pelo contrário, é hora de criarmos coragem, buscarmos apoio e nos fortalecermos espiritualmente, pois a fé é a força que nos possibilita enfrentar um grande problema, sem desespero.

      Por fim, problemas são, acima de tudo, oportunidades de aprendizado e de crescimento. E são muitos os exemplos de pessoas que fazem a diferença no mundo devido os desafios que tiveram de vencer. 





Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

domingo, 23 de abril de 2017

PAIS OU AMIGOS DOS FILHOS

       
Em um passado recente a organização familiar era patriarcal. O pai mandava na casa a seu modo e ninguém ousava contrariá-lo. Era uma educação rígida, por vezes agressiva e autoritária. Um sistema bruto que não se encaixa mais na educação moderna e precisava ser modificado.

No entanto, a busca pela adequação aos novos tempos nos levou de um extremo a outro. Querendo parecer modernos demais passamos a nos relacionar com nossos filhos como se eles fossem nossos amiguinhos e esquecemos que, antes de sermos seus amigos, somos pais e precisamos exercer nosso papel de pais, de guia, de orientador, de norteador das condutas dos filhos.

Ao igualarmos essa relação muitos de nós fomos engolidos. Transformamos filhos e filhas como os reis e rainhas da casa, e assim, se no passado os filhos não tinham voz, nem vez, atualmente quem perdeu a voz e a vez foram os pais. Vivemos uma geração em que os filhos mandam e os pais obedecem, receita certa para a desordem e os caos familiar.
                                                             
Quando citamos que os pais não precisam se preocupar em ser amiguinhos dos filhos parece que causamos certo desconforto. Não vemos razões para isso, afinal, ser pais significa desempenharmos um papel muito superior ao de amigo. Amigos são descartáveis, pais e filhos não. Pais que querem ser apenas amiguinhos dos filhos diminui a importância do seu real papel de pais. Pais são capazes de dar a vida por um filho, amigos, raramente.  Pais são capazes de doar um dos seus rins para um filho, amigos, raramente.

Exercer o nosso papel de pais não significa sermos grossos, estúpidos, ranzinzas ou violentos, pelo contrário, significa que podemos ser agradáveis e abertos ao diálogo, que devemos criar uma relação de confiança e de fortes vínculos afetivos. Como pais podemos brincar com eles, divertir, curti-los, mas quando for preciso, que saibamos exercer nossa autoridade, com firmeza, cientes que nossos filhos são nossa responsabilidade e temos o dever de educá-los. Os filhos precisam saber quem está no comando e que não são eles.

Por fim, e para não restar dúvidas, aqueles que ainda desejam mostrar aos filhos que são seus amiguinhos, ainda poderão fazê-lo, desde que não deixem de exercer, em primeiro lugar, o seu papel de pais, assumindo as responsabilidades que lhe cabe, pois sem isso criamos tiranos prestes a nos engolir, sem pena, nem piedade.
   



Texto de Celso Garrefa             
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

sexta-feira, 21 de abril de 2017

BALEIA AZUL: SUICÍDIO OU PEDIDO DE SOCORRO?

Nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas sobre postagens referentes à baleia azul, um jogo que consiste em estimular, principalmente crianças e jovens, a uma série de desafios, cujo objetivo final é colocar fim a própria vida. Isso tem preocupado as autoridades e aterrorizado muitos pais, tendo em vista que no mundo todo e também no Brasil, já existem relatos de suicídios, cuja origem está relacionada a esse tipo de brincadeira.

Não há como negar que crianças e adolescentes são mais facilmente influenciáveis, além disso, atravessam um momento de transição e da busca da própria identidade, gostam de desafios e não temem a morte, no entanto, por detrás de um jovem capaz de tirar a própria vida, existem outras questões que vão muito além desse desafio.

Nossas crianças e jovens vivenciam as novas tecnologias com muita intensidade, conectados durante todo o tempo, estão sempre com fones nos ouvidos e ligados às redes sociais. Juntam-se a grupos e seguem perfis que se assemelham aos seus interesses. Vivem tão intensamente o mundo virtual que ele já se confunde com o mundo real. As novas tecnologias é o mundo do jovem, mas precisamos mostrar-lhes que existe vida fora da internet.

