sexta-feira, 27 de maio de 2016

DROGAS: O IMPACTO DA DESCOBERTA


Esta semana uma mãe comentou comigo que após a descoberta da dependência química do filho tudo ficou muito intenso e ele passou a fazer uso com frequência assustadoramente maior e  a situação tomou uma proporção gigantesca.

Mas não é bem assim. Acontece que até que a dependência química do filho não é de conhecimento dos pais, ele faz de tudo para esconder que está usando drogas. Consomem longe do contato dos familiares e utilizam de disfarces para esconder os sinais e efeitos do uso. Quando questionados, negam veementemente e até juram que não estão fazendo isso. Mesmo quando os pais começam a desconfiar, acabam convencidos do contrário.

A partir do momento em que a família toma ciência do problema, o filho não precisa mais se preocupar em esconder sua dependência. Abandona os disfarces e pode, inclusive, culpá-los pelo seu problema. Por outro lado, os pais passam a prestar maior atenção em tudo o que ele faz. Vasculha seus pertences, cheiram suas roupas, vigiam quando sai à noite, observam quando ele volta para casa. Todos esses fatores juntos proporcionam a falsa sensação que as coisas pioraram. Na verdade, já estava muito ruim, apenas não era visível para a família.

Como os familiares estão fragilizados pelo impacto da descoberta, esse é um momento perigoso. O desespero aflora o instinto de proteção e assim, equivocadamente, acreditam que conseguirão poupar o filho de todos os problemas oriundo de sua dependência. Alguns pagam suas dívidas, outros permitem que ele consuma dentro de casa, etc. Essa tentativa de protegê-lo só não o protege da própria droga e e dele mesmo e dessa forma, o dependente tem sua vida na ativa facilitada. Quando a família tenta recuar, eles jogam pesado: - Vai pagar ou prefere me ver morto?

Por toda complexidade que gira em torno da convivência com um adicto, a primeira atitude da família, diante do problema, é buscar orientação e apoio, capazes de prepará-los para enfrentar tamanho desafio. Junto a um grupo de apoio poderão enxergar o problema na exata medida, sem minimizá-lo ou torná-lo um gigante. Por isso, insistimos na importância de procurarem por um grupo do Programa Amor-Exigente mais próximo, pois sozinhos, o fardo é pesado demais.



Celso Garrefa
Sertãozinho SP

terça-feira, 10 de maio de 2016

FILHO, VOCÊ NÃO ESTÁ USANDO DROGAS NÃO, NÉ?

       
Postei, há alguns dias, um texto falando sobre o sentimento de culpa que afeta pais e mães de dependentes químicos e nele citei que ela surge tão logo os familiares atravessam a fase da negação e recebi de uma leitora um pedido para falar um pouco sobre essa fase.

            Cara leitora, aceitar o fato de que um filho está fazendo uso das drogas é um choque para os pais. É uma realidade tão dura e cruel que eles, inconscientemente, se recusam a aceitar, mesmo quando os sinais evidenciam que algo está acontecendo. Essa é a fase da negação. Ela inicia assim que o filho começa a apresentar mudanças comportamentais sinalizando que algo está acontecendo e dura até o momento em que o uso torna-se tão evidente e escancarado que não é mais possível negá-lo. 

            A negação do problema é uma atitude inconsciente e, de certa forma, serve como um mecanismo de defesa dos pais contra as dores e os sofrimentos resultantes do problema. O medo de aceitar e reconhecer a realidade é tão intenso que muitos pais, ao desconfiarem que algo está errado, questionam o filho sobre as drogas, porém já elaboram a pergunta induzindo-os para a resposta que desejam ouvir: - “Você não está usando drogas não, né? ” 

            Mesmo quando os pais encontram drogas na casa aceitam com facilidade o argumento de que não são deles, mas de amigos. Quando sinais visíveis aparecem, ainda assim buscam as mais variadas justificativas: Isso é coisa da idade. Esse povo fala demais. Ele só exagerou um pouquinho na bebida. Ele é tão carinhoso! Isso é perseguição. Ele jurou que não usa, etc.

            Chega um momento em que a situação atinge um nível tão crítico que não é mais possível negá-la. O filho assumiu a dependência. Ele foi pego no flagra. Foi detido pela polícia, etc. Esse é o momento mais difícil para os pais. É a hora de abandonar a negação, aceitar a realidade mesmo com todo o sofrimento e angústia que isso provoca. Por um lado, isso é terrível, pois terão que se confrontar com a triste realidade que relutavam aceitar, mas por outro, é um momento importante, pois é encarando a realidade que poderão começar a agir e tomar as devidas atitudes na tentativa de corrigir o problema.

            Por vezes, os pais retrocedem e voltam a negar o problema:  - "Será que ele está mesmo usando drogas”? Ou tentam se enganar, acreditando que após uma semana mais tranquila e cheia de promessas do dependente, o problema está solucionado. Quiçá fosse simples assim, mas não é.

            Para solucionar um problema de alta complexidade é preciso encará-lo, por mais doloroso que seja, sem se iludir ou se enganar. Encarar a realidade é difícil e causa muito sofrimento, mas os pais não precisam enfrentar isso sozinhos. Os grupos de apoio do Programa Amor-Exigente é o local certo para buscarem as forças necessárias para enfrentarem esse desafio. Vamos à luta. Com o Amor-Exigente você não estará sozinho.

                        Texto de Celso Garrefa
                         Sertãozinho SP

sábado, 23 de abril de 2016

AS REGRAS DA CASA

         
          Normas, regras e disciplina são elementos indispensáveis para a construção de uma família funcional. Sem isso, os contatos se fragilizam, marcados pela frieza nos relacionamentos, prejudicando a formação dos vínculos afetivos. A casa deixa de ser um lar e para se transformar em uma bagunça.

Qualquer instituição, sem regras estabelecidas, caminha a passos largos rumo ao fracasso, seja ela uma empresa, um clube, uma escola ou uma igreja e isso não é diferente no ambiente familiar. A família também é uma organização social que, para um bom funcionamento, exige a construção de regras capazes de nortear os comportamentos de seus membros, caso contrário, o caos se instala. 

No entanto, precisamos compreender que regras e normas não são imposições, frutos do autoritarismo, mas uma construção familiar que serve para nortear a conduta de todos, resguardadas as diferenças entre seus membros e as individualidades de cada um. 

Os filhos devem aprender, o mais cedo possível, a conviver e a respeitar as regras da casa, tendo como modelo e exemplo, os pais. Não é tarefa fácil falar em regras e normas para um filho que assiste o pai avançar o sinal de transito, ou a mãe dirigir o carro falando ao celular. Se for estabelecido como regra da casa que os filhos não façam as refeições com o celular ao lado do prato, os pais também precisam deixar os seus fora da mesa.

As regras estabelecidas no ambiente familiar devem possuir, como foco, o bem comum. Portanto, elas devem possuir, como finalidade, organizar a relação e a convivência familiar, além de preparar os filhos para lidarem com as normas de forma natural e equilibrada. Aqueles que não respeitam as regras da casa, certamente não respeitarão as normas de convivência em sociedade.

Na construção das regras da casa, todos devem participar, mas é preciso respeitar  a hierarquia familiar. São os pais aqueles que possuem a missão de colocar ordem na casa e não podem fugir de suas responsabilidades. Quando, por acomodação, por negligência ou apatia eles deixam de fazê-lo, quem dita as regras são os pequenos e assim, nos deparamos com uma inversão de papeis, onde os filhos mandam e os pais obedecem e este reinado infantil é a receita certa para o colapso familiar.

Não menos importante são as definições dos prejuízos para aqueles que não respeitam as regras estabelecidas sem, sem que tais consequências sejam a aplicação de castigos físicos, vexatórios ou aterrorizantes. Deverão ser prejuízos que não causem danos, mas que possam sinalizar ao outro que quando quebramos uma regra, sofremos uma consequência, por exemplo, uma hora sem tevê, ou uma tarde sem celular.

Toda as vezes que falamos em regras, há sempre aqueles que gostam de citar que elas existem para serem quebradas e não podemos concordar com isso. Toda regra pode ser questionada, porém precisa ser respeitada. Poupar os filhos do contato com normas e regras dentro de casa, não é atitude que os protegem. Eles crescem se achando os donos do mundo, pensando que podem tudo, mas não podem. A vida não perdoa e cobra. Melhor que aprendam pelo nosso amor que pela punição do mundo.

           


Texto de Celso Garrefa
 Amor-Exigente de 
 Sertãozinho SP

segunda-feira, 14 de março de 2016

FILHOS BONZINHOS TAMBÉM PRECISAM DE ATENÇÃO


Costumamos olhar com maior preocupação em relação a um possível envolvimento com substâncias ilícitas para os jovens cujos comportamentos desaprovamos e nos acomodamos em relação aqueles considerados “bonzinhos”. Infelizmente, as drogas não costumam poupar ninguém e os filhos “bonzinhos” correm risco semelhante ou até maior que aqueles que nos preocupam.

            Neste texto quero focar neste grupo de jovens que, devido ao comportamento “certinho” não costumam levantar preocupações. Estes meninos normalmente são educados, carinhosos e obedientes. Muitos deles também são um tanto quanto introvertidos e evitam contato com outras pessoas. Em sociedade sentem-se deslocados e por vezes, preferem o isolamento.

            Seus comportamentos e atitudes agradam aos pais e por não apresentarem problemas, passam meio despercebidos, principalmente se na casa houver outros filhos que exigem atenção permanente. Filhos bonzinhos em casa onde existem outros problemáticos, tornam-se invisíveis aos olhos dos pais. 

            O filho de comportamento “bonzinho” dentro de casa, que obedece a todos, sem questionar, que aceita calado todas as condições impostas, que não sabe dizer um não em família, quando lá fora, pode reproduzir aquilo que vive dentro de casa e assim, pode tornar-se um alvo fácil para a malandragem. Sabemos que os grupos exercem grande pressão sobre os jovens e para resistir a isso é preciso personalidade, coisa que, comumente costuma faltar ao jovem bonzinho. Assim como ele é “tão bonzinho” em casa, ele pode ser também “tão bonzinho” com os amigos, tanto que não consegue dizer um não como resposta e quando tenta, na primeira pressão, cede.