Uma das características de um jovem capaz de cometer um suicídio é a sua baixa autoestima, que contribui para o desencadeamento da depressão. Baixa autoestima, somada a depressão e estimulada por desafios como o da baleia azul podem potencializar o desejo de colocar fim à própria existência.

Como abordamos no texto “O Poder do Elogio”, os pais podem contribuir para a construção de uma boa autoestima dos filhos. Muitos só se dirigem a eles para darem broncas e reclamarem, porém nunca fazem um elogio quando existem méritos. Precisamos ser firmes quando necessário, mas precisamos elogiá-los quando acertam nas atitudes.

A ausência de limites na educação da criança também é um dos fatores contribuintes para aceitarem desafios, muitos deles macabros, como esse da nossa baleia. Crianças e jovens que não são testadas em casa podem buscar lá fora o conhecimento de si mesmos. Até onde posso ir? Qual é meu limite? E nada melhor que um jogo com cinquenta desafios para testá-los.

A invisibilidade dentro do lar também é um fator a ser combatido. Vivemos uma geração de filhos órfãos de pais vivos, ou seja, possuem pai e mãe, mas parece não tê-los, já que estes não assumem nenhuma responsabilidade sobre as crianças, deixando-as a mercê de si mesmas. O mundo moderno isolou a família. Cada um no seu canto, em seu mundo e os relacionamentos característicos de uma família praticamente não existe mais.

Essa invisibilidade citada é agravada quando não permitimos a participação da criança ou do jovem dentro do lar. O vazio existencial, o sentir-se inútil, também é agravante para o problema. Muitos pais, com o objetivo de demonstrarem amor aos filhos, não permitem que eles nada façam, nem mesmo aquilo que é obrigação deles. Como superprotetores, são muitos os que exageram nos cuidados e roubam a oportunidade de crescimento e desenvolvimento dos filhos. Quando carregamos a mochila escolar deles, quando recolhemos os brinquedos e calçados que eles vão espalhando pela casa, quando não permitimos que eles se sirvam sozinhos de um copo de água, não demonstramos amor, pelo contrário, transmitimos em linguagem não verbal, que eles são tão inúteis e incapazes que precisamos fazer por eles aquilo que eles possuem plenas condições de fazerem.

Por fim, devemos desenvolver a capacidade de prestar atenção aos nossos filhos e abrir nossos ouvidos àquilo que eles têm para nos dizer. Não podemos permitir que a televisão, celulares e internets emudeçam a família. A abertura ao diálogo dentro do lar é fundamental para conhecermos nossos filhos, orientá-los e prepará-los para a vida, sem que eles sejam dominados por desafios capazes de destruí-los.

Os jovens que praticam esses desafios não desejam acabar com a própria vida, mas estão pedindo para serem vistos, ouvidos, valorizados. Estão pedindo por atenção e nós, pais, devemos trabalhar na construção dos vínculos afetivos, fundamentais para uma educação assertiva e preventiva.



sexta-feira, 14 de abril de 2017

NOSSO DESTINO É INFLUENCIADO PELAS NOSSAS ESCOLHAS

Praticamente todas as crianças e jovens da nossa geração, em alguma fase de suas vidas, serão convidados a experimentar algum tipo de droga. Esse será um momento decisivo, onde eles farão suas próprias escolhas.

Fechar os olhos e negar essa realidade não é uma postura capaz de proteger nossos filhos dos perigos que essas substâncias representam, pelo contrário, precisamos reconhecer o risco e prepará-los para que nesse encontro eles possam tomar a melhor decisão.

Ao contrário do que muitos acreditam esse convite inicial raramente vem de um traficante. Quem apresenta as drogas aos nossos filhos são pessoas que se apresentam como seus melhores amigos e que ganham inclusive a nossa confiança. Sabendo disso torna-se importante conhecermos quem são os amigos dos nossos filhos.

Também devemos conversar com eles sobre “drogas”, antes que outros o façam, mas isso somente terá efeito positivo se buscarmos conhecimento sobre o assunto para não falarmos idiotices que não convencem ninguém, muito menos os jovens que são questionadores e possuem acesso a muita informação sobre essas substâncias, muitas vezes de fontes duvidosas. 