            Outro fator que eleva o grau de risco em relação a este grupo de jovens é exatamente o seu jeito introvertido. Muitos deles não são felizes com o próprio comportamento e partem para o uso de substâncias ilícitas para fugir da inibição, acreditando, equivocadamente, que encontraram a solução para sua timidez. Cito, equivocadamente, porque sabemos que o preço que pagarão pelo equívoco vão lhes custar caro demais.

Outro detalhe que os colocam em situação de perigo é o desejo de chamar a atenção. Como não são considerados um risco, não são notados e passam despercebidos. Como são garotos introvertidos possuem uma percepção aguçada e conseguem perceber com facilidade um detalhe: a família, a mídia e a sociedade estão sempre falando de garotos problemas e não de garotos bonzinhos. Dessa forma, eles podem acreditar que esta é a receita, ou seja, apresentar problemas para ganhar a atenção.

Para trabalhar na prevenção com estes filhos precisamos, primeiramente, enxergá-los como pessoas, dar-lhes atenção e visibilidade, valorizando suas qualidades. Incentivá-los a interagir com pessoas, porém sem uma cobrança desmesurada. Também é importante ensiná-los a dizer “não” como resposta e para isso é importante trabalhar para o fortalecimento de sua autoestima. Devemos também, durante os diálogos e contatos familiares, falar sobre pessoas e personalidades que são bons exemplos e não focar sempre em atitudes e exemplos de pessoas cujos comportamentos desaprovamos.

Por fim, é bom que sejam bons e que percebam que é bom ser bons e que percebam também, que ser bons é diferente de ser bobos. A nós cabe enxergá-los e valorizar suas qualidades. Para reflexão, finalizo este texto com uma interessante citação do marquês de Vauvenargues: “Os tipos infames surpreendem-se quando notam que um homem bom também sabe ser esperto”. Está aí a receita: Ensinemos nossos filhos a serem bons, mas também, espertos.


Texto de Celso Garrefa
Amor-Exigente Sertãozinho SP

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ESPOSA DE DEPENDENTE QUÍMICO


Quando começamos os trabalhos do Programa Amor-Exigente em nossa cidade, há mais de vinte anos, a grande procura pelo grupo era de pais e mães de dependentes químicos em busca de ajuda. Atualmente, essa busca se diversificou e atendemos também um número significativo de esposas ou companheiras dos adictos.

Muitas destas mulheres se uniram ao parceiro, mesmo sabendo do envolvimento dele com o uso ou abuso de substâncias entorpecentes, mas há também um grande número delas que só descobriram após a união e existe uma parcela de mulheres que só se deram conta do problema depois de um período mais prolongado de convivência, geralmente entre um a três anos após a união.


Em se tratando da recuperação do dependente não costuma haver meio termo, ou seja, elas podem ajudá-los de forma extraordinária ou podem favorecer o agravamento da dependência do parceiro. O que fará a diferença é a busca de orientação e apoio para lidar com o desafio.

Sem orientação, muitas delas desenvolvem a codependência e assim, além de sofrerem todas as consequências negativas advindas da convivência com um adicto, podem contribuir, de forma inconsciente e involuntária para o agravamento do problema. Ameaças vazias, brigas frequentes, agressões verbais ou mesmo físicas, acusações sem limites ou a ausência de um posicionamento claro e firme em relação à dependência do parceiro são atitudes que em nada contribuem para um verdadeiro apoio à recuperação do adicto.
Outro equívoco destas mulheres é a perda da identidade de esposa para adotarem o papel de mãe do parceiro. Esposa é esposa e deve agir como sua esposa, trocando as broncas pela adoção do diálogo claro, corajoso e sincero. Em geral, os dependentes químicos possuem grande dificuldade de amadurecimento. Não são adeptos a assumir responsabilidades e encontram bastantes dificuldades para se tornarem adultos de fato. Normalmente eles buscam na esposa o mesmo trato que recebia da mãe. É preciso que eles percebam as diferenças.

Desculpem-me as mães, mas em geral, as esposas costumam exercer um poder maior que elas sobre o dependente e se souberem fazer uso deste poder, podem contribuir muito para a recuperação do marido. Para tanto, em primeiro lugar, elas precisam buscar o equilíbrio, mesmo diante do caos. Devem adotar uma postura firme, não permitindo ser desrespeitada e muitos menos aceitar quaisquer tipos de violência, tomando atitudes caso ocorra. Também é importante que se relacionem como pessoas casadas. Não funciona casar-se e desejar a continuidade da vida de solteiro. Também é importante direcionar responsabilidades para o dependente, exigindo dele a participação nos pagamentos das contas da casa, o envolvimento na educação dos filhos, etc.