O fortalecimento da autoestima é outro fator importante para prepará-los, visando uma escolha assertiva, e uma das formas de ajudá-los no desenvolvimento do valor que fazem de si mesmos é utilizarmos o poder do elogio. É óbvio que devemos corrigi-los sempre que apresentam atitudes que desaprovamos, mas não podemos perder a oportunidade de elogiá-los quando existirem méritos. 

A personalidade também é determinante para as escolhas e cabe a nós ajudá-los no seu desenvolvimento. Para isso, precisamos ensiná-los a também dizer “não” como resposta. O sim e o não se aprendem em casa e os filhos que nunca recebem um “não” dos pais dentro do lar, mais tarde, na rua, encontrarão dificuldades enormes para recusar ou resistir a uma pressão do grupo.

Também é importante ajudá-los a desenvolverem o senso crítico, onde, futuramente, consigam se posicionar com firmeza, não entrando de bobeira em conversas mal intencionadas. Podemos prepará-los, chamando-os a reflexão sobre temas do dia-a-dia. Ao invés de fazermos longos discursos, podemos abrir um diálogo sadio para conhecermos suas opiniões e posicionamentos.

Para que optem por boas escolhas, eles precisam aprender em casa que toda decisão mal tomada resulta, como consequência, um prejuízo. Caso ele escolheu agredir o irmãozinho menor, os pais devem proporcionar-lhes um prejuízo, como por exemplo, uma tarde sem internet ou um dia sem vídeo game.

Não vamos estar ao lado dos nossos filhos quando alguém lhes ofertar qualquer tipo de droga, mas como também fazemos nossas escolhas, podemos optar por prepará-los para esse encontro e assim, mesmo não presentes fisicamente, nossa atuação preventiva deixa nossa marca e isso poderá fazer toda a diferença. 


Celso Garrefa - Pedagogo Social
Sertãozinho SP

sábado, 8 de abril de 2017

PREVENÇÃO: FAMÍLIA, ESCOLA E IGREJA

          “Eduquem os meninos e não será preciso castigar os homens”. Essa frase citada por Pitágoras, há aproximadamente 500 anos antes de Cristo, continua tão atual e verdadeira que parece dita ontem. Naquela época, Pitágoras já tinha razão. Se não investirmos, hoje, em nossas crianças, como podemos esperar que no futuro se tornem pessoas de bem?

 Não dá para falarmos em formação e educação dos pequeninos, sem abordarmos sobre três instituições que são os pilares nessa construção: a família, a escola e a igreja.

Dentre elas, a família é a primeira referência na vida das crianças. Os pais devem assumir suas responsabilidades enquanto pais, agindo ativamente na educação dos filhos, sem transferir responsabilidades. Infelizmente, o mundo moderno tem prejudicado os contatos familiares. Como já citei em outros textos, estamos assistindo, em nossos dias, uma formação familiar trágica, que chamamos de família de desconhecidos, isto é, pessoas que vivem na mesma casa e nada mais. Cada um em seu canto, assistindo a sua tevê, usando seu celular ou absorvidos pelas redes sociais. Não sobra tempo para as interações familiares.

Outras famílias são tão ausentes ou permissivas que transformam seus filhos em crianças órfãs de pais vivos, ou seja, não assumem as responsabilidades que são suas e deixam os pequenos a mercê de si mesmos. Não tomam atitude alguma diante dos comportamentos inadequados dos filhos, são permissivos, facilitadores e tentam compensar a sua passividade com presentes e brinquedos.

            O outro pilar e, não menos importante, são nossas unidades escolares. É óbvio que educar é missão dos pais, mas a escola não deve colocar-se a margem disso, limitando seu papel em ensinar seus alunos, pelo contrário, também é dever da escola atuar ativamente na construção do sujeito, complementando aquilo que é dever da família começar em casa. Sabemos que muitas de nossas crianças chegam nas salas de aula sem noção alguma de regras ou limites e a escola é a segunda chance de inserirmos essas princípios na vida dos pequenos.