Finalmente, estas esposas não devem de forma ingênua acreditar que amá-los basta e será suficiente para recuperá-los. É preciso mais. É preciso atitude e ação. É importante frequentar um grupo de apoio e orientação. É preciso amor-exigente, e mais importante: é preciso amor próprio para não perder a dignidade.  “Eu amo você, mas não aceito as coisas que você faz de errado”.

Texto de Celso Garrefa 
 Sertãozinho SP

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

PROJETO MINHAS ESCOLHAS, MEU FUTURO




         
          Durante o segundo semestre deste ano, o Programa Amor-Exigente de Sertãozinho SP desenvolveu, em parceria com a escola Edith Silveira Dalmaso o projeto "MINHAS ESCOLHAS, MEU FUTURO" - CRESCENDO E VALORIZANDO A VIDA ATRAVÉS DE BOAS ESCOLHAS. 

         O projeto foi desenvolvido por uma equipe formada por um pedagogo, uma assistente social e uma professora (todos coordenadores e profundos conhecedores do Programa Amor-Exigente) com o apoio dos professores da unidade escolar e o foco foi trabalhar a prevenção a comportamentos inadequados.

          Os trabalhos foram desenvolvidos de forma lúdica, através de dinâmicas de grupo, desenhos, pinturas, danças, teatros, músicas, confecções de cartazes, etc. e possuiu como objetivo, preparar os alunos para fazer escolhas saudáveis, mantendo-os afastados de tudo aquilo que pode prejudicar sua existência, como o uso e abuso do álcool, cigarro e outras drogas, violência, gangues, bulling, criminalidade, etc.

         Os professores da unidade escolar também foram abrangidos pelo Projeto, através de reuniões realizadas durante o horário do ATPC, onde tiveram conhecimento dos princípios de trabalho do Programa Amor-Exigente e partilha da vivência em salas de aulas.

          Este projeto foi aprovado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Sertãozinho SP e financiado com recursos do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de Sertãozinho.
 
          No final, foi realizado um evento para a apresentação dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos, com a presença dos pais e do corpo docente.

 (Celso Garrefa)


 









 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

UMA CRIANÇA EM FÚRIA


            Esta semana um vídeo viralizou na internet, onde uma criança é filmada durante um ataque de fúria na sala de aula. Descontrolada, ela arremessa objetos pelo chão, derruba cadeiras, etc., rodeada por pessoas que assistem passivamente a cena. Logo abaixo de cada compartilhamento acompanhamos os mais variados comentários possíveis e na maioria deles, a receita simplória para a solução do problema: corrigir a agressividade com mais agressividade.

            Os comentários sobre a cena nos mostram como muitas pessoas possuem uma visão limitada em relação a métodos educativos de crianças. Só conseguem enxergar a solução através do uso da violência e não se dão conta que existem formas as mais variadas possíveis de intervenção, inclusive mais adequadas e funcionais para os tempos atuais.

            O discurso de que nada pode ser feito por se tratar de uma criança, evidencia o nível de desinformação das pessoas e a má interpretação das leis. Não existe nenhum impedimento em falar mais grosso que a criança, colocar ordem na casa, mostrar a ela quem está no comendo. Não existe nenhum impedimento em deter a fúria do pequeno, inclusive segurando-o, se necessário. Nenhum policial prende um pai ou professor por eles fazerem uso da autoridade. Nenhum Conselho Tutelar incrimina os pais ou os professores por eles fazerem uso da autoridade. O problema não é o uso da autoridade, pois ela é legítima, o problema é o abuso da autoridade. Usar a autoridade é indispensável para uma boa educação e nenhuma lei impede os pais ou professores de fazê-la. Se não interpretamos adequadamente uma lei, tornamo-nos reféns dela.


            O comportamento apresentado pela criança exigia atitudes de ação das pessoas ao seu entorno, mas preferiram gravar a cena, talvez por razões que desconhecemos. Em relação a muitos comentários dos internautas, compreendemos que assistir a cena dá raiva e incomoda, mas agredir para corrigi-lo significa adotar o mesmo desequilíbrio que desaprovamos na atitude do menino. Naquele momento precisavam acalmar a criança, conter o ataque de descontrole, inclusive segurando-a se necessário. Posteriormente aconselha-se uma investigação da origem das agressividades, analisando o ambiente familiar e consequentemente o acompanhamento do menino.

            Em relação à escola, estranhamente manteve-se passiva diante da cena de fúria apresentada pelo menino, sob o argumento equivocado de que não poderiam tocá-lo por ele ser criança, no entanto, não se preocuparam em infringir a lei expondo a cena para milhões de pessoas. Qual o objetivo? Não sabemos.
           
            Em relação aos prejuízos sofridos pela escola, precisa haver a reparação dos danos. Como a criança não possui idade suficiente para arcar com os custos, sobra para os pais, mas estes, com um pouquinho de inteligência e vontade de solucionar o problema, podem fazer uso de algum objeto do filho e mostrar à ele que a perda será para arcar com os prejuízos que ele provocou e assim, transmitir a ideia de que toda conduta inadequada resulta em uma perda, um prejuízo. 

            Para corrigir comportamentos inadequados é preciso atitude e posicionamento firme. É preciso usar a autoridade e mostrar quem manda e tudo isso é perfeitamente possível sem o uso de nenhum tipo de violência. Novos tempos exigem novos tipos de abordagens mais assertivas e funcionais. 

Está na hora de pararmos de repetir o discurso leigo de que os pais não podem mais educar seus filhos. Podem e devem.


            Texto de Celso Garrefa
            Sertãozinho SP

terça-feira, 20 de outubro de 2015

COOPERAÇÃO: A ESSÊNCIA DA FAMÍLIA

    O Programa Amor-Exigente cita que a essência da família repousa na cooperação e não apenas na convivência. É através da cooperação que se constrói fortes vínculos afetivos. Mas para vivenciarmos a cooperação em sua plenitude devemos nos atentar para os personagens envolvidos nessa dinâmica - eu, você, nós - e respondermos a três questões: O que eu posso fazer por você? O que você pode fazer por mim? O que  podemos fazer juntos?

A primeira pergunta nos convida a um olhar sobre nós mesmos para identificarmos como podemos nos envolver, fazendo a nossa parte em nosso grupo familiar, colocando-nos a disposição para apoiar, auxiliar e agir visando o bem do outro. Essa atitude é uma demonstração do quanto nos preocupamos com aqueles que convivem conosco, sem isso, tornamo-nos pessoas egoístas e autoritárias, que ditam ordens, cobram, mas nada fazem.

Mas precisamos ter cuidado para não nos transformarmos em meros serviçais dos filhos. Existem coisas que não precisamos fazer, pois eles possuem plenas condições de realizar por si mesmos. Quando carregamos o material escolar que a eles pertence ou passamos o dia recolhendo tudo que espalham pela casa, enquanto eles vivem espichados no sofá, não estamos cooperando com eles, pelo contrário, estamos roubando-lhes a capacidade de crescimento e independência.

A segunda questão nos instiga a aceitarmos a ideia de sermos servidos pelo outro. Muitos de nós tratamos nossas crianças como reizinhos, abastecendo-os o tempo todo, não permitindo que eles nada façam em nosso favor. Queremos poupá-los de tudo desvalorizando suas capacidades e quanto mais os servimos, sem deles nada aceitar em troca, mais friamente estes se relacionam conosco.

A terceira pergunta, e talvez a mais importante desse processo, abrange tudo aquilo que podemos fazer juntos para o benefício de todos. Essa é a verdadeira essência da cooperação, no entanto, não basta fazermos juntos, precisamos aproveitar o momento para criarmos um ambiente favorável, fazendo das atividades, algo agradável, onde haja um contato sadio e de qualidade. Ao contrário do que muitos pensam, os filhos sentem prazer em nos ajudar, mas quando fazemos as tarefas juntos, porém de cara fechada, sem paciência, resmungando e reclamando o tempo todo, eles perdem o interesse e se afastam.

A falta de ação dos personagens envolvidos nesse processo transforma a família em um amontoado de pessoas, onde ninguém se preocupa com ninguém ou as preocupações partem apenas de um dos lados.

Os lares funcionais possuem, como uma das suas principais características, os fortes vínculos afetivos entre seus membros. A vivência da cooperação em sua plenitude é o combustível que mantém acessa essa chama. Com isso a convivência torna-se agradável, a harmonia reina, o respeito mútuo prevalece e todos se preocupam com o bem estar de todos. A isso chamamos verdadeiramente de família, ou seja, um grupo de pessoas que cooperam entre si.




Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

CRIANÇAS OU MINI ADULTOS?

Precisamos repensar o ser criança nos dias atuais, onde nossos pequenos são estimulados a viverem como mini adultos, com exposição excessiva, erotização precoce e atividades infinitas.

Apesar da pouca idade, muitas já possuem a agenda carregada de compromissos. Saem da escola e vão para o inglês, deixam o inglês direto para o judô, na sequência ainda participam da aula de música, de natação, de futebol, etc. Não sobra tempo para serem aquilo que são: apenas crianças.

Não negamos ou desprezamos a importância da participação da criança em atividades e projetos. O envolvimento dos pequenos em cursos e escolinhas é benéfico desde que haja limites e equilíbrio. Os excessos de obrigações, com a prática de várias atividades ao mesmo tempo, além de estressá-las, matam a fase mais bela da vida, que é a infância. Também é importante permitirmos que façam as atividades por prazer, sem pressões por alta performance ou exigências que estão aquém das suas capacidades.

            O ato de brincar da criança não é perda de tempo. As atividade lúdicas são fundamentais para seu desenvolvimento  e para a construção do seu eu, do seu mundo e é nossa responsabilidade, como adultos, proporcionar-lhes tempo, espaço e condições para que vivenciem esses momentos. 

Também precisamos preservar nossos pequenos da exposição precoce, como a erotização, a violência, a proximidade com substâncias inadequadas, preservando-as de materiais impróprios, programações fora de sua faixa etária e até mesmo, da convivência com pessoas cujos exemplos são lhes são favoráveis.