            O terceiro pilar são as igrejas, independente de suas denominações. Cabe aos pais introduzir seus filhos nos ensinamentos religiosos e é missão das igrejas cativá-los com a essência do Ser Superior. Tenho contato com várias comunidades terapêuticas e já ouvi muito dependente químico confessar que seu maior problema não eram as drogas, mas a falta de Deus em sua existência. As drogas, uma consequência.

            A ausência ou a falha destas instituições na educação da criança poderá acarretar prejuízos a sua formação. Isso nos sinaliza sobre a importância que cada um delas exerce na construção do sujeito. Sem referências educativas, restam, aos meninos, a rua e sem um norte que os guiem, se tornam adultos e se falharem, não têm perdão: julgamos, condenamos e punimos.



Texto de Celso Garrefa
Programa Amor-Exigente 
de Sertãozinho SP

domingo, 26 de março de 2017

FAMÍLIA AJUDA O DEPENDENTE A RECAIR?

“Um dia destes vi um comentário citando que famílias podem trabalhar para a recaída do dependente. Gostaria de saber se isso realmente acontece”.
                        Pergunta enviada por PCSS de São Carlos - SP

           
            Por mais insano que isso parece, essa é uma situação que de fato pode acontecer. Em geral, as famílias que adotam essa atitude são aquelas que estão afetadas pela codependência em um estágio mais avançado.

            Não é uma ação consciente e, portanto, não devemos culpá-las. Não agem com essa intenção e não se dão conta que suas ações são colaboradoras das recaídas do adicto.

            Para entender melhor, imaginem um alcoólatra em níveis avançados, cuja doença já o impede de assumir as responsabilidades da casa. Não trabalha e, quando muito, cata reciclados para manter o uso da cachaça. Perdeu a autoridade sobre os filhos e é tratado por todos como um traste. O comando da casa é exercido pela esposa, que trabalha, cuida dos filhos, põe comida na mesa e ainda, tem de aguentar o “cachaceiro”.

            A ela, todos os méritos. Uma guerreira, forte, decidida. Como uma leoa, comanda o lar e ainda, não desiste do companheiro. Sua valentia rende-lhe intensos e constantes elogios, que inflam seu ego.

            Imaginem que, de repente, seu companheiro toma a atitude de buscar por apoio e ajuda e que, após um período em tratamento, ele consegue manter-se em sobriedade. Todos aqueles elogios que eram direcionados para a esposa, agora vão para ele. Ele é o valente, o determinado, que conseguiu sair da lama do alcoolismo. Voltou a trabalhar, ajuda em casa e divide as atenções dos filhos.

            A esposa, acostumada a ser paparicada por todos, perdeu sua posição, e se vê esquecido por todos e isso a incomoda, assim, ela de forma inconsciente e involuntária começa a trabalhar para que o companheiro recaia, recuperando assim o posto de super-heroína. Ela sabe que o marido em recuperação não pode beber, mas ao fazer compras no supermercado, traz algumas garrafas de cerveja para ele, justificando que uma cervejinha não dá nada. Insisto em dizer que isso ocorre de forma inconsciente, pois estamos falando de um processo doentio.

            Não é diferente no caso de pais de dependentes químicos. Precisamos lembrar que, por vezes, um dependente em casa traz alguns benefícios para a família, quando o transformam no bode expiatório da casa. Dessa forma, todas os problemas pessoas enfrentados pelos pais, eles têm onde justificar. Se o casal vive brigando, justificam o problema no filho dependente. Se o pai perdeu o emprego, também justifica seu fracasso devido o comportamento do adicto.

            A partir do momento em que ele se propõe a um tratamento, seus familiares precisarão olhar para si mesmos, encarar seus defeitos e fracassos e isso pode incomoda e, mais uma vez, inconscientemente podem ajudá-lo a recair.

            Volta a frisar que essa etapa é a mais avançada num processo de codependência e não atinge a todos, mas não há como negar que, uma parcela de familiares é afetada por este nível e podem, sim, agir no sentido de facilitar a recaída do dependente.

            Por tudo isso, é de extrema importância tratar, não só o dependente, mas também seus familiares, pois a dependência do álcool ou de outras drogas adoece a todos.

              Texto de Celso Garrefa
              Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...