Sabemos, ainda, que a criança gosta de imitar o adulto. A menina adora experimentar os sapatos da mãe, lambuza-se com as maquiagens da irmã mais velha; o menino põe a gravata do pai, etc. Esses comportamentos são normais, entretanto, quando o adulto transforma esses hábitos em rotina, vestindo a criança como adulta ou levando a menina semanalmente aos salões de beleza, aceleram o processo natural de travessia da fase infantil.

Na construção do futuro da criança, os ritos de passagens são fundamentais para o seu desenvolvimento e nós, adultos, precisamos aprender a respeitar cada etapa da vida dos pequenos, permitindo que, enquanto crianças, elas possam viver como crianças, com tempo e espaço disponíveis para brincar, correr, sujar, viver o mundo das fantasias, divertir -se, e futuramente, quando adultas, que possam lembrar com alegria os momentos felizes dessa que é a melhor fase da vida.

            Texto de Celso Garrefa

            Amor-Exigente de Sertãozinho

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

FAMÍLIA: PRINCIPAL GRUPO DE APOIO

(Imagem da internet)
     Uma verdadeira família é aquela em que seus membros cooperam entre si e que o bem estar de cada um é responsabilidade de todos, porém na contramão da sua importância, a família cada vez mais se isola.

     Possuímos tantas tarefas, compromissos e atividades que sobra pouco tempo para os relacionamentos familiares e o que resta muitas vezes é preenchido por tevês, uma em cada quarto, por celulares carregados de tecnologias capazes de nos conectar ao mundo mas, ao mesmo tempo, distanciar aqueles que estão ao nosso lado.

As tecnologias são inerentes ao mundo atual e de utilidades infinitas, mas precisamos dominá-las, fazendo uso adequado e equilibrado, sem permitir que elas ocupem todo o nosso tempo e espaço, reduzindo a zero os momentos de convivência física entre as pessoas que vivem sob o mesmo teto, sob o risco de nos enquadrarmos numa formação familiar trágica, que costumo chamar de família de desconhecidos.

Para fazermos da nossa família, o nosso principal grupo de apoio e referência, precisamos criar dentro da nossa casa, momentos favoráveis à construção de um relacionamento sadio entre os seus membros, para tanto, podemos adotar algumas atitudes simples, como por exemplo, fazer as refeições com a família reunida, com todos sentados à mesa, com a tevê desligada e sem celulares ligados ao lado dos pratos. Se não conseguimos reunir a família nem mesmo na hora da alimentação, quando pretendemos? 

       Também precisamos ter claro que um grupo de apoio é uma via de mão dupla, ou seja, dar e receber, portanto, para fazermos do nosso lar um verdadeiro grupo de apoio, precisamos desenvolver a cooperação entre os membros da casa, servindo e também sendo servidos, dividindo tarefas e fazendo outras em conjunto, valorizando o respeito mútuo e que os esforços de cada um contribua para o bem estar de todos. Sem isso não existe família, apenas um amontoado de pessoas.



Texto de Celso Garrefa
Sertãozinho SP

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

DROGAS: PRAZER OU PREJUÍZO?

                       
          As drogas proporcionam prazer e essa realidade é um dos fatores que dificulta a aceitação do tratamento por parte do dependente.

            No início do uso, quando ele atravessa as fases de experimentação ou uso esporádico, esse prazer ocupa muito espaço e os prejuízos são pequenos. A busca contínua pela manutenção dessa sensação faz com que ele prolongue o uso ao longo do tempo, podendo desenvolver tolerância à droga de consumo, ou seja, para obter o mesmo prazer, ele precisa consumir doses cada vez maiores, e como consequência, os prejuízos crescem na mesma proporção.

            A abertura e aceitação do tratamento ocorre quando o dependente começa a sentir que os prejuízos decorrentes do uso são maiores do que os prazeres proporcionados pelo consumo. Nesse momento a família, quando preparada para lidar com o seu desafio, pode fazer toda a diferença.

            Sem preparo ocorre o inverso, ou seja, a família movida por pena, medo ou insegurança agem na contramão, adotando toda atitude possível para evitar que o seu dependente confronte com os prejuízos resultantes do consumo abusivo ou da dependência.
           
            Toda vez que os familiares poupam o dependente dos prejuízos resultantes do seu consumo, pagando suas dívidas, sendo permissivos e tolerantes em relação às suas atitudes, assumindo suas responsabilidades, bancando-o em todas as suas exigências, proporcionam um amortecimento dos prejuízos que ele possa sofrer, ou seja, o adicto continua saboreando os prazeres do uso e a família é quem arca com os prejuízos e as consequências.

            Ninguém muda ninguém e é muito difícil convencer alguém a mudar quando o próprio não deseja mudanças, mas a família do dependente pode sim ser o diferencial capaz de levá-lo a assumir uma atitude de recuperação. Para tanto, é preciso coragem para tomar atitudes, firmeza para se posicionar e sabedoria para permitir que o adicto confronte com os prejuízos decorrentes da sua dependência. A verdadeira ajuda não é fazermos aquilo que o dependente deseja que façamos, mas sim, fazermos aquilo que precisa ser feito, mesmo contrariando aos seus interesses.

Permitir ou mesmo proporcionar situações onde o adicto sofra e perceba as consequências e prejuízos oriundos da sua dependência não significa fechar-lhe as portas e deixá-lo ao abandono, pelo contrário, deve ser uma ação consciente, com o objetivo de conduzi-lo a um tratamento, para tanto, devemos transmitir com muita clareza, que ele pode contar sempre com nossa ajuda e apoio para se tratar, mas que não estamos dispostos a arcar com os prejuízos causados pelo seu uso e nem possuímos condições de protegê-lo das consequências da sua dependência.




          Texto de Celso Garrefa 
Sertãozinho SP

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

EU AMO VOCÊ, MAS NÃO SUAS ATITUDES

Conviver com pessoas dependentes do álcool ou de outras drogas é um desafio para muitos familiares. Sem uma base orientadora, muitos desviam do foco do problema, dificultando a busca da solução para o desafio enfrentado.

Existem várias formas de desviar do foco. Uma delas é atacar o dependente, sem critério algum. O sujeito dependente do álcool costuma ser massacrado pelos familiares, muitas vezes taxando-o como vagabundo, sem vergonha ou traste, no entanto, são muitos que possuem problemas com o uso do álcool, mas não são vagabundos. Buscar o foco significa desaprovar o comportamento inadequado e não a pessoa em si - “Eu amo você, mas isso não me obriga a amar as suas atitudes que desaprovo"

            Outra forma de desviar do foco é diminuir o tamanho do problema, buscando justificativas constantes para minimizar a dependência do outro. – “Ele usa drogas, mas é tão carinhoso”. Mesmo na dependência, muitos ainda preservam pontos positivos que devem ser valorizados, mas é preciso cuidado para, em função do ponto positivo, não nos tornarmos passivos diante dos pontos negativos. O foco é valorizar os pontos positivos, sem fazer deles desculpas para aceitar os comportamentos negativos que precisam ser trabalhados e corrigidos.

            A maximização do problema enfrentado também nos tira do foco. Essa atitude causa nos familiares sofrimentos gigantescos, tendo em vista que enxergam o problema com uma dose exagerada da realidade. Acreditam, por exemplo, que devido ao uso das drogas, alguém vai matá-lo, ou que vai morrer a qualquer momento. Essa visão exagerada e negativista só traz pânico aos familiares e em estado de desespero, paralisam.

           A negação também desvia do foco. Negar a existência da dependência é característico do próprio dependente e os familiares precisam cuidar para não entrarem nesse jogo. Negar o óbvio pode servir  como uma forma inconsciente de se proteger do sofrimento advindo do convívio com o adicto, mas em nada contribui para o enfrentamento do desafio. Quando negamos um problema, estamos nos enganando e assim, acomodamos. Por mais doloroso que seja, precisamos aceitar a realidade e assim, visualizar com clareza e coragem a atual e real situação.

            Outra forma importante de desviar-se do foco acontece com os familiares em relação a sua própria vida. Afetados pela codependência, muitos pais e mães, equivocadamente, abandonam a própria existência e assim param de se olhar, de se cuidar. Abandonam a vida social, preferindo se esconder. Propositadamente ou de forma inconsciente muitos exteriorizam um sofrimento profundo numa doce ilusão de que o dependente perceba que está causando sofrimentos alheios e assim possa escolher mudar sua condição.  Ficar sem se alimentar, sem dormir direito, abandonar o emprego ou se culpar não é o foco, não possui nenhuma relação direta com a dependência do outro e em nada ajuda no enfrentamento do problema. Costumo citar, com frequência, que sofrimento de pais não salva filhos.

            Direcionar nossas atenções ao foco do problema significa agir com assertividade, assim, sofremos menos, ganhamos tempo e equilíbrio. Conviver e lidar com pessoas dependentes exige objetividade e quando concentramos nossos esforços no âmago do problema, chegamos mais perto de solucioná-lo. 
           
                        Texto de Celso Garrefa
                        Amor-Exigente de Sertãozinho

sábado, 4 de julho de 2015

BOM PAI OU PAI BONZINHO?

             
          Ao nos tornarmos pais ou mães, desejamos ser bons pais, criando uma relação com fortes vínculos afetivos, onde ganhamos o respeito dos nossos pequenos. Mas nessa busca muitos confundem os papeis e ao invés de serem bons pais, tornam-se apenas pais "bonzinhos".
           
            Bons pais são aqueles que se fazem presentes. Suas ações visam nortear as condutas dos filhos, criando regras, estabelecendo limites, corrigindo com amor, enquanto pais bonzinhos são permissivos e facilitadores, deixando os filhos à mercê de si mesmos. Bons pais sabem dizer “sim” quando a ocasião permite, mas também sabem dizer “não” quando necessário, enquanto pais bonzinhos possuem grande dificuldade em dizer um “não” como resposta, mesmo quando preciso.

            Bons pais sabem se posicionar. Eles respeitam os filhos, mas também exigem respeito. Em suas ações, eles buscam fazer sempre aquilo que precisa ser feito, mesmo que, vez ou outra, isso contrarie os desejos das crianças. Pais bonzinhos não se posicionam e nem manifestam nenhuma atitude de desaprovação quando são hostilizados, ofendidos, ou humilhados pelos pequenos. Desejando agradar sempre e temendo a rejeição, eles fazem de tudo para não os contrariar.

            Bons pais permitem que os filhos façam tudo aquilo que eles possuem condições de fazer. Eles não carregam no colo; eles ensinam a caminhar. Pais bonzinhos acreditam que precisam fazer tudo pelos filhos, inclusive aquilo que é obrigação deles: eles carregam sua mochila escolar, põem comida no prato, guardam os objetos que eles espalham pela casa, etc. Bons pais exercem o papel de pais, enquanto pais bonzinhos exercem o papel de serviçais da garotada.

            Bons pais não são violentos, nem agressivos. Não são estúpidos, nem grosseiros. Bons pais possuem atitudes coerentes e equilibradas. Eles sabem elogiar quando existe mérito, mas também sabem ser firmes quando necessário. São incentivadores e apoiadores das boas condutas e cuidam dos seus próprios comportamentos, fazendo deles exemplos para seus filhos.

            Bons pais proporcionam oportunidades para que os filhos cresçam, melhorem e conquistem pelos próprios esforços. Pais bonzinhos, desejando satisfazê-los o tempo todo, atendem de forma imediata todos os desejos da criançada, mesmo os mais descabidos. 

           Bons pais cuidam dos pequenos, mas não esquecem de si próprios, enquanto pais bonzinho não possuem vida própria, eles vivem em função dos filhos.

            Como resultado, bons pais conquistam autoridade e respeito, transformando a relação com os filhos em uma convivência harmoniosa, fortalecida pela criação de vínculos afetivos. Pais bonzinhos facilmente se transformam em verdadeiros “bananas”. Como não possuem atitudes, não são respeitados. Como se abandonam em função dos filhos, também são esquecidos por aqueles que mais amam. 

            Bons pais criam bons filhos; pais  bonzinhos criam filhos folgados, imaturos e egoístas. E nós. Que tipo de pais desejamos ser? UM BOM PAI OU UM PAI BONZINHO?


                        Texto de Celso Garrefa
                        Sertãozinho SP

domingo, 17 de maio de 2015

CULPA E PERDÃO

    
Certa vez, convidados pela Fundação Casa, participamos de uma reunião com pais e mães dos internos. Quando falávamos sobre o sentimento de culpa, uma das mães nos relatou que se sentia culpada por seu filho adolescente estar internado naquela instituição. Segundo ela, quando ele era pequeno, ela bebia muito, usava drogas, vivia em casas de prostituição, não cuidava dele, etc.
                                    
      É inegável que os comportamentos desajustados dos pais exercem influências negativas na formação dos filhos. Crianças normalmente aprendem aquilo que vivenciam e os maus exemplos exercem influências negativas, no entanto, não nos cabe julgá-la ou condená-la por suas falhas no passado. Provavelmente ela também teve uma infância prejudicada e apenas reproduziu um ciclo de problemas. Precisamos ajudá-la a quebrar esse ciclo negativo, apresentando-lhe a possibilidade de um futuro diferente, sem permitir que a culpa a engesse no passado.

   Toda vez que nos julgamos culpados por algo, o primeiro passo para descarregarmos esse peso começa no reconhecimento das nossas falhas e, consequentemente, na busca do perdão em todos os níveis. Devemos buscar e aceitar, em primeiro lugar, o perdão Divino. Devemos também pedir perdão para aquele que sentimos havê-lo prejudicado e, finalmente, precisamos do perdão mais difícil, que é nos perdoarmos, com sinceridade. Só assim estaremos libertos para começar as mudanças necessárias.

     Não há como modificarmos aquilo que passou, mas é plenamente possível trabalharmos para um futuro diferente e melhor. O passado deve servir de lição, mas não podemos ficar presos a ele e para isso precisamos nos libertar do sentimento de culpa que nos corrói e paralisa e nos comprometermos com as mudanças necessárias para a construção de uma nova vida.

     Neste novo momento a culpa deve ceder espaço para a responsabilidade e isso exige de nós o compromisso com a busca da transformação e da mudança, pois de nada adianta reconhecermos um erro, buscarmos o perdão e continuarmos apresentando os mesmos comportamentos desajustados, repetindo as mesmas falhas do passado. Isso se chama enganação.

        Assumir o compromisso com as mudanças não é um processo fácil e por isso não devemos fazê-lo sozinhos. Um grupo de apoio e orientação, como o Programa Amor-Exigente, ajuda-nos a enfrentarmos esse desafio sem críticas, sem condenações e com um apoio seletivo e orientado, que somados a uma espiritualidade fortalecida, aproxima-nos de Deus e nos conduz ao caminho da transformação para uma vida nova e plena. 

                       

Texto de Celso Garrefa
                        
Programa Amor-Exigente 
Sertãozinho SP

PREVENÇÃO À RECAÍDA

Um dos maiores desafios no processo de tratamento da dependência química são as frequentes recaídas de uma parte das pessoas que buscam ajud...